O que devo fazer para casar com um homem rico?




JP Morgan torna-se no primeiro banco dos EUA a ter criptomoeda. Li ontem esta notícia, aqui. Vai ser a "JPM Coin". Isto acontece depois de o diretor executivo da JP Morgan Chase, Jamie Dimon, ter dito que a Bitcoin era uma fraude em Setembro de 2017! Nunca digas desta água não beberei.

Ora, lembrei-me de um texto que circulava na internet há muitos anos e que era atribuído ao CEO da JP Morgan. Na realidade não era. A origem do mesmo remonta a 2007 e foi tudo explicado no Snopes. Supostamente seria uma resposta do CEO da J.P. Morgan para uma mulher bonita que colocara um anúncio num fórum bastante popular (Craiglist)   em busca auxílio sobre a melhor maneira de encontrar um marido rico.


Título: o que devo fazer para casar com um homem rico?

Assunto: Vou ser honesta acerca do que irei dizer aqui. Tenho 25 anos. Sou muito bonita, tenho estilo e bom gosto. Desejo casar com um homem com um salário anual de $ 500.000 ou acima. Podem dizer que sou gananciosa, mas um salário anual de US $ 1 milhão é considerado apenas como salário de classe média em Nova York. Minha exigência não é alta. Existe alguém neste fórum que tenha um salário anual de US $ 500.000? São todos casados? O que eu queria perguntar é o que devo fazer para me casar com pessoas assim ricas? Entre as que eu namorei, a mais rica ganhava 250 mil dólares anuais, e parece que esse seria o meu limite. Se alguém se vai mudar para uma área residencial de alto custo na zona oeste de Nova York, uma renda anual de $ 250k não é suficiente. Estou aqui humildemente para fazer algumas perguntas:

1) Por onde os solteiros mais ricos? (Por favor, liste os nomes e endereços de bares, restaurantes, ginásios...) 
2) Qual faixa etária devo eleger? 
3) Por que a maioria das esposas de homens ricos têm apenas uma aparência mediana? Conheci algumas mulheres que não têm boa aparência e não são interessantes, mas elas casaram com homens ricos. 
4) Como decide quem pode ser sua esposa e quem pode ser sua namorada? ( O meu alvo agora é apenas casar.)

Assinado,
Uma Mulher Bonita

Resposta: o que devo fazer para casar com um homem rico?

Prezada Mulher Bonita,

Li a sua publicação com grande interesse. Acho que há muitas mulheres por aí que têm perguntas parecidas como as suas. Por favor, permita-me analisar sua situação como um investidor profissional.
Minha renda anual é superior a US $ 500 mil, o que atende às suas necessidades. Espero que todos acreditem que não estou perdendo tempo aqui.

Do ponto de vista de um homem de negócios, casar consigo é uma má decisão. A resposta é simples e passo a explicar. Sem apartes, o que está tentando fazer é uma troca de "beleza" por "dinheiro": a pessoa A oferece beleza, e a pessoa B paga por ela. Se esse é seu único activo, seu valor será muito pior 10 anos depois. Esta transacção sofre de um problema mortal: sua beleza vai desaparecer, mas meu dinheiro não desaparecerá sem um bom motivo. O facto é que minha renda pode até aumentar de ano para ano, mas a senhora não poderá ficar mais bonita ano após ano. Daí que, de um ponto de vista económico, eu sou um activo de valorização e você é um activo de depreciação. Não é apenas a depreciação normal, mas a depreciação exponencial. Se esse é seu único activo, seu valor será muito pior 10 anos depois. Usando o jargão de Wall Street, cada negociação tem uma posição, namorar consigo também é uma "posição de negociação".

Qualquer pessoa com mais de US $ 500 mil de renda anual não é um tolo; só sairíamos consigo, mas nunca nos casaríamos. Aconselho que coloque de parte este plano de casar com um homem rico. E, a propósito, a senhora poderia tornar-se uma pessoa rica com renda anual de US $ 500 mil. Este plano dar-lhe ia melhores hipóteses do que tentar encontrar um  idiota rico.

