E se com um murro se pudesse consertar a praia da Figueira?
Já por diversas vezes consertei electrodomésticos com um bom murro: o aspirador, por exemplo. Agora foi a vez da maquineta fotográfica de brincar. Ainda hoje de manhã fui à Box do Jumbo comprar um disco externo e lá andei a rondar as digitais como um cão faminto. Mas o modelo que eu quero não está lá e, mais do que isso, não há dinheiro para comprar a ambicionada maquineta, para já.
Hoje fui até à praia fazer a despedida pois nos próximos oito dias não posso desviar-me da minha rota: há que concluir um projecto gráfico e o sol tem de esperar nem que seja até para o ano.Retirei a máquina do saco de praia e dei-lhe umas pancadas secas mais a castigá-la por me ter deixado ficar mal do que a pensar em trazê-la de novo à vida!Qual não é o meu espanto quando vejo o lead acender-se. Ahahahh!!Levei-a então comigo e fiz esta fotografia a partir do ponto onde me encontrava, no areal da Figueira da Foz, a uma distância tranquila das ondas que andam um pouco desnorteadas por estes dias.
Eu seria uma criatura muito mais feliz se pudesse ir à praia todo o ano. Não sou pessoa de lá passar o dia inteiro mas uma horinha de sol diário faz maravilhas à minha alma. Já olharam bem um malmequer?Já viram que é uma flor que parece sorrir?Tem aquele olhinho amarelo como um sol e as pétalas, como pequenos braços, parecem dançar todas contentes à sua volta, gratas por terem abraçado aquele calor que agora nos transmitem,assim generosamente abertas para nós.É isso, é uma flor contente, em nada se assemelha às torturadas rosas enrodilhadas onde se escondem segredos murmurados entre pétalas.É o efeito do sol no malmequer, é como o efeito do sol em mim. Ora isto que parece conversa de Primavera é tudo fruto da boa disposição que essa horinha mágica de sol diário me comunica.
Detesto o Inverno!Começo a contagem descendente para o Verão ainda mal se cheiram castanhas assadas!E gosto, efectivamente, da praia da Figueira. Gosto do areal enorme com espaço para todos e do alheamento que ele me permite, longe da estrada, longe de tudo. Gosto da água moderadamente fria...tem dias em que é impossível entrar, faz doer até ao osso...mas é assim!O ano passado estive no Algarve numa praia onde vou desde criança e embora as promessas de água morna e sol constante sejam cativantes o resto não é assim tanto agora que cresci.Prefiro este areal à língua de areia onde passei as tardes de Setembro, aos equipamentos chiques e à companhia de espanhóis e ingleses.Prefiro a direcção que o sol aqui tem,prefiro, até, um sol menos quente e um ventito ligeiro,desde que não frio, como este que tem soprado ultimamente.Prefiro a minha caminhada de casa até às areias do que, imaginem, ter a varanda sobre o mar,atravessar a rua em bikini e estar na praia.Eu sei que poderei parecer tonta, mas assim é. Por isso quando li no Diário de Coimbra que um punhado de espanhóis ameaçou ir-se daqui por fundados motivos- cimento,lixo,barulho,falta de estacionamento- fiquei triste. Imagino que na Câmara se tenham rido deles e do seu protesto, e que tenham dito:que vão,carago,outros melhores virão.Melhores não, menos interessados pelo rumo que a Figueira no seu entender tomou.Eu fiquei triste não porque eles se possam, de facto, ir embora-e sempre haverá quem perca com isso muito mais do que eu - mas porque eles têm razão em se queixar da degradação que encontram.
Eu nunca estive nas praias de Espanha, não posso estabelecer comparações.Mas lembro-me de uma amiga se ter queixado de infestações de baratas e lixo numa das estâncias mais populares de Espanha onde foi veranear, não me recordo o nome.Todavia já estive numa praia italiana que era bastante interessante,Viareggio, nome sobretudo conhecido por causa do extraordinário carnaval. Também lá o vento sopra que se farta,três dias a fio quando começa, segundo me disseram enquanto comia o mais mais majestoso gelado que jamais vi! A maioria das praias da costa de talvez 10 km é concessionada. Encontrei tudo muito arranjadinho.
