Martin Scorsese ganha Oscar com The Departed



Hoje gastei uma pipa de massa ao telemóvel a defender o Óscar do Martin Scorsese. Eu pensava que já não caía nestas, mas pelos vistos o bichinho cinéfilo ainda estrebucha e mais do que eu pensava. Nem eu nem o meu interlocutor tínhamos visto os filmes nomeados para melhor direcção mas ele teimava que fora mal atribuído. Talvez. Até desconfio que Clint Eastwood possa ter sido melhor. Mas Scorsese já merecia um boneco careca. Um destes dias ainda batia a bota e depois lá vinha a Academia atribuir-lhe um Óscar Honorário, levantar-se de pé e bater palmas, chorosamente. Foi melhor assim. E Eastwood já teve o seu, era Imperdoável que Scorsese não o conseguisse depois de anos e anos a laborar exímio na 7ª arte. 

Desde sempre me lembro de associar o nome de Scorsese a bom cinema embora nem sempre de fácil digestão. O seu último, O aviador, era tal e qual a fortaleza voadora do Howard Hughes nele retratada - um filme extravagante e sumptuoso, com pormenores deliciosos como a interpretação de Cate Blanchett na pele da actriz Katherine Hepburn, tecnicamente prodigioso mas que pouco nos elevava no ar ao longo das suas quase três ou mais horas. Gangues de Nova Iorque outra extravagância visual, cenários que já ninguém ousava colocar de pé, trazia-nos a Manhattan do século XIX envolta em contornos surreais e sanguinários como pano de fundo para um duelo de gangues liderado por Butcher, interpretado espectacularmente por Daniel Day-Lewis – violento até nos pequenos detalhes, na linguagem, cheguei ao fim do filme arrasada dos nervos, exausta. Antes disso Scorsese também tinha feito um filme algo alucinado em que Nicholas Cage conduzia uma ambulância semi-acordado, talvez um dos menos típicos da sua filmografia. Em 1995 delirei a ver Casino. Do princípio ao fim o filme é um magistral exemplo de como o cinema é poderoso, um festim autêntico para os cinéfilos. Com Robert de Niro e a surpreendente Sharon Stone envolvidos numa relação temperamental, ela Ginger Mckenna, em ascenção e queda, ele um apostador nato. Dinheiro, amor, jogo. Um filme inesquecível, vibrante. E muito antes disso tinha havido A Idade da Inocência, também com Daniel Day-Lewis, uma história de paixão proibida que se desenrolava nos salões da alta sociedade nova iorquina do século XIX, numa atmosfera sufocante, com Michele Pfeifer. Sublime. Inesquecível também. E antes destes muitos outros, o excelente Goodfellas, A cor do dinheiro, a história de Jake LaMotta e Táxi Driver que ainda hoje se vê como se tivesse sido filmado ontem. Talvez porque a alienação humana tenha qualquer coisa de intemporal. 

É muito comum ler que Martin Scorsese é um outsider em Hollywood e talvez por isso tenham tardado em reconhecer o que era tão óbvio: o homem é bom naquilo que faz, merece ter o careca dourado no topo da lareira da sala de estar. E mais nada. Para o ano há mais.

Comentários

JM disse…
Também estou de acordo que com todo o contributo que Martin Scorsese já deu ao cinema de excelente qualidade mais que merecia um Oscar antes que fosse tarde demais. Nem sequer me interessa se nesta nomeação eventualmente houvesse quem fosse mais merecedor pelo filme em questão. O homem já merecia...
;)
Bjnhs
Capitão-Mor disse…
Fiquei um pouco admirado com o resultado da noite. Pensava que o Clint Eastwood se saíria melhor e nunca acreditei que Scorsese tivesse uma noite triunfal. Parece que não, mas ainda pairam muitas suspeitas sobre as suas ligações à máfia italiana residente nos EUA.
Os óscares de melhores actores foram mais que justos em ambas as categorias!
Minha cara, grato pela visita e, desde já, saiba, está entre os meus favoritos. Esteja sempre a vontade para passear pela rua de mão única. Em relação ao meu nome posso lhe garantir que não é nenhum pseudonimo. Convido-lhe para ler outros contos espalhados pelo blog e em outros sites onde publico.

hábeijos
Isabel Victor disse…
Olá Bélinha ! sabes que é assim que me chama a minha mãe ?
Olha, venho aqui convidar-te para uma celebração, hoje, à volta de uma certa árvore, no " Caderno ..." e agradecer-te a boa companhia

Beijos de festa *****
Anónimo disse…
A noite dos Oscares continua a ser aquela noitada, também as farras dessa noite e as apostas ficaram para trás, mas não resistimos a acompanhar a cerimónia. Finalmente o Oscar chegou às mãos do Martin Scorsese e ao contrário do que "muita boa gente" diz ser o prémio pela carreira, somos obrigados a discordar e considerar "Entre Inimigos" uma obra cuja realização é merecedora do Oscar.
Cumprimentos Cinéfilos.

Paula e Rui Lima