Vacina Covid 19: tomar ou não tomar, devia ser uma questão? Escreve Carmen Gouveia


O tempo não me tem sobrado para escrever e muitos têm sido os textos aqui partilhados que não são da minha autoria, sobretudo relacionados com a Covid 19. Quando se esperava que o surgimento de uma vacina viesse resolver polémicas sem fim em torno da pandemia e da forma de lidar com ela, eis que toma força uma nova polémica: devo, ou não, tomar a vacina. A maioria das pessoas que conheço não tem dúvidas, mas algumas têm. Eu tenho dúvidas mas creio que as poderei esclarecer com leituras que ainda não fiz. Existem as dúvidas razoáveis e as dúvidas sem sentido. Umas e outras, mais as teorias do absurdo que parecem encontrar o favor de mais gente do que julgava possivel, em tempos ditos da informação e da globalização, têm tomado originado discussões de proporções anedóticas e até bizarras um pouco por todo o planeta virtual. Como tenho feito até aqui, irei publicando alguns textos que for encontrando e que me pareçam relevantes. Espero, eventualmente, encontrar tempo livre para escrever ao longo deste novo ano. Até lá, fiquem com algumas impressões da enfermeira Carmen Gouveia sobre esta polémica da vacinação em curso.

Fonte: Enfermeira Carmen Gouveia, https://www.facebook.com/maeimperfeita/

Ainda sobre a vacina (outra vez por pontos que o meu OCD é para o que dá):

1. Bem mais de 2/3 do tempo de produção de uma vacina são gastos com burocracias. A parte inicial e mais difícil é arranjar financiamento para a investigação uma vez que as vacinas são menos rentáveis para as farmacêuticas que os outros medicamentos. No caso da vacina contra a covid-19 o financiamento foi imediato e infinito. Obviamente isto acelerou o processo.

2. As vacinas passam por duas fases de testagem: a fase pré-clínica (a vacina é testada em animais) e a fase clínica. Na primeira etapa dos ensaios clínicos a vacina é inoculada num pequeno grupo de indivíduos, na segunda numa amostra maior e já representativa da população e na terceira num grupo muito grande (com milhares) de indivíduos. Habitualmente é difícil encontrar voluntários para estes testes. Desta vez os voluntários foram imensos. Não preciso de dizer novamente que isto acelerou o processo, certo?

3. A última fase de produção de uma vacina consiste no acompanhamento dos indivíduos vacinados durante um período relativamente longo de tempo. Neste caso esse acompanhamento dura há cerca de seis meses. É a única etapa que foi, de alguma forma, acelerada, mas, acreditem, os riscos são diminutos. E sabem uma coisa? Também não fazemos ideia quais os efeitos da covid a longo prazo. Mas é até expectável que, a acontecerem, sejam bastante piores que os da vacina (como já referi, apenas uma pequena parte do RNA do coronavírus chega ao nosso corpo com a vacina, em caso de infecção contactamos com a totalidade do RNA do vírus).

4. Não há um único fármaco no mundo que não provoque reacções alérgicas ou adversas. Têm ideia quantas pessoas são alérgicas ao ácido acetilsalicílico (aspirina) ou à penicilina? E, no entanto, a aspirina continua a ser um fármaco de primeira linha na doença cardiovascular e a penicilina e os seus derivados salvam vidas todos os dias.

Nenhuma fase de testes foi abolida no desenvolvimento da vacina contra a covid-19. Aliás, a vacina jamais seria aprovada pelos organismos internacionais e de cada país se tal coisa tivesse acontecido. Não vamos, por favor, cair em teorias da conspiração, ok?

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Nos últimos dias tenho lido tantos disparates sobre as vacinas que utilizam RNAm que vou tentar fazer aquilo que a DGS já devia ter feito e explicar, de forma mesmo MUITO simples, como é que estas vacinas funcionam. 

PONTOS PRÉVIOS:

1. O coronavírus tem uma proteína, chamada Spike, que lhe permite acoplar-se às células humanas.
2. O RNAm (o "m" é de mensageiro) é uma espécie de livro de instruções que explica às células como produzir proteínas. 

A VACINA

1. Em laboratório, os cientistas criam um RNAm sintético programado para ensinar as nossas células a produzir essa proteína Spike igual à do vírus.
2. Quando somos vacinados esse RNAm começa a "ensinar" as nossas células musculares (a vacina é dada num músculo) e elas começam a produzir proteínas Spike.
3. O nosso sistema imunitário reconhece as proteínas Spike como invasoras e começa a produzir anticorpos e células T para as eliminar.
4. As proteínas Spike são eliminadas pelo nosso sistema imunitário, o RNAm que nos foi injectado destrói-se (tem uma vida bastante curta) e nós ficamos com o nosso sistema imunitário apto a combater uma infecção por coronavírus.

OUTROS DADOS IMPORTANTES:

1. Nas vacinas convencionais o que é injectado no nosso corpo é o próprio vírus bastante enfraquecido ou morto. Claramente as vacinas com RNAm são uma vantagem uma vez que nenhum vírus nos é inoculado e a pequena parte dele que é replicada é produzida por nós próprios.
2. O grande problema em relação a esta vacina é não sabermos ainda quanto tempo esta imunidade dura. Sabemos que estamos protegidos enquanto o nosso sistema imunitário se lembrar como eliminou as proteínas Spike. Poderão ser seis meses, um ano, ou muito mais. Mas isso só saberemos com o tempo.
3. Para quem fica paranóico por ser injectado com RNAm sintético, lembrem-se que se forem infectados por coronavírus ele vos deixa lá o RNA dele TODINHO. Não só um bocadinho para produzir uma proteína específica mas o raio do RNA todo.
4. Isto não tem nada a ver com ADN. Zero. Nicles. O nosso ADN cá vai continuar. Os morenos vão continuar morenos. Os bonitos vão continuar bonitos. E os negacionistas da ciência vão continuar burros que nem uma porta.

Pronto, espero que a explicação (bastante simplificada) tenha sido perceptível. E também espero que a DGS e o MS se encarreguem de explicar isto aos portugueses, de preferência com uma linguagem simples e acessível e com um bom comunicador a transmitir a mensagem.

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