Cinema e o senhor Dinheiro: It could happen to you
Chegou à minha mão a revista Domingo que sai com o jornal Correio da Manhã, aos Domingos. Na capa uma foto de Cristina Simões, a tal mocinha que disputa em tribunal, com o ex-namorado, 15 milhões de euros do Euromilhões. Para quem confessa medo de ser raptada é no mínimo estranho que tenha aceite ser fotografada, mais a sua casa, mais o seu carro, mais a descrição completa das suas rotinas numa revisteca de grande tiragem. Eu agora sei qual o seu aspecto, onde vive e o que faz, eu e qualquer pessoa menos bem formada do que eu que lhe queira deitar as unhas e extorquir umas massas. O passo seguinte será certamente contratar uns bons guarda-costas e colocar um video no YouTube gravado na clausura do seu quarto a relatar a sua agorafobia depois de ter sido alvo de uma emboscada falhada algures nos arredores da aldeia.
O tom da reportagem faz dela a menina bonita, prendada e vítima, e do ex-namorado, o vilão de serviço. Eu tinha lido esta notícia na internet, por acaso escrita de forma mais objectiva e desapaixonada, como eu acho que as notícias devem ser, e achado uma loucura que duas famílias tenham precisado de recorrer à justiça para dividir tanto dinheiro. O facto é que sem o concurso das duas pessoas, dele e dela, o boletim não tinha sido entregue independentemente de o prémio estar nesta ou naquela coluna e de quem pagou o quê. Mas isso sou eu a falar, claro, eu que nem sei traduzir aquele número em algarismos sem dar erros. Nem consigo imaginar o valor da acção, custas e honorários envolvidos.
Lembrei-me depois de um caso que aconteceu nos Estados Unidos e que inspirou um filme com Nicholas Cage, It could happen to you. Uma empregada de mesa e um polícia, em Nova Iorque, são os protagonistas da história verídica. O polícia pediu à rapariga para o ajudar a escolher os números da lotaria. Ela sugeriu 3 números e ele outros 3. Na brincadeira o polícia prometeu que se ganhasse dividiria com ela o prémio como gorjeta! Ele ganhou 6 milhões (de dólares) e deu-lhe 3 milhões. Na vida real tanto um como outro eram casados, não houve o divórcio nem o happy ending romântico que acontece no filme. Aproveitem o lembrete para alugar esta comédia e esqueçam uma história que não interessa a ninguém pois não tem nada de intrinsecamente bom que possamos aprender. Mais uma vez o senhor dinheiro dita as regras e prova que dá poder mas que não gera,por si só, felicidade em seres que não têm lastro para ela vingar...
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