Os portugueses e os jogos Olímpicos
Hoje saí cedo para Coimbra e só quando regressei soube da medalha de prata da Vanessa Fernandes.Eu raras vezes morro de amores por atletas sejam de que nacionalidade for, eu não fixo os nomes deles,eu não escrevo sobre eles, eu não recorto as fotos deles, melhor, eu não faço Copy/Paste das fotos deles a não ser que tenham custado uma pipa de massa, como esta da Vanessa Fernandes, feita por Nick Knight - é que por cá não temos nem fotógrafos com know how, nem sabem usar o Photoshop, nós somos ainda uma terra de bárbaros, mas bárbaros com dinheiro e por isso o demos ao Knight, aos montes!
Eu, reconheço, eu que sou uma desportista nula,uma autêntica gimnolesma, eu não me comovo mesmo quase nada com o mais alto, mais rápido, mais forte, mais suado, mais concentrado, mais dolorido, mais sofrido, mais chorado, esses "mais" todos que fazem de um atleta um verdadeiro atleta. Pronto, está dito: o desporto não me comove assim muito, muito, muito. Sou tão limitada que admiro menos a luta renhida pelas medalhas, afinal, a essência da competição, do que a estética desportiva, a grandeza plástica daqueles corpos perfeitamente controlados da cabeça aos pés. E portanto mais centésimos, menos centésimos de segundo, é-me igual. Admiro o puro espectáculo.Tão só. E há até modalidades que não me dizem mesmo nada: atirar coisas pelo ar mais longe que os outros?!Eehheheh!Pois!
Gosto de ginástica. Já fiz ginástica e corrida, durou um Verão. Todos os dias lá ia eu para o parque verde. Suor ao litro. Dores de morrer. Depois passaram. O organismo adaptou-se e depois viciou-se. Adorei a experiência. Mês a mês o meu corpo esculpia-se, o esqueleto ganhava uma postura equilibrada. Prometi-me que nunca mais parava. Pois sim, fui vencida pelo general inverno:veio o frio e eu arrumei o meu corpinho junto à lareira. Os anos passaram.Ténis e fatos de treino desapareceram do guarda-roupa. Ainda hoje sou bastante elástica mas a musculatura, coitadita. Devia trabalhá-la.Tenho pesos e uma bicicleta de ginástica, os pesos amparam livros, a bicicleta é um belo cabide para bolsas e o seu assento, útil prateleira onde acumulo as revistas que recebo todos os meses: Advanced Photoshop e Volta ao Mundo.
É,todavia, impossível não se ser contagiado pelo espírito e energia dos jogos olímpicos e não acabar a torcer pelos nossos. E de quatro em quatro anos eu sempre vejo algumas provas, a ginástica em especial, provas de mergulho, e as sessões de abertura. Muito se tem discutido sobre os nossos atletas, as suas prestações, as suas desculpas. A medalha de prata da Vanessa vem acalmar o descontentamento mediatizado - "nunca tantos fizeram tão pouco" - e calar a censura profissional de presidentes e entendidos, - "assumam a porcaria que fazem e não arranjem desculpas esfarrapadas por favor, mostrem-se ao nível"- já que muita gente, tenho a certeza, mesmo sem perguntar, não estará assim tão aborrecida quanto isso. Primeiro, porque anda preocupada com outras questões mais cruciais, a praia que não está muito boa para Agosto,por exemplo, segundo porque os jogos olímpicos não são os jogos da bola, são os jogos das cinco bolas.O evento dos cinco anéis coloridos é uma coisa muito sofisticada, com modalidades que quase nunca se vêem na televisão, e que muito português nunca sequer viu ao vivo, quanto mais alguma vez praticou. Em relação aos nossos atletas o povo intui que boa parte deles é malta amadora, malta que vive o desporto pelo amor à camisola, malta que podia aparecer na versão olímpica da Liga dos últimos. Não questiona que quisessem dar o seu melhor, apenas não sabem ainda muito bem o que isso implica.
