Christmas is Coming: Porque gosto do Natal



Não ia escrever mais sobre o Natal mas ontem dei uma pequena voltinha por blogues do Sapo e estavam mega-super-hiper natalícios. Acho que fiquei com inveja! Então resolvi escrever mais uma postagem do Desafio que a Cat criou para espalhar um pouco do espírito natalício na blogosfera. A Cat nem nos deu margem de manobra, a hipótese de não gostarmos do Natal nem se coloca, pois o tema que ela deu é: Porque gosto do Natal.

Durante muito tempo dizer que não se gostava do Natal era um quase crime. Depois ocorreu o inverso: passou a ser tendência criticar o Natal com ligeireza. Tudo é motivo para detestar a chegada do "dia N". A lista é tão grande quanto se queira. Um motivo é que não se sabe quando nasceu Jesus Cristo e que festejar o nascimento a 25 se trata de uma farsa. Mas não é uma farsa. É uma mera convenção. Jesus nasceu em Dezembro, na Judeia, em Belém, mas em que dia é realmente um mistério. Dá jeito, ou não, que se tenha convencionado um dia? Podia ser de outra maneira? Não! Parem lá de ser picuinhas e glória a Deus nas maiores alturas! E na terra paz entre homens de boa vontade!

Outra razão invocada para detestar o Natal é a aborrecida programação da TV repleta de filmes de Natal e de retrospectivas de tudo o que de melhor e pior se passou no ano. Ó gente: não acredito que isso ainda seja um problema, não hoje, tempo de reinado do Netflix, Youtube e não sei quantos canais MEO.  E as canções de Natal tocadas até ao infinito - já escrevi sobre elas aqui. Outra é a sempre referida obrigação de dar presentes: "Ah, eu gosto de dar, mas não gosto de dar obrigada." Mas quem é que obriga alguém a dar presentes no Natal, ó Deus meu?Alguém alguma vez apontou uma arma à cabeça de alguém a 24 de Dezembro dizendo: o presente de Natal ou a vida? Não querem dar, não dão. (A verdade é que a maioria das pessoas que diz isto nunca daria presentes, NUNCA, se não fosse disso lembrada. Conheço algumas. ) Mas... e a pegada ecológica do Natal? Árvores de plástico, decorações, papel, caixas, embalagens e plásticos, materiais que nem sempre são devidamente separados para a reciclagem... E todas aquelas escolhas de produtos pouco úteis e pouco duráveis, nada sustentáveis, "simbólicos" , de que depois ninguém gosta verdadeiramente, com que se cumpre a tradição? A lista de motivos continua.

Nunca tantos criticaram os excessos do Natal: o consumismo, a mesa de empanturrar, a solidariedade de ocasião. Mas se a tradição já não é o que era, não está nas mãos de quem critica mostrar que  a mudança é possível? Porque os outros estragaram o Natal, vou deixar de gostar do Natal? Não será  o Natal muito mais do que o mau uso que alguns fazem dele? Afinal, quem é que faz o meu Natal: os outros ou eu mesma? Quem lhe dá sentido? As ser assim, porque não hei-se gostar do Natal? Se não pode mudar o mundo, mude o seu mundo! Não é o que se diz? Nós somos e fazemos a mudança. (Agora parecia uma candidata política em campanha!)

O que me parece é que o Natal apenas correu atrás dos tempos. E como são os tempos? São velozes. Levamos cada semana, durante o ano inteiro, desde a odiada segunda-feira ao ansiado final de semana, a correr. A pressa é tanta que nem há tempo de pensar em ajudar o próximo, de visitar aquele familiar de mais longe ou de ouvir as razões dos outros. São exibicionistas, o ter é mais importante que o ser:  partilhamos online cada compra que se fez, gostamos de ostentar as melhores marcas, o telemóvel mais cool, o prato gourmet no restaurante mais in. A pressa dura todo o ano, o exibicionismo consumista, também. De repente é Natal : toca a comprar novas decorações, montar a árvore, postar online para todos verem. Toca a insistir com as crianças para escreveram ao Pai Natal a pedir as prendas que querem receber este ano. Depois, marcar os jantares de Natal, - empresas, amigos, família -  despachar as compras no shopping,  viver o stress da fila para os embrulhos. Queixar-se da pressão da solidariedade como se ela fosse um evento tão anual como o Natal e que não se pudesse ter resolvido em qualquer outra ocasião do ano, como devia ser. Quando o Natal chega já vem imbuído de tudo aquilo que foi o ano comum: o corre-corre, o exibicionismo, o consumismo. Como podia ser de outra maneira?

