Anúncio imobiliário: um T0 que é um triunfo da decoração!




Acabo de ler sobre um anúncio  que está a mobilizar atenções. Foi encontrado numa rede que divulga imobiliário, a Idealista. Trata-se de uma casita que se enquadra talvez na tendência minimalista das "Tiny houses", mas, sobretudo na corrente dos anúncios imobiliários cada vez mais frequentes onde oportunistas que pretendem explorar a sua vantagem junto de um qualquer que mais precise, neste caso penso que o alvo seja um estudante, douram a pílula como podem, esperando que apareça um papalvo que a engula. Estamos avidamente a viver o tempo da ganância: qualquer pessoa que tenha umas paredes com tecto é capaz de reunir umas tralhas para meter a render um qualquer espacinho. Reparem que não acho mal que se queira ganhar dinheiro com o que se tem.  O que censuro é que estas pessoas ofereçam a terceiros condições que para si enjeitariam sem olhar duas vezes. Em todas as ocasiões que tive de procurar alojamento, casas ou quartos, mostraram-me espaços inacreditáveis pela ausência de condições o que em nada obstava a que fosse exigido um preço elevado pelos mesmos. E as senhorias e senhorios desses autênticos buracos ostentavam um confiante orgulho e negociavam com o à-vontade de quem estava a oferecer um palácio. No entanto, se fosse eu a fazer-lhes essa oferta, iriam decerto sentir-se ofendidos e achar que eu não tinha vergonha.

O anúncio agora em causa refere um T0 com 25 m² construídos, um rés do chão para arrendar por 565 euros mensais na zona de Arroios/Saldanha, ao lado da Rua Pascoal de Melo, em Lisboa. Sem sistemas a gás, com placa e caldeira eléctrica. Apresenta-se mobilado e pedem 200 euros pelo sofá, armários, módulos de arrumação, estrado e colchão. Pode ser arrendado sem a mobília. Os contratos de luz, água e internet devem  passar para o novo arrendatário. O habitáculo é muito bem localizado, lê-se, fica a menos de 10 minutos a pé das linhas Vermelha, Amarela e Verde e existe supermercado a menos de 1 minuto. O anunciante, que que exige uma fiança de 4 meses por esta toca urbana, dá mais informações por mensagem privada. Viram as fotografias? Têm filhos ou filhas prestes a ingressarem na universidade lá para a capital? O que vos parece este palácio?

Eia! Esperem lá que ainda não vos mostrei tudo. Falta verem a fotografia deste espaço três em um: trata-se do quarto de lazer, de dormir e de estudo. Reparem bem na engenhosa solução de aproveitamento de espaço. Costumam dar-lhe o nome de "Arco do Triunfo" não apenas porque se assemelha ao famoso monumento francês, mas também porque dormir ali, mês após mês, sem que o estrado ceda, ou sem cair para a avenida dos Campos Elísios, será um verdadeiro triunfo. 

É evidente que faltam algumas informações no anúncio. Uma delas refere-se ao tipo de potenciais candidatos a arrendatários que deveriam ser como Napoleão, ou, melhor dizendo, como a crença popular o consagrou: baixinho.  Assim, o anúncio devia estipular que os candidatos ideais não deverão medir mais do que metro e meio para desfrutarem deste espaço multiusos sem constrangimentos.  Sem querer discriminar  muito, não creio que as pessoas altas devam ser admitidas: estarão ali em desvantagem pois poderão desenvolver "galos" na testa e pressões indesejadas na coluna em virtude dos sucessivos e diários abaixamentos necessários para alcançar a luz e a secretária, e, quem sabe, até podendo redundar em lesões sérias. O senhorio devia, por isso, colocar em prática uma discriminação positiva: um pequeno abatimento no preço para candidatos de estatura acima do já referido metro e meio seria o bastante para todos ficarem satisfeitos. Ou não?



Comentários

Primero, pensei OMG, depois disto só eutanásia. É uma antecâmara para o nada absoluto e o desespero.

Mas depois, vejamos: os esquimós não vivem /viviam em igloos ? e os mongóis em yurtas? nem os 25 de área tinham... e desnrascavam-se. Que é um lisboeta mais que um mongol ou um esquimó ? Bem, na verdade a casa deles não é só o coberto, é todo o espaço cá fora, vivem na planície ártica, na estepe, a cavalgar ou de trenó, não lhes falta espaço. Pois, os lisboetas que passem a considerar a dualidade T0/trotinette. Com um T0/trotinette por 600 euros mensais, não tem limites! O mundo é seu! Viva como um rei num T0/trotinette*!

*não precisa de garagem. Pode arrumar na banheira.
Ahahaha! Arrumar na banheira, o que eu me ri! É pequeno mas quando eu era estudante quem me dera ter tido assim um espaço só para mim. Dava e sobrava. Mas sempre o preço é demasiado por tão pouco espaço, que horror, aqui por 350 euros arranjam-se T3...talvez já não muito novos, mas arranjam... e a cama é um atentado! Há tiny houses, como lhes chamam os americanos, minúsculas e completas, funcionais, a que acho imenso sentido embora sempre as veja sempre como uma coisa complicada para quem acumule muita tralha. Gosto de ver as soluções que arranjam para rentabilizar o espaço, obter energia, etc. Os lisboetas não têm nada de japoneses: um lisboeta típico teria um ataque de ansiedade a viver numa casa pequena: quatro paredes caiadas e um cheirinho a alecrim, é só bonito na canção da Amália!