Livro: O último segredo de José Rodrigues dos Santos




O Último Segredo da editora Gradiva pode ser encomendado na Wook e recebido em sua casa em 24 horas. Uma paleógrafa assassinada na Biblioteca Vaticana quando consultava um dos mais antigos manuscritos da Bíblia, o Codex Vaticanus, um célebre historiador e criptanalista português, Tomás Noronha, e uma bela inspectora italiana, Valentina Ferro, são as três personagens deste já polémico romance. Ao investigar a solução dos crimes, Tomás e Valentina põem-se no trilho dos enigmas da Bíblia, uma demanda que os conduzirá à Terra Santa e os colocará diante do último segredo do Novo Testamento: a verdadeira identidade de Cristo. Mais um livro daquele a quem chamam o grande mestre do mistério português.

O Último segredo é o último livro de José Rodrigues dos Santos e já não é segredo nenhum para ninguém que caiu que nem bomba no meio conservador religioso e já tem manifestações de indignação formal na forma de comunicado do Secretariado Nacional da Pastoral de Cultura ...e ainda a procissão vai no adro!

José Rodrigues dos Santos já reagiu: (...) "Ou acham mesmo que a preocupação central dos fiéis é uma gralha numa referência bibliográfica? Na verdade não percebo bem esta reacção da Igreja. A Igreja está com medo de quê? Que os seus fiéis descubram a verdade sobre Jesus e a Bíblia? Mas faz algum sentido imaginar uma fé que se baseie em mitos e em falsidades? A verdadeira fé só se pode basear na verdade e a Igreja não deve temer a verdade. "

Diz o Secretariado que não se pronuncia quanto ao aspeto literário da obra, área fora das suas competências, mas como o autor teve a ousadia de meter a foice em seara sagrada, tendo pretensões a explicar como são ou deixam de ser a Bíblia e as verdades da fé, então terá se sofrer a censura respectiva... e de pedir perdão, certamente. Que o autor recorreu a uma simples tradução da Bíblia, que o método-histórico crítico é redutor, que colocou uma nota à entrada do livro a dizer que é tudo verdade, que no final do livro fez mal as citações, que afinal escreveu centenas de páginas sobre um assunto tão complexo sem fazer ideia do que fala... Este comunicado não está assinado. Mas, pelo que ali pude ler, deduzo quem o escreveu apenas leu as primeiras e as últimas páginas do Último segredo, de onde retirou os erros que apontou, possivelmente por considerar que o conteúdo do livro era de tal forma peçonhento que era de evitar até manuseá-lo. Foi depois o trabalho de dissecação do miolo controverso feito por outro indivíduo, um professor sem medo de se aventurar nestes territórios indigestos da fé e da literatura. Professor catedrático de Estudos Anglo-Americanos, Mário Avelar tem ganas na pena capazes de enfurecer qualquer escritor de best-sellers. Inevitavelmente lá foi ele comparar o Rodrigues ao Dan Brown. Saibam que a obra deste é plena de equívocos e banalidades, mas a bem conseguida estratégia narrativa e o carácter sensacionalista dos tópicos escolhidos, bem cozinhados com uma teoria da conspiração, ditam o êxito. É fácil! E o Professor desvenda-nos ainda como é que Dan Brown consegue imprimir à sua escrita um formato que torna a sua leitura compulsiva. Eis o segredo do sucesso revelado, nada de mais, afinal. Esta é a ideia do crítico Mário Avelar que deve ter analisado O Último segredo com mais rigor do que os polícias forenses do CSI tratam as provas criminais. Depois de lembrar mais uns escritores de aventuras, o crítico literário deitou as unhas ao teclado e foi-se ao livro de José Rodrigues dos Santos e era fácil adivinhar logo ali que o jornalista escritor das orelhas grandes é um caso perdido. O nosso Mestre do Mistério não realizou uma investigação rigorosa e intelectualmente honesta, não fez mais afinal do que seguir a cartilha de Dan Brown. Mas deu-se mal e criou um romance inverosímil, sem lógica nem coerência internas. Depois de apontar um rol de erros ao romance termina com um comentário que o seu filho teria feito a propósito da clonagem de Jesus Cristo - ah, isso é Dan Brown for Dummies! 

Se estou a escrever sobre isto sem sequer ter lido o livro ou ter vontade de o ler, mais uma vez se confirma que o segredo, antepenúltimo, penúltimo ou último que seja, é ainda a alma do negócio. Fico a aguardar as cenas dos próximos capítulos pois o debate ainda mal começou.

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