Banksy tem uma loja online: Produto Interno Bruto



"O graffiti é uma importante forma de arte, seria vergonhoso que fosse destruido pelo capitalismo."
Banksy
O graffiti é uma importante forma de arte, seria vergonhoso 
Há mais de 20 anos que questiona os valores da sociedade, em especial a autoridade, pintando ratos, polícias, crianças e outras figuras nas paredes das ruas Tomou-as de assalto assim como o nosso imaginário, que não mais deixou de ser povoado por elas. No bairro de Stokes Croft, é possível ver os seus primeiros trabalhos. Para uns é um poeta das ruas, um artista de pleno direito, para outros um vândalo mascarado. Há 10 anos a revista Time elegeu Banksy uma das 100 pessoas mais influentes do mundo e ele retribuiu com a sua foto, a cabeça enfiada num saco de papel grafitado, de papel reciclado, claro, e um sorriso meio trocista.

À partida pareceria altamente improvável que uma pessoa que elegeu a lata de tinta em spray como arma de contestação social, conseguisse introduzir-se no mercado tradicional da arte e obter aclamação de multidões que se identificam com as suas mensagens e defendem as suas obras como se fossem suas. Evidentemente que Banksy não chegou a este estrelato a fazer meras assinaturas nas paredes das cidades. Já espalhou tinta  em telas, animais, bancos de jardim, paredes, carros, deixou mensagens em jaulas de jardim zoológico. Já distribuiu notas falsas, onde substituiu a cabeça da Rainha de Inglaterra pela da princesa Diana, com origem num tal "Banksy of England" : a sua capacidade de provocação anda a par com a ironia e a inteligência. Este autêntico fenómeno de popularidade tinha algo para dizer, e, além disso, sabia como tornar as suas ideias acessíveis a todos utilizando a galeria a céu aberto que é a rua e munindo-se de humor, sentido de oportunidade e indiscutível talento artístico para dar forma aos seus pensamentos, soube, a cada intervenção, encontrar o suporte ideal para o seu comentário social e político.

Os seus trabalhos encontrados primeiro apenas nas ruas de Bristol, nos anos 90, acabaram por povoar exposições e museus, e ruas de vários continentes: em Vienna,  Barcelona, Paris e Detroit, São Francisco, Belém, por exemplo, diversas são as cidades que acolhem a sua irreverência. As suas criações cativaram de tal forma as pessoas que tornaram possível que, em 2007, uma casa que tinha num dos seus muros uma pintura sua, fosse colocada à venda, não numa imobiliária, mas numa galeria, e antes na forma de um mural com casa incluída. Ou ainda, que, organizações e personalidades que combatem o graffiti o tenham considerado uma excepção à regra. Mesmo os seus colegas graffiteiros desde cedo cultivaram o respeito pelas suas obras e não as adulteravam. O que não impediu que muitas fossem desaparecendo.

Em 2005, além de se ter disfarçado e entrado em museus importantes onde deixou as suas obras,  Banksy foi a Israel inscrever a sua visão pessoal sobre o conflito no Muro da Cisjordânia. Ali estavam 8 metros de altura prontos para receberem a sua contribuição e a sua condenação: a muralha transforma a Palestina na maior prisão do mundo, terá dito, mas também é um sonho de destino de férias para qualquer grafiteiro que se preze! Lá deixou 9 stencils, incluindo aquele da silhueta da menina a ser levada pelos ares por um grupo de balões. As forças israelitas chegaram a disparar para o ar e um Palestiniano acusou-o de fazer bonita a horrível parede, coisa indesejável, mandando-o para casa. Dois meses após o seu regresso a Londres , inaugurou a exposição Crude Oils e no chão da galeria solta 164 ratos...Nos anos seguintes, mais exposições e leilões onde as suas obras atingiram preços monumentais comprovando que Banksy tinha conseguido trazer a arte da rua, considerada marginal e um sub-produto, para o meio negocial artístico burguês tradicional.



Defeated’ Souvenir Wall Section: o hotel tem uma loja de souvenirs.
O produto da venda serve o propósito de manter o hotel e de contribuir para projectos sociais.
A loja existente na rua ao lado do hotel não é de Banksy, alerta ele.


