tag:blogger.com,1999:blog-7964316212052996022024-03-18T14:35:57.867+00:00PALAVRAS-CRUZADAS - Desde 2006 - Belinha Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/01002456782459817098noreply@blogger.comBlogger1873125tag:blogger.com,1999:blog-796431621205299602.post-63496880460264491352024-03-11T18:23:00.012+00:002024-03-15T11:34:13.139+00:00Na ressaca das eleições e da "volta à direita"<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiY9bwl4fyqq5NHKvPpSi6dZW7aHfwY-CMWjCWY25qqd9JwPzuY_Wcm62SUvs8NMk0_7chIF9Zda5VjTZUizZI7_1XfgEtx5AvXdluiv5G2tJZPkBvuTjJdYzv_-Zus6SOnMWVK_14oorZGuHAhf6RizpzW4r3fp9k4k9tpv7h9hl0lTkJ7n7yB4o9H31lm/s720/meteoro.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="645" height="398" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiY9bwl4fyqq5NHKvPpSi6dZW7aHfwY-CMWjCWY25qqd9JwPzuY_Wcm62SUvs8NMk0_7chIF9Zda5VjTZUizZI7_1XfgEtx5AvXdluiv5G2tJZPkBvuTjJdYzv_-Zus6SOnMWVK_14oorZGuHAhf6RizpzW4r3fp9k4k9tpv7h9hl0lTkJ7n7yB4o9H31lm/w357-h398/meteoro.jpg" width="357" /></a></div><div><br /></div>Há mais de uma semana, estava no passeio em frente à passadeira à espera que o sinal me desse luz verde para atravessar, quando um carro engalanado com bandeiras parou junto a mim. Do altifalante, chegava Gloria, de Laura Branigan, uma canção dos anos 80, sobre alguém que é chamado a acreditar em si próprio, lutas interiores, stress, e superação pessoal, mais ou menos isso. Enquanto a canção me fazia recuar no tempo, no passeio em frente pessoas saudavam o condutor do veículo, outras gritavam Chegaaaaa! e outras ensaiavam uns movimentos de dança. A canção tomou conta da minha cabeça, andei a cantarolá-la até ser noite, sentindo certa alegria nostálgica, acompanhada por um pressentimento de que certos fantasmas do passado se fariam em breve muito presentes. <br /> <br />Usualmente não escrevo sobre política, talvez achando que não preciso, mas a verdade é que talvez o devesse fazer. Muitas vezes uso a escrita para me ajudar a pensar melhor e nem sequer a torno pública. Há dezenas de rascunhos no blogue. Também não sigo com rigor absoluto o que acontece na cena política e por isso deixo o assunto para quem sabe. Quando escrevo sou quase sempre confrontada com as minhas certezas e limites. Faz muita falta, a muita gente, sobretudo à classe política, deixarem de lado as suas certezas contundentes uma vez por outra. O invisual, que vai tateando a realidade à medida que avança, faz um reconhecimento do caminho para chegar ao seu destino, e assim adequa o seu passo a novos obstáculos que encontre, alcançando o seu propósito com êxito. Ele respeita cada obstáculo, nunca vi nenhum a dar pontapés num obstáculo que lhe tolhesse a progressão. Os partidos políticos nem de olhos abertos fazem isso. Definida uma agenda, fazem-se à estrada mas, muitas vezes, numa cegueira completa, ignoram os problemas, quando não passam por cima deles ou os derrubam, demitem-se de qualquer mudança que o seu trajecto lhes pudesse exigir. Esta falta de plasticidade, que também podia dizer diálogo, condena-os, e às suas políticas, ao insucesso, e possibilita que fantasmas retornem para assombrar a democracia.<br /> <br />Talvez ingenuamente, durante anos, julguei que Chegas não triunfariam nas nossas urnas. A herança de Salazar asseguraria um voto sempre digno de Abril. Mas passaram 50 anos e muita da nossa memória já é apenas ficção nas nossas pesadas cabeças. O tempo não perdoa, nem os desafios do quotidiano. Será que o sentimento antifascista se consumiu? Não, mas o descontentamento instalou-se. E cedo demais. Há quem, equivocado, suspire pelo passado, mas mais do que censurar é preciso interpretar. A revolução de Abril não se consolidou amplamente, Portugal é ainda um parente pobre da Europa. E instalou-se também uma grande apatia política quase sempre traduzida em abstenções enormes a cada eleição. O desencanto com tanta promessa por cumprir, tanto sonho, é evidente. Ora, se até na Alemanha, a direita radical cresce, parece não haver vacina histórica contra populismos radicais. Uma vez encontrado o terreno fértil, eles eclodem como uma doença viral, por isso, nada de espantos.<br /> <br />Era para mim motivo de orgulho ver que nos distanciávamos das tendências europeias, Itália, Áustria, Hungria e Polónia, eleição após eleição, mas preocupante ver como estavam representados no Parlamento Europeu. Então, ontem o Chega passa do 1, qualquer coisa dos votos de 2019 , - depois de ter subido mais um pouco nas Presidenciais de 2021, - para um número mais redondo, sobe de um deputado para 48. O descontentamento com a classe política já existe há muito tempo mas até aqui os votantes ou não iam votar ou votavam em branco, ou votavam nulo. Não escolhiam partidos radicais para protestarem contra a corrupção e um sistema político com tamanho desplante, apesar de tudo, democrático. E então, ontem, foi muita a decepção quando a TV anuncia as projeções: o Chega transformado na terceira força política mais expressiva. Hoje, na ressaca eleitoral, com calma, vejo que a tal assombração do passado pode até ser o choque que fazia falta para abanar a árvore da política e largar alguma podridão.<br /> <br />Era evidente que, tal como na canção da Glória, a mensagem do Chega tinha atingido de forma estridente, irracional e entusiasta os ouvidos de uma parcela da população. O Chega tornara-se sinónimo de esperança para quem se cansou da alternância PS-PSD. Uns usaram-no como protesto. Outros entregaram-lhe a sua confiança. Como é um partido que ainda nada fez, não tem nada que se lhe apontar, nem bem nem mal. Não se envolveu em escândalos, não é corrupto. Dizem também os devotos que é uma bênção do Senhor neste lodaçal político à beira mar. Como alguém escreveu no Facebook, Ventura é o enviado divino que vai restaurar a nação lusa à sua grandeza. (A frase continha muitos erros ortográficos.)<br /><br />Lembrei-me das pessoas que tinha visto do outro lado da avenida. Eram jovens. Um longo desinvestimento na educação pode explicar parte do sucesso do Chega de norte a sul. O pensamento crítico está em crise. A ignorância tem o seu culto. O individualismo, crescente. Mas no mapa eleitoral o Algarve é todo azul. O Chega triunfou em Faro de forma esmagadora sobre o PS que governava. Como se explica? O que sabemos sobre Faro? O que sabemos da luta diária de quem vive no Algarve? Quais os problemas da população? Há desemprego? Como é o acesso à saúde? E a escolarização? Há muita imigração incómoda? Há descontentamento com a governação local? Como é viver em Faro? Só lá vamos de férias, tal como os políticos. Foi um voto de protesto pela forma como os sucessivos governos têm tratado o Algarve? Terá o Chega estudado o território nacional e identificado no Algarve um potencial eleitorado mais favorável às suas ideias, agindo ali de forma especialmente metódica? <br /><br />Quando Trump andava em campanha e nos deleitávamos online com o humor cáustico e desbragado em torno da sua figura, confiando que não seria eleito, o que sabíamos da realidade daqueles que o elegeram ? Claro que também zombei e chamei idiotas aos que votaram para tornar a América grande outra vez. Mas quando vi uma reportagem sobre quem eram essas pessoas, ou algumas delas, note-se, nem todas eram dignas de compreensão, comecei a moderar o meu discurso: idiota era eu, porque era ignorante. Idiotas foram, antes de mais, todos os que lhes prometeram muito, e pouco ou nada cumpriram, ano após ano, ao mesmo tempo que priorizavam o seu umbigo de interesses, dividindo ainda mais a população entre favorecidos e desfavorecidos. Esses americanos, vulneráveis a vários níveis, sem grandes qualificações profissionais, com baixa escolaridade, não tinham, na sua região, quaisquer perspectivas de vida. A sua desilusão era tão grande, a sua perspectiva de futuro tão negra, que eles beijariam o chão de quem quer que fosse lhes apontasse um caminho novo. Todos tinham falhado, a nível local, ou acima. Eles não se sentiam representados. E isto aconteceu: alguém lhes disse o que queriam ouvir, falando a sua linguagem, sem floreados. Ali estava alguém em quem podiam confiar e ao mesmo tempo vingar a elite que nada tinha feito por eles, por mais absurdo que tudo isto nos parecesse, a nós, cientes daquela fanfarronice, visto de longe.<br /> <br />Em Portugal, um cenário equivalente pode assumir outro recorte social, económico, demográfico, etc, mas o sentimento de desencanto de quem não se vê representado pelo partido X ou Y, anos a fio, poderá ser semelhante. E se dantes votavam à esquerda, no PS ou no partido comunista, actualmente, desistiram. Eles já não oferecem soluções. O último, com a sua intransigência e subserviência ao passado, incapaz de acompanhar a mudança de mentalidades e as questões mais actuais, deixou de ser atraente. Ao PS, deu-se-lhe a faca e o queijo para a mão e o que é que fizeram? Desbarataram a oportunidade! Estrago irremediável? Não, mas agora é preciso fazer muito melhor se os quiserem reconquistar. Os votantes repartiram-se por outros partidos, e também pelo Chega, que soube usar uma linguagem mais moderna, bramir certas questões críticas para nós mas que soam como música ao ouvido daqueles, servindo-se muito das redes sociais para alcançar o seu alvo, e invocando promessas que não passam de cenários de papel que em nada resolverão o ressentimento.<br /> <br />Vemos então, que passados 50 anos sobre o 25 de Abril, a história que nos tornou fortemente antifascistas já não chega para manter os votantes longe deste tipo de partido radical e populista. Os tempos são outros. Mas se ontem estava alarmada, hoje vejo uma oportunidade de viragem. Seria um desperdício e um perigo que a Esquerda, mas não só, não aproveitasse esta lição para pensar seriamente no futuro. Talvez a nossa classe política precisasse de ver para crer. Pois aí está a evidência dos problemas menosprezados por décadas. A ascensão de partidos populistas não se combate nas urnas, combate-se no dia a dia. Infelizmente, os portugueses continuam à espera de ver os seus problemas resolvidos e o cenário dos próximos meses aponta para instabilidade governativa. Merecíamos melhor, porra. <br /><br />Abril, sempre!<div class="blogger-post-footer">http://palavras-cruzadas.blogspot.com/feeds/posts/default</div>Belinha Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/01002456782459817098noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-796431621205299602.post-15391131714149514992024-03-07T17:45:00.010+00:002024-03-07T18:19:44.971+00:00 Bella Baxter não é uma pobre criatura<div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgn1yVLFOIGGXO7YtvQ0fQvTFBNqZ5EpxwKfHcnGW0wy_qjG1a5gyuR8Fy3dIkjDEOWEIqSSqLyS7S1IezzUlsn21ljO5r3a9WdezJ3d0Np_8ByJ00nXS1P1g3MTsSHX6HP1UyyG1xkYDL75VmkmCMU-3ZEp9kKg6bjCMEmD1vluTzcOwlYsKsgaUXyk4DS/s807/poster.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="807" data-original-width="544" height="582" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgn1yVLFOIGGXO7YtvQ0fQvTFBNqZ5EpxwKfHcnGW0wy_qjG1a5gyuR8Fy3dIkjDEOWEIqSSqLyS7S1IezzUlsn21ljO5r3a9WdezJ3d0Np_8ByJ00nXS1P1g3MTsSHX6HP1UyyG1xkYDL75VmkmCMU-3ZEp9kKg6bjCMEmD1vluTzcOwlYsKsgaUXyk4DS/w393-h582/poster.jpg" width="393" /></a></div></div><b><div><b><br /></b></div>Pobres criaturas </b>podia chamar-se Bella Baxter. Ela é o filme. Bella é uma esplêndida criação e tem dois pais: um é o escritor escocês, Alasdair Gray, outro, o pai adoptivo, Yorgos Lathimos, um realizador que já nos habituou a filmes e personagens inconvencionais. O escritor tem formação artística, foi ilustrador e pintor, tendo realizado ilustrações para muitos dos seus livros. O filme deixou-me muito curiosa a seu respeito.<br /><br />Poor Things, uma comédia subversiva e absurda, onde são questionadas algumas das regras que regem boa parte da convivência humana, é um festim visual tão futurista quanto contemporâneo, combinando elementos tão diversos que me recordei de Breughel, Gaudi, do steampunk, da arte nova, ou de universos fílmicos singulares como os de Greenway, algum Burton, e até de Jeunet et Caro, que nos anos 90 também nos ofereceram uma estranha comédia bem surreal. Este delírio é acompanhado por uma banda sonora extravagante que soa por vezes a experimentalismo musical, quase fora de tom, que começa com um trecho tão ingénuo e estranho como Bella, e que ganha complexidade à medida que também ela soma experiência de vida. A fadista Carminho aparece a cantar na varanda de uma Lisboa imaginária e uma tal Dança portuguesa, claramente inspirada no nosso folclore, um dos momentos mais engraçados do filme, tornou-se merecidamente viral. As escolhas do realizador, na direcção, o uso das lentes de olho de peixe que são talvez uma forma de nos aproximar do olhar atrevido e peculiar de Bella sobre um mundo que ninguém a iniciou a decifrar, foram do que menos apreciei. Os diálogos espirituosos, alguns quase obscenos, que muito me fizeram rir, e que me dão vontade de ler o livro, compensaram. Para o final, senti algum cansaço, creio que o filme podia ser mais curto, e dei por mim a pensar que tinha gostado mais de ver a A Favorita, embora este seja mais coeso.<div><br />Poor Things ganhou o Leão de Ouro em Veneza, mas houve quem o considerasse um exercício pretensioso. E exibicionista. Mesmo esses louvaram o desempenho de Emma Stone embora as opiniões se dividissem perante algum horror, e sobretudo cenas envolvendo nudez e sexo, ou a caraterização positiva do trabalho sexual. É que além de curiosa, Bella é dona de uma líbido voraz: - “<i>Porque é que as pessoas não fazem isso o tempo todo?”</i>, pergunta a Duncan, após uma sessão de "saltos furiosos". O sexo, - além de fonte de comicidade, tal como a linguagem utilizada por Bella, - é usado no filme como sinal de autonomia e empoderamento feminino, o oposto do desejável numa mulher da época vitoriana, quando a sociedade era puritana e marcadamente patriarcal, voltada para a família, e o sexo era um mundo de contradições. Se não erro, a idade do consentimento sexual era então 10-12 anos. A prostituição era uma ocupação comum. O instinto sexual era tido como um exclusivo dos homens, as mulheres deviam remeter-se a ser objecto de desejo masculino e a desenvolver instintos maternais. À luz desta caracterização sumária, Bella revela-se uma mulher transgressora. Ao assumir o seu desejo sexual, o seu instinto, acaba temida por Duncan, enquanto rivaliza com ele, escapa ao seu controlo logo, é perigosa.</div><div><br />Emma tem uma interpretação poderosa e inesquecível, a sua linguagem corporal e expressividade são admiráveis. Observar a evolução da inconvencional Bella, que começa a sua jornada de mente e corpo dessincronizados, animalesca, fazendo birras infantis, partindo coisas e socando a esmo, tirando prazer da comida e da masturbação, e termina mulher matura, sofisticada, a estudar para o exame de medicina, isto apenas, a forma como domina a linguagem e controla o corpo, já valeria a compra do bilhete. Emma é tão boa neste papel que até ofusca os outros, igualmente bons. Destaco apenas William Dafoe, como God, abreviatura de Godwin. O guardião e criador de Bella, é um homem gentil e um louco, marcado na face e no corpo por experiências muito pouco científicas conduzidas pelo seu abusador pai, quando ainda criança, podia ter ter tido um pouco mais de desenvolvimento. Ele é essencialmente um cientista que, perdendo o seu objecto de pesquisa, logo o irá substituir por outro. E Mark Ruffalo, ou Duncan, o advogado chamado por God para regular, controlar, o futuro de Bella através de um contrato escrito, um sedutor compulsivo que acaba obcecado e vingativo, frustrado, porque Bella não se deixa reduzir a uma sua conquista, antes o descarta, prezando acima de tudo a sua independência, pondo em cheque a masculinidade de que ele tanto se orgulhava. Bella é afinal um demónio porque não a mulher subserviente e ele uma vítima! Duncan é fanfarrão, pateta e hilariante. Quanto mais Bella cresce como pessoa mas infantil Duncan se torna. Que bom ver Ruffalo longe do universo Marvel, esse buraco negro que suga qualquer actor para um limbo de previsibilidade. O estudante de medicina Mac MacCandles, (Ramy Youssef) , uma personagem menos trabalhada, é o primeiro a ser enfeitiçado pela esplêndida e única Bella. Mesmo sem saber bem como lidar com a sua ambiguidade, ele é o único que parece compreender que a liberdade é, para ela, é essencial.<br /><br />A opulência visual da produção, do guarda roupa aos cenários, podia até distrair-nos do que importa, mas a simplicidade da história, não permite. É o filme mais acessível do realizador. No final do séc XIX, um estranho cirurgião e pesquisador leva a cabo uma experiência, depois de já ter populado a sua casa com estranhos animais de estimação. Uma mulher grávida e anónima é pescada das águas do rio e levada para a sua “clínica”. O cérebro do feto é transplantado para a caixa craniana da mulher, que é reanimada eletricamente, assim se criando uma nova e estranha forma de vida, Bella Baxter, de seu nome. Desta forma começa a aventura de horror gótico, ficção científica e comédia, uma invulgar e ousada paródia da era vitoriana, que aborda vários temas actuais. Pela cabeça passaram-me títulos como o óbvio Frankenstein, obra-prima gótica, Dr. Jekyll e Mr. Hyde ou até Lolita. Também me ocorreu as "penny blood", um subgénero do romance gótico vitoriano, histórias e ilustrações sensacionalistas de horror e crime, com foco urbano e burguês, que eram publicadas para entreter as massas trabalhadoras vitorianas. Uma delas é a história de Sweeny Todd, que Burton adaptou ao cinema, onde o horror se cruza com o humor. A burguesia considerava estas histórias perigosas, subversivas, porque iludiam a moral e os costumes vitorianos, apesar de nutrirem um gosto perverso por tudo quanto era mórbido.<br /><br />Bella tem de superar as suas limitações físicas e intelectuais – ela não tem memórias, não fala, não tem experiência alguma de vida – mas isso acontece rapidamente. O mundo seguro que o seu criador lhe reservou depressa se torna demasiado pequeno e desinteressante. Ela exige ver o mundo fora de portas. Anseia, mesmo sem o saber ainda, ser dona de si mesma e do seu destino. Uma fome de viver anima o seu corpo e rapidamente ela aprende sobre o prazer, com curiosidade infantil. Desconhecendo, como qualquer criança que tivesse crescido na selva, todo um conjunto de regras e preceitos que oprimem a sexualidade feminina, Bella não tem qualquer reserva em relação ao sexo. Não tem decoro, não sente vergonha, e sem saber desafia as convenções sociais e as expectativas dos homens que encontra ao longo da sua viagem de auto-descoberta, aprendizagem e crescimento. <br /><br />Quando deixa Londres os seus olhos enormes abrem-se para o mundo, ela parece tão deslumbrada como perdida, a sua vida ganha cores. Ela parte à aventura com Duncan que a alicia com um mundo de prazeres e luxos, primeiro rumam a Lisboa, depois seguem num cruzeiro para Alexandria, segue-se Marselha. Por fim, Bella é abandonada em Paris e vai para um bordel trabalhar, antes de retornar a casa, carregando na bagagem uma colecção de experiências vividas de forma intensa. Tendo experimentando tudo avidamente, a comida, ostras e pastéis de nata, a dança, o sexo, ou o mundo das ideias, ela foi forçada a tirar a conclusão de que o mundo é bem mais complicado do que parecia ser. Afinal, há nele desigualdade, há desumanização, uma consequência do materialismo da sociedade e do capitalismo em marcha de que ela não tinha consciência. Constata que os seres humanos não se veem uns aos outros como iguais, que se usam uns aos outros como se coisas fossem, ignorando o sofrimento que causam para obter vantagens. E os privilegiados tudo fazem para manter invisível esta realidade grotesca. O mundo que a aguardava revela-se, para seu choque, monstruoso. A sua alma pura de criança é dilacerada e logo Bella quer ajudar as pessoas e tornar o mundo um lugar melhor.<br /><br />Ao longo da sua viagem exploratória, Bella aprendeu que crescer não é apenas prazer, é também sofrimento, é descobrir um mundo de problemas e contradições que são poupados à infância. É perceber quem se é, se uma quimera, um cérebro costurado num corpo de mulher, um monstro, se um produto do abuso e da violência, se uma mulher, se tudo isso, e o que se quer. É fazer as pazes com o passado, encontrar um sentido para a vida, e continuar a jornada de aprimoramento pessoal. Bella Baxter foi criada artificialmente, teve uma segunda oportunidade e aproveitou-a, recriando-se o melhor que soube e pode. Traçou vitoriosamente o seu caminho e antes de se casar com Max, e de se formar em medicina, ainda vinga Victoria Blessington, aquela mulher grávida e desesperada que se tinha atirado da ponte por não suportar um casamento com um homem cruel. Gosto do poster.</div><div><div><br /></div><div><br /></div></div><div class="blogger-post-footer">http://palavras-cruzadas.blogspot.com/feeds/posts/default</div>Belinha Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/01002456782459817098noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-796431621205299602.post-83630340451044265312024-02-13T14:51:00.006+00:002024-02-13T18:45:35.985+00:00Um hino motivacional do fitness<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8DQJPqyOlSlpM8tjuz5hbcZS5jZ_qiQ-917cZ_k4ulRSC_HUTg-qXenlf1bgldYftp1oJVvmfry46LKRTTjPtzkID53f9XuIyJUGK7Ddr2IgTQPkPzAy1QswMwDf4et_EF6R76H2YcoXaSD11OvC1DijhVL36gEdZyOymoVGT6k_KHBlr4JNL4MKoUsGM/s871/Gym.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="865" data-original-width="871" height="441" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8DQJPqyOlSlpM8tjuz5hbcZS5jZ_qiQ-917cZ_k4ulRSC_HUTg-qXenlf1bgldYftp1oJVvmfry46LKRTTjPtzkID53f9XuIyJUGK7Ddr2IgTQPkPzAy1QswMwDf4et_EF6R76H2YcoXaSD11OvC1DijhVL36gEdZyOymoVGT6k_KHBlr4JNL4MKoUsGM/w444-h441/Gym.jpg" width="444" /></a></div><div><br /></div>O Nuno Markl tem uma rubrica, na Rádio Comercial, que se chama Rapsódias Boémias. Talvez até tenha algum programa no ar, não sei, já não ouço rádio desde que o Som da Frente acabou, pelo menos de forma deliberada. Falaram-me nisto com desprezo e é claro que fui logo ouvir. Se me dissessem que era uma pérola, eu teria ignorado. Ninguém é perfeito.<br /><br />Estas duas palavras, Rapsódia e Boémia, fizeram-me pensar em algo poético, improvisado, sem dúvida, animado, e com carácter boémio, ou seja, uma cena algo ramboieira, divertida. Julgava eu que o rapsodo em questão é um humorista, mas ou ele disfarça bem, ou então sou eu que não entendo o humor radiofónico. Markl limita-se a traduzir letras de canções "estrangeiras", (talvez com a ajuda do Chat GPT, porque não?) e depois recita-as com enfado, acompanhadas de comentários mandriões enquanto as canções originais tocam em fundo. (Só ouvi uma canção, posso estar a ser superlativamente injusta com o moço. Mas depois desta amostra também não quero ouvir mais nada.) Os colegas juntam a este "improviso"mais uns desconchavos verbais, uns risinhos, parece fazer de conta que se divertem. Esta récita da letra que ouvi, Blue,(Da Ba Dee), daquela banda dos anos 80, os Eiffel 65, é um massacre auditivo, é o próprio a afirmar que é um massacre. É coisa para acabar com qualquer boa disposição matinal que tenha sido acordada pela ingestão de milagrosa xícara de café encorpado. É de ficar azul quando o semáforo fica vermelho e nem é preciso estar presa no trânsito! Todas as segundas feiras, por sinal, dizem, o dia mais odiado da semana, às nove e qualquer coisa, acontece este momento de humor radiofónico. Nuno Markl traduz e infelizmente, canções não faltam, pelo que se prevê um exercício duradouro. O Eça dizia que o humor é castigo e salvação. Mas o que fiz eu para ser assim castigada, ó Markl?!<br /><br />Uma famosa Rapsódia, por acaso, Azul, fez de Gerswin uma estrela. Na minha modesta opinião, estas Rapsódias fazem do Markl um cometa. (Isto foi uma tentativa ténue de humor negro.) Ora, eu acho que em vez do Markl nos massacrar às segundas bem podia usar este momento matinal para traduzir letras de canções que nos elevassem o astral, ou nos ajudadassem a agarrar a semana pelos cornos, ou nos motivassem para vencer nossas quotidianas procrastinações. Por exemplo, motivação para ler livros com muitas páginas, andar mais a pé, comer mais devagar, fumar menos, usar mais as escadas, regar as plantas, não deixar morrer o kefir, dobrar a roupa logo que se apanha da corda, separar os lixos religiosamente, fazer compostagem, varrer as migalhas do chão da cozinha antes delas começarem a atrair os pombos, fazer menos scroll nas redes, etc. Todos temos a nossa procrastinaçãozinha de estimação e uma forcinha pela manhã, Markl, após o dolente fim de semana, que nos despertasse para manter a rota, isso sim, isso é que seria oiro sobre azul. <br /><br />Porque é Carnaval, e ninguém levará a mal se isto não tiver piada nenhuma, aqui vai uma tradução com grande potencial para se tornar um hino motivacional feminino. Não é bem humor físico mas tem tudo a ver com fitness! Intitula-se: Um c* assim. (Não escrevo a palavrita de duas letras por extenso para não ferir a sensibilidade delicada dos censores do FB.)