Esta malta olímpica percebeu tarde que lhes saiu a fava do bolo rei: comeram a fatia de bolo e de boca doce sorriam na volta ao estádio ninho-porque conseguiram os mínimos e foram aos jogos, rica festa, boa história de família- mas agora, vem a fava, há que trazer medalhas porque ir aos jogos só para defender os mínimos ou ver os dragões chineses e comer chau min sem garfo- isso não vale. Já foram acusados de tudo em muitos fóruns, de incompetentes para baixo, ou para cima. Eu cá não os acuso de nada, eu sou a tal que já só corre para a cama quando tem sono e que só atira bolas de papel ao cesto, e falha, desenhos que sairam mal. Sou por natureza compreensiva: mesmo com tipos dorminhocos e bonacheirões, que cairam na asneira de fazer uma graçola para a TV como se estivessem no meio dos amigos, eu entendo que o jet lag é tramado, a China não fica ali ao lado como a loja dos chinêses lá da terra, não é?No entender destes sagazes comentadores de notícias que invadem a internet, se estes jogos fossem os antigos jogos gregos, esses nossos atletas seriam os bárbaros, aqueles que não tinham lugar nos jogos, os estrangeiros da Antiguidade. Ou os escravos, ou as mulheres que também não podiam ir, enfim, uns fracotes. Ah,nesses jogos os atletas eram gente bem nascida e abonada. Estão a perceber onde quero chegar? Ir aos jogos e ter dinheiro não era mera coincidência, nem mesmo nessa altura. Até podemos ter um ou outro atleta que se consiga destacar mesmo sem apoios, mas sem apoios estruturados será difícil virmos a ter muitos e resultados serenos. Não me venham dizer que um indivíduo que mete férias do trabalho para treinar é o nosso ideal de método de formação para a alta competição. Exigir aos atletas que compensem em sacrifício, dedicação e entrega aos seus objectivos o apoio que deviam ter, o apoio que alguns, no passado, não tiveram e que tiveram de ultrapassar por si para triunfar não me parece ser o caminho do profissionalismo no desporto exigente,parece-me antes ser a via do tradicional desenrasque português.Em tanta sensaboria se espatifam os nossos impostos e vamos agora questionar este tipo de apoio?Um apoio que só seria dado face a resultados medidos e comprovados?! Alguém me explique isto p.f.
Lembremo-nos agora do caso oposto, a selecção nacional: um segundo lugar atrás da Grécia, a ainda menor prestação no adeus do sr.Escolário, há uns meses atrás. Até aqui quase tudo igual. Mas estes moços da bola são apaparicados de toda a forma e feitio, é-lhes é dado o melhor do melhor e até o supérfluo, e se ficam pelo caminho, estes tipos deviam então ser no mínimo crucificados. Então o que é que a Selecção tem que estes atletas portugueses não têm e que a resguarda de provocar mesas redondas televisivas de aceso repudio pela fraca conduta?A Selecção tem e faz dinheiro, é um rico negócio. E tem alguém que manda calar quando algumas bocas começam a fugir para o disparate.
Uma coisa que está muito mal e que devia ser proibida é colocar um micro à frente da boca de um atleta.Pois eu acho que estes atletas olímpicos deviam ter um porta voz. Não é justo, nem sequer bonito, que sejam forçados a debitar palavras mal acabam as provas, ainda a luzir de esforço e afogados em decepção as mais das vezes.Um bom e treinado comunicador faria na hora de lidar com o desaire toda a diferença.Na hora do sucesso até o silêncio é eloquente. Muito mais fácil seria adoptar esta medida do que lançar de uma vez por todas e a sério uma verdadeira rede de desporto escolar. Eu disse desporto. Não disse futebol.
Parabéns Vanessa!Nós as FERNANDES somos memo BOAS!
Eu, reconheço, eu que sou uma desportista nula,uma autêntica gimnolesma, eu não me comovo mesmo quase nada com o mais alto, mais rápido, mais forte, mais suado, mais concentrado, mais dolorido, mais sofrido, mais chorado, esses "mais" todos que fazem de um atleta um verdadeiro atleta. Pronto, está dito: o desporto não me comove assim muito, muito, muito. Sou tão limitada que admiro menos a luta renhida pelas medalhas, afinal, a essência da competição, do que a estética desportiva, a grandeza plástica daqueles corpos perfeitamente controlados da cabeça aos pés. E portanto mais centésimos, menos centésimos de segundo, é-me igual. Admiro o puro espectáculo.Tão só. E há até modalidades que não me dizem mesmo nada: atirar coisas pelo ar mais longe que os outros?!Eehheheh!Pois!
Gosto de ginástica. Já fiz ginástica e corrida, durou um Verão. Todos os dias lá ia eu para o parque verde. Suor ao litro. Dores de morrer. Depois passaram. O organismo adaptou-se e depois viciou-se. Adorei a experiência. Mês a mês o meu corpo esculpia-se, o esqueleto ganhava uma postura equilibrada. Prometi-me que nunca mais parava. Pois sim, fui vencida pelo general inverno:veio o frio e eu arrumei o meu corpinho junto à lareira. Os anos passaram.Ténis e fatos de treino desapareceram do guarda-roupa. Ainda hoje sou bastante elástica mas a musculatura, coitadita. Devia trabalhá-la.Tenho pesos e uma bicicleta de ginástica, os pesos amparam livros, a bicicleta é um belo cabide para bolsas e o seu assento, útil prateleira onde acumulo as revistas que recebo todos os meses: Advanced Photoshop e Volta ao Mundo.
