Cinema: Syriana e a banda sonora de Alexandre Desplat



“Corruption charges. Corruption? Corruption ain't nothing more than government intrusion into market efficiencies in the form of regulation. That's Milton Friedman. He's got a god-damn Nobel Prize. We have laws against is precisely so we can get away with it. Corruption is our protection! Corruption is what keeps us safe and warm. Corruption is why you and I are here in the white-hot center of things instead of fighting each other for scraps of meat out there in the streets. Corruption is how we win.”TIM BLAKE NELSON (Danny Dalton)

Podia escrever linhas e linhas sobre a(s) complexa(s) história(s) de Syriana, -que está numa lista* dos 10 melhores filmes que até hoje se fizeram sobre a CIA - que vi hoje de madrugada, os quilos que Clooney teve de engordar para dar corpo ao seu Bob, ou como apreciei ver Alexander Siddig que interpreta solidamente Nasir, um príncipe reformista,um actor que me tinha deixado saudades como Hamri-Al-Assad,um terrorista islâmico, desde a 24. O único problema que encontro em Syriana, que me lembro dizerem-me ser por demais desconexo, é o de desejar que as personagens tivessem sido mais desenvolvidas,queria ver mais delas. Mas assim talvez Syriana perdesse parte do seu efeito. Labiríntico,intrincado, Syriana sabe mais acerca do que se passa do que alguma vez nos revelará e nós teremos de conjecturar o que falta se quisermos encontrar a saída. Ao manter-nos suspensos este filme exige paciência do espectador para o seguir até ao fim, e nem mesmo quando termina e as peças se ajustam cessa esse nosso desejo. Isto não é um defeito do filme, é uma forma de nos manter despertos e de nos provocar.Se tudo fosse muito explicado talvez se tornasse menos inquietante.

Mas hoje prefiro centrar-me antes na banda sonora da autoria de Alexandre Desplat porque a achei fenomenal. Permeada pela sonoridade típica do médio oriente, mas sem excessos, carregada com a gravidade e tensão exigidas pela história, pontuada pelo timbre da insegurança e turbulência destes mundos turvos, é tão perfeita que até parece que não está no filme. Ou seja, funde-se com as imagens. Remetendo-nos para a vastidão do deserto, ela parece ser a voz dessa paisagem árida onde as únicas raízes que penetram o solo são de betão e ferro. Nesses lugares é o vento o compositor, assobiando por entre a floresta industrial das explorações petrolíferas, engolindo a história das vidas errantes que aí se constróiem e destroem, vidas que não pertencem aos corpos que as abrigam,submetidos os indivíduos a teias de influência e jogos de poder inelutáveis,que nem sequer percebem, algumas urdidas próximo,outros que se jogam a muitas milhas dali à roda de mesas diversas, onde se falam outras línguas e se usam outras linguagens, palcos onde afinal se declarou a guerra económica total em nome da prosperidade-sobrevivência?- que o petróleo promete e garante desde a IIª Grande Guerra. 
Desolação,impotência e fatalidade num filme algo cínico, mas também muita beleza sonora, uma banda sonora que não me importava de ouvir na íntegra e onde tudo parece ser subtil e fluído,minimal. 

Alexander Siddig como Príncipe Nasir. O seu próximo filme é Cairo time onde representa um polícia egípicio reformado que se envolve com a mulher (Patricia Clarkson) de um amigo, de visita ao Cairo.Não promete muito!

A lista dos melhores filmes sobre a CIA, segundo a TIME

Three Days of the Condor (1975)

The Good Shepherd (2006)

The Hunt for Red October (1990)

Spies Like Us (1985)

The Bourne Supremacy (2004)

JFK (1991)

The Quiet American (2002)

Syriana (2005)

Mission: Impossible (1996)

Charlie Wilson's War (2007)

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