<br /><br />Procurem pela Vitória Monet, no Spotify ou no Youtube, pressionem o play. Victória Monét acaba de garantir três Grammy 2024 pelo seu primeiro álbum, Jaguar II. Ela venceu as categorias de Artista Revelação, Engenharia de Som em Álbum Não-Clássico e Álbum de R&B. Arrumem lá este pedaço de cultura musical contemporânea. O vídeo de Ass like that é inspirado nos workouts dos anos 70. É ouvir, ver, incorporar a mensagem, ir buscar aquela bicicleta onde empilham livros e penduram casacos desde o verão, o tapete de ioga que está enrolado atrás da porta, os halteres, o saco búlgaro, o kettlebell. Ou o garrafão de Água de Luso. Ou o saco de arroz carolino! Toca a pedalar, a fazer a tadasana, ou o agachamento búlgaro. Os halteres são vossos amigos! Não se esqueçam de fazer um aquecimento inicial para melhorar o desempenho muscular, activar a circulação e prevenir lesões. <br /><br />Mas em alternativa a tudo isto podem apenas rir. Dizem que é o melhor remédio.<br /><br />Conheci-o há cerca de dois meses<br /><br />Disse-me que o seu nome era gym<br /><br />E que ele me tornaria melhor do que antes<br /><br />Então nós trabalhámos nisso todos os dias<br /><br />Estamos a fazer as cabeças girar devagar<br /><br />Vocês sabem o que dizem sobre a relva<br /><br />O que você rega, vai crescer<br /><br />Então eu fi-lo crescer<br /><br />Sim, sim, eu sei que você gosta do jeito<br /><br />que mostro nos meus jeans<br /><br />Você deseja poder agarrá-lo<br /><br />Eu sei que você gosta do jeito que meu corpo senta<br /><br />Sim, há uma razão para eu andar assim<br /><br />eu ando assim<br /><br />Tive que enviar um vídeo, não edito minhas fotos<br /><br />Eu trabalho para isso, estou na minha cena<br /><br /><br />E quando estou passando, sim, eu sei que a verdade é<br /><br />Ele quer saber como ela conseguiu um c* assim<br /><br />Como ela conseguiu um c* assim<br /><br />Ele quer saber como ela conseguiu um c* assim<br /><br />Um c* assim, sim, sim<br /><br />Com agachamentos todos os dias, fazendo a cena acontecer<br /><br />Nunca levou picas no c*, mas ela arriscou<br /><br />Ele quer saber como ela conseguiu um c* assim<br /><br />Um c* assim, sim, sim<br /><br /><br />Quando você me olhar, saiba, sim, eu ganhei essa ronda<br /><br />Tratei minhas calorias como erva, sim, eu queimei essa merda<br /><br />crédito para meu treinador porque ele estala aquele chicote<br /><br />É um prémio só ver como meu c* senta assim<br /><br />Em todos os meus outfits<br /><br />Tive que enviar um vídeo, não edito minhas fotos<br /><br />Eu trabalho para isso, estou na minha cena<br /><br /><div class="blogger-post-footer">http://palavras-cruzadas.blogspot.com/feeds/posts/default</div>Belinha Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/01002456782459817098noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-796431621205299602.post-8176246269691642332024-02-03T19:44:00.007+00:002024-02-04T14:52:32.054+00:00Cinema: Anatomia de uma queda<div style="text-align: right;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiaph52WfxcCGn9epuCgb-kHUJJtFc4cpKEpLd7SuiVvHB0Vr04f0s0-5aholhNmHxoo0U2Py4pdPooUKx5yV8Sf10pd7Exv5bS9jIvI3QBT6VAammyG_RIsUcn2uhe88XHLW0bWbLmuhCpf5iWJ16bZpBPsfFlTnJFPGNgk9Bjj8lTHTJ6MBSvFIKKCZIh/s865/dog.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="641" data-original-width="865" height="288" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiaph52WfxcCGn9epuCgb-kHUJJtFc4cpKEpLd7SuiVvHB0Vr04f0s0-5aholhNmHxoo0U2Py4pdPooUKx5yV8Sf10pd7Exv5bS9jIvI3QBT6VAammyG_RIsUcn2uhe88XHLW0bWbLmuhCpf5iWJ16bZpBPsfFlTnJFPGNgk9Bjj8lTHTJ6MBSvFIKKCZIh/w389-h288/dog.jpg" width="389" /></a></div><br /><div style="text-align: right;"><br /></div><div style="text-align: right;">"Às vezes um casal é uma espécie de caos."</div><br />Este ano estou estranhamente desligada da corrida aos Oscars, completamente desinteressada do desfecho mas ainda assim prestando atenção à lista de nomeados e procurando ver cada filme que tem estreado. Mais do que ter achado algum filme inesquecível, tenho-me entusiasmado com interpretações excepcionalmente boas, certas personagens admiravelmente compostas. Já aqui me referi à minha predilecção pelo professor Hunham interpretado por Paul Giamatti, em The holdovers, que alguns menosprezam dizem ser apenas uma extensão dele mesmo. Algumas dessas interpretações, como sempre, estão fora da lista, como é o caso de Natalie Portman, em May December, último filme de Todd Haynes. O problema das listas, finitas por natureza, não é tanto o que incluem, é o que excluem, por serem finitas. Os excluídos ficam na sombra dos incluídos e embora para quem goste de cinema isso não tenha qualquer importância, afloram por vezes sintomas da insatisfação dos protagonistas pois para eles isso é sinónimo não apenas de popularidade mas de prestígio. <div><br />Na lista mais cobiçada da temporada de prémios há um nome que a meu ver se destaca na categoria da actriz principal: é Sandra Huller, a protagonista de Anatomia de uma queda, de quem se devem lembrar como a filha distante que o pai tenta reconquistar na brilhante comédia Toni Herdmann, eu, pelo menos, apenas a vi nesse filme. Todos os intervenientes são excelentes nesta anatomia de uma queda conjugal: até o cão, Snoop, merecia uma nomeação! Era, talvez, o filme que mais ansiava ver da lista de nomeados pois muitos louvores foram escritos sobre ele após a vitória em Cannes. De certa forma, foi sem surpresas que cheguei ao fim. A expectativa cumprira-se integralmente. Ainda assim, não estava preparada para a excelência da interpretação de Sandra Huller, a quem talvez escape o Oscar porque tudo isto é subjectivo. Ainda não vi Poor Things, pelo que a sua concorrente mais forte parece-me ser Lilly Gladstone, em Assassinos da Lua das Flores. <br />O argumento de Anatomia é também capaz de arrecadar o prémio, mas aqui eu vacilo entre este e o de May December, outro filme interessantíssimo, algo semelhante a este por também nos deixar igualmente enervados, minados pela incerteza, à medida que cada personagem se desvenda ou é desvendada. Em ambos acompanhamos uma investigação, neste último, acompanhamos Elizabeth (Nathalie Portman), no papel de uma actriz que para construir a personagem que irá interpretar num filme futuro procura alcançar a "verdade" sobre uma mulher muito mais velha (Gracie/ Julianne Moore) que seduziu um menor, com quem virá depois a casar . Em ambos existem vítimas e em ambos é admirável a forma como somos conduzidos numa investigação até ao âmago das suas histórias perturbadoras. Quer no filme de Triet, quer no de Haynes, cada um dos cônjuges tem uma história diferente - a sua "verdade" - a contar sobre uma mesma vida partilhada de que o outro não tem ou não quer ter consciência. Em ambos, os momentos de confronto ou de tomada de consciência dessa realidade, são pontos fulcrais da narrativa. São experiências cinematográficas muito diferentes, mas ambas nos deixam o cérebro em frangalhos porque os filmes depois de nos terem investido no papel de detectives, brincam de forma perversa, ou apenas magistral, com a nossa percepção. Ficamos confusos, hesitantes, perguntamo-nos se devíamos duvidar do que julgamos saber! Queremos respostas e elas não chegam no formato ideal. O estado de dúvida é sempre ingrato: tal como a criança de 11 anos, Daniel, filho de Sandra, em Anatomia de uma queda, todos queremos entender. Mas enquanto em May December o jogo da incerteza nos faz sair do cinema num estado de desconforto, neste filme, a dúvida é um prémio intelectual que acresce ao muito que Anatomia de uma queda oferece e que o torna particularmente inesquecível e compensador. </div><div><div><br /></div><div>Sim, desenrola-se um processo legal, há um veredicto, mas quando Snoop se deita tranquilamente ao lado de Sandra para dormir, mesmo antes dos créditos finais chegarem, é perfeitamente possível que isso apenas provoque em nós mais questionamentos. Lembro-me de ter lido que nem mesmo Sandra Huller tem a certeza da inocência da escritora que interpreta. Durante a produção do filme, ela perguntou a Triet se Sandra cometeu ou não o crime. Triet não a esclareceu. É de mestre! Vão ver e digam coisas.</div></div><div class="blogger-post-footer">http://palavras-cruzadas.blogspot.com/feeds/posts/default</div>Belinha Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/01002456782459817098noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-796431621205299602.post-35749743161854280332024-01-27T19:41:00.003+00:002024-01-27T20:00:54.404+00:00Carta aberta contra o racismo e a xenofobia: se concordas, assina e divulga<p>Acerca do assunto que motivou esta carta aberta, uma manifestação neonazi, leio, já depois de ter partilhado o texto da carta, que a Câmara de Lisboa não autorizou a realização da referida manifestação, com o mote Contra a Islamização da Europa, marcada para 3 de Fevereiro, na zona do Martim Moniz, em Lisboa, uma zona onde se concentram imigrantes. Li ainda que o grupo 1143 promete contestar a proibição. Este grupo é uma organização de extrema-direita, e o seu porta voz é o conhecido Mário Machado, que já anunciou, numa declaração nas plataformas da organização, uma "ação de protesto" com as mesmas motivações para a mesma data. Essa ação, que não exige a "obrigatoriedade de notificar a câmara", segundo o porta-voz, irá realizar-se no mesmo dia que a manifestação proibida pelas autoridades, dia 03 de fevereiro, às 18h00, em Lisboa. Mário Machado, esteve associado a vários movimentos neonazis e foi condenado a quatro anos e três meses de prisão por ofensas corporais no contexto do processo de um homicídio por ódio racial. </p><p><span style="background-color: white; color: #202124; letter-spacing: 0px;">Contra o racismo e a xenofobia, recusamos o silêncio - </span><a href="https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSdK3Bask01aF6UreSFnM-ZqjkduzTaZco7VPYG5WdPmXUecpw/viewform" style="letter-spacing: 0px;">Assina aqui</a></p><div class="cBGGJ OIC90c" dir="auto" style="background-color: white; color: #202124; font-family: docs-Roboto; line-height: 1.5; margin-top: 12px; white-space-collapse: preserve;"><p style="margin: 0px;"><span style="font-size: 11pt;">Exmo. Sr. Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa,</span></p><p style="margin: 0px;"><span style="font-size: 11pt;">Exmo. Sr. Presidente da Assembleia da República, Augusto dos Santos Silva</span></p><p style="margin: 0px;"><span style="font-size: 11pt;">Exmo. Sr. Primeiro-Ministro, António Costa,</span></p><p style="font-size: 11pt; margin-bottom: 0px;">Exmo. Sr. Presidente do Tribunal Constitucional, José João Abrantes,<br />Exmo. Sr. Ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro,<br />Exma. Sra. Ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva,<br />Exma. Sra. Procuradora-Geral da República, Lucília Gago<br />Exma. Sra. Secretária de Estado da Igualdade e Migrações, Isabel Almeida Rodrigues,<br />Exmo. Sr. Presidente da Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial, José Reis,<br />Exma. Sra. Presidente do Observatório do Racismo e Xenofobia, Teresa Pizarro Beleza<br /><br />Em janeiro de 2023, Portugal foi confrontado com notícias relativas a ataques contra imigrantes, em Olhão, praticados por jovens portugueses que, durante um mês, terão agredido 15 imigrantes de origem asiática. Quando ainda se pensava estarmos perante um ato isolado, o Ministro da Administração Interna descreveu o ato como uma “agressão bárbara”, um “comportamento inadmissível e inaceitável” que deve ser “exemplarmente punido”. O Presidente da República (PR) deslocou-se a Olhão, manifestando “repúdio indignado” por agressões “xenófobas e intolerância inaceitáveis”, pedindo desculpa à vítima das agressões, declarou que “não há nada que justifique esse tipo de tratamento desumano, antidemocrático e criminoso, que não pode ser aceite na sociedade portuguesa”.<br /><br />No início de fevereiro de 2023, no Bairro da Mouraria em Lisboa, duas pessoas morreram e 14 ficaram feridas na sequência de um incêndio que deflagrou num prédio. Todas as vítimas eram de origem asiática, levando o PR a afirmar que “num momento em que a economia portuguesa apela à vinda de imigrantes por falta de mão-de-obra, tem de se ter noção que isso implica estruturas adequadas para acompanhar aqueles que chegam e para evitar situações extremas”.<br /><br />Nos últimos anos, foram sendo desmanteladas redes de associação criminosa, tráfico de pessoas, auxílio à imigração ilegal, angariação de mão-de-obra ilegal, extorsão, branqueamento de capitais, fraude fiscal, ofensas à integridade física, posse de arma de fogo e falsificação de documentos, ligadas ao aliciamento de imigrantes para trabalhar em explorações agrícolas, nomeadamente da zona do Alentejo. Os crimes praticados contra imigrantes chegaram às forças de segurança, levando sete militares da GNR a ser acusados de um total de 33 crimes relacionados com maus-tratos a imigrantes em Odemira. As imagens dos agentes que filmaram os atos humilhantes e as agressões das vítimas, trabalhadores imigrantes provenientes do sul da Ásia, revelaram, segundo o Ministério Público, um "ódio claramente dirigido às nacionalidades das vítimas e apenas por tal facto e por saberem que, por tal circunstância, eram alvos fáceis".<br /><br />No dia 5 de novembro de 2023, Gurpreet Singh, de nacionalidade indiana, foi o alvo fácil, vítima de um ato de violência extrema em Setúbal, morto com um tiro de caçadeira no peito, que foi disparado através de uma janela, no rés do chão e virada para a rua. A vítima mortal estava no seu quarto, naquele domingo à noite, na casa partilhada com outros cinco imigrantes. Os dois suspeitos da execução do crime, de nacionalidade portuguesa, tentaram matar todos os ocupantes da casa por motivação racista.<br /><br />Os exemplos podiam continuar, porque há muitos. É manifesto que, nos últimos tempos, a comunidade de imigrantes em Portugal, em especial provenientes do sul da Ásia: Bangladesh, Nepal, India e Paquistão, tem sido objeto de uma campanha de desinformação e ódio, em especial nas redes sociais. Fala-se de invasão, insegurança, ódio religioso e da necessidade de mostrar que estão a mais e não são bem-vindos. <span style="font-weight: 700;">As ruas de Portugal são cada vez menos seguras para as pessoas imigrantes.</span><span style="font-weight: 700;"><br /></span><br />Sabemos hoje, pelos órgãos de comunicação e pelas redes sociais, que movimentos de extrema-direita estão a organizar uma ação criminosa contra os imigrantes de origem asiática, que elegeram como alvo, para o dia 3 de fevereiro, em Lisboa, na zona do Martim Moniz e Rua do Benformoso, precisamente por serem as “ruas com mais imigrantes do país, sobretudo de origem islâmica”, reinvindicando o fim da “islamização da Europa”. Sabemos também que a organização anunciou a compra de archotes, tochas e parafina líquida, que tudo indica serão instrumentos usados para aterrorizar as pessoas imigrantes que por ali estiverem.<br /><br />Além de profundamente racista e xenófoba, esta ação põe em causa a segurança das pessoas imigrantes que vivem e trabalham nesta área de Lisboa. É por este motivo que vos dirigimos esta carta aberta, exigindo que todos os responsáveis políticos e institucionais façam cumprir o artigo 13.º da Constituição, o princípio da igualdade, e acionem os mecanismos processuais para que se aplique o artigo 240.º do Código Penal, relativo à discriminação e incitamento ao ódio e à violência. O <span style="font-weight: 700;">objetivo é de travar a saída desta manifestação</span> que, por se poder qualificar entre “atividades de propaganda organizada que incitem à discriminação, ao ódio ou à violência contra pessoa ou grupo de pessoas por causa da sua raça, cor, origem étnica ou nacional, ascendência, religião” se constitui como<span style="font-weight: 700;"> incitamento ao ódio e à violência e não mero exercício da liberdade de expressão</span>. A moldura penal para este crime é de pena de prisão de um a oito anos.<br /><br />Com esta carta, <span style="font-weight: 700;">pretendemos defender a segurança de todas as pessoas imigrantes em Portugal, c</span><span style="font-weight: 700;">ombater o racismo, a xenofobia, a hostilidade religiosa e o crescimento do discurso de ódio</span> a que temos vindo a assistir, particularmente vindo de partidos e movimentos de extrema-direita. Queremos dar um sinal inequívoco e público de que atos e organizações sociais, políticas e partidárias racistas e xenófobas são inaceitáveis e queremos demonstrar a nossa solidariedade para com as vítimas de todos os ataques de ódio em Portugal.<br /><br />A negação e inércia sistemáticas são o terreno fértil para a impunidade do racismo e da xenofobia, que têm vindo a escalar e devem ser absolutamente inaceitáveis em qualquer democracia. <span style="font-weight: 700;">O silêncio das instituições é cúmplice. Não o acompanharemos nem o legitimaremos.</span><span style="font-weight: 700;"><br /></span></p></div><div class="blogger-post-footer">http://palavras-cruzadas.blogspot.com/feeds/posts/default</div>Belinha Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/01002456782459817098noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-796431621205299602.post-65440967715852372532024-01-22T19:36:00.135+00:002024-01-25T23:32:09.115+00:00A Lagarta do Pinheiro, Processionária, ou bicha da Quaresma<div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcFZ3eWoC0Y1ws-GVIyd2YAF3RxZvDc9MzgLgtp8SD3qIMz-CedN6lJn00tYJbUnAhScSx2rn2UTJqKd-lehYzfibwNP57ryfi6vntsWpnuRAUpbKnXL90lopSOaq9dR9Y6N5d1w9nbkgyVZtEwZo9QWi2tKPYmPOg_kyF38-dGjo9nHiQ04iIE1uSlgRq/s780/620px_414px-ciclo-de-vida_edit.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="520" data-original-width="780" height="339" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcFZ3eWoC0Y1ws-GVIyd2YAF3RxZvDc9MzgLgtp8SD3qIMz-CedN6lJn00tYJbUnAhScSx2rn2UTJqKd-lehYzfibwNP57ryfi6vntsWpnuRAUpbKnXL90lopSOaq9dR9Y6N5d1w9nbkgyVZtEwZo9QWi2tKPYmPOg_kyF38-dGjo9nHiQ04iIE1uSlgRq/w509-h339/620px_414px-ciclo-de-vida_edit.jpg" width="509" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEis58F3E7VDUG6CrLykZZ9VakCC9-m8kyWx_0sIhFpqvmt3uhj6qCvdF7LlhW4LurHlr8T0ONARnJEK4BiKLrvdqSgKa_A5IojnfCxMDH2Cnna8pI94lrJCuhdiW4bDhj_QdsSY92NqZm9alecU3r8V1WJp4BlR0iyk1MIZQg8HtOCp0K1X0N5_9KL_0QUn/s4961/Lagarta%20do%20Pinheiro.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4961" data-original-width="3508" height="527" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEis58F3E7VDUG6CrLykZZ9VakCC9-m8kyWx_0sIhFpqvmt3uhj6qCvdF7LlhW4LurHlr8T0ONARnJEK4BiKLrvdqSgKa_A5IojnfCxMDH2Cnna8pI94lrJCuhdiW4bDhj_QdsSY92NqZm9alecU3r8V1WJp4BlR0iyk1MIZQg8HtOCp0K1X0N5_9KL_0QUn/w372-h527/Lagarta%20do%20Pinheiro.jpg" width="372" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHG_NovmS7bfmEfZbtfZAJ7IuCDW6Sw2ABheR_AbGjK_vm1NNWOuqVhDm1J2-UjGdUHxd8OFU64XG7pm9c5fPf0WRTqCl2TZPbs2m9D30MbSJn41m91jH-Qp9TV7XBoNj9nh278Fd6N6fvNT5VdaySLBlaHThFOUE6zkW1-jI1LN21w9Nz8T8Kn0ilE0wm/s1200/faro.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="1200" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHG_NovmS7bfmEfZbtfZAJ7IuCDW6Sw2ABheR_AbGjK_vm1NNWOuqVhDm1J2-UjGdUHxd8OFU64XG7pm9c5fPf0WRTqCl2TZPbs2m9D30MbSJn41m91jH-Qp9TV7XBoNj9nh278Fd6N6fvNT5VdaySLBlaHThFOUE6zkW1-jI1LN21w9Nz8T8Kn0ilE0wm/s320/faro.jpg" width="320" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">(Alguns materiais informativos disponíveis na internet, </span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">referentes a diferentes áreas geográficas de Portugal)</span></div><div><br /></div><div><br /></div>A praga da <b>Lagarta do Pinheiro</b> (<i>Thaumetophoea pityocampa</i>), conhecida como <b>Lagarta Processionária</b>, tem francas possibilidades de se tornar mais frequente em virtude da redução da precipitação e do aumento da temperatura, o que favorece o desenvolvimento deste e de outros insectos. Conhecida desfolhadora dos pinheiros e cedros, (também é encontrada em abetos) o dano sucede devido à alimentação das larvas ser à base das agulhas. O seu nome provém da descida em fila indiana que a lagarta faz pelos troncos das árvores resinosas quando parte em busca de um local para se enterrar e depois transformar em borboleta. Estas lagartas, que podem chegar até aos 5 cm de comprimento, são também chamadas “quaresmas” em algumas zonas dado que esta migração acontece durante a época da quaresma. No Alentejo chamam-lhe "cobril."Durante esta “procissão” são guiadas por uma fêmea que, na frente, tece um fio de seda para que não se percam umas das outras. O lepidóptero é inofensivo, pertence à família das traças, e encontra-se por todo o Mediterrâneo, em diversos países do sul da Europa e também no norte de África. Mas a lagarta é a principal praga desfolhadora de pinheiros em Portugal. No final do Outono, ninhos brancos constituídos por fios sedosos aparecem na extremidade dos ramos dos pinheiros, ficando depois acastanhados com acumulação de excrementos, aumentando o seu peso e chegando, por vezes, a vergar os ramos. As agulhas roídas pelas lagartas, posteriormente, ficam avermelhadas, secas e acabam por cair. As árvores, na sua maioria jovens, com menos de 25 anos, suas preferidas, enfraquecem e tornam-se mais permeáveis a doenças.<div><br /></div><div><b>Jamie Dornan, a estrela</b><br /><br />Decidi escrever um apontamento sobre esta bicha peluda depois de ler que o actor <b>Jamie Dornan</b>, - tornado conhecido por ter protagonizado o filme<i> 50 sombras de Grey</i>, facto que ninguém parece ainda ter ultrapassado, nem depois de ter feito <i>Belfast</i>, - e alguns amigos, tiveram um encontro imediato com a lagarta em Almancil foram parar ao hospital. De repente a processionária é notícia mundial! Do Reino Unido ao Brasil, todos falam do sucedido. Imagine-se! Portugal, esse paraíso, afinal tem bichos perigosos! Até já parece que estamos na Austrália, só falta dizer-se! Já agora, não esqueçam a Víbora cornuda, o Anjo destruidor, da Erva-Moura, a Viúva-negra e, claro, a Caravela Portuguesa, sim? Portugal merece figurar no mapa dos destinos perigosos da vida selvagem!<div><br /></div><div><b>O podcast com sotaque escocês</b><br /><br />Então, o que sucedeu? <a href="https://www.blogger.com/blog/post/edit/796431621205299602/6544096771585237253#">Gordon Smart, de 42 anos, falou disso no podcasts The Go</a><a href="https://www.blogger.com/blog/post/edit/796431621205299602/6544096771585237253#">o</a><a href="https://www.blogger.com/blog/post/edit/796431621205299602/6544096771585237253#">d, the Bad and the Unexpected, revelou o facto, possivelmente enquadrado na categoria do "Inesperado"</a>. Contou agora que o ano passado, ele e mais dois amigos estavam por cá, no bem bom do sul, a jogar golfe, a comer, a beber, enfim, a divertir-se à rico, até que sucedeu o imprevisto. O que não nos mata torna-nos mais fortes, além de mais conhecedores, é o caso. Evidentemente ressacado, Gordon acabou no hospital a pensar que estava a ter um ataque cardíaco. Com o coração aos saltos e o lado esquerdo, mão e braço, a formigar e adormecido, foi o que lhe passou pela cabeça, enquanto explicava aos médicos que buscavam entender a causa daqueles sintomas, que tinha emborcado vinho e 6<i> martini expresso</i>, para quem não sabe uma poderosa mistura de licor de café, vodka e café, e telefonava ao pai, que é médico, inquirindo sobre o seu estado. O amigo célebre, Jamie Dorman, apresentava as mesmas queixas, também tinha ido parar ao hospital, levado de ambulância e tudo. Poderiam estar com uma intoxicação alcoólica ou até por cafeína, pensou o pai dele, mas os nossos bata-branca, feitos os testes descartaram a possibilidade. A culpa era da processionária!<br /><br />Os amigos deixaram o hospital com uma história para contar, o que Gordon até fez, no tal <i>podcast</i>: um susto, nada mais. E, à saída, Jamie Dornan até recebeu pedidos de <i>selfies</i>, claro, podia lá ser de outra maneira. Por muiot que lanute, há-de morrer a ser lembrado pelo Sombras, pobre homem! Mais tarde um médico enviou ao Gordon, ou ao Jamie, não sei bem, um link com um texto sobre as lagartas processionárias nos campos de golfe do sul, aparentemente responsáveis pela morte de cães e ataques de coração em humanos. Achei exagerada esta última parte, nunca tinha ouvido tal. Há quem acrescente um ponto quando conta um conto, não é? Ou terá sido apenas para assustar os golfistas? Fiquei a pensar: será que este Gordon não inventou toda esta história para brilhar no <i>podcast</i>? Que jornal português escreveria que se morre de ataque de coração por causa da lagartinha peluda? Seremos assim tão desconhecedores do mundo animal que nos rodeia? E porque é que o Jamie ainda não disse nada? </div><div><br /></div><div><b>A peçonha</b></div><div><br />Ainda criança fui avisada pela minha avó para não tocar nas lagartas peludas pois eram peçonhentas. Hoje uma vasta maioria de pessoas nem sequer sabe o que quer dizer "peçonha" quanto mais saber da existência das processionárias! Para essas, aqui deixo um aviso sério: não tocar na “cobra peluda” que se encontrou a descer o pinheiro ou a caminhar pelo chão, quando se foi esticar as pernas; não remexer nela com um galho para separar as lagartas, não pisar as largartas armado em exterminador implacável. Fiquem longe de pinheiros infestados! Quem avisa, vossa amiga é. O mesmo vale para ninhos caídos: nada de jogar à bola com eles, remexer no novelo ou queimar à toa, pois os fumos também espalham os pelos pelo ar. </div><div><br /></div><div>Os três amigos eram irlandeses, talvez pela terra deles não haja nem pinheiros nem lagartas, talvez não se fale disso por lá, apenas de lebres. Do que escutei, nem sei se eles tocaram nas bichas. Nem é preciso. As reações mais comuns são causadas pelo contacto com os pelos que cobrem o seu corpo. Por vezes, sentindo-se ameaçadas, as lagartas também podem deliberadamente libertá-los. Além do contacto, em dias de muito vento, e dependendo até da humidade, estes pelos deslocam-se pelo ar e afectam zonas expostas do corpo, como pescoço, antebraços, pulsos, tornozelos, etc. Os pelos das lagartas podem ser levados pelo ar e causarem irritação ocular e na pele. Por isso há mais a fazer do que não tocar. Se forem para a floresta entre Fevereiro e Abril, é melhor irem bem cobertos. Se tiverem um historial de alergias, considerem um facto de apicultor! ( Estou a brincar, obviamente!) Se avistarem uma procissão, nada de se benzerem e começarem a rezar: batam em retirada. Nada de ficarem ali a fazer "selfies" com as bichas.</div><div><br /></div><div>Pinheiros e cedros podem estar isolados em pinhais, bosques, pode ser fácil evitá-los, mas também podem estar em locais acessíveis, como arruamentos, jardins, parques infantis e de merendas, escolas, cemitérios, campos recreativos e de futebol, trilhos, no quintal do vizinho, etc. Em todos estes casos os adultos devem estar vigilantes, podendo reportar o avistamento aos responsáveis da Protecção Civil para que a lagarta possa ser eliminada. Devem também aconselhar adequadamente as crianças para não brincar ou mexer nestes diabinhos peludos. Quando eu era criança levava tudo quando mexia para casa, para grande incómodo da minha mãe. Era uma menina desobediente. (Podem sempre dizer que lhes tiram o telemóvel. A minha mãe não tinha grande moeda de troca. Talvez proibir a TV me dissuadisse, mas ela nunca aplicou esse castigo.) Também se devem manter longe destas árvores ao passear animais de estimação pois os quatro patas podem sofrer muito com o contacto indevido.</div><div><br /><b>O ciclo biológico - a Natureza é linda</b></div><div><br /></div><div><div>A lagarta do pinheiro passa por <b>quatro fases de desenvolvimento: ovo, lagarta, casulo (pupa ou crisálida) e borboleta (insecto adulto). </b> Este ciclo é influenciado pelas condições ambientais, principalmente pela chuva e pela temperatura. Chuvas fortes podem destruir os ninhos. Temperaturas amenas aceleram a eclosão dos ovos e o desenvolvimento das lagartas.</div><div><br /></div>O ciclo de vida de <i>T. pityocampa</i> está dividido em <b>duas fases no ecossistema</b>: a aérea, que decorre entre o período de Junho a Fevereiro, correspondente à fase adulta, postura dos ovos - um total 70 a 350 ovos, com uma aparência que se confunde com os ramos do pinheiro - e desenvolvimento larvar; e a fase subterrânea, que decorre no período de Fevereiro a Maio, correspondente à pré-pupação e pupação .<div><br /></div><div>- Entre Junho e Setembro, a borboleta fêmea de cor acastanhada, deposita os ovos nas agulhas dos pinheiros, em ninhos, morrendo de seguida. Ao fim de trinta a quarenta dias, eclodem lagartas, entre verão e o outono.</div><div><br /></div><div>-Estas larvas de primeiro estádio sofrem uma
