Devolver um andorinhão à Natureza
Agarrei o andorinhão com cuidado, coloquei-o numa caixa forrada e fiquei a observar o seu comportamento, de caneca de café na mão, sem ter bem a certeza se era ainda filhote. Escrevi a um dos fotógrafos de aves que sigo, a pedir conselhos, depois telefonei para o Sepna e de lá me orientaram no que fazer. Soube que não podia já sê-lo: a época de criação já ficara para trás. Seguramente era um adulto, tinha asas longas e cruzadas sobre a cauda, já devia estar a caminho de África e não prisioneiro dum terraço urbano.
Os andorinhões são formidáveis: cuidam da plumagem, caçam, bebem, acasalam e dormem em vôo. É um caso em que é quase preciso ver para crer mas há vídeos a documentar o impossível no Youtube. Tão adaptados ao ar se tornaram que não conseguem empoleirar-se, as pernas tão curtas que parecem não existir, agarrando-se verticalmente às superfícies ásperas. E, a comprovar isso mesmo, daí a pouco, tinha trepado pela caixa, fixando-se a um relevo na parede.
Agarrei-o para examinar. Ele deixou, sem medo algum, o coração tranquilo, permitindo-se até festas no peito, abaixo do bico, resvirando a cabeça para trás, como se para melhor as receber, o que me deixou extasiada e incrédula. A minha preocupação era perceber se estava robusto, pois, caso contrário, se libertado prematuramente pereceria na exigente viagem de ida que o aguardava: cerca de 10.000 km. Aparentemente são, a plumagem intacta e as asas simétricas, que batia de tempos a tempos, daí a um par de horas fui encontrá-lo no extremo do terraço murado, mas sem hipótese de alcançar os céus: os andorinhões não conseguem levantar vôo do solo.
Quando a chuva forte amainou e o céu clareou, levei-o para campo aberto. Procurei um plano mais elevado e ergui-o na palma da minha mão. Depois de bater as asas energicamente várias vezes, incentivado com o impulso do meu braço, o andorinhão elevou-se no ar mas caíu a pique de imediato, assustando-me, só para logo voltar a subir. Voou por entre as árvores e perdi-o de vista, percebendo naquele instante fugaz o maravilhoso que é devolver à Natureza um animal prisioneiro.
De então para cá dediquei-me a ler mais sobre esta ave incrível. É importante saber o seguinte: no Verão é comum encontrar as crias no chão, caídas de ninhos que os progenitores fazem em beirais, telhados, fendas. Ao contrário do que é aconselhado, que é deixar os pequenos pássaros caídos no mesmo local onde os encontrámos, ou o mais próximo possível do ponto de queda, ou do ninho provável, em segurança, vigiar, proteger e para que os pais os continuem a alimentar, as crias de andorinhão devem ser recolhidas pois os pais não as conseguem alimentar no chão: ou morrem de fome ali mesmo ou serão presa fácil. Porque comem insectos, que não temos à mão, e também porque beneficiam da presença de outras, o melhor a fazer nesta circunstância é contactar o SEPNA - Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente, ou centros que cuidam destes animais selvagens, como o CERVAS, e pedir orientação.
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