Se o valor comercial de um bem cai, nós vendemos o bem, não é uma boa ideia mantê-lo por longo prazo - o mesmo aconteceria com o casamento que a senhora deseja. Pode ser cruel dizer isso, mas uma decisão sensata impõe que quaisquer activos com grande valor de depreciação sejam vendidos ou “alugados”. Espero que esta a resposta ajude. 

Assinado,
CEO da J.P. Morgan


Em cadeias de email que deram a volta à internet,  e blogues onde o li pela primeira vez, muitos se perguntavam se o CEO teria mesmo respondido ao anúncio. Seria irrazoável que um homem de Wall Street não tivesse nada de melhor para fazer do que ler anúncios do Craiglist e a dar-se ao trabalho de responder para se fazer engraçado na internet! Isso é mais o objectivo de quem quer ser o rei da internet por um dia.

O CEO da JP Morgan não desvendou todas as dicas. Por exemplo, a escolha de uma mulher também terá a ver e muito com o perfil do investidor. Se tiver tolerância a perdas poderá apostar numa mulher bonita e jeitosa, se for mais conservador, é melhor que procure identificar outra espécie de activo, talvez  mais cerebral. A idade também é fundamental na escolha dos investimentos, isto é, da mulher que imagine ao seu lado: quanto mais a idade do investidor avança, maior a necessidade de o investimento se mostrar disponível. Ou seja, quanto mais velho, menor deve ser o risco que a mulher deverá  representar na sua vida.

Por outro lado, a sabedoria popular aconselha a não colocar os ovos todos no cesto da mesma galinha. Por isso, muito investidor diversifica a carteira de activos e além do investimento na mulher investe também numa amante ou numa sugar baby, ou até duas, algumas em diferentes regiões geográficas. Isto tem por objectivo minimizar o risco associado às opções feitas: uma cidade pode rapidamente  revelar-se pequena para tanta transacção.

O preço é fundamental, por vezes, é mesmo o factor decisivo. É fundamental que o investidor olhe para os históricos dos preços que pagou em restaurantes, bares, joalharias, lojas de moda, resorts, etc, e a partir daí, identificar padrões e tendências. Isto permitir-lhe-á prever movimentos futuros nos valores das cotações de mercado dos respectivos activos. 

O CEO da PJ Morgan foi claro: até podia dar umas voltas com a senhorita bonita, mais do que isso, não. Ora aí temos um potencial candidato a "sugar daddy". Um "sugar daddy" é um homem que já viveu uns aninhos, acumulou  riqueza e não quer relações convencionais,estando, no entanto, disposto a gozar de companhia regular mediante um acordo, que pode ou não envolver sexo. Gasta o seu tempo e dinheiro em mulheres que lhe agradam, porque são jovens, bonitas e lhe "adoçam"a existência. Já as "sugar babies"  desejam obter um estilo de vida luxuoso, pretendem realmente obter uma relação com benefício financeiro, que pode incluir a obtenção de contactos com vista ao prosseguimento de uma carreira, ou apenas participar de novas experiências de vida, ou mesmo uma vivência romântica.

Li então esta peça do Business Insider  - Professional 'sugar babies' share what it's really like to get paid to hang out with rich guys - a ver se percebia melhor a cena americana dos "sugar daddies" e das "sugar babies". Aí se refere o "treating", que data do séc. XX, um antecedente deste fenómeno. O mais famoso site do género,  SeekingArrangement.com , surgiu em 2006. Os sites da especialidade são abundantes. Nos EUA e UK é um estratagema usado por muitas estudantes para pagar os empréstimos das elevadas propinas universitárias e que o próprio site abertamente promove. Fiquei a saber que a Mulher Bonita do anúncio poderia facilmente ganhar $250.000 anuais se se dedicasse ao business do "açucar". 