primeira muda, passando para o segundo estádio com duração de cerca de 15 a 20 dias, período no qual se
desenvolvem os recetáculos que darão origem aos pêlos urticantes, mecanismo de defesa das lagartas. Podem ser largados no meio ambiente pela mera deslocaçao da lagarta.</div><div><br /></div><div>- No terceiro estádio adquirem a capacidade urticante, sendo capazes de desencadear,
quando em contacto com humanos e outros vertebrados, uma reação inflamatória alérgica grave. Os pelos possuem uma espécie de arpões miscroscópicos.</div><div><br /></div><div>- No quarto estádio constroem o ninho definitivo, que agrupa
indivíduos de diferentes posturas, com uma estrutura termorregulável que permite a sobrevivência durante o inverno. A alimentação é crepuscular,ou seja, feita durante
a noite: com o auxílio de um “fio de seda condutor” conseguem abandonar o ninho e regressar ao mesmo. </div><div><br /></div><div>-Por fim, no quinto estádio, termina o desenvolvimento do aparelho defensivo das
lagartas, formado por oito recetáculos, cada um composto por
aproximadamente 120.000 pelos urticantes de cor laranja.</div><div><br /></div><div>Em Fevereiro, no final do Inverno, termina o desenvolvimento larvar. As larvas saem
do ninho e iniciam a procissão, isto é, a migração colectiva das lagartas, em direção ao solo, direcionadas por uma fêmea, que desprende um fio, Vão procurarar um terreno adequado à pupação para se enterrarem,
entre 5 e 20 centímetros de profundidade. </div><div><br /></div><div>-Quando se dá o enterramento, a lagarta passa a pupa e entra em
diapausa, período de repouso com suspensão do metabolismo. A diapausa é interrompida um
mês antes da emergência do insecto adulto, a borboleta, geralmente
entre Maio e Junho. Em condições adversas, a duração de cada fase pode variar e o ciclo pode ir até cinco anos, através de uma diapausa prolongada, o que é raro acontecer em Portugal que tem um clima favorável.</div><div><br /></div><div><div>(<a href="https://www.isa.ulisboa.pt/files/cef/pub/articles/2021-11/Processionaria_0.pdf">Nota</a>! Encontrei este pdf que refere que a processionária do pinheiro tem uma geração anual, com reprodução no Verão. Sendo que, as larvas desenvolvem os ninhos durante o Inverno. <b>Na
zona litoral dos distritos de Coimbra e Leiria, esta espécie apresenta uma população endémica em que as larvas desenvolvem os ninhos durante o
período de Verão.)</b></div><div><br /><br /><b>A lagarta do pinheiro é uma praga. A luta continua.</b></div><div><b><br /></b> A forma mais comum de identificar uma infestação de Processionária do Pinheiro é através do seu estágio em cada época do ano. No Inverno poderão ser identificados os ninhos de seda nos topos dos pinheiros. Na Primavera, as filas de lagartas a percorrerem os troncos dos pinheiros. Rapidamente, vou dar uma ideia das estratégias usadas para lidar com a infestação.<br /><br /><b>Verão (meados de junho/inícios de setembro) – Período de voo dos Adultos</b><br /><br />Nesta fase aconselha-se a luta biotécnica, que visa a captura dos machos adultos (borboletas) e consiste na colocação de armadilhas com feromona, no arvoredo. A feromona sexual é uma substância química emitida geralmente pelas fêmeas, induzindo um comportamento de atração e de cópula aos machos da mesma espécie. Em zonas frias o voo pode iniciar-se no mês de Junho e em zonas quentes, não antes do mês de Setembro. É imprescindível realizar a captura dos machos todos os anos, sem interrupção.<br /><br /><b>Outono (meados de setembro/finais de outubro) – Lagartas nos 1.º e 2.º estádios (8 a 10 mm de comprimento)</b><br /><br />Nesta fase aconselha-se a luta microbiológica, que recorre a insecticidas microbiológicos à base de uma bactéria (Bacillus thuringiensis – BT) que atua ao nível do intestino da lagarta, provocando paragem da alimentação e paralisia intestinal. Apenas é eficaz após a eclosão de todos os ovos desde que as lagartas não tenham ultrapassado o seu 3.º estádio de desenvolvimento.<br /><br /><b>Inverno (de novembro até à descida dos ninhos) – Lagartas desde o 3.º ao 5.º estádio</b><br /><br />Nesta fase, o método mais eficaz passa pelo corte dos ninhos, nem sempre facilmente acessíveis. Para tentar reduzir o número de lagartas que chegam ao solo aconselha-se a colocação, no tronco e ramos principais, de cintas plásticas embebidas (nas duas faces) com cola especial para insetos. Aquando da descida das lagartas na árvore, estas cintas irão capturar uma significativa parte dos indivíduos. (Estão à venda online.)<br /><br /><b>Primavera (meados de fevereiro/finais de maio) – Lagartas do 5.º estádio até ao enterramento</b><br /><br />A destruição mecânica das lagartas é, nesta altura, o método mais eficaz consistindo essencialmente no corte e destruição (queima) dos ninhos ainda presentes.<br /><br /></div><div><div>Nota! Os pelos urticantes encontram-se, para além do corpo das lagartas, espalhados pelos ramos e nos ninhos, pelo que ao realizar qualquer dos tratamentos aconselhados, deverá usar luvas, proteger o pescoço, os olhos, usando óculos apropriados; usar máscara de proteção no nariz e boca.</div><div><br /></div><div>Quando se consegue localizar o local onde as estão pupas, a terra deve eser escavada e os casulos trazidos à superfície, o frio não permitirá a viabilização do ciclo.</div><div><br /></div><div>A colocação de ninhos para chapins também tem sido uma estratégia usada no controlo da processionária do pinheiro. Além do chapim, outras aves são também predadoras embora em fases diferentes do ciclo biológico: cuco, noitibó, poupa, gaio, pega rabuda, entre outras. Formigas, gafanhotos, algumas vespas também são predam, e os morcegos comem as borboletas.</div><div><br /></div><div><b>O contacto com os pelos urticantes provoca reacções alérgicas quer em humanos quer em animais. </b></div><div><b>Que sintomas e o que fazer neste caso.</b><div><br /></div>Os sintomas em <b>humanos </b>podem surgir alguns minutos ou horas depois do contacto. </div><br />Os sintomas de alergia são em regra transitórios - duram menos de 24 horas. Mas também persistir por várias horas ou dias.<div> <br />Note-se que as crianças ou pessoas com histórico de alergias são mais vulneráveis. <br /><br />A resposta alérgica varia em função do tempo de contacto e quantidade de pelos que se depositaram no pele da pessoa. <br /><br />As irritações cutâneas são um dos tipos de reações (reação urticariforme): há irritação com comichão, ardor, pele vermelha e inchaço. As lesões cutâneas têm características maculopapulares (manchas bem circunscritas) e podem ser acompanhadas de vesículas.<br /> <br /> A irritação ocular é muito semelhante a uma conjuntivite, com os olhos avermelhados, comichão e inchaço.<br /> <br /> A inalação dos pelos pode desencadear tosse e dificuldades respiratórias de gravidade variável.<p style="line-height: 100%; margin-bottom: 0.5cm;"><b>
O tratamento em humanos depende da intensidade dos sintomas:</b></p>Lavar a pele ou os olhos com água corrente; <br /><br />Remover os pelos urticantes que possam ter ficado na pele (pode usar um adesivo, por exemplo);<br /><br /> Mudar de roupa e lavá-la a altas temperaturas, iguais ou superiores a 60ºC, porque a proteína dos pelos urticantes responsável pelas alergias – a taumatopoína – só é desnaturada a partir destas temperaturas. <br /><br /> Aplicar, no local da reação alérgica, uma pomada à base de corticoides;<br /><br /> Tomar um anti-histamínico: se já tiver história de alergias, é natural que tenha em casa.
<p style="line-height: 100%; margin-bottom: 0.5cm;">No caso de
contacto por via ocular, recomenda-se a observação por um
oftalmologista. </p><p>Se necessário, ligue <b>linha Saúde 24</b> 808242424<span face="arial, sans-serif" style="background-color: white; color: #4d5156; font-size: 14px;"> , </span>ou <b>112 </b></p><p>Pode, ainda, contactar o <b>Centro de Informação Antivenenos (CIAV) – 800 250 250.</b></p>Se a reação alérgica for mais intensa, deve dirigir-se ao <b>serviço de urgência de um hospital</b> para observação. A situação mais grave verifica-se quando surge <b>angioedema</b>, <b>urticária generalizada</b>, <b>inflamação nas vias respiratórias</b> e <b>choque anafilático</b>.<p>- Quais são os sintomas de um <b>angiodema:</b></p>O angioedema é muitas vezes confundido com uma alergia devido à coincidência de manifestações da urticária, mas existem formas de angioedema que não são de origem alérgica e não se associam a urticária.<br /><br />Pode atingir várias zonas do corpo, nomeadamente a face (pálpebras, lábios e língua), as extremidades (mãos e pés), órgãos genitais, vias respiratórias e trato gastrointestinal.<br /><br />Os sintomas do angioedema podem incluir: edema (inchaço), assimétrico e doloroso, urticária, prurido (comichão), dificuldade em engolir ou respirar, náuseas, cólicas, vómitos, desconforto ou dor abdominal, diarreia.<br /><br />- Quais são os sintomas de <b>choque anafilático:</b><br /><br />Os principais sintomas de choque anafilático são: dificuldade para respirar e falta de ar; chiado ao respirar e respiração ofegante; coceira intensa e vermelhidão na pele; formação de bolhas na pele;<br />Inchaço da boca, língua, olhos e rosto; sensação de garganta fechada; dificuldade para engolir ou falar;<br />dor abdominal, náuseas e vomitos; aumento dos batimentos cardíacos; tontura e sensação de desmaio;<br />suores intensos; palidez; confusão mental. Em sitauações raras, pode sobrevir a morte.<br /><p><b>Os animais e a lagarta do pinheiro</b></p><p>Por curiosidade, ou na brincadeira, os animais, os cães, mas também os gatos, podem inalar os pelos enquanto cheiram as lagartas, ou lamber as patas irritadas e levar os pelos para a boca, focinho e olhos. Os pelos também podem ficar presos no pelo do cão apenas porque ele se deitou no chão e estavam por ali. Também podem encontrar um ninho caído no chão e brincar com ele. O efeito tóxico do contacto com a lagarta-do-pinheiro é grave e pode conduzir à morte do seu animal. Mas mesmo que tal não suceda, a hipótese de um internamento e algumas sequelas, como perder parte da língua, já são o sufciente para deixar qualquer um que possua um animal de estimação apreensivo e alerta.</p><b>Sintomas nos animais são variáveis e vão evoluindo à medida que o tempo passa :</b></div><div><b><br /></b>O animal fica inquieto, nervoso. Apresenta inchaço do focinho, que se pode estender à cabeça, prurido intenso, sobretudo na face, urticária. O cão leva as patas à boca com frequência, boca e língua inflamadas, apresenta salivação excessiva. </div><div><br />Caso o animal tenha ingerido pelo urticante, pode ter problemas de estômago, como vómitos, perda de apetite, dificuldade em mastigar, dificuldade em engolir.</div><div> <br />A inalação dos pelos pode causar reações respiratórias alérgicas que provocam inchaço das vias respiratórias, dificuldade em respirar e até asfixia.</div><div><br /></div><div>No caso de contacto com os olhos, estes podem ficar com uma tonalidade azulada (devido a edema),o cão pode ter fobia à luz, prurido ocular, conjuntivite e depois úlcera da córnea.</div><div><br />Na boca, podem aparecer manchas na língua: ela fica azulada e pode, depois, apresentar necrose, de cor amarelada ou preta. Quando isto acontece, os cães vão perder porções da língua e pode haver necessidade de cirurgia.<br /><br />Podem desenvolver infecção dos lábios, língua e de toda a garganta, para além da perda de tecidos, nas zonas necróticas, entre 6 a 10 dias depois da exposição.<br /><br />Pode haver também choque anafilático, que na sua forma mais severa ditará a morte do animal.<p><b>O que fazer?</b></p><p>Tente manter a calma.</p><p>Evite o contacto directo com as zonas
afectadas do seu animal: use luvas e máscara.</p><p><b><u>Contactar o veterinário o mais rapidamente possível</u></b></p>Remova os pelos urticantes mas sempre usando luvas e máscara.</div><div><br /></div><div>Se estes estiverem na boca e língua do animal é preferível que seja o veterinário a fazê-lo.</div><div><br /></div><div>Limpe a área afectada com água quente. </div><div><br /></div><div>Se existirem muitos pelos na pelagem do animal, ou se suspeitar disso, ou se não os conseguir ver dad o seu tamanhp, a a cor e tipo da pelagem do seu animal, é aconselhável colocá-lo na banheira e lavá-lo por completo com água quente</div><div><br />Evite que o cão continue a coçar áreas afectadas e a lamber-se, talvez enorlando-o numa toalha ou talvez colocando um colar isabelino. Aconselhe-se com o seu veterinário. Os pelos da lagarta não devem ser quebrados nem espalhados pois isso só faz com que mais toxina se espalhe.</div><div><br /></div><div>Mantenha o animal relaxado, veja que não corre, ou salta, ou seja, que faça actividades de esforço.</div><div><br /></div><div><b>Prevenção</b></div><div><b><br /></b></div><div>Informe-se com o seu veterinário pois ele saberá dar-lhe informação sobre a incidência de lagartas na sua zona.</div><div><br /></div><div>Evite passear com o seu cão junto de pinheiros e cedros, zonas de pinhal, na época das procissões, e não o deixe farejar o chão </div><div><br /></div>Caso tenha pinheiros ou cedros no jardim, à volta das árvores pode colocar cintas de plástico embebido com cola inodora à base de poli-isolbutadieno para que as lagartas ao descerem do tronco fiquem aí coladas. Veja online, existem muitos kit armadilha à venda. Se detetectar lagartas no solo, junte-as com um pau, e esmague-as devagar, remova-as para o lixo, em saco bem fechado.</div><div><br /></div><div>Para ninhos, contacte alguém da Protecção Civil, regra geral não estão acessíveis. Durante os dois primeiros estádios larvares, antes de se formar a lagarta com pelos urticantes (estádio 3), os métodos de destruição à base do insecticida biológico de <i>Bacillus thuringiensis </i>são eficazes, depois disso os ninhos têm de ser destruidos ou rasgados para que o frio destrua as lagartas.<br /><br /></div></div></div></div><div><br /></div><div>( A informação veiculada neste texto provem maioritariamente do site do ICNF e materiais por ele publicados. A descrição dos estádios larvares é da autoria de Ana Catarina Elias Lara, INTOXICAÇÃO POR CONTACTO COM LAGARTA
DO PINHEIRO, 2022, embora adaptada. Parte da informação relativa aos animais resultou de conversas com o veterinário e de informação consultada ao longo do tempo em virtude de possuir animais de estimação.)</div><div class="blogger-post-footer">http://palavras-cruzadas.blogspot.com/feeds/posts/default</div>Belinha Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/01002456782459817098noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-796431621205299602.post-63396263569342032162024-01-21T17:33:00.022+00:002024-01-22T14:22:22.526+00:00Cinema : The Killer, de David Fincher<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidoK7qCyc8N1NE4qounxX6Twg9JtzKrZsHvehS9qQm7D2kFnssoMBcjfkqQRqYKezYb1a1whEG7Iylu30HL7yESfVDuCWC9g_4iQC9ZtlmIAD1ISIxjKwHRUhBvorJVfNX8X-mWpMqplP5PoG3LXgXhFkpu3BVnjlOl8PH5vHcZFttJozwdj6_73Vvt0qh/s740/posrer2.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="740" data-original-width="500" height="455" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidoK7qCyc8N1NE4qounxX6Twg9JtzKrZsHvehS9qQm7D2kFnssoMBcjfkqQRqYKezYb1a1whEG7Iylu30HL7yESfVDuCWC9g_4iQC9ZtlmIAD1ISIxjKwHRUhBvorJVfNX8X-mWpMqplP5PoG3LXgXhFkpu3BVnjlOl8PH5vHcZFttJozwdj6_73Vvt0qh/w307-h455/posrer2.png" width="307" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKMkTVqZvILIra2TSTieUlN1jTxJaGQUlNqF_7-5OsjtpsARZfLQ0IaCEddyGnm_gPUZ_xONLr-7vX4FPeLsplpQI9f3gNFeh8fomoiL8H_KD7E9xN0f3pRgbkGKUU6G9DSjY2OZdMLkebq-vqBP_ktC39rdlKs9OYpGgtFzV-X__q0bh1lqW2KEDm4i2B/s740/poster1.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="740" data-original-width="500" height="453" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKMkTVqZvILIra2TSTieUlN1jTxJaGQUlNqF_7-5OsjtpsARZfLQ0IaCEddyGnm_gPUZ_xONLr-7vX4FPeLsplpQI9f3gNFeh8fomoiL8H_KD7E9xN0f3pRgbkGKUU6G9DSjY2OZdMLkebq-vqBP_ktC39rdlKs9OYpGgtFzV-X__q0bh1lqW2KEDm4i2B/w306-h453/poster1.png" width="306" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhgnIGA5R5qdahFbCFQS1AJwRy36QuXNrquYRw7VX_ZnLk2g3HZLcHvLyLJE9qEYghg3JoSLQY683oZ2_EBKeqfV19Dot7Okt6BRKnAQpJc29lLMMaTk0VPIlPH0I6mKWAKZ9k3dP0yaNKt6lcrzFjs53fMkwYt68G-nY7A_Vhg4m9EtXS1YfkzUylCCoIW/s740/poster3.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="740" data-original-width="500" height="448" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhgnIGA5R5qdahFbCFQS1AJwRy36QuXNrquYRw7VX_ZnLk2g3HZLcHvLyLJE9qEYghg3JoSLQY683oZ2_EBKeqfV19Dot7Okt6BRKnAQpJc29lLMMaTk0VPIlPH0I6mKWAKZ9k3dP0yaNKt6lcrzFjs53fMkwYt68G-nY7A_Vhg4m9EtXS1YfkzUylCCoIW/w302-h448/poster3.png" width="302" /></a></div><i><br />" Siga seu plano. Antecipe, não improvise. Não acredite em ninguém. Empatia é proibida. Nunca dê vantagem. Trave apenas a batalha pela qual foi pago."</i><br /><br /><b>The killer,</b> tem uma fotografia linda de morrer, uma enorme atenção ao detalhe, e é obsessivo na realização tanto quanto a personagem principal na execução dos seus assassinatos. O filme está povoado de curiosidades como a omnipresença das marcas comerciais mais populares, sinal de que o assassino faz parte de um mundo onde tudo tem um preço, referências à TV, como o uso de nomes de personagens de series de TV nas identidades que assume, ou ainda, ao cinema clássico, como o evidente Hitchcock, ou ao mundo do crime, como, por exemplo, WWJWBD, ou seja, <i>O Que Faria John Wilkes Booth</i>?, sendo preciso saber que Booth foi um actor de teatro norte-americano, menos conhecido nessa capacidade do que na de assassino do presidente Abraham Lincoln. <div><i><br /></i></div><div><i>The killer </i>é uma história mínima, um filme quase de um homem só, apanhado no pior dia da sua vida, minimalista, poderia talvez dizer-se. Após um contrato falhado, o caçador torna-se o caçado. O assassino descobre que atacaram e quase mataram a sua amada na tentativa de obter dela informações para chegar até si. Restam-lhe duas escolhas: tornar-se um fugitivo,viver a olhar por cima do ombro, deixar a casa luxuosa no meio da selva e uma mulher que lhe importa e para quem foi bom, ou descobrir quem esteve implicado no contrato e matar metodicamente cada um para garantir a segurança dos dois e a continuação do seu estilo de vida. Mínimos são também os diálogos do protagonista embora abundem monólogos internos, o que pode ser aborrecido para muitos; para outros, o andamento, calmo mas obstinado do filme, também não passará na bitola. Eu, ainda não refeita da minha última experiência Netflix, curti quase tudo.<div><br /></div><div>Tal como o assassino tem de lutar contra o fastio de esperar pelo momento certo para executar o alvo, - sendo a espera o maior problema do seu trabalho - também o espectador mais impaciente tem de aguentar até certos momentos em que se sentirá recompensado por algumas dinâmicas revigorantes. O filme é dividido em capítulos que se passam em cidades distintas e em cada um deles há um destes momentos, colorido pela circunstância e algum improviso. </div><div><br /></div><div>Ou o espectador entra no jogo e encontra no filme um certo absurdo e tom divertido, tão bem servido pela cara admiravelmente inescrutável de Fassbender, sua postura mecânica e jeito expedito, ou acaba supliciado pelo detalhado manual de como matar sem deixar rasto embora, sem dúvida, prisioneiro feliz do esperado virtuosismo de Fincher. E quando perversamente se regozijava já por ver que nem os mais ricos dos ricos estão a salvo de serem executados, que não há tecnologia à prova de um bom e motivado assassino, no último capítulo, quando esperava assistir a mais uma morte artisticamente elaborada, o assassino recua. Com perplexidade, vê que rasga os papelitos, sinal de capítulo encerrado sem retorno. O cliente do assassino, esse homem de dinheiro, que vende honestidade em cada palavra e gesto, afirma que ninguém é perfeito e que eles os dois não têm um problema, mesmo se pagou para que o rasto até si fosse apagado, uma decisão apenas formal e de cujo conteúdo material se demarca. Foi inesperado ver o assassino voltar-lhe as costas, embora deixando ameaças. Mas, porquê? Porque foi este ricaço poupado? Talvez por pensarem ambos em termos de números, eliminando julgamentos subjectivos ou pessoais? Talvez porque o assassino que disse não servir a nenhum deus, nenhum país, nenhuma bandeira, serve afinal a um deus chamado dinheiro. Matar o homem rico seria matar a mão que o alimenta.</div><div><br /></div><div><div>E ainda outra questão. Porque teria o professor sugerido que ele deixasse de estudar Direito e passasse a contornar a lei? Alguém tem achegas? Da personagem nunca soubemos o nome, nunca conseguimos ver além da sua superfície embora tenhamos conseguido entrar claramente na sua mente. Possui um mantra que repete para que aprendamos com ele. Não dispensa os alongamentos para manter a máquina de matar oleada, segue uma dieta de poucos carboidratos e proteína qb , confia na tecnologia para se manter vigilante e diminuir o risco de falhar, medindo as suas batidas por minuto num relógio de pulso. A sua leitura do mundo e da vida são feitas numericamente, através de estatísticas mundiais, quantos nascem, quantos morrem. Os números mostram que o que faz é, afinal, um acto insignificante na ordem das coisas. Faz parte de uma minoria, é um assassino contratado, confiável, letal, preciso. O filme detalha, ao minuto, os seus passos. Muito disso é expectável: assumir diversas identidades ou disfarces, exibir a sua coleção privada de passaportes, adquirir armas e despojar-se delas, além de telemóveis, eliminar todas as pistas, nomeadamente, corpos. Mover-se de país em país, conduzir e ser conduzido de cidade em cidade, para cumprir o seu propósito.</div><div><br /></div><div><div>Esta não chega a ser uma história de redenção, não, mesmo se o assassino de elite, frio, que vimos falhar em Paris parece, no final, ter abraçado o lado da maioria dos homens. À superfície, deitado em frente ao mar, na companhia da mulher, sua face gelada está, por agora, tão relaxada que permite um trejeito. Mas ali, no seu refúgio, a máquina de matar está apenas em modo pausa, restabelecido que foi o equilíbrio. Intimamente, é possível que continue a detestar a humanidade, o mundo dos outros, esse lugar sem esperança, que ele despreza. Quem será o próximo na sua mira? É possível que a Netflix já tenha convencido Fincher a fazer uma série.