Crucifix Grappling Hook

Pillow Fight Tee

Há dois anos Banksy, regressou ao Médio Oriente para ali abrir um hotel. A ideia devia ter surgido muitos anos antes. Não é uma instalação nem uma acção política: é o Walled Off Hotel, um trocadilho com Waldorf e com o facto de se situar numa área encurralada por paredes (Israeli West Bank barrier or wall - parede): todos os quartos têm vista para o infame muro da Cisjordânia. Ele ainda convidou outros artistas – Sami Musa, artista palesteniano, e Dominique Petrin, canadense, – para o ajudar na decoração dos ambientes. O hotel é explorado como um verdadeiro hotel, administrado pela comunidade local e aberto para receber pessoas dos dois lados do conflito e de qualquer lugar do mundo. A iniciativa realça o conflito israelo-palestino ao mesmo tempo que quer contribuir para fomentar o turismo e o emprego na zona. O hotel, nos subúrbios de Belém, situa-se numa área sob o controlo israelita, embora a administração quotidiana esteja sob a supervisão da Autoridade Nacional Palestina.

Banksy qualquer acção publicitária para se tornar notado. A sua arte, ou episódios, relacionados com ela, tornaram-se frequentes nas notícias. Ou talvez seja um mestre da arte da publicidade. Um exemplo: o desaparecimento de um stencil chamado Slave Labour, em Londres, UK, que reapareceu em Miami,USA, num leilão e foi objecto de disputa legal por parte dos residentes que o consideravam orgulhosamente seu, e que acabou com a sua devolução ao UK. O mais certo é nunca mais retornar ao local da sua origem. Parte da parede foi removida, deixando um buraco e os residentes inconsoláveis. A área citadina, irrelevante até então, ganhara um enorme factor de atracção: era como se tivesse sido recolocada no mapa de Londres. Mas a quem pertencia a obra pintada num muro? Ao artista, pertence a autoria, ao dono do muro, propriedade privada, a obra. Então este poderia fazer com ela o que quisesse. Imaginam um amante de Rembrandt a interessar-se por um stencil? Talvez, ou talvez não. Descobriu que vale dinheiro? Obrigada Banksy, pelo presente, vou vender. E estoira o escândalo porque a comunidade não perdoa. E se Banksy tivesse tudo programado, escolhido aquela área pardacenta deliberadamente? E se o próprio concorreu para o "roubo"? A discussão - e a conspiração - disparou em todos os sentidos e muitos ficaram debaixo de fogo, em especial aqueles que esperavam capitalizar com a obra de Banksy. Todos se excusaram a dar explicações, mas a obra não chegou a ser leiloada. Quem tira dividendos de todo este burburinho mediático? Banksy, que vê, mais uma vez, o seu nome e obra publicitados e valorizados. Não, ele nunca faria isso, dizem outros. Mas quem é Banksy, realmente? Nem a sua idade sabemos ao certo, pensa-se que nasceu nos anos 70.



Das paredes para as telas do cinema, Banksy também filmou um documentário: Exit Through the Gift Shop, a provar a sua versatilidade. À medida que o valor das suas intervenções e peças foi aumentando, aumentou também o interesse de muita gente em possuir um "pedaço" da obra do artista pelo que foi preciso garantir a autenticidade das suas obras e proteger os interessados de fraudes, tarefa a cargo da Pest Control.
Outro traço fascinante de Banksy é o seu anonimato. A última vez que Banksy deu uma entrevista a alguém, face a face,  foi em 2003 e já ninguém se lembra. Ele é o anónimo mais famoso do mundo. Quando todos, mas todos os indivíduos abraçaram a ideia do direito aos seus, pelo menos, 15 minutos de fama, Banksy omitiu-se de fazer pública a sua identidade: pública é a sua acção, a sua arte. Não falta quem diga que Banksy é uma marca e que são vários os artistas que criam as peças. O artista assemelha-se a um ladrão que age secretamente, Banksy, originalmente assinava Robin Banx ( Robbing Banks!) mas não para roubar os nossos bens, antes para nos roubar à indiferença e meter-nos a pensar no estado do mundo. No início ele era apenas mais um tipo de capuz que fazia graffitis e fugia aos polícias, mas logo percebeu que assim não iria longe. O stencil era o ideal: permitia-lhe deixar rapidamente a sua marca na parede e ele a salvo dos captores, ou de bêbados ou de quem quer que andasse pela rua. A salvo também ficaria se se mantivesse no anonimato e doravante começou a disfarçar-se. É assim que permanece intocável, embora a esta data a polícia até já esteja disposta a deixá-lo graffitar. Mas não seria a mesma coisa, não é? Ninguém duvida que Banksi se rodeia de um grupo de colaboradores bem leais e próximos, de forma alguma a sua obra seria possível.

