Como cozinhar os perceves
Em cima do pedaço de madeira está um perceve.
O que é um perceve?
Este ano uma vaga de calor tem prolongado o tempo quente em Outubro e nestes dias dei uns pulos à praia antes que o calor se esgote. O mar está a deitar muitas algas para a praia, também madeira e, infelizmente, lixo! Esta semana encontrei percebes na areia. Há quem diga que o perceve ,ou percebe, é o rei do marisco, até mais desejado do que lagosta. Os apreciadores dizem que é um prato de mar. É bastante caro, talvez 40-50 euros cada quilo. O seu aspecto é muito curioso, tem uma unha e um pedúnculo. Pode atingir 10-15 cm. Os maiores que vi até hoje estavam numa montra de um restaurante do Porto ali na zona do cinema Trindade. As pessoas até paravam para os ver na austera montra onde eles eram a única atração!
Estes crustáceos vivem nas rochas na zona intertidal, ou seja, entre marés, onde o mar é mais batido. Crescem rapidamente, em seis meses alcançam 5 cm, precisando de apanhar também sol e até chuva. Alimentam-se de zooplâncton e são hermafroditas. Dada a fecundação eles põem ovos e daí surgem larvas nadadoras que só posteriormente se fixam. As pinhas de perceves agarram-se firmemente às rochas e os percebeiros usam uma faca especial para as arrancar chamada arrilhada. Só a partir dos anos 60 é que começou a ser comercializado e tem adeptos maioritariamente na Península Ibérica. São pouco calóricos, ricos em vitaminas e minerais e proteicos.
A exploração do percebe no sudoeste da costa continental portuguesa é usual e uma tradição familiar nos concelhos de Aljezur e de Vila do Bispo. Até ao início do século XXI, não existia regulamentação da exploração de percebes. Hoje a apanha comercial está condicionada em duas áreas protegidas: Reserva Natural das Berlengas e Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina.
Se quiser arriscar-se e ir à apanha de perceves, apanhe-os na maré vazia. Os melhores são escuros e de lábio vermelho, não apanhe os castanhos. Há quem os cozinhe na própria água do mar: 1kg de percebes e 3 litros de água. Chegado a casa, lave-os bem para tirar a areia. Ferva a água com um dente de alho e 1 folha de louro. Quando estiver a borbulhar é só juntar os crustáceos. Assim que levantar fervura retire-os e sirva. Li que se devem comer quentes, mas quanto a isso não sei, eu sempre os comi frios e souberam-me bem, acompanhados pela tradicional cerveja. Para o efeito é segurá-los pelas extremidades e puxar: depois é saborear o delicioso miolo!
João Mariano fez um livro sobre os homens que se arriscam pelas falésias no Sudoeste português para apanhar este marisco e chamou-lhe Os Guerreiros do mar. De facto, nas suas poses,vestidos nos seus fatos justos e negros, armados de arrilhada, eles parecem verdadeiros ninjas a combater o mar! As fotos são estupendas, eu apenas reproduzo aqui uma delas por razões óbvias. Aconselho uma visita ao site de João Mariano, aqui.
Vejam também os perceveiros em acção no vídeo que se segue!
Vídeo (Apanha na Costa Vicentina, locução em francês)
Vídeo (Apanha na Galiza)
Comentários