Christmas is coming: Wishlist de Natal


Como já sabem, a Cat  criou um Desafio  e hoje é dia de escrever a minha Wishlist de Natal.  É bem curta:  um novo computador e novo software. Feito! Já escrevi sobre estas minhas necessidades aqui. Não preciso mesmo de mais nada, não quero mais nada. Duvido que possa ter o meu desejo satisfeito já em Dezembro.  E até em Janeiro, a tempo da mudança da Microsoft, será difícil. Com esta necessidade em mira não me sobra espaço para grandes devaneios e desejos materiais! Significa isso que não vou ter um bom Natal? De modo nenhum. Os presentes não são a prioridade.

Ano após anos a troca de presentes natalícia tem vindo a ser progressivamente mais criticada. A alegria simples de dar e receber que o  Natal trazia para o mês de Dezembro é hoje facilmente minada por um pesado sentimento de ansiedade, desconforto e até culpa. Lembro-me de há muitos anos atrás não ser tanto assim. E o Natal já era Natal. Os crentes e os não crentes já conviviam paredes meias. Já havia lojas e decorações. Já se fazia a troca de presentes. O que não havia era o discurso agreste da pegada ecológica enorme - só desperdícios em panfletos e catálogos de publicidade, fitas plásticas, embalagens especiais, embrulhos e papel de embrulhos - que a comercialização do Natal promove, nem o alerta de termos  sido contagiados pela doença das compras e tomados pela febre consumista que a cada momento alguém, sábio, sensato e iluminado, vem recordar nada ter a ver com o espírito do Natal. É assim que  dá vontade, como tantos dizem, de hibernar a 1 de Dezembro e regressar apenas nos Reis.

O Natal do nosso tempo, em virtude desta tradição de dar e receber um presente,  parece ter sido totalmente inquinado e estragado por estes discursos censuradores, pela publicidade agressiva que aparece nas nossas caixas de email, pela azáfama das grande superfícies em montar as secções de montanhas de chocolates e brinquedos ainda nem Novembro a meio, pela profusão de campanhas de solidariedade, tantas vezes atreladas a gestos de consumo: compre isto que damos aquilo aos que nada têm. Dizem que o espírito de Natal foi corrompido pelo capitalismo. Alguém me sabe dizer onde posso comprar umas garrafas do velho espírito de Natal para oferecer? O actual não parece satisfazer as necessidades. Gato por lebre, dizem muitos e, às tantas, com razão.

Uma alternativa que muitos adultos seguem é ofertar presentes apenas às crianças da família e dizer que o Natal é delas. Isso reduz muita da pressão das compras natalícias, é verdade. Mas muitos crescidos não dispensam a troca de presentes: o Natal sem ela não é Natal. Os que não têm hipótese de entrar nessa roda viva das compras sentem outro tipo de pressão. A esses a exuberância das montras só os faz sentir  ainda mais pobres do que já se sentem quando entregam a declaração de impostos. E os que têm menos que todos, aqueles a quem falta mesmo quase tudo,  esses ficam simplesmente à espera do Natal, à espera que alguém se lembre deles e lhes proporcione um momento de conforto. O Natal tem esta faculdade de expor a miséria que durante o ano inteiro convive connosco de perto sem que lhe prestemos muita atenção. As luzes do Natal vêm então iluminá-la e forçar-nos a olhá-la uma vez. E assim como muitos pais enchem a árvore de presentes para os filhos, redimindo a memória do magro Natal da sua infância, também nós abrimos os cordões à bolsa e tentamos redimir, por esta altura, o nosso alheamento diário a essa magra existência que penaliza tantos. Está mal? Não. Mas podíamos fazer bem melhor.



Mas também essa escolha de apenas ofertar às crianças tem sido criticada. Já não falta muito para o Facebook se encher de fotos de salas familiares onde a pilha de presentes para as crianças quase esconde a árvore de Natal! Duvido que no final da eufórica abertura de tantos presentes sempre consigam saber quem deu qual. Os pais não querem decepcionar as expectativas dos filhos e, por outro lado, temem que estes fiquem frustrados porque o amiguinho  teve um Natal melhor. Há pais que economizam ao longo do ano para aquele momento ser perfeito. Vivem para ver o olhar de satisfação completa das crianças. Não lhes recusam nada, não seria Natal de outra forma.  Por outro lado, em algumas famílias até parece que há competição para ver quem se chega à frente com o melhor presente para o cachopo. Quanto mais alargada a família, maior o desafio. O resultado? Presentes inadequados à idade de quem os recebe apenas porque são o último grito, presentes em excesso que nenhuma criança irá conseguir usar e introduzir totalmente nas brincadeiras do ano seguinte, presentes que não foram pedidos e que acabam nas quermesses ou nos reciclados praticamente sem uso, antes do Natal seguinte e mais.

Há uns anos encontrei uma regra, possivelmente originada nos EUA, - mas onde é que havia de ser? - que prometia disciplinar os gastos desenfreados com os petizes por altura do Natal e evitar esta avalanche de presentes. É a regra dos quatro presentes: Want, Need, Wear, Read. O que dar às crianças de presente? A regra  é a de que se deve dar algo que eles querem, algo que precisam, algo para vestir  e algo para ler. Ou seja: a abundância de embrulhos seria reduzida a quatro presentes. Na minha infância é um facto que nunca terei recebido mais do que isso pelo Natal e não me lembro de me queixar de qualquer infelicidade.

Repensar a tradição da troca de presentes é também uma tendência forte do nosso tempo. O importante, quanto a mim, é que cada um encontre um caminho para viver o Natal da melhor forma possível. Não sou muito adepta das regras, nem mesmo da dos quatro presentes, mas creio que uma, se fosse seguida, resolveria muita coisa: é a simples regra do bom senso.



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