Em 2015 inaugurou o parque temático Dismaland, em Somerset, lugar no litoral de Inglaterra, um festival de artes em formato de parque de diversões, com meia centena de obras de artistas contemporâneos. A instalação temporária foi inaugurada em Agosto de 2015 e fechada em Setembro do mesmo ano. O nome escolhido brinca com a palavra inglesa "dismal", que significa triste e sem esperança. Barry Cawston imortalizou a instalação com o seu trabalho fotográfico e a exposição destas fotos passou pela Alfândega, Porto, este Verão.

Na nossa memória recente está uma das mais fantásticas partidas de Banksy: quem poderia supor que uma obra de arte, Girl With Balloon (2006), seria automaticamente destruída assim que o martelo assinalasse a venda por 1,2 milhões de euros durante um leilão? O video onde o artista explica, mas apenas mais ou menos, como engendrou a façanha conta com 15 581 855 visualizações no Instagram. Até o homem de óculos amarelos com câmera embutida que filmou o sucedido parece fazer parte do mistério. Na loja - o assunto que me motivou a recapitular o percurso de Banksy - encontra-se à venda, nada mais nada menos, que o aproveitamento desse "número artístico" na forma de uma t-shirt onde a menina com balões foi impressa. Metade dela está rasgada em franjas. O inusitado acrescentou ainda mais valor à obra, que passou a ter outro nome, "Love is in the bin". A compradora europeia, que preferiu manter o anonimato, decidiu ficar com a pintura mesmo assim. Já um detentor de uma das "Meninas" (avaliada em 40 000 libras) resolveu imitar o artista com um X-acto apenas para descobrir que tinha destruido a peça. 


Saltei muitas histórias e momentos relevantes na carreira de Banksy para chegar ao seu último happening, a abertura de um loja online - Gross Domestic Product - onde vende algumas das suas criações. Argumenta que foi obrigado a tomar essa iniciativa de mercado para evitar que uma empresa registasse o seu nome artístico e o transformasse numa marca. Antevendo procura desenfreada, estabelece regras: uma peça por pessoa. Após submissão da manifestação de interesse no site, o potencial comprador tem ainda de responder a uma questão para desempatar no máximo de 50 palavras. O registo não implica comprar mas também não garante a compra. Das manifestações recebidas serão tiradas ao calhas algumas e um juiz irá então ler as respostas e decidir as mais adequadas e originais. O juiz Adam Bloom é independente e imparcial e um profissional da stand-up comedy. Algumas das peças têm um certificado de autenticidade. Actualmente o site não aceita mais submissões. Receberam pedidos de 200 países e respostas brilhantes à questão colocada, para que serve a arte? As peças são feitas num estúdio de arte, utilizando trabalho manual e materiais reciclados sempre que possível. É permitido beber e adverte-se que a experiência de compra poderá não ser perfeita.

Para inaugurar esta nova etapa, Banksy começou por "abrir" uma loja de artigos de decoração  mas apenas por duas semanas, ou seja, já foi encerrada.  Esta montra, em Croyden, cidade no sul de Londres, que resultou numa instalação bastante interessante, apenas serviu para gerar mais burburinho e aguçar o apetite pois ali nada será vendido, é online que tudo se processa. A loja "Produto Interno Bruto" abriu a 17 de Outubro. A 28 de Outubro já tinha fechado e quem não soube ou não pode habilitar-se a uma compra, só pode agora esperar.
O que comprar para a pessoa que tem tudo? 
Um lembrete de 230 kg de que pode levar tudo consigo.

Em parceria com a organização Grega Love Welcomes. Mulheres que vivem nos campos de refugiados bordam estes tapetes usando material dos coletes salva-vidas recolhidos nas praias de Lesvos,  Mediterrâneo.


Peluches - Troféus para a geração do Planeta Azul. 
Assemblagem de brinquedos com verdadeiros desperdícios de lixo marinho.

Uma disco ball: 650 espelhos foram colados a um capacete de polícia.
Sistema de luzes para entretenimento caseiro.

Bolsa feita usando um verdadeiro tijolo e pegas de malas. Tão prático quanto a produção de muitas casas de alta costura.
Uma colaboração com Escif, artista espanhol

Sugestão de leitura: 

Who Is That Masked Millionaire: In Search Of Street Artist Banksy, para ler, aqui.
Banksy - Site Oficial  
Banksy - Biography
É legal agarrar num Banksy e vendê-lo? para ler, aqui.
Banksy fake banknote artwork joins British Museum collection, para ler, aqui.
Banksy’s hotel in Bethlehem opens to mixed reviews -and my personal adoration, para ler, aqui.
GIFs by ABVH, ver aqui







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