Eu contento-me com muito pouco. Na realidade a praia ideal para mim não teria nada a não ser areia e mar.Mas um certo turismo de praia tem de vender areia e mar, limpos, e muito mais.Os veraneantes exigentes querem qualidade e querem também uma razão para preferirem uma praia a outra.Para uns essa razão pode ser o apenas o clima propício, para outros a hotelaria e a restauração, para outros o pitoresco, para outros a tranquilidade, para outros a animação nocturna,para outros a tradição, para outros ainda, hábitos de gerações-as razões são inúmeras e muitas vezes subjectivas.Podem até basear a sua preferência em várias razões simultaneamente mas bastará um único motivo de desagrado para terem uma razão para partir em busca de outro destino. Até eu,que me contento com pouco, fiquei a cismar com o que encontrei quando fui à praia a primeira vez há duas semanas. Pelo que quando li a notícia no jornal só pude suspirar e dar razão aos queixumes dos nuestros hermanos. No caminho até à praia a existência de uma zona de construção - o polémico e pouco galante edifício da discórdia, que todos os figueirenses já identificaram, -não devia ser desculpa para deixar que as folhas secas e papéis se acumulem junto das árvores,nos passeios próximos e tapumes,dia após dia. Entra-se na praia e a sinalética está toda suja de grafitti, a informação sobre a qualidade da água meio amarfanhada, parece que está lá desde a abertura da época balnear-estará?E à direita os repuxos do ex-oásis,ex-viveiro de ratazanas e presente charco imundo com patos, jorram água amarelada ou verde com cheiro pouco convidativo;a água da vala que corre para lá é suja e a boiar estão sempre sacas plásticas e coisas que nem queremos identificar. Mais para a direita, na direcção de Buracos, a estrutura de bungalows de madeira do (ex-explorado ou a explorar no futuro?!!) restaurante(?)está a degradar-se rapidamente por falta de manutenção e uso. As passadeiras de madeira que levam até ao mar têm traves arrancadas.Mais adiante lançaram fogo a um dos bancos de madeira, as cordas estão partidas, desfiam-se,os poucos cestos de lixo estão cheios até acima ao início da tarde e assim ficam...e lá aparecem os insectos. Existem tantas penas de gaivota a ladear a passadeira que dão para fazer um edredão! Pior: pela areia fora,caminho que temos de fazer assim que acabam as passadeiras, e durante dois dias seguidos encontrei vidros de garrafas de cerveja e arames, razão para nunca mais caminhar na areia sem as minhas velhas Nike...
Tudo isto, dirão alguns de vocês, são meros detalhes. Mas se nem dos detalhes cuidamos, o que dizer do resto? Se não podemos mudar o clima, a des-urbanização existente, se não inovamos, se não nos reinventamos, não poderemos ao menos manter o que existe em boas condições?!Era bom que também pudéssemos consertar a praia com um murro como fiz com a minha máquina de fotografar.O grupo de espanhóis deu um murro na mesa do Presidente da Câmara mas ingloriamente - não haverá vontade nem dinheiro para agir.
O Verão está no fim não tarda nada, os dias até já estão mais pequenos.Em breve a escuridão invernosa engolirá os seus queixumes e no próximo Verão,quem sabe, estas pessoas não escolherão esta praia.Virão outras menos observadoras,mas sobretudo menos amáveis na sua preocupação para com uma praia que escolheram talvez pela primeira vez e por onde passarão sem dar murros na mesa numa indiferença descontraída e ligeira de quem veio praticamente ao acaso.É desses espanhóis de passagem que a Figueira há-de viver no futuro, ou sobreviver.Viva la España.
Hoje fui até à praia fazer a despedida pois nos próximos oito dias não posso desviar-me da minha rota: há que concluir um projecto gráfico e o sol tem de esperar nem que seja até para o ano.Retirei a máquina do saco de praia e dei-lhe umas pancadas secas mais a castigá-la por me ter deixado ficar mal do que a pensar em trazê-la de novo à vida!Qual não é o meu espanto quando vejo o lead acender-se. Ahahahh!!Levei-a então comigo e fiz esta fotografia a partir do ponto onde me encontrava, no areal da Figueira da Foz, a uma distância tranquila das ondas que andam um pouco desnorteadas por estes dias.
Eu seria uma criatura muito mais feliz se pudesse ir à praia todo o ano. Não sou pessoa de lá passar o dia inteiro mas uma horinha de sol diário faz maravilhas à minha alma. Já olharam bem um malmequer?Já viram que é uma flor que parece sorrir?Tem aquele olhinho amarelo como um sol e as pétalas, como pequenos braços, parecem dançar todas contentes à sua volta, gratas por terem abraçado aquele calor que agora nos transmitem,assim generosamente abertas para nós.É isso, é uma flor contente, em nada se assemelha às torturadas rosas enrodilhadas onde se escondem segredos murmurados entre pétalas.É o efeito do sol no malmequer, é como o efeito do sol em mim. Ora isto que parece conversa de Primavera é tudo fruto da boa disposição que essa horinha mágica de sol diário me comunica.
Detesto o Inverno!Começo a contagem descendente para o Verão ainda mal se cheiram castanhas assadas!E gosto, efectivamente, da praia da Figueira. Gosto do areal enorme com espaço para todos e do alheamento que ele me permite, longe da estrada, longe de tudo. Gosto da água moderadamente fria...tem dias em que é impossível entrar, faz doer até ao osso...mas é assim!O ano passado estive no Algarve numa praia onde vou desde criança e embora as promessas de água morna e sol constante sejam cativantes o resto não é assim tanto agora que cresci.Prefiro este areal à língua de areia onde passei as tardes de Setembro, aos equipamentos chiques e à companhia de espanhóis e ingleses.Prefiro a direcção que o sol aqui tem,prefiro, até, um sol menos quente e um ventito ligeiro,desde que não frio, como este que tem soprado ultimamente.Prefiro a minha caminhada de casa até às areias do que, imaginem, ter a varanda sobre o mar,atravessar a rua em bikini e estar na praia.Eu sei que poderei parecer tonta, mas assim é. Por isso quando li no Diário de Coimbra que um punhado de espanhóis ameaçou ir-se daqui por fundados motivos- cimento,lixo,barulho,falta de estacionamento- fiquei triste. Imagino que na Câmara se tenham rido deles e do seu protesto, e que tenham dito:que vão,carago,outros melhores virão.Melhores não, menos interessados pelo rumo que a Figueira no seu entender tomou.Eu fiquei triste não porque eles se possam, de facto, ir embora-e sempre haverá quem perca com isso muito mais do que eu - mas porque eles têm razão em se queixar da degradação que encontram.
