Tremor de terra em Aquila, Itália

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A terra em Itália continua a tremer. Aquila é o nome de uma constelação e de uma cidade em ruínas. Sempre achei que viajar nos torna muito mais solidários com os outros e talvez por isso tenho passado estes dias a lembrar-me de Lucca e Pisa e Viareggio, das pessoas que aí conheci, entre ruas estreitas e edifícios antigos,comida,música, alegria. Tenho visto as galerias de fotografias de Aquila,prefiro ver as fotos a ler as notícias sempre que estas coisas acontecem. Está tudo no chão como se as paredes fossem feitas de açucar. Tenho uma amiga em Roma e no dia do abalo lembrei-me que se eu estivesse a 100km do epicentro do sismo não me sentiria nada segura. No dia seguinte a terra tremeu também em Roma. Tenho outra amiga que foi trabalhar para os Açores quando terminámos o curso e que, pelo Natal,quando passava em minha casa para a visita do costume,sempre me dizia que lá aquilo estava sempre a tremer mas que ela já se tinha habituado. 

Eu até hoje apenas senti dois abalos, e na escala dos três ou quatro vírgula qualquer coisa e mesmo assim foi algo que nunca mais esqueci.Um de noite, outro de manhã. Muitas vezes não tememos as coisas apenas por as desconhecermos.Nunca tive medo de trovoadas ou vento forte até ao momento em que vi um raio cair num pára-raios próximo,estava em Coimbra. Quanto ao vento também uma vez vi um contentor do lixo elevar-se no ar mais de um metro no meio de uma tremenda ventania e comecei a pensar que se fosse eu em vez do contentor morreria de susto!Em seguida mais alguns documentários sobre os fenómenos naturais e fiquei elucidada, há que ter respeitinho pela Natureza.

Em relação a tremores de terra não precisei de nada disso.Não sei se seria como a minha amiga Elsa, não sei se me habituaria e teria muita relutância em me mudar de armas e bagagens para os Açores,como ela fez,ou para qualquer outra zona com actividade sísmica.A Elsa já lá está há muitos anos sem que nada de mais lhe tenha sucedido ou aos seus bens e decerto encara a situação como nós encaramos a vida: não estamos livres de nos acontecer uma fatalidade, posso ser atropelada por um carro desgovernado, ela pode ser engolida pela terra, nada de mais. Da mesma forma acho uma loucura que os americanos vivam em zonas que estão sob ameaça constante de furacões. Muitos mudaram-se para essas zonas costeiras depois dos anos 60 e beneficiaram de um longo período de acalmia que parece ter acabado em 1995.O furacão consegue hoje ser monitorizado e depois dos alertas as pessoas tomam as medidas que todos conhecemos dos telejornais, forram as casas com madeiras, compram comida, recolhem a caves e ali ficam barricadas como se em tempo de guerra.Depois da destruição retomam à superfície e voltam a reconstruir, é insano.Todavia é também demonstrativo da tenacidade e da força de sobreviver e ultrapassar as adversidades.

Quando li na legenda de uma foto que Berlusconi disse aos desalojados italianos que deveriam encarar a sua vida nas tendas como um fim de semana no campismo não pude deixar de pensar que mais uma vez o homem tinha desbocado para o disparate. Agora vem a longa reconstrução, não apenas das pedras, mas das vidas, e isso não se fará num fim de semana. Vem aprender a lidar com a memória e com o medo, com a perda, com um novo futuro. E isso não se fará num fim de semana, quem sabe não se fará numa vida inteira. Compreendo que também é difícil encontrar o que dizer.Mas entre o disparate e nada, nada é talvez melhor.A seu tempo e no silêncio dos céus a águia irá voltar a estender as suas asas,afagando com a sua sombra majestosa os telhados,os campos e as montanhas de Aquila. Voar é o seu destino.

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