</div><div><i><br /></i></div></div><div><i>The killer,</i> o mais recente de David Fincher, baseado numa banda desenhada francesa escrita por Alexis Nolent, aka Matze, ilustrada por Luc Jacamon, é um filme que corre pelos nossos olhos como veludo enquanto se desenrola com a precisão de um relógio suíço. O nosso ouvido mantém-se sempre bem entretido, - é de ouvir este filme com toda a atenção do princípio ao fim - e não apenas devido à excelente banda sonora original e às muitas canções dos Smith, banda favorita do nosso homem, usadas para se concentrar. É também um filme que testa a capacidade do espectador comum para digerir violência, uma bem encenada, nomeadamente numa assombrosa luta corpo-a-corpo, entre o protagonista e um brutamontes, mas ainda violência, ou na de um homem vazio cuja profissão é matar. Quase sempre gosto dos filmes de David Fincher. Aceito que me digam que talvez The killer não seja um filme para gostar e antes um para admirar. Felizmente também podemos escolher apenas fazer isso.</div><div><br /></div></div></div><div class="blogger-post-footer">http://palavras-cruzadas.blogspot.com/feeds/posts/default</div>Belinha Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/01002456782459817098noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-796431621205299602.post-54373116187031642072024-01-10T12:02:00.215+00:002024-01-12T11:47:32.119+00:00Oppenheimer, o filme; Hiroxima, o livro.<br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJoJjlr67aLSDu35YxDRCmEVpcJ84BUYIvhLLVcEKjsz7RY4NY4Qf4zzAz9k8xolXerEY804S6axbLqMaCXe7KF_FH6qc1_f_WHbf2wK91NGhfFYNnqDIZsl9hL3SF1lXAeErernT1DnKUvkSmVpcuyOgPiiniE1i0YDvlp1jWIdr-eWuXL0ynqzZh1zvx/s1134/movie.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1134" data-original-width="850" height="439" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJoJjlr67aLSDu35YxDRCmEVpcJ84BUYIvhLLVcEKjsz7RY4NY4Qf4zzAz9k8xolXerEY804S6axbLqMaCXe7KF_FH6qc1_f_WHbf2wK91NGhfFYNnqDIZsl9hL3SF1lXAeErernT1DnKUvkSmVpcuyOgPiiniE1i0YDvlp1jWIdr-eWuXL0ynqzZh1zvx/w319-h439/movie.jpg" width="319" /></a></div><div style="text-align: center;"><br /></div><i>"Sabíamos que o mundo não seria mais o mesmo. Algumas pessoas riram, algumas pessoas choraram, a maioria das pessoas ficou em silêncio. Lembro-me da frase da Escritura Hindu O Bhagvad Gita: Vishnu está tentando persuadir o príncipe de que ele deve cumprir seu dever. E para impressioná-lo assume a forma de vários braços. E diz: "<b>Agora me tornei a morte, o destruidor de mundos</b>." Suponho que todos nós pensámos isso de uma forma ou de outra." </i>Oppenheimer<br /><div style="text-align: center;"><br /></div>A utilização das bombas atómicas em cidades e civis, em Hiroxima, a 6 de Agosto, e três dias depois na cidade industrial de Nagasaki, foi justificada pelos responsáveis como necessária para pôr fim à guerra no Pacífico, e ainda como retaliação pelo ataque japonês a Pearl Harbor. Sem a bomba o Japão teria sido invadido pelos aliados o que teria acarretado enorme perda de vidas. Assim se precipitou a II GG para o fim. Por outro lado, a bomba intimidaria a União Soviética. Mas Hitler já estava morto e os japoneses estariam prestes a render-se, com a ameaça de uma fome generalizada, embora fossem contra a rendição incondicional. <div><br /></div><div>A solução da bomba, um segredo que apanhou o mundo de surpresa, foi facilmente vendida à opinião pública como um mal necessário e Oppenheimer, a face mais visível do projecto, um herói instantâneo. O ódio aos japoneses cegava, talvez mais isso do que o conhecimento das suas inabaláveis vontades de lutar e de se sacrificar, qualidades que os tornavam particularmente temíveis. A escassa informação divulgada pelos meios possíveis e oficiais sobre as consequências deste acto devastador levou a que a vitória sobre o Japão fosse festejada despudoradamente, com frenesim nacionalista. Os veteranos regressavam a casa, em festa. O mundo respirava em paz. </div><div><br /></div><div>O primeiro filme de Hollywood sobre a história da bomba, <a href="https://archive.org/details/beginning-or-the-end-1947">The Beginning or the End</a> (um docudrama) não só escamoteou a verdade histórica e científica, como também serviu a tese da inevitabilidade. Foi rodado sob supervisão do General Groves e o Presidente Truman até lhe deu o título. Oppenheimer visitou o set. Em 1947, o filme fracassou nas bilheteiras, mas em 2020, um livro escrito por Greg Mitchel, <i><a href="https://gregmitch.medium.com/the-truth-about-the-real-oppenheimer-in-hollywood-dff2e423f491">The Beginning or the End How Hollywood—and America—Learned to Stop Worrying and Love</a></i>, mostra o choque ocorrido entre Hollywwood, e cientistas, políticos e militares sobre a versão do bombardeio de Hiroshima, permitindo descobrir um filme sabotado para defender a bomba.<br /></div><div><br /></div><div>Ainda adolescente li um pequeno livro, pequeno em tamanho, fazia parte da então popular <i>Coleção Miniatura Livros do Brasil. </i>Mas este pequeno livro, Hiroxima, revelou-se<i> </i>enorme na forma como, através de uma linguagem quase cinematográfica, directa e seca, tanto quanto me recordo, me transportou para aquele inferno atómico, fazendo-me deambular entre feridos e destroços, lume e fumos tóxicos, levando-me rapidamente a concluir que os sobreviventes de Hiroxima eram mortos-vivos que preferiam ter morrido instantaneamente. Nunca esqueci uma passagem onde se lê que as flores dos kimonos das mulheres estavam, após a explosão, impressas na sua pele, por acção daquele intenso clarão. As breves páginas contêm muitas imagens-choque que ficam impressas na nossa memória, como se tivéssemos visto um filme.<div><br /></div><div><div><div style="text-align: center;"> <img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgvvHuO2BDzFhB6PmFsrwbTSCHSLmNwOdm9Mgh4phVhV1O5C7CnxCAO6PhwsGIx1nSt6ZkpkI8RZ1sgD9HBt0TbElLiv8aGY_nsZm83gTMySXjAoCSFX5UwH2Acs4CMPTQ5pxhl_cBiX7ZiW4NMRwBF7A5QRWsfQHtR9Wd2_gBBs8ALh1jIQVNjj5aFtq3_/s320/hiroxima.jpg" /> </div><br />Inicialmente esse livro foi uma reportagem jornalística de John Hersey, - um jornalista que tinha ganho um Pulitzer, - que devia ser publicada na revista <i>The New Yorker </i>faseadamente, muito possivelmente para colmatar a ausência de informação que permitisse ao cidadão compreender o incompreensível, ter acesso a uma experiência nova e muito difícil de assimilar: a da violência nuclear. Em vez de fasear, a revista devotou todo o seu espaço ao texto sobre a quase completa destruição da cidade japonesa de Hiroxima e sua população de 250 mil pessoas, -metade sucumbiu ou estava ferida, ou começou a morrer em quatro semanas, e ao longo de dois meses, em consequência da radiação, talvez mais 100 mil em cinco nos viram a sua vida ceifada por doença - talvez para também permitir uma reflexão mais completa sobre o uso daquele poder destrutivo. Na sua <a href="https://www.newyorker.com/magazine/1946/08/31">capa </a>, uma inocente ilustração em tons de verde mostra pessoas que conversando, passeando, nadando, dançando, jogando ténis, descontraidamente gozam o que parece ser o seu tempo livre num parque com caminhos, lagos e árvores. Dentro, a abrupta interrupção da normalidade. Uma amostra do inferno. Em resposta à sensacional repercussão desta publicação na opinião pública, a Harper's Magazine publicou em Fevereiro de 1947, um artigo escrito por Henry Stimson, <span style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #1a1a1a; font-family: Georgia, serif; font-size: 18px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: border-box; vertical-align: inherit;">c</span></span><span style="box-sizing: border-box; vertical-align: inherit;">onselheiro-chefe sobre política atómica do presidente Roosevelt e, mais tarde, do presidente</span> Truman,<span><span><span style="color: #1a1a1a; font-family: Georgia, serif;"><span style="background-color: white; box-sizing: border-box; font-size: 18px; vertical-align: inherit;"> </span></span></span></span>intitulado <a href="https://ahf.nuclearmuseum.org/ahf/key-documents/stimson-bomb/">The decision to use the atomic bomb .</a></div><div><br /></div><div>A revista saiu a 31 de Agosto de 1946, um ano após o bombardeio. O autor escreveu a sua <a href="https://www.newyorker.com/magazine/1946/08/31/hiroshima">peça </a>a partir da observação e de relatos obtidos junto de sobreviventes entrevistados extensamente, ao longo de três semanas de investigação. Hersey dá-nos a conhecer a perspectiva das vítimas, homens, mulheres, crianças, partindo das suas memórias para a escrita. A edição de 300 mil exemplares esgotou-se e foi reimpressa. Excertos desta narrativa foram publicados em jornais e revistas, a reportagem foi lida na íntegra aos microfones de muitas rádios. John Hersey, 40 anos depois da publicação desta reportagem onde literatura e jornalismo se fundiram, e do livro publicado em Outubro de 1946, logo traduzido, retornou ao Japão e concluiu a história de vida dos seis <i>hibakusha </i>(termo japonês referente aos sobreviventes e que significa <i>pessoas afetadas pela explosão</i>) retratados: uma viúva, uma secretária, um padre jesuíta, um pastor metodista e dois médicos. Por esta razão, em republicações posteriores da obra existe mais um capítulo. </div><div><br /></div><div>O livro inicial reparte-se por 4 capítulos. No primeiro, intitulado <b>Um clarão silencioso</b>, Hersey descreve as personagens e seus afazeres: "<i>No dia 6 de agosto de 1945, precisamente às oito e quinze da manhã, hora do Japão, quando a bomba atómica explodiu sobre Hiroshima, a Srta. Toshiko Sasaki, funcionária da Fundição de Estanho do Leste da Ásia, acabava de sentar-se à sua mesa, no departamento de pessoal da fábrica, e voltava a cabeça para falar com sua colega da escrivaninha ao lado."</i>; no segundo, <b>O fogo</b>, apresenta os efeitos imediatos da explosão da bomba quer na mente, quer no corpo, quer nas suas atitudes; no terceiro, <b>Investigam-se os detalhes</b>, aborda a procura de explicações pelos japoneses sobre o tipo de tecnologia foi utilizada, a entreajuda, e acções do governo japonês para auxilar os sobreviventes e lidar com os mortos; no quarto, <b>Flores sobre ruínas</b>, aborda como é reconstruir a vida enquanto se sofrem as consequências da radioatividade. Um quinto e último, <b>Depois da catástrofe,</b> é um relato que tem lugar 40 anos depois e Hersey mostra como a vida destas pessoas mudou depois da explosão, abordando as sequelas do sucedido. Este capítulo apenas surgiu nas edições a partir de 1985.</div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div></div></div><div>Já se passaram muitos anos sobre a sua leitura, mas ainda retenho o choque dessa descoberta e a lembrança de uma enorme angústia ao percorrer cada página. Mesmo sem ter feito esta leitura, é totalmente possível que uma pessoa se angustie ao ver Oppenheimer. Mas eu sei que a angústia que me acompanhou do princípio ao fim do filme de Nolan tem ainda origem neste livro. Somos poupados às imagens da devastação nuclear, mas não creio, todavia, que fossem necessárias: amplamente divulgadas, pairam na memória da maioria de nós. É um relato que, portanto, se esquiva a olhar nos olhos das verdadeiras vítimas. Temos de as adivinhar nos olhos de Oppenheimer, mas isso não é impossível. O filme foca-se antes na exploração da personalidade e legado do " pai da bomba atómica", o homem escolhido pelo General Groves para director científico do projecto ultra-secreto de nome Manhattan. É empolgante enquanto mostra a aventura fraterna e intelectual daquele selecto grupo de cientistas, mas também supremamente tenso e sombrio. A concorrer para isso, ainda o facto da recriação deste pedaço da História se fazer num momento em que a ansiedade nuclear se tornou mais palpável, agora alimentada pela difusão de imagens e discussões na rápida internet, como quando Ucrânia e Rússia originaram sérias preocupações em virtude de conflitos próximos da central de Zaporizhzhia ou Putin ameaçou usar o seu arsenal nuclear. O filme relembra-nos a possibilidade muito real da nossa aniquilação por via de um conflito nuclear, - nove países possuem essas armas, -e, indiretamente, insta-nos a refletir o presente.</div><div><br /></div><div>Após 3 anos, a equipa chefiada pelo brilhante físico leva a cabo o teste Trinity, no deserto do Novo México, a sul de Los Alamos, assim inaugurando com êxito era do átomo, ainda no desconhecimento exacto do alcance e das consequências da precipitação radioactiva. Nenhum civil foi avisado antecipadamente sobre o teste e não foram evacuados antes ou depois do teste. Esses habitantes nativos foram as primeiras vítimas. Três semanas depois, o Japão testemunha o poder destrutivo da primeira bomba atómica. </div><div><div><br /></div><div>O argumento de Nolan é baseado na premiada biografia <i>American Prometheus. The Triumph And Tragedy Of J. Robert Oppenheimer, </i>escrita por Martin J. Sherwin e Kai Bird, um livro que não li<i>.</i> Prometeu, no mito, deu ardilosamente o fogo exclusivo dos deuses aos seres humanos, colocando-os em vantagem na relação com os animais, já que podiam trabalhar os metais e cultivar a terra. Zeus, irado, pune-o com um tormento perpétuo. É amarrado no topo de uma montanha para ter o seu fígado devorado por uma águia, e todos os dias este se regenera. Só Hércules, ao cabo de uma eternidade, acabará com o seu tormento, matando a águia com uma pedra e libertando-o das correntes. O fogo tem um sentido simbólico de conhecimento, tanto para o bem, como para o mal, a possibilidade de transformar a Natureza. O titã que é simultaneamente rebelde, capaz de desobedecer aos poderosos deuses do Olimpo, e trágico, enfrentou com orgulho o seu destino e nunca se arrependeu de se ter sacrificado em benefício dos homens, pois grandes conquistas apenas são possíveis com enorme sacrifício e sofrimento.<br /></div><div><br /></div><div>Quando o projecto Manhattan toma forma, vivia-se uma encruzilhada. Se os nazistas conseguissem a bomba, o mundo estava perdido. Se Oppenheimer conseguisse a bomba, ainda assim o mundo não estaria a salvo. Nunca mais. Ainda que se pensasse que a bomba tornasse a possibilidade da guerra no futuro inimaginável e fosse vista como um instrumento de paz, a corrida às armas nucleares começaria ali. Na sua mão, ao encontro de Eisntein, cálculos que poderiam iniciar uma reação em cadeia que poderia destruir o mundo inteiro. A incerteza. A corrida contra o tempo, a dimensão do projecto - que empregou meio milhão de pessoas - o conhecimento daquele novo fogo, tornaram-no um fantasma de si mesmo, assombrado por um futuro que apenas ele podia visualizar. </div><div><br /></div><div><div>Após o bem sucedido projecto, Oppenheimer, agora consultor de armas nucleares para o governo dos EUA , começou a falar publicamente sobre os perigos e riscos da guerra atómica, apelida a bomba de maligna, considera que uma superbomba, como era a bomba de hidrogénio, seria uma arma de genocídio. Propôs a Stimson que novas pesquisas sobre armas nucleares fossem proibidas. Esta sua nova faceta torna-o incómodo e em 1954, Oppenheimer também é punido. É sacrificado numa infame audiência de segurança que examina os mais diversos aspectos da sua vida pessoal e profissional para o reduzir a um simpatizante de esquerda, logo um inimigo de Estado, vendo-se mesquinhamente impedido de trabalhar em projectos sensíveis para a segurança nacional. Tornar-se um agente da União Soviética nunca lhe deve ter passado pela cabeça, nem talvez ser membro do partido comunista, pese embora a simpatia pelo movimento, e ter tido, ao longo da vida, muitas e boas ligações com comunistas, até na família. Um pouco desastradamente parece ter implicado amigos como agentes soviéticos, e um pouco ingenuamente justifica o acto como mentira. Parece certo que antes do início da II GG já Oppenheimer tinha abandonado as suas tendências políticas esquerdistas, talvez ciente de que lhe acarretariam prejuízo. E assim, em plena histeria comunista, na Era McCarthy, o seu contrato como conselheiro da AEC é rescindido. Sempre um patriota mesmo quando discordava da construção da bomba de hidrogénio, com potencial destrutivo mil vezes maior do que a nuclear, e esclarecia sobre os riscos do nuclear, e um amante do seu país, Oppenheimer vê a sua reputação destruída. </div></div><div><br /></div><div>Oppenheimer, o homem no centro de um enorme segredo, um desafio científico, industrial e tecnológico, acaba por ser consumido mental e fisicamente por ele. A bomba que mudou o mundo, mudou-o também. O perito em física teórica, o cientista confiante, que se revelaria um gestor e líder surpreendente, torna-se receoso do futuro e em palestras pelo mundo advogará o controlo internacional de armas nucleares, destacando a necessidade da colaboração internacional para travar a sua proliferação e garantir a sobrevivência da humanidade. Mas ele não pôs, de facto, as mãos na massa. Nem lhe cabia decidir como a bomba foi usada. Sem ele não teria havido bomba, mas sem os outros também não. A bomba é fruto de muitos pais e algumas mães, um trabalho de equipa. Ele fez a ponte triunfante entre os operacionais, engenheiros, académicos, cientistas, e os políticos, estes, gente cujo <i>modus operandi</i> ele não dominava, acabando apenas por sair vencido no jogo político. </div><div><br /></div><div>O Oppenheimer do filme é uma espécie de anti-herói, capaz de nos cativar e perturbar. Strauss, o empresário, investidor e filantropo, que se viu obrigado a deixar a faculdade para vender sapatos, e se tornou um dos mais importantes conselheiros de energia atómica da América durante a Guerra Fria, interpretado por um Robert Downey Jr. em grande forma, que acreditava que Oppenheimer fosse um espião, fervoroso defensor de uma corrida ao armamento, é o mau da fita. A política, é o grande vilão. Oppenheimer, dono de uma mente brilhante, mas também frágil, é um homem da ciência, não um super-homem. Por isso contraditório, ambíguo, sujeito a fraquezas, desejos, paixões, traços comuns a todos os mortais e cientistas. Culto, inteligente, ambicioso. Cillian Murphy tornou-o, possivelmente, mais fascinante do que na realidade foi através de uma interpretação magistral. </div><div><br /></div><div>Numa tentativa de reabilitação pública, o presidente Lyndon B. Johnson presenteou Oppenheimer com o Prémio Enrico Fermi, a mais alta honraria da AEC, em 1963. No entanto, o físico nunca recuperou totalmente do golpe sofrido. Além disso, talvez o seu tormento moral não tenha tido fim. Ao contrário de Prometeu, poderá ter morrido amaldiçoando a hora em que aceitou a missão que o haveria de tornar célebre e manchado as suas mãos de sangue.</div><div><br /></div><div>Talvez Oppenheimer apenas estivesse tão enamorado da ciência quanto qualquer cientista deve estar, predestinado a ver além da maioria, a compreender, controlar a Natureza e a partilhar esse conhecimento com o mundo. O físico Isidor Rabi diz-lhe, a dado momento: <i>"Lançamos uma bomba e ela cai sobre justos e injustos. Não desejo que o culminar de três séculos de física seja uma arma de destruição maciça."</i> Todo o cientista é um homem e ele não escapou à sua consciência que lhe ditava que a ciência devia servir os homens, tendo sido, por muitos, considerado talvez demasiado humano para a tarefa herculana que lhe coube. </div><div><br /></div></div><br /></div><div class="blogger-post-footer">http://palavras-cruzadas.blogspot.com/feeds/posts/default</div>Belinha Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/01002456782459817098noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-796431621205299602.post-7802028832208828482024-01-02T16:51:00.008+00:002024-01-02T17:11:55.724+00:00Leave de world behind - o pior filme de 2023<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfmOCfVpZGtdhBB97dygGOzlFAmTFGpeNnFR2BtOLoqwmckhF-drBQ8VW3MZ81BGq-8r5aDCjWNArIBrc6bVChTpDMfvli9q8rBFdcg2V5SNUT5KiNUWMgUn-l_It6lWZYnsa6kC6yerEA6cZw2jY5NuuoJXF5_iSkfLhTv04ldHsNRI8An_jG0fcMDNmS/s764/dd.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="764" data-original-width="523" height="534" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfmOCfVpZGtdhBB97dygGOzlFAmTFGpeNnFR2BtOLoqwmckhF-drBQ8VW3MZ81BGq-8r5aDCjWNArIBrc6bVChTpDMfvli9q8rBFdcg2V5SNUT5KiNUWMgUn-l_It6lWZYnsa6kC6yerEA6cZw2jY5NuuoJXF5_iSkfLhTv04ldHsNRI8An_jG0fcMDNmS/w365-h534/dd.jpg" width="365" /></a><br /><br /> O Sam Esmail fez Mr. Robot e então a gente pensa que <b>Leave the world behind </b>podia ser um filme estranho e interessante, mas é apenas patético. Se estas breves linhas têm algum propósito é o de vos alertar para que não percam tempo com ele. E parece que há um livro. Eventualmente o livro poderá ser melhor, quem sabe? Não será difícil ser melhor, eis a verdade. O casal Obama deve estar satisfeito por ter financiado o filmito, chegou a número um no Netflix. Mas não se deixem impressionar por isso.<div><br /></div><div>Podem querer vê-lo, o filme, por ter gerado muito comentário na internet. É cada vez pior dar atenção ao "falatório" nas redes. Até parece que a malta recebe dinheiro para tecer elogios! Podem querer vê-lo por serem fãs da Julia Roberts - eu nunca fui e nunca serei, mesmo se gostei de a ver dar corpo a uma ou outra personagem. Podem querer ver este filme anedótico por gostarem do Ethan Hawke. Primeiro eu não lhe ligava grandemente, depois passei a apreciá-lo. De facto, olha-se para os nomes envolvidos e não se adivinha o desaire. Ah, Kevin Bacon também faz parte da lista de nomes célebres presentes e porta-se bem no papel de um survivalista durante um momento de maior confronto. A mim surpreendeu-me ver como ele e Hawke são fisicamente parecidos! Aqui, um espelho um do outro. Teria sido uma escolha intencional? Porquè? Bem, seja qual for o motivo que vos atrai para verem este filme, ignorem o apelo, pois serão defraudados. <br /><br />Não é o primeiro filme onde estranhos são isolados contra a sua vontade e têm de conviver juntos para superar a adversidade. Não é uma má premissa aquela que aqui foi totalmente desperdiçada. Mas para mim o filme deixou de ser interessante poucos minutos depois de Mahershala Ali ter aparecido à porta da sua casa - alugada à família agora inquilina por um fim-de-semana, - com a filha, buscando refúgio. As revelações das personagens são um enfado, mesmo quando têm a ver com explicações sobre o apocalipse em curso, - é uma guerra civil? - e o que lhes sucede pouco nos importa. As máquinas colapsam - computadores, barcos, aviões, Teslas, - e isso é o mais interessante de tudo. Alguns acontecimentos são enigmáticos, dentes descolam das gengivas do adolescente, há panfletos lançados do céu por um drone, uma bomba explode no horizonte, mas o todo é uma sopa muito desinteressante. Os animais fazem o seu papel: aparecem, muitos. Como se não soubéssemos, é-nos dito, duas vezes, que eles têm algo para nos dizer. Ninguém liga ao elemento mais jovem da família, Rosie, que encontra conforto a ver séries de TV. Bem sabemos, somos, estamos, dependentes da tecnologia, para tudo, até para nos sentirmos amados e felizes. Os pretensiosos movimentos de câmara são apenas grotescos pois desprovidos de qualquer sentido. Querem empurrar tensão e terror à história com tanta reviravolta mas não funciona. Quando Julia Roberts espanta os veados aos berros que se reuniram ao seu redor, muitos, não aguentei mais e desatei a rir. </div><div><br /></div><div>É um filme embaraçoso de tão mau, espanta-me que este grupo de actores tenha anuído ao projecto - terá sido por simpatia? estarão todos precisados de dinheiro? - assim como me espanta que muitos espectadores se contentem com isto e apenas se tenham manifestado desapontados com o seu final aberto. Para mim o final foi o melhor, chegar ao fim desta estopada foi a minha vitória sobre este apocalipse de filme! </div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><br /><div class="blogger-post-footer">http://palavras-cruzadas.blogspot.com/feeds/posts/default</div>Belinha Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/01002456782459817098noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-796431621205299602.post-43710275191889308122024-01-02T15:31:00.000+00:002024-01-02T15:31:16.830+00:00Cinema: The holdovers vai ser um clássico de Natal <p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhE-Air9SPzWUEqYAK8vOVOa6fxfVtEEj1ju4lqFnotHes4yfmh2rhJcMMpFUTnBO7FJi2u2fcd4BIvNDUvr-QzZg8hKli-j_TGiAY_kK1V_Ar_N5PBqs3Oe_9IpqRq81TL20fRMhm-imjV0LKibi5xSRSSL3w2nO1WlJQmbRyZzSrIFHCf4zpzb0PqvxOM/s787/payne.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="787" data-original-width="536" height="515" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhE-Air9SPzWUEqYAK8vOVOa6fxfVtEEj1ju4lqFnotHes4yfmh2rhJcMMpFUTnBO7FJi2u2fcd4BIvNDUvr-QzZg8hKli-j_TGiAY_kK1V_Ar_N5PBqs3Oe_9IpqRq81TL20fRMhm-imjV0LKibi5xSRSSL3w2nO1WlJQmbRyZzSrIFHCf4zpzb0PqvxOM/w351-h515/payne.jpg" width="351" /></a></div><br /><p></p>Até aos Reis, se ainda não estiverem empanturrados de Natal, podem aproveitar o embalo e ver um filme - Os excluídos - que, acredito, se tornará um clássico da época. Para mim, era uma escolha fácil: Alexander Payne, o realizador, e Paul Giamatti, de novos juntos depois de Sideways! Paul Giamatti tem acumulado personagens e interpretações sempre notáveis ao longo da sua carreira. O seu odiado professor de história clássica, Hunham, é apenas esplêndido. Mas os outros envolvidos também não desmerecem. As personagens, sobretudo estas, e a história, ainda que previsível, ainda que sem re-invenções, crescem em nós devagarinho. Primeiro estranham-se, depois...A neve acumulada nas ruas, nas árvores e telhados, é linda, a recriação dos anos 70 perfeita. A história dos três solitários que têm de conviver à força e aprender a viver uns com os outros, navegando pelas suas inseguranças e segredos, perdas que os marcaram, apresenta-se também como crítica ao privilégio social. É uma comédia dramática que parece uma obra cinematográfica do passado. Feita para confortar, e que cumpre bem nesse capítulo, não deixa de nos lembrar que bem podíamos ser todos um pouco mais humanos uns com os outros, ou apenas mais gentis. E Natal é o que menos ali interessa, ainda que não faltem as canções.