Racismo no futebol: não existem boas desculpas



No passado mês de Dezembro, no seguimento de uma época marcada por diversos incidentes de abuso racial nos relvados, foi, a pedido da Liga que gere a 1ª divisião do futebol, lançada em Itália uma campanha anti-racismo no futebol que, entre várias medidas, apresentava pinturas de macacos. Mario Balotelli, de origem ganesa, avançado do Brescia, o marfinense Franck Kessie, médio do Milan, o brasileiro Dalbert Henrique, defesa da Fiorentina, ou o belga Romelu Lukaku, atacante do Inter de Milão, foram todos alvo de cânticos racistas na primeira parte da temporada. O objectivo da campanha era, pois, fazer com que os adeptos parassem de imitar os guinchos dos macacos, os “monkey chants”.

A Serie A apresentou então as novas medidas estudadas para combater o racismo nos estádios italianos e o tríptico artístico. As críticas não se fizeram esperar. O artista Simone Fugazzotto tentou explicar o que representava o tríptico: os três macacos deviam mostrar que não havia diferença entre macacos e homens. Ele tinha tido essa ideia ao ver um jogo entre o Inter de Milão e o Nápoles. E o que tinha acontecido? Os adeptos estavam a dirigir guinchos de macacos a Kalidou Koulibaly, um senegalês. Ele, sentiu-se humilhado com aquilo, ele respeitava o jogador. Como andava a pintar macacos há seis anos, teve a ideia de mostrar que somos todos macacos. Pintou um macaco do Ocidente com olhos azuis, um asiático com olhos amendoados, e um macaco preto, no meio deles, porque é daí que vimos todos, de acordo com a teoria da evolução. Assim entendido, o macaco ensinaria que não há diferenças. Somos todos macacos. Não há o homem e o macaco. Quando muito, somos todos macacos. A ideia era devolver o racismo aos racistas. 

A campanha foi objecto de enorme indignação, a começar na organização Fare Network, que luta contra a discriminação no futebol europeu:- “Num país em que as autoridades fracassam em lidar com o racismo semana após semana, a Série A lançou uma campanha que parece uma piada de mau gosto. Essas criações são uma afronta, vão ser contraproducentes e continuam a desumanizar os afrodescendentes". Também o AC Milan se pronunciou: "Não existem boas desculpas para ser racista. Não há espaço para o racismo no futebol. Somos irmãos universalmente unidos, esta é a nossa maneira para combater as formas de discriminação. Discordamos fortemente com o uso de macacos como imagens na luta contra o racismo e ficamos muito surpreendidos por não termos sido consultados". E o Roma:" Esta não é a maneira correcta para vencer o racismo". 

O artista recebeu as críticas com enorme choque. Podia lá ser? Acrescentou, justificando-se, que para se perceber o seu trabalho era preciso entrar no seu mundo e ver o macaco como o protagonista das suas obras de arte ao longo dos anos e como uma metáfora da humanidade. Ele tinha pintado, ao longo do tempo, todas as virtudes humanas, as fraquezas e loucuras, através do chimpanzé. Isso permitia-lhe expressar a alma do ser humano, ridicularizando os hábitos, as manias e os hábitos pouco saudáveis do homem...

O artista e o Luigi De Servio, director da Liga, - que defendeu o compromisso da Liga contra todas as formas de preconceito como forte e concreto, considerando que o racismo é um problema endémico e muito complexo, a ser abordado em três níveis diferentes; o cultural, com obras como as de Simone; o desportivo, com uma série de iniciativas em conjunto com clubes e jogadores, e o repressivo, em colaboração com a polícia - vieram posteriormente pedir desculpas pela macaquice.

Fonte: ITALIAN SOCCER ANTI-RACISM MONKEY ARTWORK CONDEMNED AS 'OUTRAGE', aqui


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