Sócrates em conferência com bloggers, twiters, e facebookers
"Disseram-me que dizem muito mal de mim na blogosfera e vim ver se isso era verdade. Isso não é bem assim".´José Sócrates, à saída da BlogConf
Hoje à tarde, à horinha do chá, o sr.primeiro ministro ia conferenciar com Bloggers e Twitters e Facebookers lá para os lados de Lisboa.Uma BlogConf!!!!Houve lista de inscrições e tudo. Havia apenas 20 lugares para esta espécie de conferência de imprensa sem ser. Transmissão directa na internet. Alguns dos bloggers que ficaram de fora choramingaram via post por não fazerem parte do grupo dos eleitos.
Eu também fiquei de fora, choraminguei tanto que fiquei desidratada. Eu nem sabia da BlogConf. O que é que eu perguntaria ao Primeiro se tivesse oportunidade? Quem é que ele pensa que seria o primeiro ministro ideal para o substituir?!!
A BlogConf partiu de um desafio do deputado socialista Jorge Seguro Sanches e do Chefe do Gabinete do Coordenador Nacional da Estratégia Lisboa e do Plano Tecnológico, Rui Grilo. O jornalista Paulo Querido preparou e moderou a BlogConf. Li num blogue que foi assim, por isso deve ter sido.
A ideia subjacente à dita: as pessoas que têm uma habitual presença online poderão ter acesso à interlocução política de uma forma directa sem a comum intermediação da comunicação social, ou seja, este evento de comunicação teria sido uma experiência piloto sobre como a política se pode e deve adaptar às novas realidades das redes sociais. Ou seja:atenção!atenção!Uma nova era se anuncia. Num futuro mais que perfeito a vivência política conforme a entendemos será extinta, não existirá senão enquadrada pelo formato das redes sociais. Daí não vai haver mais comícios com bandeiras, cartazes e toneladas de lixo para remover nas ruas e praças,vendedores de tremoço e pipoca comecem a pensar em ingressar no Novas Oportunidades enquanto ele existe. Fim para as romarias nos mercados com distribuição de abraços, beijinhos e brindes de plástico. Um dia vamos ver fazer política de forma acéptica. Nós,sem levantar o rabo das nossas cadeiras, ou, no máximo levantando-o e carregando com o laptop para um hot spot ou até ao WC, se surgir um imprevisto inadiável. Confortáveis, poderemos então fazer questões ao candidato a primeiro-ministro ou presidente, e ele responder como se nos estivesse a olhar nos olhos e a tratar por tu, quase um íntimo encontro romântico sem a comunicação social de permeio, mas com a inestimável intermediação da tecnologia.Nesta proximidade incorpórea, usaremos avatares coloridos e pseudónimos muito infantis, mas faremos questões de gente grande. Ele, candidato a desgraçado ainda em estado de graça, não mais será lambuzado com beijos garridos de velhinhas mirradas, não mais será espremido entre abraços e mamas fartas de peixeiras dos mercados do litoral. Tranquilo ficará em relação aos másculos apertos de mão que quase lhe arrancaram o braço no passado, e ao stress facial que sempre causa o sorriso forçado para as fotos com as crianças que os palermas dos pais insistem em levar para a rua à passagem das caravanas como se de um rito de iniciação política se tratasse!! É o adeus anunciado à dimensão tumultuosa e popular dos banhos de multidão! Compreensível até que os candidatos não queiram nódoas no seu guarda-roupa à moda e despesas de lavandaria. E mais:precaução eficaz contra gripe A e outras que se lhe seguirão. Solução contra agressões físicas de gente que já perdeu tudo, até a cabeça. Poupança de combustível nas viagens, menos poluição, menos papel a circular!!É só somar vantagens! E nós,Twitters,Facebookers e Bloggers, ficaremos todos com aquela sensação de fazermos parte do futuro mesmo que as respostas do candidato sejam todas de ponto morto e não sirvam nem para fazer um toque de telemóvel vendável.
Não estou certa que transportar uma vivência cívica e participativa no campo político para as redes seja uma grande vitória para os processos democráticos.(Pois é, Obama fez. E a gente não faz?! És mesmo burra, inda não percebeste?!!)Não poderá antes deformar uma realidade que devia ser uma tradição a manter?Não irá vaporizar o colectivo como expressão num plano onde a sua manifestação ainda vale por si mesma? Não será a proximidade real, quer dos indivíduos entre si, quer destes e dos futuros líderes,um factor de peso na comunicação política? E afinal,estamos todos assim tanto nas redes? E como é que estamos?Temos efectiva consciência do que estamos a fazer nas redes? O que se ganha realmente com isso? O que se perde?
Já li algures que a social media nos está a tornar menos sociáveis na vida real!! A comunicação online não é substituto da comunicação pessoal. Desde logo precisamos das expressões faciais se queremos efectivamente estabelecer uma relação de comunicação. Na internet os smileys são disso um pobre reflexo...Poderá no futuro ser alternativa e susbtituta à tradicional forma de comunicação política?Mas o que percebo eu destas tretas? Eu nem sabia da BlogConf!
Comentários