Dou mais razão àqueles que criticam menos os excessos e mais o facto de existir muita gente infeliz e sozinha para quem se torna difícil passar por este período de festividades sem se sentir alienada. Dos anúncios de TV e internet  que sempre mostram gordas reuniões de famílias felizes, aos presentes embrulhados nas mãos dos transeuntes, ou montras e ruas decoradas, onde uns vêem festa, eles apenas tristeza. Nem todas as famílias são numerosas e exemplares: há quem ande de costas voltadas há anos e nem nesta ocasião esteja para festas, assim como há casos de reuniões familiares que não são pacíficas, antes meros actos de fingimento para cumprir a tradição, ou para agradar a um ou a outro membro da família a quem não se pode dar um desgosto, ou às crianças. Há, também, famílias que sofreram perdas, por vezes perfeitamente naturais, fruto da passagem do tempo, que abriram feridas dificilmente saráveis e que esta época torna mais vivas. E há toda uma multidão de pessoas que luta com problemas da mais diversa índole e para quem esta época é um mais que justificado transtorno sobretudo emocional. Assim sendo e sendo assim, porque haveria eu de gostar do Natal?

1. Festa é festa! É sempre bom haver um motivo para festejar!


Ora, eu não sou religiosa mas tenho razões para a festa. Detesto a escuridão e o Natal começou por ser a festa da luz, a celebração do solstício de inverno, a noite mais longa do ano no hemisfério norte, que acontece no final de Dezembro. Hoje sabemos que a data do solstício de Inverno é 21 ou 22 de Dezembro, não 25. A partir daí, como se costuma dizer, os dias crescem. É aí que começa a caminhada dos dias até ao meu amado Verão. Podem, por favor, deixar-me ser um bocadinho pagã como o eram os romanos tantos, e tantos anos, antes da vinda de Cristo, e festejar isto? Todas as antigas civilizações faziam desta data uma festança, possivelmente com dança, comida e abundante bebida, sexo, e luz, muita luz, fogo. Anos depois chega o Cristianismo e ao verem a popularidade destes cultos, apropriaram-se da ocasião, por conveniência, ou seja, paganizou-se um bocadinho. Foi Aureliano, Imperador da Roma, quem estabeleceu o dia do nascimento do Sol em 25 de Dezembro como "Natalis Solis Invcti", ou Dia do Nascimento do Sol Invencível. Assinalava-se o nascimento de Mitra-Menino, Deus da Luz, pagão. Nesta noite também tinha início o Solstício de Inverno, segundo o Calendário Juliano, que seguia a "Saturnalia" (17 a 24 de Dezembro), festa em homenagem a Saturno. Mas depois vem Constantino, o Imperador de Roma que, por decreto, torna o Cristianismo a religião oficial do império romano. Ele próprio adorava o Mitra, o Deus Sol, mas depois converteu-se e fez do 25 de Dezembro uma festa cristã.



2. Árvores de Natal enfeitadas de toda a maneira e feitio!


O pinheiro de Natal é um dos maiores símbolos natalícios. Não sei quantas pessoas conhecem que têm uma árvore de Natal montada em casa todo o ano. Eu tenho uma pequena árvore sempre em exibição. Em Dezembro gosto de fazer uma maior. Acho realmente bonita esta tradição de enfeitar as árvores. É uma tradição que vem de longe. Os pinheiros sempre foram celebrados pelos povos antigos pois têm folhas perenes sendo natural que causasse espanto no mais rigoroso Inverno ver uma árvore perfeita. Isso seria um atributo mágico ou sagrado em tempo de cultos de divindades e da Natureza. Ramos de pinheiro eram trazido para casa acreditando-se que tinham o poder de espantar maus espíritos, doenças e infortúnios. 

Existem muitas histórias sobre a origem da árvore de Natal, tal como hoje a conhecemos, o mais certo é que seja a Europa o berço dessa tradição, pagã, claro. Mas uma lenda bonita tem uma sugestão mais mística: numa colina junto ao estábulo de Belém erguiam-se três árvores: uma oliveira, uma palmeira e um pinheiro. Quando o menino nasceu cada um quis ofertar o que de melhor tinha para dar: a oliveira deu os seus frutos, a palmeira a protecção da sua sombra mas o pinheiro nada tinha para dar. Então as estrelas do céu vieram em seu auxílio e uma chuva delas caiu nas ramagens enchendo a árvore de luz.

