Existirão,de facto, 50 modos de deixar o nosso amante?
Como escreveu o Paul Simon na letra da canção, o problema está todo dentro da nossa cabeça.Nisso ele tem razão. Se a resposta é lógica isso eu já não sei. A quem poderemos nós pedir ajuda quando não nos conseguimos libertar de nós mesmos?Existirão,de facto, 50 modos de deixar o nosso amante?!Isto até já parece uma interrogação da loira Carry,do Sexo e a cidade, mas eu, que tem dias em que até sou loira, não vivo em Nova Iorque nem compro sapatos de luxo, e o meu Mister Big nem é assim tão Big.
Algumas memórias agarram-se a nós como as lapas aos rochedos. No meu caso, nem por isso.Há anos e anos que me queixo do mesmo: a minha memória dos eventos passados sempre deixou muito a desejar em pormenores. De há muitos anos a esta parte até os seus contornos mais evidentes se desvanecem rápido. Antes de ter tido consciência desta minha permeabilidade ao esquecimento eu tive o que talvez possa ter sido prenúncio disso: nunca apreciei muito a disciplina de História. Não tenho por hábito rememorear. Talvez sofra de rememória preguiçosa.Evidentemente que com pouca memória e pouco exercício dela não há que enganar: vivo em permanência no presente ou numa memória de curta-média duração.O acto de lembrar-me do que foi nunca foi e não é coisa frequente em mim.
Já quase não recordo senão meia dúzia de episódios da infância. Alguns deles estão mais vivinhos da silva mas já não tenho a certeza se por tê-los vivido e memorizado ou se porque mos terem relatado num tempo menos recuado assim se reavivando a sua impressão no meu arquivo. Nunca me lembro do que almocei no dia anterior, só depois de algum esforço mental se materializam as sardinhas assadas com pimentos e o vinho rubro digeridos na véspera.Isto poderia facilmente levar a que pudesse, sem grande prejuízo, almoçar o mesmo prato dias seguidos sem me queixar da monotonia da ementa. (Aqui lembro-me de um episódio do Dr. House onde ele usava vários estratagemas para recuperar a memória perdida, um deles os cheiros.Hilariante a mergulhar o nariz num caixote de roupa suja! Adiante...)Esquecer as sardinhas não é importante.Mas esquecer que ensinámos a nossa irmã a escrever ou a cara dos amigos mais queridos já é um pouco mais incómodo.
Uma vez pedi a uma amiga chegada que me desse uma foto e ela cismou com o caso: para que queres tu a foto, perguntou ela, se nos vemos quase todas as semanas, eu não tenho e não gosto de tirar fotos. Aí eu expliquei que a vida dá muitas voltas e que agora estávamos ali, mas que amanhã podíamos estar acoli, e que eu me esqueceria dela decorrido um tempo mais ou menos lato sem encontros presenciais ou contactos sociais bem educados, a saber, aqueles telefonemas pelo aniversário, pelo natal, pelas ocasiões festivas ou especiais dos amigos em comum em que sempre alguém nos liga a dizer, olha, sabes quem é que se divorciou, senta-te, que não vais acreditar...Ela ficou furiosa comigo depois de cair em si e de perceber que eu ia iria mesmo esquecê-la, mais ano menos ano... Por acaso a vida deu as tais voltas e os nossos contactos têm-se vindo a espaçar cada vez mais, mas,mas, o meu álbum de fotos lá guarda a fotografia da minha amiga, acompanhada de legenda explicativa pelo que ela tem sítio certo na zona meiga das minhas recordações.
Contrariamente ao que escreveu o Paul Simon na canção 50 ways to leave your lover, eu apreciaria que alguém me explicasse pelo menos 50 modos de não deixar ir as coisas assim tão facilmente. Já consultei informalmente uma psicóloga e ela disse-me com ar de quem sabe tudo que se não me lembro é porque não era nada importante, a nossa memória é selectiva.Selectiva ou minúscula? Não é que eu precise de saber onde estava no momento em que a princesa Diana teve o acidente fatal, - neste caso, até sei, estava nos copos, e sabendo-se que o álcool é danado para a memória, e tendo eu estas relatadas queixas, chamem-me esponja a ver se eu me importo.. -ou o que vestia quando fiz a minha última frequência de Direito- e neste caso até também sei, casaco azul e calças azuis, uma camisa de manga curta com riscas amarelas e brancas talvez...e muita varicela, - pois parece que não escolhi os melhores exemplos!
Mas seria então mais ou menos assim: coisas irrelevantes só ocupam espaço no disco, são lixo, mais vale fazer delete. Tranquilizante mas não muito.E então ter-me esquecido que ensinei a minha irmã mais nova a escrever?!Ó pá isso é importante, pá, isso deixa-me vaidosa.Ou não é importante?Quem decide se é ou não importante?Eu ou a minha memória?!É que comigo nem o que é má memória, nem o que é boa memória,relevante ou irrelevante, se agarra que nem lapas aos rochedos. A maioria do meu passado remoto foi-se na corrente sorvida por um qualquer redemoinho dentro da minha cabeça:zutttt, sumiu!