As "sugar babies" não gostam de ser comparadas a prostitutas. Defendem diferenças entre a mais velha profissão do mundo e a sua actividade, mas a linha que separa as duas, é, aparentemente, tão fina como a da tanga da Miss BumBum Brasil. Por exemplo, elas dizem que não são "pagas", que apenas recebem presentes. Ou que uma prostituta faz trabalhos esporádicos, enquanto uma "sugar baby" se envolve num relacionamento, ou seja, é expectável que aconteça romance, uma "real" conexão, que até pode perdurar no tempo, que até pode levar a um caso sério. Outra grande distinção é que a "sugar baby" escolhe um estilo de vida e não uma profissão. Faz toda a diferença, segundo elas. A pobre da prostituta, mesmo uma prostituta de luxo, atende qualquer cliente para ganhar dinheiro, enquanto que a "sugar baby" é muito selectiva. Também consideram que estão menos expostas a riscos, enfim, é tudo cor-de-rosa para as "sugar babies". O sexo também não é o objectivo do "arranjinho", dizem, pode ou não acontecer. Tudo depende do "acordo". É claro que uma prostituta nunca se deitou junto a um homem só para ele a ver nua, nem se presta a ouvi-lo declamar os seus poemas inéditos. Dizem ainda que se envolvem numa relação de benefício mútuo, que muitas procuram até um mentor, que têm objectivos prosseguidos não às custas do "sugar daddy" mas com a ajuda deste, que teria verdadeiro interesse no êxito da sua "baby", ao contrário do que se passa na prostituição, que se reduz a uma simples transacção. Além disso, a  prostituição é entendida como o último recurso que uma mulher encontrou para pagar as contas. Muito menos se consideram "gold diggers",  nome outrora dado às mulheres que seguiam os homens que partiam para a caça ao ouro, na mira de se apoderarem da sua fortuna um dia, que não são nunca directas nos seus propósitos, usam de mentiras e artifícios, sendo o seu objectivo único deitar a mão ao dinheiro que conseguirem, com mínimo ou nenhum envolvimento emocional.


A Mulher Bonita foi logo apelidada de prostituta por muitos. E o CEO aplaudido por ter metido na ordem uma tal interesseira. A Mulher Bonita bem podia não ser uma mulher rica, mas ainda assim ser uma rica mulher. Inclino-me, no entanto, para que fosse apenas uma pobre idiota, e espero que nada disto não tenha passado de um exercício de sarcasmo. No entanto, até que ponto a Mulher Bonita não estaria apenas a dar voz a um desejo ainda secretamente presente nos planos de muitas mulheres? Até que ponto as mulheres continuarão hoje, em tempos de balanço de conquistas feministas e de relançamento de novas lutas, ou não, a ansiar por casamentos financeiramente vantajosos?

Eis um punhado de ideias da peculiar de Catherine Hakim, (London School of Economics), conhecida por pontos de vista polémicos como a defesa do adultério ou a legalização da prostituição. Num estudo realizado no Centre for Policy Studies, Hakim afirma que a ideia de que as mulheres não gostem de depender financeiramente dos homens é um mito. Depois de décadas de campanhas de igualdade de género, muitas mulheres agora acham difícil admitir que querem ser donas de casa mais do que querem ter uma carreira de sucesso. A aspiração das mulheres de se casarem, se puderem, com um homem com maior nível de instrução e maior rendimento persiste na maioria dos países europeus. As mulheres continuam a usar o casamento como uma alternativa ou complemento das suas carreiras profissionais. Muitas mulheres não querem admitir que procuram um parceiro que ganhe mais. Eles ainda mantêm esse facto em segredo junto dos homens com quem namoram.

Hakim escreveu um livro que se chama Honey Money: the power or erotic capital (Capital erótico:aparência física, charme, sex-appeal, técnica sexual) onde diz que os retornos financeiros da atracção igualam o retorno das qualificações. De acordo com a socióloga, muitas jovens de hoje (artigo de 2011) consideram que a beleza é tão importante quanto a educação. Não li o livro, mas, de acordo com o nosso amigo, o "CEO da JP Morgan", já sabemos que a beleza não é capital algum: é antes um bem, e um bem que deprecia com a idade!

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