Eu nunca estive nas praias de Espanha, não posso estabelecer comparações.Mas lembro-me de uma amiga se ter queixado de infestações de baratas e lixo numa das estâncias mais populares de Espanha onde foi veranear, não me recordo o nome.Todavia já estive numa praia italiana que era bastante interessante,Viareggio, nome sobretudo conhecido por causa do extraordinário carnaval. Também lá o vento sopra que se farta,três dias a fio quando começa, segundo me disseram enquanto comia o mais mais majestoso gelado que jamais vi! A maioria das praias da costa de talvez 10 km é concessionada. Encontrei tudo muito arranjadinho.
Eu contento-me com muito pouco. Na realidade a praia ideal para mim não teria nada a não ser areia e mar.Mas um certo turismo de praia tem de vender areia e mar, limpos, e muito mais.Os veraneantes exigentes querem qualidade e querem também uma razão para preferirem uma praia a outra.Para uns essa razão pode ser o apenas o clima propício, para outros a hotelaria e a restauração, para outros o pitoresco, para outros a tranquilidade, para outros a animação nocturna,para outros a tradição, para outros ainda, hábitos de gerações-as razões são inúmeras e muitas vezes subjectivas.Podem até basear a sua preferência em várias razões simultaneamente mas bastará um único motivo de desagrado para terem uma razão para partir em busca de outro destino. Até eu,que me contento com pouco, fiquei a cismar com o que encontrei quando fui à praia a primeira vez há duas semanas. Pelo que quando li a notícia no jornal só pude suspirar e dar razão aos queixumes dos nuestros hermanos. No caminho até à praia a existência de uma zona de construção - o polémico e pouco galante edifício da discórdia, que todos os figueirenses já identificaram, -não devia ser desculpa para deixar que as folhas secas e papéis se acumulem junto das árvores,nos passeios próximos e tapumes,dia após dia. Entra-se na praia e a sinalética está toda suja de grafitti, a informação sobre a qualidade da água meio amarfanhada, parece que está lá desde a abertura da época balnear-estará?E à direita os repuxos do ex-oásis,ex-viveiro de ratazanas e presente charco imundo com patos, jorram água amarelada ou verde com cheiro pouco convidativo;a água da vala que corre para lá é suja e a boiar estão sempre sacas plásticas e coisas que nem queremos identificar. Mais para a direita, na direcção de Buracos, a estrutura de bungalows de madeira do (ex-explorado ou a explorar no futuro?!!) restaurante(?)está a degradar-se rapidamente por falta de manutenção e uso. As passadeiras de madeira que levam até ao mar têm traves arrancadas.Mais adiante lançaram fogo a um dos bancos de madeira, as cordas estão partidas, desfiam-se,os poucos cestos de lixo estão cheios até acima ao início da tarde e assim ficam...e lá aparecem os insectos. Existem tantas penas de gaivota a ladear a passadeira que dão para fazer um edredão! Pior: pela areia fora,caminho que temos de fazer assim que acabam as passadeiras, e durante dois dias seguidos encontrei vidros de garrafas de cerveja e arames, razão para nunca mais caminhar na areia sem as minhas velhas Nike...
Tudo isto, dirão alguns de vocês, são meros detalhes. Mas se nem dos detalhes cuidamos, o que dizer do resto? Se não podemos mudar o clima, a des-urbanização existente, se não inovamos, se não nos reinventamos, não poderemos ao menos manter o que existe em boas condições?!Era bom que também pudéssemos consertar a praia com um murro como fiz com a minha máquina de fotografar.O grupo de espanhóis deu um murro na mesa do Presidente da Câmara mas ingloriamente - não haverá vontade nem dinheiro para agir.
O Verão está no fim não tarda nada, os dias até já estão mais pequenos.Em breve a escuridão invernosa engolirá os seus queixumes e no próximo Verão,quem sabe, estas pessoas não escolherão esta praia.Virão outras menos observadoras,mas sobretudo menos amáveis na sua preocupação para com uma praia que escolheram talvez pela primeira vez e por onde passarão sem dar murros na mesa numa indiferença descontraída e ligeira de quem veio praticamente ao acaso.É desses espanhóis de passagem que a Figueira há-de viver no futuro, ou sobreviver.Viva la España.
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