É,todavia, impossível não se ser contagiado pelo espírito e energia dos jogos olímpicos e não acabar a torcer pelos nossos. E de quatro em quatro anos eu sempre vejo algumas provas, a ginástica em especial, provas de mergulho, e as sessões de abertura. Muito se tem discutido sobre os nossos atletas, as suas prestações, as suas desculpas. A medalha de prata da Vanessa vem acalmar o descontentamento mediatizado - "nunca tantos fizeram tão pouco" - e calar a censura profissional de presidentes e entendidos, - "assumam a porcaria que fazem e não arranjem desculpas esfarrapadas por favor, mostrem-se ao nível"- já que muita gente, tenho a certeza, mesmo sem perguntar, não estará assim tão aborrecida quanto isso. Primeiro, porque anda preocupada com outras questões mais cruciais, a praia que não está muito boa para Agosto,por exemplo, segundo porque os jogos olímpicos não são os jogos da bola, são os jogos das cinco bolas.O evento dos cinco anéis coloridos é uma coisa muito sofisticada, com modalidades que quase nunca se vêem na televisão, e que muito português nunca sequer viu ao vivo, quanto mais alguma vez praticou. Em relação aos nossos atletas o povo intui que boa parte deles é malta amadora, malta que vive o desporto pelo amor à camisola, malta que podia aparecer na versão olímpica da Liga dos últimos. Não questiona que quisessem dar o seu melhor, apenas não sabem ainda muito bem o que isso implica.
Esta malta olímpica percebeu tarde que lhes saiu a fava do bolo rei: comeram a fatia de bolo e de boca doce sorriam na volta ao estádio ninho-porque conseguiram os mínimos e foram aos jogos, rica festa, boa história de família- mas agora, vem a fava, há que trazer medalhas porque ir aos jogos só para defender os mínimos ou ver os dragões chineses e comer chau min sem garfo- isso não vale. Já foram acusados de tudo em muitos fóruns, de incompetentes para baixo, ou para cima. Eu cá não os acuso de nada, eu sou a tal que já só corre para a cama quando tem sono e que só atira bolas de papel ao cesto, e falha, desenhos que sairam mal. Sou por natureza compreensiva: mesmo com tipos dorminhocos e bonacheirões, que cairam na asneira de fazer uma graçola para a TV como se estivessem no meio dos amigos, eu entendo que o jet lag é tramado, a China não fica ali ao lado como a loja dos chinêses lá da terra, não é?No entender destes sagazes comentadores de notícias que invadem a internet, se estes jogos fossem os antigos jogos gregos, esses nossos atletas seriam os bárbaros, aqueles que não tinham lugar nos jogos, os estrangeiros da Antiguidade. Ou os escravos, ou as mulheres que também não podiam ir, enfim, uns fracotes. Ah,nesses jogos os atletas eram gente bem nascida e abonada. Estão a perceber onde quero chegar? Ir aos jogos e ter dinheiro não era mera coincidência, nem mesmo nessa altura. Até podemos ter um ou outro atleta que se consiga destacar mesmo sem apoios, mas sem apoios estruturados será difícil virmos a ter muitos e resultados serenos. Não me venham dizer que um indivíduo que mete férias do trabalho para treinar é o nosso ideal de método de formação para a alta competição. Exigir aos atletas que compensem em sacrifício, dedicação e entrega aos seus objectivos o apoio que deviam ter, o apoio que alguns, no passado, não tiveram e que tiveram de ultrapassar por si para triunfar não me parece ser o caminho do profissionalismo no desporto exigente,parece-me antes ser a via do tradicional desenrasque português.Em tanta sensaboria se espatifam os nossos impostos e vamos agora questionar este tipo de apoio?Um apoio que só seria dado face a resultados medidos e comprovados?! Alguém me explique isto p.f.
Lembremo-nos agora do caso oposto, a selecção nacional: um segundo lugar atrás da Grécia, a ainda menor prestação no adeus do sr.Escolário, há uns meses atrás. Até aqui quase tudo igual. Mas estes moços da bola são apaparicados de toda a forma e feitio, é-lhes é dado o melhor do melhor e até o supérfluo, e se ficam pelo caminho, estes tipos deviam então ser no mínimo crucificados. Então o que é que a Selecção tem que estes atletas portugueses não têm e que a resguarda de provocar mesas redondas televisivas de aceso repudio pela fraca conduta?A Selecção tem e faz dinheiro, é um rico negócio. E tem alguém que manda calar quando algumas bocas começam a fugir para o disparate.
Uma coisa que está muito mal e que devia ser proibida é colocar um micro à frente da boca de um atleta.Pois eu acho que estes atletas olímpicos deviam ter um porta voz. Não é justo, nem sequer bonito, que sejam forçados a debitar palavras mal acabam as provas, ainda a luzir de esforço e afogados em decepção as mais das vezes.Um bom e treinado comunicador faria na hora de lidar com o desaire toda a diferença.Na hora do sucesso até o silêncio é eloquente. Muito mais fácil seria adoptar esta medida do que lançar de uma vez por todas e a sério uma verdadeira rede de desporto escolar. Eu disse desporto. Não disse futebol.
Parabéns Vanessa!Nós as FERNANDES somos memo BOAS!
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