Também no exterior eu abdicaria da maioria das decorações luminosas pois o que mais gosto de ver são, mais uma vez, árvores simplesmente decoradas com luzes à roda dos seus troncos ou na copa. Este ano, uma araucária com 32 metros de altura, que a Câmara da Figueira da Foz resolveu mandar decorar, transformando-a em árvore de Natal, tornou-se atracção turística. Criticam-se as verbas gastas pelas autarquias neste departamento das iluminações que, li algures, já somarem 10 milhões de euros no todo nacioanl. Não haveria um melhor uso para todo este dinheiro, pergunta-se? Só que depois das luzes se acenderem todos gostam de passear nas ruas enfeitadas e as reticências desaparecem. Por mim, aceitaria de bom grado que fossem retiradas as decorações se me assegurassem que esse dinheiro era melhor utilizado. Mas eu já não acredito no Pai Natal. Além disso, é um negócio como outro qualquer, presente ainda em romarias e outras festas. E porque não desenvolverem alternativas mais ecológicas e económicas destas decorações? Essas propostas facilmente venceriam os concursos autárquicos, estou certa. Todos os anos aparecem árvores de Natal feitas com plásticos reaproveitados que são realmente fantásticas. São apenas um exemplo de como com engenho e criatividade tudo é possível.

3. As ilustrações dos cartões de Natal e as cores verde e vermelho

Tenho uma caixa cheia de cartões de Natal recebidos ao longo dos anos. Os que me enviaram em criança são mesmo especiais pois esse tipo de ilustração já não se faz. Adoro abri-la por esta altura do ano, ler alguns e rever todas aquelas maravilhosas ilustrações. É também uma forma de relembrar  pessoas que já não estão na minha vida. Nunca existiu tanta variedade de cartões como hoje mas a internet quase acabou com esta tradição, que também é desincentivada em nome da pegada ecológica! Para minha felicidade, penso que nos últimos anos o hábito está em retoma. Envio e recebo muito poucos cartões, em comparação com o que sucedia no passado. No entanto são muito mais significativos agora pois tornaram-se uma quase raridade. Também desenho alguns, sobretudo encomendados por clientes, ou para oferecer, como aquele que mostro acima, feito para o filho de um amigo meu. Outra coisa que gosto no Natal é a omnipresente combinação de verde e vermelho!




4. Fantasias de Natal de Chocolate e gulodices da época!

Reunir pessoas à mesa devia ser sempre uma festa, seja Natal ou não. Natal à mesa, para mim, é sinónimo de aletria e de rabanadas.  Também gosto de "mexidos", um doce do norte! Este ano vou fazer bolo inglês e aletria. Não, não me vou empanturrar. Lembram-se dos "excessos"? O Natal não deixa de ser Natal por ser simples. E é esse o segredo. Umas pequenas grandes protagonistas da época são as fantasias de chocolate: não podem faltar na árvore e desaparecem rapidamente! Embora não seja preciso qulaquer pretexto para comer chocolate, elas são uma forma divertida de regressar à infância que o chocolate nos permite nesta época!



5. O presente do "espírito do Natal"


O Natal é, para os religiosos, um tempo de culto. Não renegam os presentes, a árvore, a ceia em família, mas sabem que isso é acessório. O importante é o nascimento do menino Jesus e a sua adoração. Ora, se fosse religiosa,  decerto que iria à missa, diria as minhas orações, montaria um presépio. Não faço nada disto mas aceito o presente do espírito de Natal que esta época me trás. Os não crentes também podem receber este presente. E ele é tudo o que um bom presente deve ser: é útil, é durável, é sustentável. Trata-se, por um lado, de um convite a que renovemos a nossa fé na humanidade, na força do perdão, no poder da generosidade e da partilha. Por outro, um incentivo a que nos esforcemos por crescer como pessoas todos os dias do ano. Como? Essencialmente respeitando os outros e sendo justos e fraternos. É esta a magia do Natal de que tanto se fala. Difícil é realmente colocá-la em prática por mais que um mês no ano. Mais fácil, é tentar de novo a cada novo Natal.

Comentários

Konigvs disse…
Pouco desportivismo da menina que nem aprovou o meu comentário em que só perguntava se podia escrever como detesto o Natal. Azar, deixo de seguir.
Talvez haja um equívoco! Eu fui lá deixar o link para aqui e ela tinha lá o seu comentário sobre escrever sobre o Desafio, a dizer que não gostava do Natal e que talvez não fosse ideal escrever ali...qualquer coisa assim. Talvez ela demore até aprovar.
Konigvs disse…
Então foi falta minha! Quase de certeza que não coloquei o visto no quadradinho de receber notificações e não recebi notificação de quando foi aprovado....