<div class="blogger-post-footer">http://palavras-cruzadas.blogspot.com/feeds/posts/default</div>Belinha Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/01002456782459817098noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-796431621205299602.post-67816316386499195242023-12-25T17:30:00.003+00:002023-12-25T17:30:18.269+00:00Vinho quente!<div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqCvhUi6Jr6dlozgh1qHEbChGZySMepfRfF-vQUJctP_GFMq6B1I8zEmUnFNigTl9Qahs-XfnuVL_KLMYB3KUIJ1ZRgh27yuamTZq004jKrRRj1LOXZjElxo0PY4op7t1zBlHcy7eeQlt5gfDU-DC8ykEWrmPUUHvPDSM4Xucrs0zzstrTcEe8ys3D-xKx/s1040/vinho.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1040" data-original-width="780" height="407" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqCvhUi6Jr6dlozgh1qHEbChGZySMepfRfF-vQUJctP_GFMq6B1I8zEmUnFNigTl9Qahs-XfnuVL_KLMYB3KUIJ1ZRgh27yuamTZq004jKrRRj1LOXZjElxo0PY4op7t1zBlHcy7eeQlt5gfDU-DC8ykEWrmPUUHvPDSM4Xucrs0zzstrTcEe8ys3D-xKx/w306-h407/vinho.jpg" width="306" /></a></div><br /><div><br /></div><div><br /></div> E agora um projecto DIY para reutilização fácil de copos Bushmills. Coloquem 2 dl de água ao lume com 120 gr de açúcar amarelo, 3 cravinhos, 1 estrela de anis, e 1 pau de canela. Deixem ferver por 5 minutos. Adicionem o sumo de uma laranja e a sua casca com o cuidado de não usar a parte branca. Assim que levantar fervura, deixem passar mais 3 minutos e então juntem 7,5 cl vinho tinto. Deixem ferver por mais 2 minutos e retirem do lume. Tapem e deixem a arrefecer um pouco. Sirvam e deliciem-se com esta bebida aromática e reconfortante. Quente é uma delícia, mas fria também escorrega bem.<div class="blogger-post-footer">http://palavras-cruzadas.blogspot.com/feeds/posts/default</div>Belinha Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/01002456782459817098noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-796431621205299602.post-13458110479913044472023-12-22T02:10:00.006+00:002023-12-22T14:57:33.421+00:00Decoração de Natal com livros<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidbPINprdkgRt3jYmxluKzhlsDkGTy9YtS-j0SzcLEhD_mU3qlJScl22_1uA5dAZ6o361IU_676O8m_hVsG4az-rX2JeTCPMvEXdwkPy9WqW7ouV1-lb2qhf9oqnkmpZGbcsj8EJPpstkvYjnFrAvbd8qLy4IqgRdj7NB-NlaHQ0qLrwlpwIzGIcIuIsz6/s1417/livronatal.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1063" data-original-width="1417" height="406" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidbPINprdkgRt3jYmxluKzhlsDkGTy9YtS-j0SzcLEhD_mU3qlJScl22_1uA5dAZ6o361IU_676O8m_hVsG4az-rX2JeTCPMvEXdwkPy9WqW7ouV1-lb2qhf9oqnkmpZGbcsj8EJPpstkvYjnFrAvbd8qLy4IqgRdj7NB-NlaHQ0qLrwlpwIzGIcIuIsz6/w542-h406/livronatal.jpg" width="542" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span style="white-space-collapse: preserve;">Quero, em primeiro lugar, desejar-vos umas BOAS FESTAS, e, em segundo lugar, desafiar-vos a reutilizarem um livro em fim de vida na vossa decoração de Natal! Bem sei, já estamos em cima do momento. Mas tenho estado doente e nada me tem apetecido fazer.</span><br /><br /><span style="white-space-collapse: preserve;">De acordo com o tutorial era necessário um livro de capa dura e com cerca de 300 páginas. Em Novembro entrei numa loja onde, entre outras velharias, se vendem livros em segunda mão e perguntei por um livro velho daqueles que ninguém jamais comprará, daqueles que nem de borla cativarão qualquer leitor. Há livros a quem a idade conquista um lugar ao sol; outros, porém, agonizam até à morte. Ao contrário das árvores que lhes dão vida e que morrem de pé, muitos livros acabam tombados num canto, esquecidos, ou encerrados em caixotes, inertes, longe de mãos e olhares humanos, assim aguardando o fim.</span><br /><br /><span style="white-space-collapse: preserve;">A loja, qualquer loja de velharias, é uma fascinante assemblagem mais fruto do acaso do que de qualquer plano. A obra extravasou das prateleiras, tomou as paredes e pendura-se do tecto, provocando-nos alguma claustrofobia e muitas questões. O homem, solícito, desapareceu atrás da barricada de destroços de vidas passadas, um bricabraque só em parte bem arrumado. Quando voltou, estranhando a desenvoltura com que se movia naquele espaço diminuto e labiríntico, vi que erguia na mão direita três volumes, desta forma salvaguardando os frágeis objectos no percurso. Fez-me lembrar uma gravura onde o nosso ilustre Camões, soerguendo o torso, levanta os Lusíadas numa mão, lavrando as águas do mar com a outra! Só que na outra mão este homem trazia ainda outro livro: "Um euro cada um, e se levar os três ofereço o quarto." Eu só tinha pedido um livro, um só livro enjeitado. No entanto, se agora me apresentavam quatro livros náufragos como recusar-lhes um lugar ao sol na minha estante? (Nem todos, três deles apenas, pois um estaria predestinado a um futuro decorativo e natalício.) Subtraídos ao descaso e ao pó dos dias, poderiam, enfileirados e de novo verticais, cumprir o seu destino de voltarem a ser folheados e lidos, ou apenas descansarem a lombada com dignidade. </span><br /><br /><span style="white-space-collapse: preserve;">O homem providenciou um saco grátis em plástico vintage, daquele que seguramente durará até à ressurreição de Cristo, e que já não se fabrica nem usa no comércio sob pena de escândalo ambiental. Agradeci. Chegada a casa arrumei o assunto que apenas ontem, tardiamente, desarrumei. Vi, finalmente, com olhos de ver, que tinha comprado quatro livros dos anos 80 em alguma ocasião adquiridos por alguém ao Círculo de Leitores segundo um ritual meu conhecido. A revista catálogo era entregue pelo agente os livros escolhidos, um postal destacado e preenchidos os espaços minúsculos com uma Molin. Depois de recolhido em mão, passado algum tempo ele tocaria à campainha para entregar a obra pretendida. </span><br /><br /><span style="white-space-collapse: preserve;">As capas estavam sujas mas em boas condições e as páginas amarelecidas pela luz do tempo testemunhavam um passado ilegível. Encontrei pistas em dois deles: datas, nomes de pessoas e lugares, dedicatórias escritas em caligrafia cuidada na folha de guarda, "A amizade é o amor sem asas", "Quando a adversidade nos atinge, se não nos derruba, torna-nos mais fortes". Imaginei estes livros novos e cheirosos a trocarem de mãos. Terão sido talvez um presente de aniversário, ou, quem sabe, um presente de Natal, de um Natal menos feliz de alguém, que os há tantos como livros abandonados à sua sorte. Imaginei que estes livros foram sorrisos e abraços, embrulhos enlaçados de curiosidade, antes de se tornarem uma torrente de histórias a correr sob uma ponte de afectos, uma memória estimada. Os autores eram conhecidos, as sinopses instigantes. Um deles deu origem a um filme de Bernardo Bertolucci. Outro foi uma primeira obra de sucesso. Fui incapaz de eleger um deles para o sacrifício. Faltou-me a coragem para o estropiar, incapaz de transmutar a sua vocação original. Limpei-os o melhor que pude e encaminhei-os para um porto de abrigo. </span><br /><br /><span style="white-space-collapse: preserve;">Há uns meses o carteiro deixou uma publicação envolta em plástico. De capa mole, fontes de escolha e combinação duvidosas, título bombástico, tradução duvidosa, era uma obra de propaganda religiosa, com capítulos intitulados "Esperança que infunde alegria", "Luz para os nossos dias", entre outros de menor conforto. Chegou com os folhetos dos supermercados, imobiliárias e cartões de canalizadores, desentupidores e limpa-chaminés do costume. Aqui por casa há sempre uma pilha desta papelada a um canto. O autocolante Publicidade? Aqui, não, já voou há muito da caixa de correio pelo que os folhetos atraem folhetos magneticamente, semana após semana. Até parece que se reproduzem! ..</span><br /><br /><span style="white-space-collapse: preserve;">Há uma frase conhecida que é, creio, atribuída a Albert Einstein: a coincidência foi a maneira que Deus encontrou de permanecer no anonimato. Chamar Deus para o meio do lixo pode parecer desrespeitoso mas diz quem acredita que ele está em toda a parte. Ao almoço, a leitora feliz que de manhã tinha salvo o livro, ainda não tinha conseguido fazer as pazes com a "decoradora de Natal". Mas, a meio da tarde, as duas pacificaram-se ao constatar que os folhetos já ultrapassavam os limites do aceitável fruto das agressivas campanhas de vendas do Natal. E foi então que a publicação veio à tona, repescada do fundo da pilha de papel, talvez porque Deus não quisesse que a sua vida terminasse abruptamente no contentor azul. </span><br /><br /><span style="white-space-collapse: preserve;">Os livros são como as pessoas: alguns envelhecem mal, outros, ainda que imaculados de juventude, tardam a encontrar o leitor que os vai resgatar e dar sentido à sua existência. Tal como as pessoas, não faltam livros a precisar de serem salvos. Atentai, pois, nesta máxima: quem salva um livro não muda o mundo, mas muda o mundo desse livro! Decorai, decorai. A todos um bom natal e aos livros, também.</span></div><div class="blogger-post-footer">http://palavras-cruzadas.blogspot.com/feeds/posts/default</div>Belinha Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/01002456782459817098noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-796431621205299602.post-24382378485595603532023-12-19T14:11:00.004+00:002023-12-19T14:11:35.122+00:00O que é o SINCELO?<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjcK8asMCIBhGpR5dgExfNx9dG4SSJSJpyAQW7ab9kuAt23-9kGxA_fcUrIuoHVcsNA3axsUhq67NuuAVQPS2MpRA-6vOlB4ry7z5-W-n3xgDZXqnuX4lTkQdDXgYNsVmTssPo4qn85Ja0Nlknt_BlPLvRQfJOURcjzYMbK5M2B4LCiIv8Wv59VzHZRL-pS/s1439/412100297_305832959089094_7004710259337269823_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1439" data-original-width="986" height="687" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjcK8asMCIBhGpR5dgExfNx9dG4SSJSJpyAQW7ab9kuAt23-9kGxA_fcUrIuoHVcsNA3axsUhq67NuuAVQPS2MpRA-6vOlB4ry7z5-W-n3xgDZXqnuX4lTkQdDXgYNsVmTssPo4qn85Ja0Nlknt_BlPLvRQfJOURcjzYMbK5M2B4LCiIv8Wv59VzHZRL-pS/w470-h687/412100297_305832959089094_7004710259337269823_n.jpg" width="470" /></a></div><div style="text-align: center;">Vejam mais fotografias como esta no <a href="https://ointerior.pt/regiao/sincelo-cobre-trancoso-de-branco/?fbclid=IwAR1IoKXulxXUR7jMs9JdID4pSv7kR5Ymj2xlwbkLe0sYiiufHbu8024SHN4">site do Jornal O Interior</a></div><div><br /></div>Sincelo não é geada nem neve! Sincelo é um fenómeno meteorológico que acontece em situações de nevoeiro aliado a uma temperatura de -2ºC a -8ºC e resulta do congelamento das gotas de água em suspensão quando estas entram em contacto com a superfície. Quando sob um nevoeiro muito denso, pode produzir o mesmo efeito que uma nevada e ocorrer a precipitação de cristais de gelo em pleno nevoeiro, sem haver nuvens no céu.<div class="blogger-post-footer">http://palavras-cruzadas.blogspot.com/feeds/posts/default</div>Belinha Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/01002456782459817098noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-796431621205299602.post-2360948994077373422023-12-15T00:16:00.000+00:002023-12-15T00:16:13.031+00:00Snowman - SIA<br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHHiBXx8PfEwPVLpwAhUonYJMXXTyTgY3D7rUdanXJC96mqmMvJ4KCw4W02TZZ9Z5YwLKPrfuii_-LmBbs9xj08Xn0AZ-YZORhhLPTbr4GdS-1w0zE28IO8qL25oOfDjlybUceNgorsjaomwQNhEE9evYaiCKtQxYcLSPANkX5jRiEGteSdHWV8SHQHcS1/s1012/Snow.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="517" data-original-width="1012" height="280" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHHiBXx8PfEwPVLpwAhUonYJMXXTyTgY3D7rUdanXJC96mqmMvJ4KCw4W02TZZ9Z5YwLKPrfuii_-LmBbs9xj08Xn0AZ-YZORhhLPTbr4GdS-1w0zE28IO8qL25oOfDjlybUceNgorsjaomwQNhEE9evYaiCKtQxYcLSPANkX5jRiEGteSdHWV8SHQHcS1/w550-h280/Snow.jpg" width="550" /></a><br /><br /><div style="text-align: center;"><a href="https://youtu.be/gset79KMmt0?si=9l7MpDJ9E1ttGfZJ">Link</a></div><br /><br />Don't cry snowman, not in front of me<br /><br />Who will catch your tears if you can't catch me, darlin'?<br /><br />If you can't catch me, darlin'?<br /><br />Don't cry, snowman, don't leave me this way<br /><br />A puddle of water can't hold me close, baby<br /><br />Can't hold me close, baby<br /><br />I want you to know that I'm never leaving<br /><br />Cause I'm Mrs. Snow, 'till death we'll be freezing<br /><br />Yeah, you are my home, my home for all seasons<br /><br />So come on let's go<br /><br />Let's go below zero and hide from the sun<br /><br />I'll love you forever where we'll have some fun<br /><br />Yes, let's hit the North Pole and live happily<br /><br />Please don't cry no tears now, it's Christmas baby<br /><br />My snowman and me<br /><br />My snowman and me<br /><br />Baby<br /><br />Don't cry, snowman, don't you fear the sun<br /><br />Who'll carry me without legs to run, honey?<br /><br />Without legs to run, honey?<br /><br />Don't cry, snowman, don't you shed a tear<br /><br />Who'll hear my secrets if you don't have ears, baby?<br /><br />If you don't have ears, baby?<br /><br />I want you to know that I'm never leaving<br /><br />'Cause I'm Mrs. Snow, 'till death we'll be freezing<br /><br />Yeah, you are my home, my home for all seasons<br /><br />So come on let's go<br /><br />Let's go below zero and hide from the sun<br /><br />I'll love you forever where we'll have some fun<br /><br />Yes, let's hit the North Pole and live happily<br /><br />Please don't cry no tears now, it's Christmas baby<br /><br />My snowman and me<br /><br />My snowman and me<p><span style="color: #131313; font-family: Roboto, Arial, sans-serif;"><span style="background-color: rgba(0, 0, 0, 0.05); font-size: 14px; white-space-collapse: preserve;">Baby</span></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><br /><div class="blogger-post-footer">http://palavras-cruzadas.blogspot.com/feeds/posts/default</div>Belinha Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/01002456782459817098noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-796431621205299602.post-79189030950983811412023-12-13T16:44:00.001+00:002023-12-13T16:44:14.624+00:00Threads está quase a chegar à Europa<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKFpEaes9hd9cgcXv0FzMk396AHiokvehf9BH-ugjK-iY_QbQewoiGeB56sjFC4qAZhdzam7kYKAu8w3g0le6BMCeidipWc2moglOOm7JpUGG0hQ9DSlvu7XBDagPEWt_w9114_2K9KjV2oKkMZGhB3rBtQCDoNTzybd6oUwv0GTvGDaPhQxX_ULiq5Eua/s1788/threads.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="830" data-original-width="1788" height="258" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKFpEaes9hd9cgcXv0FzMk396AHiokvehf9BH-ugjK-iY_QbQewoiGeB56sjFC4qAZhdzam7kYKAu8w3g0le6BMCeidipWc2moglOOm7JpUGG0hQ9DSlvu7XBDagPEWt_w9114_2K9KjV2oKkMZGhB3rBtQCDoNTzybd6oUwv0GTvGDaPhQxX_ULiq5Eua/w553-h258/threads.jpg" width="553" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://www.threads.net/">Link</a></div><br /><p></p><div class="blogger-post-footer">http://palavras-cruzadas.blogspot.com/feeds/posts/default</div>Belinha Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/01002456782459817098noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-796431621205299602.post-60943084233474502982023-12-11T14:46:00.002+00:002023-12-11T14:46:21.417+00:00Golden Globes 2024: as nomeações<br />Best Motion Picture — Drama"Oppenheimer"<br />"Killers of the Flower Moon" <br />"Maestro"<br />"Past Lives"<br />"The Zone of Interest"<br />"Anatomy of a Fall"<div><br />Best Motion Picture — Musical or Comedy"Barbie"<br />"Poor Things" <br />"American Fiction"<br />"The Holdovers"<br />"May December" <br />"Air"</div><div><br />Cinematic and Box Office Achievement</div><div>"Barbie"<br />"Oppenheimer"<br />"Spider-Man: Across the Spider-Verse"<br />"Guardians of the Galaxy Vol. 3"<br />"The Super Mario Bros. Movie"<br />"John Wick: Chapter 4"<br />"Mission: Impossible - Dead Reckoning Part 1" <br />"Taylor Swift: The Eras Tour"</div><div> <br />Best Performance by an Actor in a Motion Picture — DramaBradley Cooper, "Maestro"<br />Cillian Murphy, "Oppenheimer"<br />Leonardo DiCaprio, "Killers of the Flower Moon"<br />Colman Domingo, "Rustin"<br />Andrew Scott, "All of Us Strangers"<br />Barry Keoghan, "Saltburn"</div><div><br />Best Performance by an Actress in a Motion Picture — Drama</div><div>Lily Gladstone, "Killers of the Flower Moon"<br />Carey Mulligan, "Maestro"<br />Sandra Hüller, "Anatomy of a Fall"<br />Annette Bening, "Nyad"<br />Greta Lee, "Past Lives"<br />Cailee Spaeny, "Priscilla"</div><div><br />Best Performance by an Actor in a Motion Picture — Musical or Comedy</div><div>Jeffrey Wright, "American Fiction"<br />Paul Giamatti, "The Holdovers"<br />Matt Damon, "Air"<br />Joaquin Phoenix, "Beau is Afraid"<br />Timothée Chalamet, "Wonka"<br />Nicolas Cage, "Dream Scenario"</div><div><br />Best Performance by an Actor in a Television Series – Drama</div><div>Brian Cox, "Succession"<br />Pedro Pascal, "The Last of Us"<br />Kieran Culkin, "Succession"<br />Jeremy Strong, "Succession"<br />Gary Oldman, "Slow Horses"<br />Dominic West, "The Crown"</div><div><br />Best Television Limited Series, Anthology Series or Motion Picture Made for Television</div><div>"Beef"<br />"Lessons in Chemistry"<br />"Daisy Jones & the Six"<br />"All the Light We Cannot See" <br />"Fellow Travelers"<br />"Fargo"</div><div><br />Best Performance by an Actress in a Television Series – Musical or Comedy</div><div>Ayo Edebiri, "The Bear"<br />Natasha Lyonne, "Poker Face"<br />Quinta Brunson, "Abbott Elementary" <br />Rachel Brosnahan, "The Marvelous Mrs. Maisel"<br />Selena Gomez, "Only Murders in the Building"<br />Elle Fanning, "The Great"<br /><br />Best Performance by an Actress in a Motion Picture — Musical or ComedyEmma Stone, "Poor Things"<br />Margot Robbie, "Barbie"<br />Natalie Portman, "May December"<br />Fantasia Barrino, "The Color Purple" <br />Alma Pöysti, "Fallen Leaves"<br />Jennifer Lawrence, "No Hard Feelings"</div><div><br />Best Original Score — Motion Picture</div><div>Ludwig Göransson, "Oppenheimer"<br />Robbie Robertson, "Killers of the Flower Moon"<br />Mica Levi, "The Zone of Interest"<br />Daniel Pemberton, "Spider-Man: Across the Spider-Verse" <br />Jerskin Fendrix, "Poor Things"<br />Joe Hisaishi, "The Boy and the Heron"</div><div><br />Best Motion Picture — Non-English Language</div><div>"Anatomy of a Fall" (France)<br />"The Zone of Interest" (United Kingdom) <br />"Society of the Snow" (Spain) <br />"Fallen Leaves" (Finland)<br />"Past Lives" (United States)<br />"Io capitano" (Italy)</div><div><br />Best Performance by an Actor in a Supporting Role in a Television SeriesMatthew Macfadyen, "Succession" <br />James Marsden, "Jury Duty"<br />Ebon Moss-Bachrach, "The Bear"<br />Billy Cruddup, "The Morning Show" <br />Alexander Skarsgård, "Succession"<br />Alan Ruck, "Succession"</div><div><br />Best Original Song — Motion Picture</div><div>"What Was I Made For?" by Billie Eilish and Finneas (from "Barbie") <br />"Dance the Night" by Caroline Ailin, Dua Lipa, Mark Ronson and Andrew Wyatt (from "Barbie") <br />Addicted to Romance" by Bruce Springsteen and Patti Scialfa (from "She Came to Me")<br />"Road to Freedom" by Lenny Kravitz (from "Rustin") <br />"Peaches" by Jack Black, Aaron Horvath, Michael Jelenic, Eric Osmond and John Spiker (from "The Super Mario Bros. Movie") <br />"I'm Just Ken" by Andrew Wyatt and Mark Ronson (from "Barbie")</div><div><br />Best Performance by an Actress in a Supporting Role in a Television Series</div><div>Meryl Streep, "Only Murders in the Building"<br />Hannah Waddingham, "Ted Lasso"<br />Elizabeth Debicki, "The Crown" <br />Christina Ricci, "Yellowjackets" <br />Abby Elliott, "The Bear"<br />J. Smith-Cameron, "Succession"</div><div><br />Best Performance by an Actress in a Limited Series, Anthology Series or Motion Picture Made for Television</div><div>Brie Larson, "Lessons in Chemistry"<br />Ali Wong, "Beef"<br />Riley Keough, "Daisy Jones & the Six" <br />Elizabeth Olsen, "Love and Death"<br />Juno Temple, "Fargo"<br />Rachel Weisz, "Dead Ringers"</div><div><br />Best Motion Picture — Animated</div><div>"Spider-Man: Across the Spider-Verse"<br />"The Boy and the Heron"<br />"Elemental"<br />"The Super Mario Bros. Movie"<br />"Wish"<br />"Suzume"</div><div><br />Best Performance by an Actor in a Supporting Role in any Motion Picture</div><div>Ryan Gosling, "Barbie"<br />Robert DeNiro, "Killers of the Flower Moon"<br />Robert Downey Jr., "Oppenheimer"<br />Charles Melton, "May December"<br />William Dafoe, "Poor Things" <br />Mark Ruffalo, "Poor Things"</div><div><br />Best Screenplay — Motion Picture</div><div>Greta Gerwig and Noah Baumbach, "Barbie"<br />Tony McNamara, "Poor Things"<br />Celine Song, "Past Lives"<br />Christopher Nolan, "Oppenheimer"<br />Eric Roth and Martin Scorsese, "Killers of the Flower Moon"<br />Justine Triet and Arthur Harari, "Anatomy of a Fall"</div><div><br />Best Performance by an Actor in a Television Series – Musical or Comedy</div><div>Jeremy Allen White, "The Bear"<br />Jason Sudeikis, "Ted Lasso"<br />Bill Hader, "Barry"<br />Jason Segel, "Shrinking"<br />Steve Martin, "Only Murders in the Building"<br />Martin Short, "Only Murders in the Building"</div><div><br />Best Performance by an Actor in a Limited Series, Anthology Series or Motion Picture Made for Television</div><div>Steven Yeun, "Beef"<br />Matt Bomer, "Fellow Travelers"<br />Sam Claflin, "Daisy Jones & the Six"<br />David Oyelowo, "Lawmen: Bass Reeves"<br />Jon Hamm, "Fargo"<br />Woody Harrelson, "White House Plumbers"</div><div><br />Best Performance by an Actress in a Television Series – Drama</div><div>Sarah Snook, "Succession"<br />Bella Ramsey, "The Last of Us"<br />Helen Mirren, "1923"<br /> Keri Russell, "The Diplomat"<br />Emma Stone, "The Curse"<br />Imelda Staunton, "The Crown"</div><div><br />Best Director — Motion Picture</div><div>Martin Scorsese, "Killers of the Flower Moon"<br />Christopher Nolan, "Oppenheimer"<br />Greta Gerwig, "Barbie" <br />Yorgos Lanthimos, "Poor Things"<br />Bradley Cooper, "Maestro"<br />Celine Song, "Past Lives"</div><div><br />Best Television Series – Drama"Succession"<br />"The Last of Us"<br />"The Crown"<br />"The Morning Show"<br />"The Diplomat"<br />"1923"</div><div><br />Best Television Series – Musical or Comedy</div><div>"The Bear"<br />"Ted Lasso"<br />"Abbott Elementary"<br />"Jury Duty"<br />"Only Murders in the Building"<br />"Barry"</div><div><br />Best Performance by an Actress in a Supporting Role in any Motion Picture</div><div>Emily Blunt, "Oppenheimer"<br />Da'Vine Joy Randolph, "The Holdovers"<br />Danielle Brooks, "The Color Purple"<br />Julianne Moore, "May December"<br />Jodie Foster, "Nyad"<br />Rosamund Pike, "Saltburn"</div><div class="blogger-post-footer">http://palavras-cruzadas.blogspot.com/feeds/posts/default</div>Belinha Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/01002456782459817098noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-796431621205299602.post-35479841842885920942023-12-05T01:17:00.013+00:002023-12-05T15:24:11.746+00:00Dez horas ininterruptas de canções de Natal<div style="text-align: center;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDHKu7N2hshcMY0kf7xVYnvwrEeZC8o13pgh7XL_EmdTSko8HdeVvHEem-6W_xN0eHUXy_OVl1yjOvrvALAsOm6Kzdb7wWls1hWKi_NxOK2weS3JSZO8PF9MqlPUYRV-yBIdviHEZ0VdAoU53EhCVUhkW2cTfUCQYf-p9QY9oVnie3UHhr2xRcEK_JVauO/w544-h384/Screenshot_21.jpg" /></div><br /> Chega o último dia de Novembro e no café, ao balcão, assisto a uma discussão sobre as iluminações festivas. O município X tem tudo a bombar desde meados do mês, no Y já se vê alguma coisita, mas naquele onde a senhora reside, que vergonha, se ela quiser fazer uma selfie para o Facebook tem de fazer uma viagem até ao município vizinho pois aí, onde vive, ainda reina a escuridão normal. Fico igualmente a saber que há excursões de portugueses a rumarem a Vigo onde as ruas generosamente iluminadas a LED fazem inveja a Nova Iorque, e onde se encontra a árvore de Natal mais alta, não percebi se de Espanha se da Europa. Engulo a dentada na nata quente, bebo o que resta da bica e saio.