O Facebook é uma máquina de fazer nuvens



O Facebook é uma máquina de fazer nuvens. Desde que apareceu, mais e mais pessoas andam com a cabeça nas nuvens. Na era pré-Facebook, uma pessoa saía da cama e abria a janela para o céu azul. Agora abre janelas virtuais para o azul do Facebook no seu smartphone. O azul do Facebook nunca é completamente límpido. Se alguma vez o foi talvez apenas em 2004, quando se deu o Big Bang do Facebook e eram apenas meia dúzia de estudantes a pasmar o olhar naquele azul novidade, ainda puro. Agora, e normalmente, o azul Facebook tem nuvens. Como sabemos, nem sempre o facto delas existirem significa mau tempo. As mais comuns aparecem com uma grande variedade de formas, sendo a mais vulgar a de um bocado de algodão. A base pode ir desde o branco até ao cinzento claro. Estas nuvens são sinal de bom tempo, surgem associadas a dias soalheiros. É é sob o signo do sol que se sucedem muitas das interacções na rede social: são como pedaços de algodão que que vogam na linha do tempo, não chegam a obscurecer o dia de ninguém, quando muito provocam alguma sombra sob a forma de reflexão passageira.

Mas também sabemos de nuvens que cobrem o céu e essas já causam diminuição da visibilidade porque pouca luz do sol as atravessa. Quando assim acontece no Facebook, uma das partes em presença na relação social virtual enxerga apenas meia realidade.  Vive a rede social veladamente, como quem usa óculos bem escuros:  se uma andorinha não faz a primavera, também não será uma nuvem ou duas que lhe vão estragar o azul Facebook. E se não topar com elas, melhor: elas não existem. Não é que seja deficiente a nível visual. É mais por não querer ver, como se temesse que, ao virar da esquina de uma nuvem, fosse forçada a olhar o sol de frente.

O tempo fica mais feio quando se trata de nuvens baixas, escuras. O sol não consegue atravessar as nuvens e, além disso, chove continuamente embora sem intensidade. Uma porção de pessoas há também que um dia mais ou menos longínquo olhou o sol de frente sem saber que havia um eclipse em curso no Facebook! E desde então cegaram completamente para o diálogo na rede. Aprenderam a lição de que nesta intempérie de palavras quem anda à chuva, molha-se. Pagaram o preço. Agora  vivem de olhos semi-cerrados, ardentes do sal que por lá se acumula, de lágrimas que não secam nem brotam, recusando-se, em silêncio, a ser fulminados. Desengane-se quem pense que não conseguem ver a luz pelo intervalo dos pingos. Na verdade, à distância vê-se por vezes melhor do que perto.

Outras vezes o azul está repleto de nuvens de tempestade e há trovoadas, aguaceiros, granizo e até tornados que varrem amigos virtuais de longa data para longe. Ocorrem isoladamente ou em grupos. Neste cenário as pessoas andam às cegas, mas teimam que não. No entanto, a única luz que atravessa o cenário é a dos raios eléctricos, que não ilumina, apenas vergasta. Recorrem ao insulto e a outras torpes formas de agressão mútua na tentativa de que os seus oponentes vejam a luz da razão. Da sua razão. A porfia pode estender-se de minutos a horas, e por vezes, dias. Quando a bonança chega, descarrega um sentimento de vazio: ninguém ganhou, ninguém perdeu. A não ser tempo, precioso tempo. Mas eis que o azul Facebook está de novo mais azul. Até que, no horizonte, se começam a formar nuvens. Como sabemos, nem sempre o facto delas existirem significa mau tempo. As mais comuns aparecem com uma grande variedade de formas, sendo a mais vulgar a de um bocado de algodão.

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