Mas esta prosa não era para ser acerca daquilo que eu quero conscientemente lembrar ou esquecer. Era para ser acerca da nossa invasão por memórias que não desejamos mais possuir.Algo como ter acordado hoje às cinco da manhã com a imagem ultra nítida de uma carantonha masculina que já tinha para mim no mais fundo do arquivo morto a movimentar-se na minha cabeça como se ela fosse a sua casa.Os nossos sonhos deviam ter um cadeado de segurança.Mas não.A corrente dos sonhos transborda e toca a nossa consciência sem podermos impedi-la.Contrariando o que diz a letra da canção, dormir sobre o assunto seria talvez a pior solução possível para resolver o assunto não acabássemos nós a tropeçar novamente no mesmo sonho...e a luz da manhã não traz mais luz sobre o assunto, não mais do que a negritude da noite já trouxera clareza.Afinal de nada serve esta canção: quantos já nos explicaram os 50 modos para deixarmos os nossos amantes e nós até acrescentámos mais alguns!Não há plano B que resolva a situação, nem autocarro onde embarcar para longe das imagens vivas, não há chave para desgarrar porque não há cadeado nem embude para os sonhos, nem meia timidez nem timidez inteira,não há nada para discutir.Como é que havemos então de fazer para ser livres Paul Simon, se nem de nós mesmos nos conseguimos libertar?Parece que tu também não sabes.
"The problem is all inside your head", she said to me/The answer is easy if you take it logically/I'd like to help you in your struggle to be free/There must be fifty ways to leave your lover/She said it's really not my habit to intrude/Furthermore, I hope my meaning won't be lost or misconstrued/But I'll repeat myself, at the risk of being crude/There must be fifty ways to leave your lover/Fifty ways to leave your lover/You just slip out the back, Jack/Make a new plan, Stan/You don't need to be coy, Roy/Just get yourself free/Hop on the bus, Gus/You don't need to discuss much/Just drop off the key, Lee/And get yourself free/Ooo slip out the back, Jack/Make a new plan, Stan/You don't need to be coy, Roy/Just listen to me/Hop on the bus, Gus/You don't need to discuss much/Just drop off the key, Lee/And get yourself free/She said it grieves me so to see you in such pain/I wish there was something I could do to make you smile again/I said I appreciate that and would you please explain/About the fifty ways/She said why don't we both just sleep on it tonight/And I believe in the morning you'll begin to see the light/And then she kissed me and I realized she probably was right/There must be fifty ways to leave your lover/Fifty ways to leave your lover/
Algumas memórias agarram-se a nós como as lapas aos rochedos. No meu caso, nem por isso.Há anos e anos que me queixo do mesmo: a minha memória dos eventos passados sempre deixou muito a desejar em pormenores. De há muitos anos a esta parte até os seus contornos mais evidentes se desvanecem rápido. Antes de ter tido consciência desta minha permeabilidade ao esquecimento eu tive o que talvez possa ter sido prenúncio disso: nunca apreciei muito a disciplina de História. Não tenho por hábito rememorear. Talvez sofra de rememória preguiçosa.Evidentemente que com pouca memória e pouco exercício dela não há que enganar: vivo em permanência no presente ou numa memória de curta-média duração.O acto de lembrar-me do que foi nunca foi e não é coisa frequente em mim.
Já quase não recordo senão meia dúzia de episódios da infância. Alguns deles estão mais vivinhos da silva mas já não tenho a certeza se por tê-los vivido e memorizado ou se porque mos terem relatado num tempo menos recuado assim se reavivando a sua impressão no meu arquivo. Nunca me lembro do que almocei no dia anterior, só depois de algum esforço mental se materializam as sardinhas assadas com pimentos e o vinho rubro digeridos na véspera.Isto poderia facilmente levar a que pudesse, sem grande prejuízo, almoçar o mesmo prato dias seguidos sem me queixar da monotonia da ementa. (Aqui lembro-me de um episódio do Dr. House onde ele usava vários estratagemas para recuperar a memória perdida, um deles os cheiros.Hilariante a mergulhar o nariz num caixote de roupa suja! Adiante...)Esquecer as sardinhas não é importante.Mas esquecer que ensinámos a nossa irmã a escrever ou a cara dos amigos mais queridos já é um pouco mais incómodo.