<div><br /></div><div>O Natal agora é isto: uma corrida às luzes mais fotogénicas e às árvores decoradas mais altas do planeta. E sofremos, pelos vistos, pelo menos alguns de nós, desta ansiedade natalícia: não só queremos luzes na rua como as queremos cada vez mais cedo. Precisamos também de uma selfie com o Natal na rua como prova de bem viver a quadra. E quanto MAIOR e MAIS BRILHANTE for o Natal, melhor fica na fotografia. O Natal está na rua antes mesmo de haver um pinheiro enfeitado e/ou um presépio made in China dentro de casa. O Natal está em todo o lado menos dentro das pessoas. <div><br /></div><div>No dia 1 de Dezembro, oficialmente o mês do Natal, finalmente, se não choveu, muitas fitas vermelhas, terão sido cortadas e discursos feitos, inaugurando assim o Natal de rua em muitas localidades. Além das luzes de Natal, algum botão premido pelo edil, seu representante ou por uma criança, fez com que as tradicionais canções de Natal tenham também começado a soar nas ruas de norte a sul de Portugal: <i>Raindrops on roses/And whiskers on kittens/Bright copper kettles/And warm woolen mittens/Brown paper packages/Tied up with strings/These are a few of my favorite things</i>.... </div><div><br /></div><div>No segundo dia de Dezembro, o meu peito começou a dar sinais de que vinha aí algo. Perguntam vocês se era o espírito natalício que assim se anunciava, enchendo-me o coração de amor. Não. Nada disso. Apenas um desconforto. Mais tarde notei alguns espirros que não se deviam a pimenta, de que abuso bastante. E depois uns arrepios que corriam pelas costas e que não eram de frio porque estava uma amena temperatura: cada novo Natal que chega parece ser mais quente do que qualquer Natal que a criança que fui recorda. Constato que o Portugal dos 365 dias de sol por ano já foi uma propaganda mais enganosa. </div><div><br /></div><div>No dia 3, ergui-me da cama e fui aos tropeções ao WC, pálida como um anjo, o espelho até se assustou. Tomei um café quente e engoli uma torrada áspera na cozinha. A tosse parecia querer arrancar consigo folhas de azevinho do mais fundo do meu peito. Estranhei também a náusea esquisita. Concluí que estava envirosada ou coisa assim: fruta da época.</div><div><br /></div><div>De repente todos os afazeres podem esperar. Regresso ao quarto e deito-me. Felizmente é Domingo, penso. O tempo deixa de correr, entrei noutra dimensão. Faço por relaxar. Às dez horas em ponto um som familiar alcança-me, sorrateiramente, vindo da rua: <i>You better watch out. You better not cry. Better not pout. I'm telling you why. Santa Claus is coming to town...</i></div><div><br /></div><div>Ah, canções de Natal! Tão fofas e calorosas como um edredão de penas! Tão doces como um chocolate Regina! Ideais para embalar uma auto-diagnosticada virose. Rejubilo com a sorte. Isto é bom, isto é bom. Aconchego-me, mas daí a pouco sou sacudida por espirros. Limpo o nariz, atiro para o cesto o lenço de papel das preocupações. Não acerto, mas deixa lá. Depois. As canções sucedem-se, umas com décadas, outras mais modernas, familiares, previsíveis, reconfortantes: It<i> was Christmas Eve babe/In the drunk tank/An old man said to me, won't see another one/And then he sang a song/The Rare Old Mountain Dew/I turned my face away/And dreamed about you...</i></div><div><i><br /></i></div><div>A manhã é longa e lentamente um frenesim começa a tomar conta do corpo. Estico uma perna e outra, como os gatos e os cães por vezes fazem, mas isso não ajuda. Este colar de pérolas musicais natalícias dá demasiadas voltas ao meu pescoço, tantas que já quase o estrangulam com tanta alegria e séries de frenéticas <i>campanellas.</i> Fazem-me sentir uma reclusa na minha cama, confinada ao meu quarto, ainda que por minha deliberação. O que fiz para merecer esta sentença? <i>I don't want a lot for Christmas/There is just one thing I need./ </i><i>I don't care about the presents underneath the Christmas tree/ I just want you for my own/More than you could ever know/Make my wish come true/All I want for Christmas is you....</i></div><div><br /></div><div>O tempo não anda. O ponteiro maior roda mais lentamente que uma perna a descrever um circulo na aula de Pilates. Ao meio dia estou capaz de estrangular o Pai Natal se ele se cruzasse comigo no elevador; às 16 horas mataria o Rudolfo, sangraria o bicho, removeria a sua pele e assaria o animal com requinte, juntamente com os guizos. Por volta das 19 horas pegaria nas guirlandas de Natal e ataria o<i> Shane Macgowan (RIP) e a Kirsty MacColl (RIP)</i> ao tronco da árvore de Natal mais alta do mundo, com inúmeras voltas, e, não satisfeita, colocaria uma bola de Natal vermelha na boca de cada um dos artistas para que não soltassem nem mais um dó. Estou mais ansiosa que a senhora da selfie, a do café. Não preciso de Cantadril, quero é Lexotan.</div><div><br /></div><div>Nada de novo. É bem sabido que a música tem sido usada ao longo dos tempos como tortura. Imaginem-se num quarto escuro a ouvir uma playlist de canções de Natal durante horas! Quem não confessaria ter roubado o menino Jesus da manjedoura no jardim público a troco de um minuto de silêncio! Mas quais <i>Hells Bells</i> dos AC/DC! Mariah Carey e Coro de St.Amaro de Oeiras <i>on repeat</i> e a maioria de nós cantaria a plenos pulmões e sem desafinar todos os segredos que guarda no umbigo ao pior torcionário.<br /><br /></div><div>A noite chega e com ela o silêncio que é indubitavelmente de ouro, a oitava maravilha do mundo. Dou comigo a cantar (na cabeça), <i>Silent night, holy night</i> não sem algum embaraço. Tento vocalizar <i>All is calm, all is bright, </i>mas a voz assemelha-se à do vocalista dos Pogues, a sua aspereza poupa-me à vergonha de continuar. Puxo o edredão e adormeço na esperança de acordar recuperada da virose, resfriado ou o que for, no dia seguinte.</div><div><br />O dia 4 desperta maravilhosamente silencioso, mas quando me ergo da cama percebo logo que me espera mais um dia de pousio. As pernas pesadas, os famigerados arrepios, quais aranhas a subir pelas costas, a cabeça que me pesa. Prescindi da torrada. O café quente despertou-me os sentidos. Ainda deliciada pelo silêncio, olho o relógio avaliando quanta paz me resta. Um par de horas separam-me do início do transe. O primeiro pensamento matinal é para a impossível Mariah Carey. Se soubesse como, ah, malditos agudos, rogar-lhe-ia uma praga! O segundo para os infelizes cujas casas, escritórios, estabelecimentos ficam próximos das colunas de som por esse país fora. O programa musical de Dezembro, este o <i>loop </i>infernal, vai repetir-se com precisão mecânica até aos Reis. </div><div><br /></div><div>Às dez em ponto alguma mão do demónio ligou o singelo interruptor e o som ondula, eufórico, pelo ar: <i>Jingle bells, jingle bells Jingle all the way/Oh, what fun it is to ride/In a one horse open sleigh...</i> Às dez em ponto, o recomeço da tortura, hoje, ainda assim, mais suave porque há trânsito ruidoso, cargas e descargas, pessoas que se movimentam, conversam, e isso abafa o tormento musical. Ou talvez o vento tenha mudado de direção. Mas agora, espertalhona, sorrio para mim com contentamento ladino. Uns pequenos tampões amarelos fazem o truque. Com delícia sinto o material esponjoso expandir-se nos ouvidos e o volume do som exterior a diminuir lentamente. Toma lá, Mariah Carey!</div><div><br />Sem nada que me apetecesse fazer, nada mesmo, fiquei a imaginar soluções alternativas à tortura, ciente de que deve haver quem goste, precise, deseje ouvir 10 horas ininterruptas de canções de Natal durante um mês e uma semana. Sim, claro, há gente para tudo. Mas quem? QUEM? Talvez um intervalo de cinco minutos entre cada canção? Talvez um drone musical que percorresse as ruas? Assim, uma rua poderia respirar de alívio ao ouvir a máquina levar para longe o Frank Sinatra e outra rejubilar com a aproximação do Elvis Presley. O martírio ainda mas agora com intermitências, e mais modernaço. E mais variedade? Que tal acabar com o monopólio de 60 anos do Coro de Santo Amaro de Oeiras? Talvez um concurso local de canções de Natal transmitido em directo? Uma etapa por semana, durante o advento? Uma final grandiosa antes da Missa do Galo?</div><div><br /></div><div>MAIS, MAIS, MAIS. Luzes MAIS cedo, árvores MAIS altas e MAIS canções de NATAL. MAIS é tudo o que precisamos para um NATAL em grande. Mas, o que digo eu? Só posso estar doente. <i>A todos um bom Natal (bis)/Que seja um bom Natal/Para todos nós./No Natal pela manhã/Ouvem-se os sinos tocar/Há uma grande alegria/No ar...</i></div></div><div class="blogger-post-footer">http://palavras-cruzadas.blogspot.com/feeds/posts/default</div>Belinha Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/01002456782459817098noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-796431621205299602.post-13270460325560923952023-12-03T19:58:00.003+00:002023-12-03T19:58:33.997+00:00Menino Jesus a fazer Pilates!<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJuzLfldeKwRlyN4dy7zvhohjLwtmT9SKJgiq2K4mgN3AnIaWvNJlIEodr3OqdEBndojyaXX4d1PoXx9sVXEd0UoF5ZzvQry32ai9SnGpq9_Plg80B0kzcLLZa3Tah6_-RZJy7oQ6VhATpRbNPbXTda86wKy4wt4NGw0EE8M-BTdbYEWkbKbAwvwRvEHhS/s750/abs.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="744" data-original-width="750" height="474" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJuzLfldeKwRlyN4dy7zvhohjLwtmT9SKJgiq2K4mgN3AnIaWvNJlIEodr3OqdEBndojyaXX4d1PoXx9sVXEd0UoF5ZzvQry32ai9SnGpq9_Plg80B0kzcLLZa3Tah6_-RZJy7oQ6VhATpRbNPbXTda86wKy4wt4NGw0EE8M-BTdbYEWkbKbAwvwRvEHhS/w479-h474/abs.jpg" width="479" /></a></div><br /><p></p><div class="blogger-post-footer">http://palavras-cruzadas.blogspot.com/feeds/posts/default</div>Belinha Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/01002456782459817098noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-796431621205299602.post-64023068961008054292023-11-27T15:45:00.004+00:002023-11-27T15:45:54.168+00:00A monetização de conteúdos a todo o custo é uma praga<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghgI2Q_JcXWVKGuHwhtkLjzdqkqvx3WsWcNO6xWXfJvTAI3dr4WhujAv0hDRrDmz8wldV03sOVk5A3X5DJzkIZkq18_kNl5nhOQ8yV_xYZXsuP15-19ZkuIYaMOgR3_UdvFXXOHddPvoAOK_XmZ7Ry9JIRBe8e-4wSST0KMpEI19_x0yD6XBmdXNkZ8YOP/s820/Screenshot_1.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="820" data-original-width="782" height="567" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghgI2Q_JcXWVKGuHwhtkLjzdqkqvx3WsWcNO6xWXfJvTAI3dr4WhujAv0hDRrDmz8wldV03sOVk5A3X5DJzkIZkq18_kNl5nhOQ8yV_xYZXsuP15-19ZkuIYaMOgR3_UdvFXXOHddPvoAOK_XmZ7Ry9JIRBe8e-4wSST0KMpEI19_x0yD6XBmdXNkZ8YOP/w541-h567/Screenshot_1.jpg" width="541" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div style="background-color: white; color: #1155cc; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small; text-align: center;"><a data-saferedirecturl="https://www.google.com/url?q=https://therocketsscience.com/rstravelexpectcopy/18/&source=gmail&ust=1691248012318000&usg=AOvVaw0ySifqeOnv0ePbB2L5M1Ob" href="https://therocketsscience.com/rstravelexpectcopy/18/" style="color: #1155cc;" target="_blank">https://therocketsscience.com/<wbr></wbr>rstravelexpectcopy/18/</a></div><div style="background-color: white; color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;"><br /></div>A 30 de Julho enviei um email para um site que se chama The Rocket's Sience por causa de duas fotos e um par de linhas sobre a nossa Praia do Camilo, no Algarve. O artigo abre com esta introdução :<br /><div style="background-color: white; color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;"><br /></div><div><i>"Ao percorrer o feed do Instagram, muitas vezes você se depara com destinos de viagem incríveis, um após o outro. Todo mundo delirando com eles. Mas você realmente deve fazer as malas e reservar um voo para esses locais? Bem, provavelmente não.<br /><br />Nosso artigo de hoje adverte sobre ser cauteloso com "locais Instaworthy". É uma compilação de impressionantes imagens editadas lado a lado mostrando aquilo que o espera na chegada a esses destinos. "</i></div><div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg99CpLiq6W_GhlYzD6UH0D_8fowJya4KR6ORR6ijINAIdQRwc4cZasu-sNX8NmMYvEpn7oeBex3W9t8IbmQ2jokWB86ZOxM95d1o_05MjHYrMhzUtoLOJUGSR2hp7vflrzCpKJkF8tk1eiJkgBkyPvncGfIs7lCp8eT2IkHoQibchoSBPUdEiL-pvZMW7Q/s752/Screenshot_7.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="738" data-original-width="752" height="421" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg99CpLiq6W_GhlYzD6UH0D_8fowJya4KR6ORR6ijINAIdQRwc4cZasu-sNX8NmMYvEpn7oeBex3W9t8IbmQ2jokWB86ZOxM95d1o_05MjHYrMhzUtoLOJUGSR2hp7vflrzCpKJkF8tk1eiJkgBkyPvncGfIs7lCp8eT2IkHoQibchoSBPUdEiL-pvZMW7Q/w429-h421/Screenshot_7.jpg" width="429" /></a></div><div><br />A verdade da mentira das postagens instagiras é um tópico que tem que se lhe diga e por isso pensei que este artigo que me apareceu como sugestão de leitura fosse útil, ou tivesse piada. Nem uma coisa nem outra. Tempo perdido, o texto incorre nos mesmos vícios das fotos cheias de filtros que distorcem a realidade do mundo. As imprecisões devem até ser mais do que aquelas que reporto, não sei, não li tusdo, acabei por me limitar a fazer scroll e a descartar.</div><div><br /></div><div>O artigo começa por afirmar que em Tóquio existe uma torre -a <b>Roppongi Hills Mori Tower</b>, - onde existem escadas rolantes de onde por sua vez se avista uma panorâmica impressionante sobre a cidade, excepto quando há neblina, que, por acaso, ainda atrai mais gente! Imaginem, os turistas gostam de ver um mar de neblina! Quem sabe? Até talvez seja giro! A foto do lado oposto mostra um vidro sem grande atractivo do lado de fora, a presença da neblina justificaria assim o engodo em que estaríamos a cair: a neblina não deixa ver nada. Ri-me alto e pensei para comigo que isso é o mesmo que sucede quando a gente acorda para uma manhã de neblina na nossa praia favorita, acontece: é normal. O facto de eu mostrar no Instagram uma fotografia da praia sem neblina não quer dizer que ela esteja sempre, sempre livre de neblina para possibilitar fotos instagramáveis. Naquele momento estava assim. E em muitos outros, no futuro, também. Faz parte da Natureza haver neblina nas praias! E nas grandes cidades como Tóquio, a presença de neblina e nevoeiro e poeiras e poluição, é deveras normal, onde é que a autora destas linhas vive? Ou crê que os candidatos a turistas serão todos uns idiotas ou ignorantes? Entretanto, fiquei curiosa sobre a tal torre, mais até com o detalhe das escadas, e fiz uma busca rápida sobre a torre descobrindo que o que não faltam em Tóquio - além daquela torre que parece a Torre Eiffel, uma muito conhecida, a "Torre de Tóquio" - são torres com miradouros. E então, no decorrer dessa busca, instalou-se a dúvida: as escadas rolantes da fotografia aparentemente pareciam pertencer a outra torre, não à Mori Tower aqui referida...ora vejam: elas estariam na Torre de Shibuya.</div><div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjt9r4B4br7tBHlmNeSf6_9BiHh39B1oSIz8MVeNqTTLWMFx1XXCwXeTCNgHh70QGSOHl4owV8xBpJE8vc3VRsTlKsvrcmUSOZaOQqSilNdTAuSDJxcqla7PQv1xCTXBE6aT1g9ckw4hGwWksDwRfFyAQWykfFwEr1se6n_ayoH6uD71PkE7Ms5YuI-sJN6/s726/Screenshot_8.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="726" data-original-width="721" height="397" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjt9r4B4br7tBHlmNeSf6_9BiHh39B1oSIz8MVeNqTTLWMFx1XXCwXeTCNgHh70QGSOHl4owV8xBpJE8vc3VRsTlKsvrcmUSOZaOQqSilNdTAuSDJxcqla7PQv1xCTXBE6aT1g9ckw4hGwWksDwRfFyAQWykfFwEr1se6n_ayoH6uD71PkE7Ms5YuI-sJN6/w395-h397/Screenshot_8.jpg" width="395" /></a></div><br /><div><span style="box-sizing: inherit; vertical-align: inherit;">Desde o final dos anos 1950 que os arranha-céus e torres começaram a surgir em </span>Tóquio<span style="box-sizing: inherit; vertical-align: inherit;">. As vistas panorâmicas que esses edifícios oferecem não foram desperdiçadas pelos projectistas, e várias dessas estruturas incorporam decks de observação abertos ao público<span><span><span face="Balto Web, Helvetiva, Arial, sans-serif" style="color: #111111;"><span style="background-color: white; font-size: 18px;">. </span></span></span></span></span><a href="https://www.japan-guide.com/e/e3057.html">Guia de Tóquio.</a><br /><br />Roppongi Hills, ou colinas Roppongi, é um dos melhores exemplos de uma cidade dentro da cidade . O complexo de edifícios inaugurado em 2003 no coração do distrito de Roppongi, em Tóquio, possui escritórios, apartamentos, lojas, restaurantes, hotel, um museu de arte moderna, deck de observação e muito mais. Os andares de escritórios abrigam empresas líderes dos sectores de TI e financeiro. Roppongi Hills tornou-se um símbolo da indústria japonesa de TI. No centro de Roppongi Hills fica a Torre Mori de 238 metros, um dos maiores edifícios da cidade. Eis uma visitante da torre mostrando o espaço de observação envidraçado que aparece na publicação do site que referi, do lado direito.<p style="box-sizing: inherit; margin-bottom: 1.2em; margin-top: 0px; max-width: 74rem;"><span></span></p><div class="separator" style="background-color: white; box-sizing: inherit; clear: both; color: #111111; font-family: "Balto Web", Helvetiva, Arial, sans-serif; font-size: 18px; text-align: center; vertical-align: inherit;"><span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjO4w5MOss9QxWz0hi53y1avt1PU82j8nUcHb4Efs8G6QDWlckQ6BEiY6oGGDOg05Ke_KLozLDlBAVdRw3rWaPPegcuHWxCI10WV8pRZRQK90zk4GNoUv6JrxzEAT5GQ89A7p8rbRhT8u9Gw209nkuCgXJV7hMLUCm7Mvb4H_cE-PJovZbfxoS89YjTUHgh/s1709/Screenshot_5.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="944" data-original-width="1709" height="275" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjO4w5MOss9QxWz0hi53y1avt1PU82j8nUcHb4Efs8G6QDWlckQ6BEiY6oGGDOg05Ke_KLozLDlBAVdRw3rWaPPegcuHWxCI10WV8pRZRQK90zk4GNoUv6JrxzEAT5GQ89A7p8rbRhT8u9Gw209nkuCgXJV7hMLUCm7Mvb4H_cE-PJovZbfxoS89YjTUHgh/w498-h275/Screenshot_5.jpg" width="498" /></a></span></div><div class="separator" style="background-color: white; box-sizing: inherit; clear: both; color: #111111; font-family: "Balto Web", Helvetiva, Arial, sans-serif; font-size: 18px; text-align: center; vertical-align: inherit;"><br /></div>A Torre Mori tem fama de ser o melhor mirante de Tóquio: o miradouro é, basicamente o seu heliporto. A torre funciona até as 20h e tem 2 opções de pagamento. A primeira é para subir até o último andar, onde se pode ver através do através do acrílico em 360º. No último andar, fica o heliporto, a pista não pode ser pisada, anda-se à volta, havendo ainda 2 miradouros em cada extremidade com alguns bancos para o visitante se sentar.<p></p><p style="background-color: white; box-sizing: inherit; color: #111111; font-family: "Balto Web", Helvetiva, Arial, sans-serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.2em; margin-top: 0px; max-width: 74rem;"><span style="box-sizing: inherit; vertical-align: inherit;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="box-sizing: inherit; vertical-align: inherit;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOcOuPDDM3phjQ6wobDgiy_f9gdfm7k6KEsdndJnnduJIxiTKYSQO5ZwX6gEVJJJWwVw7CpF3hUausAoiH19oRlCliHRh0fNskqW_dt443XDyAEhO3Fofbj97NelSietehwClHYcJFG_Aug7f2b-0BhJ2T9YscBZGendlcEPFmXDoNIHVEii8IBcFMmLWJ/s1686/Screenshot_6.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="963" data-original-width="1686" height="280" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOcOuPDDM3phjQ6wobDgiy_f9gdfm7k6KEsdndJnnduJIxiTKYSQO5ZwX6gEVJJJWwVw7CpF3hUausAoiH19oRlCliHRh0fNskqW_dt443XDyAEhO3Fofbj97NelSietehwClHYcJFG_Aug7f2b-0BhJ2T9YscBZGendlcEPFmXDoNIHVEii8IBcFMmLWJ/w489-h280/Screenshot_6.jpg" width="489" /></a></span></div><span style="box-sizing: inherit; vertical-align: inherit;"><br /><div style="text-align: center;">Vídeo, <a href="https://www.youtube.com/watch?v=_fd9ar_upuA&t=533s">aqui</a>.</div></span><p></p>Já as escadas que se viam do lado esquerdo pareciam existir, sim, mas numa outra torre, em Shibuya. O nome Shibuya é familiar a muitos porque é lá que fica a estação que um filme protgaonizado por Richard Gere tornou conhecida do mundo inteiro. À saída de Shibuya é onde está estátua do cão Hachiko famoso pela sua história de fidelidade ao seu dono. Hachiko era um cachorro Akita que pertencia a Hidesaburo Ueno, professor de engenharia agrícola da Universidade de Tóquio que morreu em 1925 após sofrer uma hemorragia cerebral enquanto dava uma de suas aulas. O cão todos os dias esperava na estação que seu dono voltasse da Universidade mas houve um dia em que não voltou. No entanto, o fiel amigo continuou indo para a estação de Shibuya todos os dias por mais 9 anos. A poucos metros dali já se avista o também famoso cruzamento de Shibuya e as centenas de pessoas a atravessar as suas passadeiras. Ora, Roppongi fica longe dali, e por isso fiquei algo confusa quanto às colagem das duas fotografias. Não é impossível que existiam escadas rolantes em Mori mas os vídeos filmados em Shibuya é que mostram as escadas panorâmicas com muito destaque e é, realmente, uma vista fantástica. </div><div><p style="background-color: white; border: 0px; margin: 0px 0px 25px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><span style="vertical-align: inherit;"></span></p><div class="separator" style="background-color: white; clear: both; color: #444444; font-family: "open sans"; font-size: 20px; text-align: center;"><span style="vertical-align: inherit;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjT-4OvPSLaJLsUrrIj12opAhD_i2oESIDIB-iTY-aF8_tUO9z2Xz-YprWhDcIuRUcHi3HPBni5EkMm-e13J3EZ6ABSppmBVnfNphY73LHZK6ytr5I3kaIIozr6GQbBlaGO-4HamTucj10K-1ojIEzM4unc2WMPIXiT5elIQ4VWMpNp4JZolnbMQ0mm0bus/s1705/Screenshot_2.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="953" data-original-width="1705" height="308" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjT-4OvPSLaJLsUrrIj12opAhD_i2oESIDIB-iTY-aF8_tUO9z2Xz-YprWhDcIuRUcHi3HPBni5EkMm-e13J3EZ6ABSppmBVnfNphY73LHZK6ytr5I3kaIIozr6GQbBlaGO-4HamTucj10K-1ojIEzM4unc2WMPIXiT5elIQ4VWMpNp4JZolnbMQ0mm0bus/w550-h308/Screenshot_2.jpg" width="550" /></a></span></div><div style="background-color: white; text-align: center;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="color: #444444; font-family: "open sans"; font-size: 20px;"><br /></span></span></div><span><span><div style="background-color: white; color: #444444; font-family: "open sans"; font-size: 20px; text-align: center; vertical-align: inherit;">Vídeo, <a href="https://www.youtube.com/watch?v=_froGxOSDdE">aqui</a>.</div></span></span><span style="vertical-align: inherit;">"Fui ao observatório (Shibuya Sky) no telhado da Shibuya Scramble Square. Um novo local em Shibuya que acaba de abrir em 1º de novembro de 2019! O observatório na cobertura é cercado por vidro temperado, sem paredes ou cercas bloqueando a vista. O espaço que se espalha a partir dos seus pés é o melhor! Você também pode ignorar a travessia de Shibuya. Você também pode ver a Torre de Tóquio e a Sky Tree. O efeito das luzes de cruzamento (search lights) após o pôr do sol foi fantástico e bonito. Parece que um OVNI está prestes a aparecer. Há sofás e redes na espaçosa cobertura, para que você possa curtir a paisagem com calma. Você pode! (Se não estiver lotado...) São 213 lojas e restaurantes no complexo comercial do 2º ao 14º andar.</span></div><div><br /></div><div><span style="vertical-align: inherit;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJxwKz8VeB2SrnTAx8QfDzewJCnaKIkchSv_Dfw_1fyONqeVBinR4NW-tNL7MiDqHR17CA8Sw1by_pe7Pjun01RjTIw2kGytb4R1JfSUbgHK5C9FRm4fRLatrnm2nVL2kY3hWamQwklpuLr08wd3NbIMEw6YoCE-S5TRERbFwAkIv-3jLanreqWncc3wSj/s1707/Screenshot_3.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="930" data-original-width="1707" height="268" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJxwKz8VeB2SrnTAx8QfDzewJCnaKIkchSv_Dfw_1fyONqeVBinR4NW-tNL7MiDqHR17CA8Sw1by_pe7Pjun01RjTIw2kGytb4R1JfSUbgHK5C9FRm4fRLatrnm2nVL2kY3hWamQwklpuLr08wd3NbIMEw6YoCE-S5TRERbFwAkIv-3jLanreqWncc3wSj/w493-h268/Screenshot_3.jpg" width="493" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">Vídeo, <a href="https://www.youtube.com/watch?v=oc6KzRlsVjY">aqui</a>.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Após esta constatção fiz um scroll e apercebi-me de mais situações dignas de alguns reparos até que parei num par de fotografias da nossa instagramável <b>praia do Camilo</b>, para, mais uma vez me aperceber de que a autora em vez de ajudar os leitores a clarificar a situação apenas estava a contribuir para a criação de novos equívocos. Em suma, um texto enorme, repleto de print screens, sem links clicáveis para as fontes dessas fotos, muitas imprecisões, mal escrito, uma coisa muito mal amanhada, provavelmente para caçar visualizações e ganhar dinheiro com a publicidade. É um exemplo perfeito de uma praga que mais e mais me aborrece na Internet, onde até sites que se afirmam como de informação apresentam relatos sem qualquer rigor para manter o leitor preso ali, enquanto bombeiam publicidade.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Então escrevi para o site, porque, evidentemente, não tenho mais que fazer, a não ser escrever para um antro de desinformação onde ninguém irá sequer importar-se com o que escrevei e muito menos responder! Deu-me para isto: era a <i>silly season,</i> pois então! (Sim, esqueci-me desta postagem nos rascunhos e só hoje dei com ela! ) E ainda há quem critique o ChatGTP e as imagens geradas com AI! Venham os robots, pode ser que consigam meter ordem na internet, há muito transaformada em terra sem lei...! Este tipo de coisas - textos de m, vídeos de m...- dá-me saudades do tempo em que só existiam livros! Isso não quer dizer que os livros apenas contivessem verdades mas grande parte da internet é hoje um poço de muita invenção de conteúdos escritos ou filmados à força só para efeitos de monetização ou venda de alguma coisa. </div></span></div><br />Sim, - escrevi eu - o vosso artigo ( nem sei o que lhe hei-de chamar!) adverte sobre ser cauteloso com os locais Instaworthy e concordo que se deve ter cuidado. Mas se querem ser levados a sério, devem levar a sério o que publicam. Sou portuguesa, por isso vou apontar o que encontrei sobre um local português mencionado neste artigo.
