Sexta-feira, 13




Na sexta-feira, dia 13, entrei de férias. Foi um dia de regozijo por me poder afastar de uma certa rotina bem pesada que já durava há três meses.  Na última semana deliciei-me a fazer planos para as duas semanas seguintes. A época do ano inclui a tradição natalícia, inescapável, mas que desde há muito simplifico para não pesar. Ocorreu-me que era um dia de superstição, a sexta-feira 13, ainda me permiti pensar no que leva as pessoas a temerem, umas, estes dias. Mas outras, grupo no qual me incluo, nem se lembram disso, a não ser quando são lembradas. E agora, na época da conexão global, é como o Natal: sempre há alguém, no Facebook, na rádio, no grupo de conhecidos, que vem lembrar que é sexta-feira 13. 
A razão da superstição está entranhada em raízes culturais e históricas, misturando crenças religiosas, mitologias antigas e eventos históricos. Sou péssima na área dos números, são entidades estranhas, ao contrário das letras, mas sei que em culturas antigas o número 12 era considerado completo e perfeito: os 12 meses do ano, os 12 signos do zodíaco, os 12 deuses do Olimpo na mitologia grega, os 12 apóstolos de Cristo. O número 13 começou então a ser olhado com desconfiança, era considerado um número irregular, indesejável. E quando ao dia 13 acontece coincidir com a sexta-feira temos um duplo azar. Segundo a tradição cristã, acredita-se que Jesus Cristo foi crucificado numa sexta-feira. Além disso, a Última Ceia teve 13 pessoas presentes (Jesus e os 12 apóstolos), e Judas, o traidor, era considerado o 13º convidado. 
Mais próximo no tempo,  a superstição popularizou-se a partir do século XX, graças a obras literárias e cinematográficas, como o livro Friday the 13th (1907) de Thomas W. Lawson e, mais tarde, uma dúzia de filmes de terror intitulados Sexta-feira 13. Curiosamente, no Japão, o número 13 não é associado a azar . Por lá, o número 4 é considerado de má sorte, pois sua pronúncia é semelhante à palavra "morte".

Não sei quem me lê é ou não supersticioso, mas para mim esta sexta-feira 13 foi um dia de sorte. Hoje é domingo, segundo dia de férias, e a sorte continua. Pude acordar, mais uma vez, quando o meu relógio biológico decidiu. A luz entrava meigamente pelas frestas da janela, vozes na rua comentavam o pão quente e o frio que estava, que era tempo dele. Tomei o pequeno-almoço sem olhar para o relógio, enrolada no meu robe aconchegante. Ter tempo é um privilégio, não ser escravo do tempo é luxo que frequentemente esquecemos. Gostava que cada um dos meus dias de férias tivesse mais horas para conseguir fazer tudo o que planeei. Pois é, podemos até acreditar, se assim quisermos, que o dia e a noite também têm 12 horas e não 13 para nos permitir viver afortunadamente cada minuto. Na realidade, o dia e a noite não têm exatamente 12 horas cada: essa divisão é apenas uma convenção histórica que começou com os egípcios e foi refinada ao longo do tempo. O nosso quotidiano não deixa de ser influenciado e regido pelas tradições antigas, quantas vezes sem o sabermos, e até por superstições, mas, felizmente, estas são aquilo que fizermos com elas. 

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