Uma vez pedi a uma amiga chegada que me desse uma foto e ela cismou com o caso: para que queres tu a foto, perguntou ela, se nos vemos quase todas as semanas, eu não tenho e não gosto de tirar fotos. Aí eu expliquei que a vida dá muitas voltas e que agora estávamos ali, mas que amanhã podíamos estar acoli, e que eu me esqueceria dela decorrido um tempo mais ou menos lato sem encontros presenciais ou contactos sociais bem educados, a saber, aqueles telefonemas pelo aniversário, pelo natal, pelas ocasiões festivas ou especiais dos amigos em comum em que sempre alguém nos liga a dizer, olha, sabes quem é que se divorciou, senta-te, que não vais acreditar...Ela ficou furiosa comigo depois de cair em si e de perceber que eu ia iria mesmo esquecê-la, mais ano menos ano... Por acaso a vida deu as tais voltas e os nossos contactos têm-se vindo a espaçar cada vez mais, mas,mas, o meu álbum de fotos lá guarda a fotografia da minha amiga, acompanhada de legenda explicativa pelo que ela tem sítio certo na zona meiga das minhas recordações.
Contrariamente ao que escreveu o Paul Simon na canção 50 ways to leave your lover, eu apreciaria que alguém me explicasse pelo menos 50 modos de não deixar ir as coisas assim tão facilmente. Já consultei informalmente uma psicóloga e ela disse-me com ar de quem sabe tudo que se não me lembro é porque não era nada importante, a nossa memória é selectiva.Selectiva ou minúscula? Não é que eu precise de saber onde estava no momento em que a princesa Diana teve o acidente fatal, - neste caso, até sei, estava nos copos, e sabendo-se que o álcool é danado para a memória, e tendo eu estas relatadas queixas, chamem-me esponja a ver se eu me importo.. -ou o que vestia quando fiz a minha última frequência de Direito- e neste caso até também sei, casaco azul e calças azuis, uma camisa de manga curta com riscas amarelas e brancas talvez...e muita varicela, - pois parece que não escolhi os melhores exemplos!
Mas seria então mais ou menos assim: coisas irrelevantes só ocupam espaço no disco, são lixo, mais vale fazer delete. Tranquilizante mas não muito.E então ter-me esquecido que ensinei a minha irmã mais nova a escrever?!Ó pá isso é importante, pá, isso deixa-me vaidosa.Ou não é importante?Quem decide se é ou não importante?Eu ou a minha memória?!É que comigo nem o que é má memória, nem o que é boa memória,relevante ou irrelevante, se agarra que nem lapas aos rochedos. A maioria do meu passado remoto foi-se na corrente sorvida por um qualquer redemoinho dentro da minha cabeça:zutttt, sumiu!
Mas esta prosa não era para ser acerca daquilo que eu quero conscientemente lembrar ou esquecer. Era para ser acerca da nossa invasão por memórias que não desejamos mais possuir.Algo como ter acordado hoje às cinco da manhã com a imagem ultra nítida de uma carantonha masculina que já tinha para mim no mais fundo do arquivo morto a movimentar-se na minha cabeça como se ela fosse a sua casa.Os nossos sonhos deviam ter um cadeado de segurança.Mas não.A corrente dos sonhos transborda e toca a nossa consciência sem podermos impedi-la.Contrariando o que diz a letra da canção, dormir sobre o assunto seria talvez a pior solução possível para resolver o assunto não acabássemos nós a tropeçar novamente no mesmo sonho...e a luz da manhã não traz mais luz sobre o assunto, não mais do que a negritude da noite já trouxera clareza.Afinal de nada serve esta canção: quantos já nos explicaram os 50 modos para deixarmos os nossos amantes e nós até acrescentámos mais alguns!Não há plano B que resolva a situação, nem autocarro onde embarcar para longe das imagens vivas, não há chave para desgarrar porque não há cadeado nem embude para os sonhos, nem meia timidez nem timidez inteira,não há nada para discutir.Como é que havemos então de fazer para ser livres Paul Simon, se nem de nós mesmos nos conseguimos libertar?Parece que tu também não sabes.
"The problem is all inside your head", she said to me/The answer is easy if you take it logically/I'd like to help you in your struggle to be free/There must be fifty ways to leave your lover/She said it's really not my habit to intrude/Furthermore, I hope my meaning won't be lost or misconstrued/But I'll repeat myself, at the risk of being crude/There must be fifty ways to leave your lover/Fifty ways to leave your lover/You just slip out the back, Jack/Make a new plan, Stan/You don't need to be coy, Roy/Just get yourself free/Hop on the bus, Gus/You don't need to discuss much/Just drop off the key, Lee/And get yourself free/Ooo slip out the back, Jack/Make a new plan, Stan/You don't need to be coy, Roy/Just listen to me/Hop on the bus, Gus/You don't need to discuss much/Just drop off the key, Lee/And get yourself free/She said it grieves me so to see you in such pain/I wish there was something I could do to make you smile again/I said I appreciate that and would you please explain/About the fifty ways/She said why don't we both just sleep on it tonight/And I believe in the morning you'll begin to see the light/And then she kissed me and I realized she probably was right/There must be fifty ways to leave your lover/Fifty ways to leave your lover/
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Fica bem!