Duas fotos da Praia do Camilo, uma praia do Algarve, Portugal, são colocadas lado a lado. É uma praia muito pequena e durante o verão estará sempre cheia. Em maio ou setembro ou outubro será óptimo. São 200 degraus para descer, mas é um belo local. <div><br /></div><div>As duas fotos fazem parecer que a influencer a exibe vazia durante o verão, quando uma das fotos provavelmente foi tirada durante o inverno, provavelmente, ou muito, muito cedo pela manhã. Portanto, esta situação refere-se ao tempo de visita a esse local. Depende do tempo de visita. Não é impossível encontrá-lo vazio. Quando é que a influencer tirou a foto original? Essa é a questão. Não é como apresentar uma foto editada do Picadilly Circus como um cruzamento sempre vazio aos olhos do público. Vocês nem mencionam onde fica essa praia. O Algarve não está no Mar Mediterrâneo, nem nas Caraíbas, nem nas Filipinas. Em todos esses locais, e também no Algarve, encontram-se praias que são boas para relaxar e outras que não o são. A Praia do Camilo é uma praia pequena e não é boa para relaxar porque estará sempre lotada a não ser de madrugada ou na baixa temporada. Então, talvez a influenciadora do Instagram, Kelly Gonzalez, - será que a Kelly existe mesmo? - não tenha sido precisa, mas o vosso texto deixa o público com uma ideia errada também, escrevi. Ela disse que o local era bom para relaxar? Durante o verão?! Ela estava mesmo lá? Ou ela apenas visitou e tirou uma foto? Muitos só visitam porque, ao chegar verificam que está lotado. </div><div><br /></div><div>E depois conclui dizendo que, no meu entender, uma postagem mais curta sobre o tema, com fotos precisas, seria mais informativa e útil. Um texto grande como aquele parecia ser mais um texto para obter visualizações, assim como as fotos que os influencers sobem no Instagram. A ideia principal estava 100% certa. Mas a postagem levantava questões que iriam enfraquecer o ponto de vista. Nem era necessário invocar tantas situações para alertar as pessoas. Bastava apresentar situações à prova de qualquer crítica, ou seja, escrever um texto honesto. <br /><p></p></div><div><br /></div><div>Escusado será dizer que não houve resposta!</div><div class="blogger-post-footer">http://palavras-cruzadas.blogspot.com/feeds/posts/default</div>Belinha Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/01002456782459817098noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-796431621205299602.post-27227773936868962702023-11-02T20:09:00.094+00:002023-11-02T20:09:00.160+00:00Em matéria de educação, cada cabeça sua sentença<p><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNFZuWUyyN2jHMsuyjxZAO9osDCRzMeQGzbc0-tqan9N9XsCI8nNrJHCZDRxIDdeibUaa-_jtCDoW-8oYLdzcgmRSYh4XkZEmQa4pZUnPqDRhLM_h-LhF8BH68-HG5A7-WOXBdbW86Lpe5Sl2ApjAxv9l8QYp_AN751MHJfJ2zPSwt_LKAHXzGRHqEA847/s320/learning.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="320" data-original-width="256" height="350" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNFZuWUyyN2jHMsuyjxZAO9osDCRzMeQGzbc0-tqan9N9XsCI8nNrJHCZDRxIDdeibUaa-_jtCDoW-8oYLdzcgmRSYh4XkZEmQa4pZUnPqDRhLM_h-LhF8BH68-HG5A7-WOXBdbW86Lpe5Sl2ApjAxv9l8QYp_AN751MHJfJ2zPSwt_LKAHXzGRHqEA847/w280-h350/learning.jpg" width="280" /></a></div><p>Isto, em matéria de educação, cada cabeça, sua sentença. Ainda a propósito do meu<a href="https://palavras-cruzadas.blogspot.com/2023/10/erros-de-portugues-e-viloes-na-sala-de.html"> texto anterior, sobre erros de Português, sobre aprender e ensinar</a>, quero aqui dar nota de uma opinião que parece ser popular. Numa das minhas últimas viagens de autocarro fiquei sentada ao lado de uma senhora muito faladora que ao longo do trajecto me foi dando nota dos seus achados no feed do Facebook. </p><p>Talvez fosse uma mãe que, no primeiro dia de aulas a Directora de Turma recebeu, conjuntamente com outros encarregados de educação, e alunos, num agrupamento. Muitos sorrisos, expectativa no ar, enfim, reunião de abertura de ano lectivo. Entre vários assuntos, a Directora falou do programa a levar a cabo, dos trabalhos a fazer, escritos, uns, outros, leituras. Tudo decorria dentro da normalidade até que a Directora, não sem antes afirmar a incondicional disponibilidade dos professores da escola para apoiar e ajudar os alunos, se lembra de lhes pedir que evitassem recorrer a batota, em especial, parece, no tocava a leitura de obras. É que os professores tinham meios de saber se eles tinham, de facto, lido os livros. </p><p>Ora, esta senhora escrevia agora no Facebook, indignada. Entendia que o filho, aluno, tinha sido alvo de uma injustiça. Isto era colocar uma pressão terrível sobre os pobres alunos que desta maneira já começavam o ano lectivo com este rótulo criminoso de "batoteiros", quando deviam ser considerados inocentes até prova em contrário. Era também inadmissível que além da leitura do livro ainda lhes fosse pedido que provassem que tinham lido o livro. Em conclusão: os professores não passavam de um bando de criaturas ardilosas que usavam estratégias mesquinhas - possivelmente uma série de questões, grelhas para preencher com dados extraídos da obra, etc - capazes de detectar se as criancinhas, ou jovens, tinham mesmo feito o que lhes era pedido. </p><div>Talvez esta senhora que assim escrevia seja advogada uma vez que nos veio lembrar que a presunção de inocência vale para todos até prova em contrário, é um direito. Só que a presunção de inocência vale para quem é acusado de alguma coisa e a Directora não estava, se bem percebi, claro, a acusar ninguém de fazer batota. Estava a lançar um alerta, pedindo que os alunos não recorressem à batota. Sabemos que actualmente não se pode dar um puxão de orelhas aos alunos. Os castigos corporais são coisa do passado e ainda bem. (Uma única vez uma professora deu-me um puxão de orelhas, na Escola Preparatória André Soares. Não sei se me estava portar mal, se não tinha feito os "deveres". Cheguei a casa com a orelha ainda vermelha e quente. Até hoje detesto puxões de orelhas.) Pelos vistos também não se pode pedir às crianças para não procederem de forma errada, mesmo que tal apelo se destine a evitar um comportamento que acarreta um prejuízo que é só delas, que não contribui para o fomento de hábitos de estudo nem para a formação do seu carácter a longo prazo. Melhor também desistir de pedir ajuda aos pais para reforçar o comportamento correcto junto das crianças pois solicitar que as criancinhas não façam "batota" é muita pressão para os meninos e meninas aguentarem e faz estalar a indignação as mamãs e papás que vão logo para o Facebook descarregar a metralha e buscar suporte moral junto do seu séquito de seguidores. </div><div><br /></div><div>A tentação da batota está inscrita no ADN da maioria dos alunos desde o início da escola, e até das escolas, desde que foi inventado esse tal ranking, uma coisa que também não existia no tempo em que fui estudante. É uma normal anormalidade. É algo expectável o que não quer dizer que deva ser admissível. Há batotas e batotas. E há também a batata quente. A batata quente são os problemas que os professores tentam segurar nas mãos até que não aquentam mais a queimadura e largam. Por este andar, não podemos censurar que os professores se cansem e deixem de se preocupar, queiram abandonar a profissão ou comecem a ignorar os problemas para evitar serem queimados. A meu ver, os professores é que são injustiçados. Do tempo em que podiam tudo para o tempo em que pouco ou nada podem, foi um piscar de olhos. Do tempo em que davam puxões de orelhas para o tempo em que são molestados, física e moralmente, por criancinhas e jovens, intocáveis, e encarregados de educação foi um suspiro. Eles é que são sempre culpados até prova em contrário, não os meninos e as meninas, ou os papás e as mamãs.</div><div><br /></div><div>Os alunos, que todos queremos que não sejam agentes passivos e antes motores do seu processo de educação, que têm motivado projectos sem fim de reestruturação de salas de aula e de métodos de ensino, quando confrontados com a leitura de um livrito - e muitos professores dão-lhes liberdade de escolha para elegerem o favorito -, sabendo nós, acho que concordamos todos nisso, que a prática da leitura é essencial, escusam-se à tarefa sempre que o conseguirem. Serão todos, podemos generalizar? Não, mas serão certamente muitos pois já ouvi muitas histórias deste teor. Os malandrecos leem resumos que encontraram na internet ou feitos por colegas, ou veem o filme que adaptou a obra, se existir um, e chegado o momento da verdade, apresentam-se na sala, aos colegas e ao professor, para fazer a apresentação oral da obra, uns balbuciando as sinopses da obra e pouco mais, outros com o discurso bem ensaiado mas uma vez questionados sobre qualquer coisita mais já metem os pés pelas mãos, denunciando a batota.</div><div><br /></div><div>Este tipo de façanha é recorrente e deve ter levado essa Directora de Turma a mencionar o problema na abertura do ano lectivo daquela escola. Isto já era assim quando eu era e fui estudante. Fiz resumos de livros, emprestei resumos, mas já não estávamos no 1º ciclo de estudos, no 6º ou no 7º ano de escolaridade, anos em que a leitura ainda está em consolidação, e a apresentação pública de um livro é ainda um desafio bem útil. Os pais, em vez de darem ouvidos aos professores e de conversarem com os filhos no sentido de reforçarem a ideia de que devem cumprir o solicitado e ler os livros, vão para o Facebook queixar-se dos professores ardilosos quando estes mais não estão do que a fazer o seu trabalho. A miudagem que não sabe o bem que lhe fazia ler um par de livros por dia, e que faz de tudo para não estar sentada numa mesa durante meia hora a ler um livro, ainda encontra o amparo das mamãs e papás que transformam os professores em carrascos dos seus filhotinhos inocentes. Bom, não se espantem estas mamãs e papás se os putos crescerem e um dia aparecerem na TV a dizer que "Vão haver" novidades!</div><div><br /></div><div>Ora, o que eu vejo aqui é apenas mais um exemplo da constante desautorização da figura do professor e também um afloramento o processo de fragilização dos alunos que o professor que corrigia exames de 12º ano também referiu. Mas, de acordo com o que relatou a minha colega de viagem, devo fazer parte da minoria pois<b> a maioria dos comentários deixados dava razão à escriba queixosa.</b></div><div><br /></div>Hoje em dia as pessoas estão sempre prontas a reclamar por direitos, sentem-se ofendidas por dá cá aquela palha, defendem os filhos em quem tombou uma pena de ave na cabeça, mas esquecem frequentemente que também existem deveres. Qualquer estatuto do aluno os contém. Creio que no início do ano lectivo os alunos são convidados a ler esse estatuto, os pais também. Mas, lá está, deve ser uma tortura ler meia dúzia de parágrafos. Não me espantava se após a leitura do estatuto fossem para o Facebook desabafar que estão a acusar os piquenos de preguiça, o que seria demasiada pressão para os meninos e meninas suportarem. Tornou-se estranhamente difícil entender que seguir as orientações dos professores é um dever do aluno, que ESTUDAR é o seu dever. Não é para TRAPACEAR professores, colegas e processo de aprendizagem que os alunos se matriculam numa escola. Ou é? <div class="blogger-post-footer">http://palavras-cruzadas.blogspot.com/feeds/posts/default</div>Belinha Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/01002456782459817098noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-796431621205299602.post-7034639057524363602023-10-30T11:36:00.006+00:002023-10-30T11:36:53.960+00:00Matthew Perry's important message. Must read.<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj5Y_DKCB8eXELU0o9baRhblzfHHTdsgeTBr0ISJpNcyb_3G15BKB-BWgXpr1zj_A9CL3Uq4EX_938dV6boGjIbwHPTeO9WP-_O_Lt4noXSWqlL8pWFrYHLAkRjV62ppyLIgNqBwfGrL928fHpOYfQjHS61vlwHxX1gGEmN4IGfa043_0cGBS8I8k1WBeu9/s1655/mathew%20perry.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1655" data-original-width="1170" height="693" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj5Y_DKCB8eXELU0o9baRhblzfHHTdsgeTBr0ISJpNcyb_3G15BKB-BWgXpr1zj_A9CL3Uq4EX_938dV6boGjIbwHPTeO9WP-_O_Lt4noXSWqlL8pWFrYHLAkRjV62ppyLIgNqBwfGrL928fHpOYfQjHS61vlwHxX1gGEmN4IGfa043_0cGBS8I8k1WBeu9/w489-h693/mathew%20perry.jpg" width="489" /></a></div><br /><p></p><div class="blogger-post-footer">http://palavras-cruzadas.blogspot.com/feeds/posts/default</div>Belinha Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/01002456782459817098noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-796431621205299602.post-55327856981994013252023-10-29T17:09:00.066+00:002023-11-01T15:02:29.526+00:00Erros de português e vilões na sala de aula<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOKtaoux1jXDDvJ_gWUtqTA2hImT1kXj9V2oE3QPkSvtCnVqqD2-NbH4SrPztLM6cUS3KGWtbZPUSaaFdUGAzgcuSeP8-YGzBCTluBrbVbmSCjMBkryFo5lKXmt7aGaLLQL0ABktbEIWmbXt3N3g5wdrs_NXpT8VTxYNYeZNDvNiNcbMrbEdx9CElA3aKj/s722/morangos.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="722" data-original-width="541" height="485" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOKtaoux1jXDDvJ_gWUtqTA2hImT1kXj9V2oE3QPkSvtCnVqqD2-NbH4SrPztLM6cUS3KGWtbZPUSaaFdUGAzgcuSeP8-YGzBCTluBrbVbmSCjMBkryFo5lKXmt7aGaLLQL0ABktbEIWmbXt3N3g5wdrs_NXpT8VTxYNYeZNDvNiNcbMrbEdx9CElA3aKj/w364-h485/morangos.jpg" width="364" /></a></div><br />Um destes dias abri o Google e saltaram logo duas notícias, encadeadas, uma sobre um professor que se queixava dos erros ortográficos dos alunos, outra do público de uma série de TV a queixar-se do erro de uma professora/personagem! O professor em questão, que foi corretor de exames nacionais do 12º ano durante décadas, dizia que os estudantes estão a dar muito mais<b> erros de Português</b>, que usam nas provas as abreviaturas das palavras, - possivelmente as que usam nos telemóveis? - esquecem a acentuação, usam o discurso dos <i>Youtubers </i>que seguem, muitos do Brasil, sem consciência de que não é assim que se fala. Isto talvez porque os filhos não veem os pais a ler, estes não os incentivam a ler livros, e há um desinvestimento na Educação. Depois de um interregno, este professor voltou a corrigir exames e ficou surpreendido: o exame do 12º ano deste ano era muito fácil comparado com os de há uma década, ou seja, afirmava, está instalado o <b>facilitismo</b>. Os jovens também estão cada vez mas fragilizados, têm pouca resiliência, e muito infantilizados. Para ele o Covid não explica tudo, e eu concordo, foi um bom bode expiatório. Dizia ainda que crianças e jovens trocaram a leitura por jogos, por tudo o que é <b>instantâneo</b>. Têm um léxico muito básico e elementar, dificuldade em estruturar ideias e verbalizá-las. Menos leitura tem consequências: não entendem as fichas e testes, não releem as perguntas ou os textos, têm dificuldade em retirar ideias de textos escritos. <b>O problema não está nos telemóveis ou nos tablets, ou na tecnologia em geral mas no mau uso que se faz da tecnologia</b>. Os alunos em vez de escreverem o que está no quadro tiram fotos com o telemóvel, em vez de pesquisarem em livros e dicionários, ditam para o telemóvel e ele responde. Não veem as palavras, não vendo não há memória visual da palavra. Este professor menciona ainda que a reutilização dos manuais tem inúmeras vantagens, mas que os jovens alunos precisam de ler, sublinhar, circundar determinadas palavras, não o podendo fazer nestes manuais que se destinam a uso posterior.<br /><br />Um outro professor que tem alunos do 1º ciclo também se queixa deles não praticarem a escrita ao usarem telemóveis. Os correctores ortográficos interferem no treino da escrita. Os alunos, sem eles, dão erros. Se não erram, não corrigem, não aprendem. O professor mencionava diversos erros comuns ligados à fonologia como o adorote em vez de adoro-te. A falta de comunicação na família, a falta de interação entre os diferentes elementos da família, tem, na sua opinião, implicações por exemplo ao nível da articulação das palavras.<br /><br />Quanto à outra notícia, nela se lia que a série juvenil <b>Morangos com Açúcar </b>está de regresso à TVI, vinte anos depois da sua estreia, com novas caras. Nunca vi um episódio, não sei se é boa ou má, mas foi o programa mais visto do dia. Composta maioritariamente por jovens actores, conta também com actores e actrizes bem experientes, como Fernanda Serrano, que interpreta Dalila Pontes, a professora de português do Colégio da Barra. Só que a professora deu um erro e agora, em pleno reinado das redes sociais, nada passa despercebido. No início da aula a senhora professora diz "<i>vão haver novidades</i>", e não "vai haver novidades", como esperado. <div><br /></div><div>É lamentável que numa série de TV, um produto de entretenimento, que é também um veículo de comunicação, um trabalho de equipa, não tenha havido uma única pessoa que se tenha apercebido do erro durante as gravações se não durante a escrita e revisão do guião, ou durante os ensaios. É este o estado de coisas, aliás visível por todo o lado, em jornais, revistas, nos rodapés de notícias na TV, nos textos das redes sociais, dos mais básicos menus de restaurantes a peças jurídicas. É só um erro, dirão talvez. Sim, um erro que é sintoma de um estado geral de coisas, um estado geral de incompetência. <a href="https://www.blogger.com/blog/post/edit/796431621205299602/7057983414377679181">Não sei se leram este desabafo, escrito há semanas.</a> Escrever mal e falar mal é hoje desculpável, uma coisa menor. Serve para fazer brincadeiras nas redes sociais. Só isso. Antigamente uma pessoa que soubesse escrever e falar bem era invejada, elogiada. Hoje são competências que pouco ou nada valem, assim como é relativizado o percurso necessário para as obter. </div><div><br /></div><div>Aprender uma língua não é fácil. Onde é que está escrito que é fácil? Escrever bem e falar bem obedece a regras, são competências que exigem muita memorização e treino durante uma parte importante da nossa vida, sobretudo na infância e na adolescência, e depois consoante o nosso desejo de aprimoramento. As jovens estão motivadas para ir ao ginásio e passarem horas nas máquinas a treinar para ter um rabo perfeito - ou, no caso deles, o six-pack ! - mas não estão preparadas para sentar esse rabo numa cadeira e malharem nos livros por tempo semelhante. Isso é uma tortura. Será assim porque a sociedade actual valoriza mais os cús do que um discurso bem articulado ou um email limpo de erros? É urgente estudar a fundo o problema - ou problemas - que este professor descreve. É urgente exigir medidas concretas para inverter este caminho, ou o futuro será muito mais estúpido do que o nosso presente já é. E também não acredito que os telemóveis e os computadores sejam os culpados.</div><div><br />Há uns anos circulava esta ideia de que exposições orais e leitura de manuais eram uma coisa maçadora e ultrapassada, que a tecnologia estava aí e operava milagres. A internet e o multimédia foram vendidos como a revolução da aprendizagem, os computadores invadiram as escolas. Se é assim, onde estão os resultados? Se é assim, o que justifica mais erros de português? Criticava-se, e critica-se, desde há muito, que crianças e adolescentes fiquem sentados numa sala de aulas, diz-se "de forma passiva", ou seja, como se eles fossem meros recipientes, enquanto o professor fala, ou seja, enquanto despeja conhecimento nesses vasos humanos em formação. Hoje diz-se que se continua a aprender como em séculos passados quando temos Teslas que estacionam sozinhos, bots que inventam histórias, tablets cheios de recursos digitais, quadros interativos, etc. Leio muitas tiradas destas. Pois eu imagino que poderemos um dia viver na Lua ou em Marte, rodeados de tecnologia fabulosa, e, ainda assim, o domínio de competências básicas da leitura e da escrita por mais invenções e recursos, vai sempre depender de dedicação à escrita e à leitura, de memorização de regras gramaticais, enfim, de muito exercício, mas um que se tem de fazer sentado, coisa que para muitos alunos actuais é um desafio, e de um professor dedicado. </div><div><br /></div><div>A internet é maravilhosa mas uma coisa é aceder a informação e outra tornar a informação acessível, papel que cabe ao professor. Antes da internet a informação também já estava nos manuais da escola que os nossos pais nos compravam, ou nos livros das bibliotecas da escola. Também estava "acessível". Os nossos escritores de renome estavam rodeados de tecnologia? Não. Mas a escrita aconteceu mesmo assim. Eram o quê? Viajantes no tempo? Mágicos? Sou uma entusiasta da tecnologia, tenho uma das primeiras Pós-Graduações disponibilizadas em Portugal em formato online, fiz MOOCS diversos, uso softwares gráficos há anos. Mas não creio que um vídeo só por si possa servir para ensinar e aprender melhor do que um bom texto acompanhado de uma boa fotografia, os próprios alunos poderão até preferir uma ou outra forma. </div><div><br /></div><div>Fazem-se experiências interessantes com salas de aula que se pretendem do futuro, ou, no mínimo, de vanguarda, onde o espaço é reinventado, o aluno não é mais passivo, olhado de cima para baixo. Diz-se que é" motor da sua aprendizagem". Mas, basicamente, o que se faz nelas - estimular a criatividade, a pesquisa, a interação, a comunicação - também pode ser feito noutras, menos futuristas, pode ser feito ao ar livre, pode ser feito numa fábrica, num museu, até em casa, pelos progenitores, um modelo que em Portugal não tem muita saída. É preciso é que alunos e os professores estejam todos no mesmo barco. E que o barco seja sólido, não ande constantemente a ser objecto de intervenções no design, reinvenções, remodelações, experimentações, modas. (Hoje agarro uma gramática e não me oriento com tanto palavrão. Aquela por onde estudei parecia ser mais acessível. Estarei a ser bota de eslástico ou apenas ignorante? ) Mas, antes, para que o barco possa navegar e seguir viagem, todos em sintonia, o capitão ao leme, hoje um professor de carne e osso, amanhã, quem sabe, um robot humanoide, existem competências básicas que têm de ser desenvolvidas e bem desenvolvidas: aprender a ler e a escrever. Isto tem de ser hoje feito de forma tradicional embora com a tecnologia bem presente. E tem de ser feito de forma exigente, sem facilitismos. Escrever não é juntar palavras, é ligar as palavras. Sem esse domínio o futuro de todas as outras aprendizagens ficará sempre comprometido, com ou sem tecnologia.<div><br /></div><div>De bestial a besta, os computadores tornaram-se omnipresentes no escritório, em casa, e na sala de aula. Transformaram-se então no vilão desta história do aprender ou não - sobretudo a língua portuguesa - e suas sequelas pois os alunos passaram a copiar textos da internet que depois de colados na folha do Word, impressos e entregues em mão ao professor,lhes garantiam boas notas. Só que antes dos computadores a cópia também já era possível. Os computadores não são os vilões, são talvez o bode espiatório do muito que vai mal no ensino e que não sou inteiramente habilitada para enumerar, mas que os professores já explanaram vezes sem conta por essa net fora sem que ninguém do clube que toma decisões ou propõe experiências pedagógicas preste atenção. Numa primeira fase, estes trabalhos "feitos no computador" até passaram a ser valorizados e sem grandes razões para isso. As folhinhas datilografadas exibiam uma capinha, uma encadernação, e os alunos que não seguiam este modelo, sentiam-se e eram algo desvalorizados. Mas os professores logo entenderam que algum do trabalho perfeito e bem formatado não tinha saído do labor integral do seu autor: exibia construções que o aluno não poderia produzir por si mesmo, empregava palavras rebuscadas, apresentava erros, estava escrito com marcas de outra nacionalidade que não a portuguesa, etc. Evidentemente que, muitas vezes, alguns pais também auxiliavam os filhos e o resultado também saía melhorado, com ou sem intervenção de qualquer tecnologia. De repente, os computadores eram os vilões.<br /><br />Fui criança e jovem aluna sem usar o computador, da escola primária ao ensino universitário, aliás, a minha dissertação na Ordem dos Advogados foi ainda escrita numa máquina de escrever e assim entregue. Poderia ter tido brio e ter pago a alguém para "passar aquilo a computador", como então se dizia. Não tinha um computador, eram caros, e eu decidi que só quando começasse a trabalhar - e a ganhar o meu dinheiro - é que compraria um. Quando comecei a trabalhar ainda não tinha um computador em casa e apenas sabia utilizar um porque fiz uma formação. Aí me ensinaram os rudimentos do Word, do Excell, do Ms-Dos, etc. Nesses meses iniciais, ainda não conseguia escrever um texto usando o teclado: primeiro fazia um rascunho, depois passava-o. Os meus colegas dedilhavam sem hesitação e eu invejava o desembaraço. Com o tempo, e não foi preciso muito, deixei de conseguir usar o papel para escrever, já só conseguia escrever usando o teclado. Depois surgiram muitas ferramentas para ajudarem no processo de brainstorming, ou a realizar mapas mentais, por exemplo, e a folha em branco passou a ser quase sempre apenas digital, o que se traduziu numa economia de tinta e de papel formidáveis!