Cinema: V FOR VENDETTA - algo de muito errado se passa com este país
"Remember, remember the 5th of November / Gunpowder, treason and plot; / I know of no reason, why the gunpowder treason / Should ever be forgot."
(Rima popular inglesa que remete para a figura de Guy Fawkes, católico conspirador, que falhou ao tentar bombardear o Parlamento e assassinar o rei Jaime I. )
V for Vendetta, novela gráfica escrita por Alan Moore, inglês, que também escreveu Watchmen, foi adaptado ao cinema em 2006 e passou hoje na TV. Disse Moore do argumento deste filme ser uma grande porcaria e que Hollywood estraga as suas histórias. Independentemente do que ele disse, embora não sendo um filme perfeito, é uma interessante e provocatória visão-ou manifesto? - sobre totalitarismo e resistência, sobre subjugação e perda do direito à nossa individualidade. É também uma história sobre o medo, medo enquanto derradeira arma de um governo e luta dos homens contra o medo. V, anti-herói, assassino, monstro ou libertador, atormentado pelo seu passado, movido por ideais de justiça vingadora, conquista-nos ao som da 5ª Sinfonia de Beethoven, de Tchaicovsky e de citações literárias. Ao mesmo tempo que lança punhais mortais e distribui rosas vermelhas como sentença de morte, prepara pequenos-almoços de avental feminino e dança ao som de um jukebox com um toque de romantismo. Hugo Weaving tem a voz certa e assume com êxito uma postura teatral necessária para representar um personagem sem rosto que simboliza um ideal e a massa anónima subjugada. Natalie Portman compensa com um dos rostos mais bonitos do cinema actual, como aprendiza/iniciada que se supera a si mesma ao conhecer V. A sua personagem cresce ao longo da interpretação a tempos frágil e determinada, a sua face humaniza e ilumina esta trama obscura. Stephan Rea, como apresentador de TV, Stephen Fry, como inspector, John Hurt, como líder totalitário, também compõem excelentes personagens. Visualmente vibrante, é pena que o realizador não tenha tido uma mão mais segura a conduzir tudo quanto o filme promete, mas adaptar comics ao cinema não é fácil, sobretudo quando quem escreveu foi Alan Moore! Mesmo assim, esta fita complexa, algo orweliana, merece a nossa atenção. Curiosidade: penso que nos EUA estrearam o filme a 5 de Novembro, remember, remember...
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