</div><div><br /></div><div>Nesse tempo que já vai caminhando para o esquecimento, na minha escola, nas escolas que frequentei, os alunos (também) aprendiam a copiar de livros para o caderno, a copiar do quadro para o caderno o que o professor escrevia no quadro, a escrever para o caderno o que o professor dizia nas aulas, o que mostrava no retroprojector. A maioria de nós dominava melhor a língua portuguesa do que muitos alunos hoje. Esta é uma verdade. Também se faziam consultas na biblioteca e tomavam-se notas, tomavam-se notas de fotocópias, resumiam-se, resumiam-se obras inteiras, faziam-se trabalhos de grupo, trabalhos práticos, incursões no meio e visitas de estudo, muitas. Todavia, este referido copianço não é equivalente ao copiar e colar da era digital, como já vi muitos defenderem. O actual Ctrl+V, Ctrl+C, elimina uma arte essencial na aprendizagem que é a da <b>escrita pelo próprio punho</b>. Parece ser coisa irrelevante, usar um teclado - ou o ecrã do telemóvel - ou uma caneta e papel, mas esse exercício é benéfico a vários níveis: o impacto começa na forma como a esferográfica e o lápis são agarrados, continua devido ao facto de vermos as letras a serem desenhadas. Este jogo estimula a motricidade e o cérebro e melhoram a aprendizagem e possivelmente são tão mais importantes quanto mais tenros os alunos. Até o próprio som da escrita parece gerar efeitos positivos. <b>Escrever ajuda a consolidar a informação na memória, ajuda na retenção do conhecimento.</b> Creio que todos temos essa experiência, se usámos a escrita de forma consistente, ao escrever recordamos e fixamos tudo melhor. Nem precisamos da ciência para nos provar isso, é senso comum.</div><div><br />Por outro lado, a escrita serve também para exercitar o poder de síntese e permite uma melhor compreensão dos conceitos envolvidos numa matéria pois escrever sobre um assunto é a melhor forma de perceber se o dominamos ou não. O papel - mesmo o digital - não engana. Ao aplicar o que aprendemos a domínios novos, expandimos o nosso horizonte de conhecimento: para isso temos de usar de pesquisa e de reflexão. Tudo isto só acontece quando se escreve com consciência e intencionalidade, e não quando se copia informação e se cola para pura e simplesmente entregar respostas a um professor. Numa primeira fase, é isso que o aluno tem de fazer: ler um texto, compreendê-lo e copiar as respostas a perguntas que demonstram que sabe interpretar, apesar de sempre ter de estruturar cada resposta, usar a língua de forma elástica para tudo ligar e fazer sentido. Mas num segundo nível, mais avançado, se o professor pede um trabalho que implica investigação, se o aluno se limita a copiar e colar respostas que encontra na internet, o percurso de aprendizagem é encurtado e empobrecido, nada se consolidando, no final, ou pouco. Evidentemente que alunos mais novos deviam continuar a escrever à mão os seus trabalhos, mas os alunos mais velhos, a quem são pedidos trabalhos mais extensos e que já dominam a escrita manual, deviam ser livres de usar o computador para escrever. O domínio da tecnologia não pode ser banido das escolas pois cada vez mais ela está inscrita no nosso quotidiano. É apenas o seu mau uso tem de ser combatido e as boas práticas insistentemente divulgadas. <br /><br />A cada nova vaga tecnológica novos desafios se colocam na plano do ensino. Depois dos computadores, sucederam-lhes outros vilões: os <b>telemóveis</b>. A discussão mais evidente parece ainda ser se vamos ou não banir os telemóveis das salas de aulas. os telemóveis causam interferências comportamentais que vão muito além do copianço. Há escolas que os baniram, há escolas que não se atrevem. Há governos que os baniram, há governos que não se atrevem. Claro que os telemóveis podem ser utilizados na sala mas tornam-se um problema quando os alunos não respeitam os limites da sua utilização. Se não acatam as orientações dadas sobre a sua utilização, o que resta senão banir os aparelhos? O dilema dos telemóveis nas escolas saiu das salas para os recreios: nos intervalos, em vez de conversarem uns com os outros, de correrem e saltarem, os meninos e meninas dedilham os telemóveis. Todo este quadro tem as suas implicações, não vou esquadrinhá-las aqui. </div><div><br /></div><div>Quero ainda referir que já outra batalha ganha crescente importância: como impedir que os alunos usem o <b> CHAT GPT </b>que pode ser facilmente baixado para um laptop ou smartphone? Desde que o CHAT GPT surgiu, mais um berbicacho caiu no colo dos professores de todos os graus de ensino, ou quase, de todo o mundo. Os alunos estão a pedir ao CHAT, ou ao Bard, do Google, que gere as respostas para trabalhos, copiam, colam e já está. Desde o final de Novembro de 2022 que o ChatGPT não parou de ser acessado por pessoas dos mais variados quadrantes, o que inclui alunos e, claro, professores. Lembro que existem softwares para detectar texto proveniente do ChatGPT, mas à medida que o Chat evoluir talvez até esse software deixe de conseguir destrinçar se o texto é produto de um chat bot ou do aluno que o apresenta como seu. E quem diz aluno diz escritor, jornalista, ensaísta, músico, copywriter, etc. Mas se o aluno usar o texto produzido pelo bot como um rascunho e se depois o trabalhar, se lhe acrescentar as citações devidas e fontes? Se lhe acrescentar bastante trabalho seu? Será isso ainda censurável? E será ainda detectável pelo tal software?<br /><br />A reação primeira e mais fácil perante esta novidade que apanhou toda a gente desprevenida foi banir o bot. No Reino Unido há centenas de alunos em maus lençóis por terem usado o CHAT para concluir trabalhos académicos: pura e simplesmente os seus trabalhos foram anulados. Mas nos Estados Unidos já li que pelo menos uma Universidade dedicou horas para formar os alunos no uso da ferramenta de forma ética. Na perspectiva da instituição, a inteligência artificial veio para ficar, banir o seu uso é impossível. Os alunos terão sempre de defender o seu trabalho de forma oral e assim provam aquilo que aprenderam. Nem sequer são obrigados a dizer se usaram o Chat mas se o revelarem ganham pontos. Importante, lembro-me que esse professor dizia que não se deviam pedir trabalhos escritos à mão na universidade - concordo! - pois isso seria um sinal de retrocesso. O que era mesmo importante era que os alunos aprendessem as matérias e ao mesmo tempo se servissem das tecnologias avançadas para saírem dali preparados para o mundo eminentemente tecnológico em que vivemos. O<b>s professores têm de ajudar os alunos a usar bem as tecnologias e não incentivarem a sua exclusão do ensino. </b>Ele também era claro quanto ao plágio, ou seja, usar um texto de outra pessoa como sendo seu. O Chat GTP não é um autor, logo não se pode considerar que usar um texto gerado por si seja plágio. Dizia ainda que os alunos podem usar textos gerados pela AI mas devem ser capazes de identificar as fontes que por lá aparecem, os autores dessas ideias, e dar-lhes o devido crédito. Ou seja, usar o Chat GTP ou um livro na escola acabaria por ser praticamente igual. Em ambos seria sempre necessário citar nomes de autores, fontes, dar referências, nunca passar um texto como seu. Já agora, também devia colocar aqui as referências, como fiz em tantas postagens passadas, e por isso me penitencio. As notícias referidas no início devem ainda ser acessíveis no Google por longo tempo numa simples busca. Quanto ao resto, nomeadamente esta última e interessante referência a uma universidade e o papel do Chat GPT, que parece ir contra-corrente, não faço ideia, foram ideias que retive fruto de leituras dispersas. </div></div><div class="blogger-post-footer">http://palavras-cruzadas.blogspot.com/feeds/posts/default</div>Belinha Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/01002456782459817098noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-796431621205299602.post-34571804096346300712023-10-22T18:54:00.004+01:002023-10-22T18:54:51.918+01:00STOP IUC - Manifestação Nacioal no dia 5 de Novembro - capitais de distrito<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZs6EKluAG3HbQE_iAY2tU9-L1E89zJ_fjRLiYlXs7gYEcUt6lyJT-FtprLU15gbXMwCWjNHD7FDmXwMn0vS8nJNbHyTABBxeVSyg5ineNScspofnPC0DMDL2oTFjdbAZOJhlMbpQSpUEaDIyed8H2HTq63Lgfbnd3dX40EkLdfESecpurb46B0ioMe-AL/s960/iuc-manifestacao-2023.jpeg.webp" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="502" data-original-width="960" height="274" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZs6EKluAG3HbQE_iAY2tU9-L1E89zJ_fjRLiYlXs7gYEcUt6lyJT-FtprLU15gbXMwCWjNHD7FDmXwMn0vS8nJNbHyTABBxeVSyg5ineNScspofnPC0DMDL2oTFjdbAZOJhlMbpQSpUEaDIyed8H2HTq63Lgfbnd3dX40EkLdfESecpurb46B0ioMe-AL/w525-h274/iuc-manifestacao-2023.jpeg.webp" width="525" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><p></p><b>CARRO DE POBRE, IMPOSTO DE RICO! NÃO ACEITAMOS!!</b><div><br />5 DE NOVEMBRO, VÁ NO SEU AUTOMÓVEL ANTERIOR A 2007 ATÉ À CÂMARA MUNICIPAL DA SUA CAPITAL DE DISTRITO (ou outro local indicado pelo líder da manifestação em cada distrito), CIRCULE EM MARCHA LENTA, ESTACIONE SE PUDER, MAS MANIFESTE-SE DE FORMA RUIDOSA MAS, SOBRETUDO,RESPONSÁVEL E PACÍFICA, COM TOTAL RESPEITO PELAS AUTORIDADES!</div><div><br />PORTO, COIMBRA, LISBOA, FARO E TODAS AS CAPITAIS DE DISTRITO.</div><div><br />SE QUISER LIDERAR OS PROTESTOS NO SEU DISTRITO, MANIFESTE A SUA INTENÇÃO NA DISCUSSÃO. OBRIGADO!</div><div><br />O agravamento do IUC sobre automóveis anteriores a 2007 tem de ser travado antes da votação do OE 2024 que acontece a 29 de Novembro. Porquê?</div><div><br />1 - Os veículos pré-2007 ficarão em regime de dupla tributação. O aumento do IUC pós-2007 teve como propósito colmatar uma redução do ISV no momento da compra. O que se propõe agora, é taxar pela tabela máxima veículos que já foram penalizados em sede de ISV.<br />2 - Não são 25€! Para 2024 o governo estabeleceu um tecto máximo de aumento de 25€, mas no médio prazo, esse tecto não existe. O que fica claro ao analisar as tabelas é que o aumento total irá ultrapassar os 200% na maioria dos automóveis e chegará aos 1000% em alguns casos.<br />3 - Os portugueses não guiam automóveis antigos por opção, mas porque a economia não permite melhor.<br />4 - É impossível renovar a frota nacional quando escasseiam propostas economicamente viáveis para as famílias no mercado de veículos novos e há escassez de veículos para entrega. O resultado, será um novo aumento das importações.<br />5 - Os custos de habitação estão em máximos históricos, com a população sufocada financeiramente, o que torna sádico o aumento do IUC.<br />6 - Os combustíveis estão em máximos históricos, também graças a uma componente ambiental que agrava o seu preço.<br />7 - Estão a decorrer duas guerras em simultâneo, que representam uma ameaça sem precedentes para a economia da Europa e em particular para Portugal, devido à sua extrema debilidade estrutural e aos baixíssimos rendimentos familiares.<br />8 - A aplicação destas novas regras vai desvalorizar dramaticamente o património familiar dos portugueses. Um automóvel anterior a 2007 vai ser virtualmente impossível de vender, mesmo para o mercado internacional. Em efeitos práticos, isto configura uma expropriação.<br />9 - Um imposto é, por definição, uma ferramenta de redistribuição de riqueza. O que acontece neste caso é o oposto.<br />10 - O maior impacto ambiental destes veículos está na produção, pelo que se encontra devidamente amortizado. O abate traz um novo custo, que não vai ser compensado de forma alguma.<br />11 - O governo tem uma intenção clara de desencorajar o uso do automóvel particular, esquecendo que fora dos centros urbanos a população tem uma forte dependência do automóvel e ainda menos recursos para a aquisição de modelos mais modernos.<br />12 - É a defesa da liberdade individual que está em causa. No último século as vidas e as ambições do cidadão comum, viram os seus horizontes ampliados pelo automóvel. Este ataque à mobilidade individual e familiar, minimiza o potencial humano, castra os seus horizontes culturais e vai contra tudo aquilo por que lutámos enquanto nação.<br />Por isso juntemo-nos a uma só voz para lutar pelo pouco que temos!</div><div><br /></div><div><br />5 DE NOVEMBRO, VÁ NO SEU AUTOMÓVEL ANTERIOR A 2007 ATÉ À CÂMARA MUNICIPAL DA SUA CAPITAL DE DISTRITO, E MANIFESTE-SE DE FORMA RUIDOSA MAS, SOBRETUDO, RESPONSÁVEL E PACÍFICA EM TOTAL RESPEITO PELAS AUTORIDADES E PELOS DEMAIS CIDADÃOS!</div><div><br /></div><div><a href="https://www.facebook.com/events/1006057603951524/?ref=newsfeed">Texto integral retirado do Facebook, aqui</a></div><div class="blogger-post-footer">http://palavras-cruzadas.blogspot.com/feeds/posts/default</div>Belinha Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/01002456782459817098noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-796431621205299602.post-75844807682938888442023-10-22T18:49:00.000+01:002023-10-22T18:49:34.818+01:00Assine a petição contra o aumento do IUC para automóveis anteriores a 2007<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOt1xMX_p3c7RLsP8Muggx1UUZwHbYAnXdzoJ5c83yeMCfmRX1bbsh0GvgaQ4HZQyxwNvOw7-iLbUrhfLmMHgJA7G3xIbhiAxcG1M1THn-43wv8mwxeh3ZMYVUNnXG8XsdUrfk3fqdVsOel1HwrenaXNgu0CGnhIgXtlSC_p_iOqeHuUeJF14VIk_aBf6z/s1196/prticao%20publica%20iuc.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="528" data-original-width="1196" height="282" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOt1xMX_p3c7RLsP8Muggx1UUZwHbYAnXdzoJ5c83yeMCfmRX1bbsh0GvgaQ4HZQyxwNvOw7-iLbUrhfLmMHgJA7G3xIbhiAxcG1M1THn-43wv8mwxeh3ZMYVUNnXG8XsdUrfk3fqdVsOel1HwrenaXNgu0CGnhIgXtlSC_p_iOqeHuUeJF14VIk_aBf6z/w641-h282/prticao%20publica%20iuc.jpg" width="641" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><p><a href="https://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=PT117993"><b><span style="font-size: medium;">Assine a petição, entre por aqui</span></b></a></p><p><br /></p>Exmo. Senhor Presidente da Assembleia da República,<br />Exmo. Primeiro-Ministro,<br />Excelências,<br /><br />A) É de conhecimento geral as dificuldades enfrentadas pelos cidadãos que residem em Portugal, com os sucessivos aumentos nos preços dos produtos, muitos dos quais estão mais inflacionados do que em outros países da zona euro.<br /><br />B) Fomos informados através dos meios de comunicação social de que estão a ser ponderadas medidas para agravar o Imposto Único de Circulação (IUC) para veículos matriculados antes de julho de 2007, como forma de compensar as perdas resultantes dos descontos que o governo planeia aplicar nas autoestradas (as antigas scuts) A23, A24, A25 e A22 no Algarve, com a possível extensão à A13. Recordamos que estas antigas scuts deveriam ser de acesso gratuito, uma vez que foram parcialmente financiadas com fundos da União Europeia e a gratuidade era o seu propósito inicial.<br /><br />C) Como é do vosso conhecimento, este ano tivemos o maior aumento do IUC dos últimos anos, afetando tanto veículos de duas rodas quanto automóveis fabricados antes e após julho de 2007.<br /><br />D) Gostaríamos de salientar que a maioria dos proprietários de veículos registados antes de julho de 2007 pertence a grupos sociais economicamente mais vulneráveis, uma vez que, se tivessem condições financeiras mais favoráveis, poderiam trocar de veículo regularmente.<br /><br />E) O propósito desta petição é apresentar uma sugestão alternativa, que acreditamos ser mais justa e coerente. Os veículos elétricos atualmente estão isentos do pagamento do IUC, como parte de um esforço para promover a transição energética. Reconhecemos a importância dessa transição, mas consideramos que não deve servir de pretexto para todas as medidas fiscais.<br /><br />F) Em grande parte, aqueles que adquirem veículos elétricos são empresas e indivíduos com maior capacidade financeira. Nesse sentido, não concordamos com a isenção de IUC para veículos elétricos. É inconcebível que um veículo com mais de duas décadas, como por exemplo um carro fabricado em 1995, que já não possui valor comercial significativo, seja obrigado a pagar IUC ou a enfrentar um aumento significativo para compensar os descontos nas ex-scuts, enquanto veículos que custam mais de 100 mil euros e têm uma potência de 1020cv estão isentos dessa taxa, como por exemplo um Tesla Model s Plaid. É importante notar que um veículo com 1020cv é classificado como um supercarro, e existem muitos outros veículos elétricos com 400cv e 500cv que também estão isentos do IUC em Portugal.<br /><br />G) Propomos que os veículos elétricos comecem a pagar o IUC de acordo com a potência dos seus motores, eliminando a isenção atual, e que não sejam sujeitos à taxa adicional de carbono que é aplicada aos veículos a combustão. Acreditamos que esta seja a medida mais justa e equitativa, que não prejudicará aqueles que enfrentam dificuldades financeiras significativas e que nem usam essas mesmas autoestradas. Muitas vezes, essas pessoas não procuram subsídios, simplesmente desejam não ser ainda mais sobrecarregadas por encargos fiscais desproporcionados.<br /><br />H) Agradecemos a vossa atenção a esta questão, confiantes de que a vossa consideração resultará em políticas fiscais mais justas e equitativas para todos os cidadãos de Portugal.<br /><br />Com os nossos melhores cumprimentos.<p></p><div class="blogger-post-footer">http://palavras-cruzadas.blogspot.com/feeds/posts/default</div>Belinha Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/01002456782459817098noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-796431621205299602.post-22979272143084179262023-10-04T14:23:00.005+01:002023-10-04T14:23:40.608+01:00O Norte, crónica de Miguel Esteves Cardoso<p> (Uma <span style="background-color: white; color: #333333; font-family: Hind; font-size: 16px;">crónica de Miguel Esteves Cardoso, publicada em 15 de Setembro de 2008.) </span></p><br />«Primeiro, as verdades.<br /><br />O Norte é mais Português que Portugal.<br /><br />As minhotas são as raparigas mais bonitas do País.<br /><br />O Minho é a nossa província mais estragada e continua a ser a mais bela.<br /><br />As festas da Nossa Senhora da Agonia são as maiores e mais impressionantes que já se viram. Viana do Castelo é uma cidade clara. Não esconde nada. Não há uma Viana secreta. Não há outra Viana do lado de lá. Em Viana do Castelo está tudo à vista. A luz mostra tudo o que há para ver. É uma cidade verde-branca. Verde-rio e verde-mar, mas branca. Em Agosto até o verde mais escuro, que se vê nas árvores antigas do Monte de Santa Luzia, parece tornar-se branco ao olhar. Até o granito das casas.<br /><br />Mais verdades.<br /><br />No Norte a comida é melhor. O vinho é melhor. O serviço é melhor. Os preços são mais baixos. Não é difícil entrar ao calhas numa taberna, comer muito bem e pagar uma ninharia. Estas são as verdades do Norte de Portugal.<br />Mas há uma verdade maior. É que só o Norte existe. O Sul não existe. As partes mais bonitas de Portugal, o Alentejo, os Açores, a Madeira, Lisboa, et caetera, existem sozinhas. O Sul é solto. Não se junta. Não se diz que se é do Sul como se diz que se é do Norte. No Norte dizem-se e orgulham-se de se dizer nortenhos. Quem é que se identifica como sulista? No Norte, as pessoas falam mais no Norte do que todos os portugueses juntos falam de Portugal inteiro. Os nortenhos não falam do Norte como se o Norte fosse um segundo país. Não haja enganos. Não falam do Norte para separá-lo de Portugal. Falam do Norte apenas para separá-lo do resto de Portugal. Para um nortenho, há o Norte e há o Resto. É a soma de um e de outro que constitui Portugal. Mas o Norte é onde Portugal começa. Depois do Norte, Portugal limita-se a continuar, a correr por ali abaixo. Deus nos livre, mas se se perdesse o resto do país e só ficasse o Norte, Portugal continuaria a existir. Como país inteiro. Pátria mesmo, por muito pequenina. No Norte. Em contrapartida, sem o Norte, Portugal seria uma mera região da Europa. Mais ou menos peninsular, ou insular.<br /><br />É esta a verdade. Lisboa é bonita e estranha mas é apenas uma cidade. O Alentejo é especial mas ibérico, a Madeira é encantadora mas inglesa e os Açores são um caso à parte. Em qualquer caso, os lisboetas não falam nem no Centro nem no Sul – falam em Lisboa. Os alentejanos nem sequer falam do Algarve – falam do Alentejo. As ilhas falam em si mesmas e naquela entidade incompreensível a que chamam, qual hipermercado de mil misturadas, Continente.<br /><br />No Norte, Portugal tira de si a sua ideia e ganha corpo. Está muito estragado, mas é um estragado português, semi-arrependido, como quem não quer a coisa. O Norte cheira a dinheiro e a alecrim. O asseio não é asséptico – cheira a cunhas, a conhecimentos e a arranjinho. Tem esse defeito e essa verdade. Em contrapartida, a conservação fantástica de (algum) Alentejo é impecável, porque os alentejanos são mais frios e conservadores (menos portugueses) nessas coisas.<br /><br />O Norte é feminino. O Minho é uma menina. Tem a doçura agreste, a timidez insolente da mulher portuguesa. Como um brinco doirado que luz numa orelha pequenina, o Norte dá nas vistas sem se dar por isso. As raparigas do Norte têm belezas perigosas, olhos verdes-impossíveis, daqueles em que os versos, desde o dia em que nascem, se põem a escrever-se sozinhos. Têm o ar de quem pertence a si própria. Andam de mãos nas ancas. Olham de frente. Pensam em tudo e dizem tudo o que pensam. Confiam, mas não dão confiança. Olho para as raparigas do meu país e acho-as bonitas e honradas, graciosas sem estarem para brincadeiras, bonitas sem serem belas, erguidas pelo nariz, seguras pelo queixo, aprumadas, mas sem vaidade. Acho-as verdadeiras. Acredito nelas. Gosto da vergonha delas, da maneira como coram quando se lhes fala e da maneira como podem puxar de um estalo ou de uma panela, quando se lhes falta ao respeito. Gosto das pequeninas, com o cabelo puxado atrás das orelhas, e das velhas, de carrapito perfeito, que têm os olhos endurecidos de quem passou a vida a cuidar dos outros. Gosto dos brincos, dos sapatos, das saias. Gosto das burguesas, vestidas à maneira, de braço enlaçado nos homens. Fazem-me todas medo, na maneira calada como conduzem as cerimónias e os maridos, mas gosto delas. São mulheres que possuem; são mulheres que pertencem. As mulheres do Norte deveriam mandar neste país. Têm o ar de que sabem o que estão a fazer. Em Viana, durante as festas, são as senhoras em toda a parte. Numa procissão, numa barraca de feira, numa taberna, são elas que decidem silenciosamente. Trabalham três vezes mais que os homens e não lhes dão importância especial. Só descomposturas, e mimos, e carinhos.<br /><br />O Norte é a nossa verdade. Ao princípio irritava-me que todos os nortenhos tivessem tanto orgulho no Norte, porque me parecia que o orgulho era aleatório. Gostavam do Norte só porque eram do Norte. Assim também eu. Ansiava por encontrar um nortenho que preferisse Coimbra ou o Algarve, da maneira que eu, lisboeta, prefiro o Norte. Afinal, Portugal é um caso muito sério e compete a cada português escolher, de cabeça fria e coração quente, os seus pedaços e pormenores. Depois percebi. Os nortenhos, antes de nascer, já escolheram. Já nascem escolhidos. Não escolhem a terra onde nascem, seja Ponte de Lima ou Amarante, e apesar de as defenderem acerrimamente, põem acima dessas terras a terra maior que é o “O Norte”. Defendem o “Norte” em Portugal como os Portugueses haviam de defender Portugal no mundo. Este sacrifício colectivo, em que cada um adia a sua pertença particular – o nome da sua terrinha – para poder pertencer a uma terra maior, é comovente. No Porto, dizem que as pessoas de Viana são melhores do que as do Porto. Em Viana, dizem que as festas de Viana não são tão autênticas como as de Ponte de Lima. Em Ponte de Lima dizem que a vila de Amarante ainda é mais bonita.<br /><br />O Norte não tem nome próprio. Se o tem não o diz. Quem sabe se é mais Minho ou Trás-os-Montes, se é litoral ou interior, português ou galego? Parece vago. Mas não é. Basta olhar para aquelas caras e para aquelas casas, para as árvores, para os muros, ouvir aquelas vozes, sentir aquelas mãos em cima de nós, com a terra a tremer de tanto tambor e o céu em fogo, para adivinhar.<br /><br />O nome do Norte é Portugal. Portugal, como nome de terra, como nome de nós todos, é um nome do Norte. Não é só o nome do Porto. É a maneira que têm de dizer “Portugal” e “Portugueses”. No Norte dizem-no a toda a hora, com a maior das naturalidades. Sem complexos e sem patrioteirismos. Como se fosse só um nome. Como “Norte”. Como se fosse assim que chamassem uns pelos outros. Porque é que não é assim que nos chamamos todos?»<div class="blogger-post-footer">http://palavras-cruzadas.blogspot.com/feeds/posts/default</div>Belinha Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/01002456782459817098noreply@blogger.com0