Copo menstrual reutilizável é o futuro? Leia e decida



O "Ruby Cup" é uma das marcas existentes no mercado norte-americano


Há talvez dez anos que o PAN anda a tentar cativar o voto dos portugueses. Numa fase inicial eram apenas um partido exótico na fauna dos partidos políticos. A verdade é que muitos continuam a pensar que "a vida do humano mais asqueroso vale mais do que a vida do animal doméstico de que mais gostamos. Sempre." É uma frasesinha radical do comentador Daniel Oliveira. No radicalismo nada se ganha e tudo se perde. Os defensores mais radicais dos direitos dos animais são acusados com frequência de relativizar os direitos humanos ao negar que estes sejam um predicado exclusivamente humano. Os homens teriam direitos inalienáveis e inatos, os animais, não. Nunca. É uma guerra animalesca, esta, entre os que defendem que os animais podem ter direitos e os que o negam a pés juntos. Para estes, apenas os homens têm direitos e deveres, e se um animal não pode ter direitos - e deveres é que não tem sentido algum - ele não passa de uma coisa. O homem é que teria o dever de agir de forma recta em relação aos animais e o direito de não os maltratar. A mim sempre me incomodou que a lei entendesse o animal como uma res, como aprendi na faculdade, significando bem, propriedade, coisa, enfim, um mero objecto, mas também estou com quem reclama que um animal não é uma pessoa e que não o entender como um animal lhe poderá causar mais mal do que bem. Mas há dúvidas? Uma pessoa é que é, ainda, e também, e sempre, um animal. E por vezes até uma grande besta.

Não faltou, por acaso, quem chamasse besta ao Miguel Sousa Tavares por essas redes sociais fora quando ele disse que o PAN é só "o partido dos cãezinhos e dos gatinhos em marquises" e que os eleitores que escolheram votar no PAN são "pessoas urbano-depressivas que comem alface e verduras" pois "os animaizinhos não são para comer". Todos temos as nossas frasesinhas de fraqueza e o Miguel Sousa Tavares tem até várias: uma vez afirmou peremptoriamente que o fumo nos restaurantes incomoda muito menos que o barulho das crianças que os pais levam de forma insensata para os restaurantes, manifestando com este comportamento trôpego uma total falta de civismo. O debate então era sobre a lei anti-tabágica. Não era o fumo que estaria a mais em restaurantes, sendo prejudicial à saúde e bem-estar das crianças - e adultos-, estas é que estariam a mais nos restaurantes. Ora, segundo o comentador da TVI - creio que já então ele tinha banca montada na TVI - os adultos deviam ter o direito de fumar à vontadinha até ficarem cozidos ou defumados em tabaco, como ele, aliás, aparenta estar. Cozidinho e repassado em tabaco. E álcool também, diz-se, até, à boca cheia. Mas isso eu não sei: ignoro completamente se ele é mais amigo dos copos do que das crianças.

Em 2015, o PAN, Partido Pessoas-Animais-Natureza, elegeu o primeiro deputado para a Assembleia da República: André Silva. Depois disso nunca mais se voltou a falar tanto do PAN como ao longo desta semana, depois do partido exótico ter sido a surpresa da noite eleitoral: com168.501 votos, o PAN elegeu pela primeira vez um eurodeputado e um mundo de desprevenidos ficou incomodado como a fumaça e ainda não parou de tossir a sua perplexidade.

Ora, em 2015, havia no seu manifesto eleitoral medidas de protecção e bem-estar animal, como, por exemplo, limitar o recurso à experimentação animal com vista à sua abolição, ou abolir espectáculos e exibições de animais, ou ainda criminalizar a zoofilia. Outras diziam respeito a políticas ambientais, sociais, outras à agricultura, alimentação e saúde e, neste grupo, uma delas era a distribuição gratuita de copos menstruais em consultas de planeamento familiar nos centros de saúde. Uma vitória que o PAN obteve por essa altura foi a descida do IVA aplicável aos copos menstruais que estavam a ser taxados 23% de IVA e passaram à taxa mínima de IVA: 6%. Coisa pouca e parva, pequenina, porque o PAN só versa sobre assuntos mindinhos, eis o veredicto dos intoxicados com estes resultados do PAN. Só que talvez não seja isso.

Este "novo" produto da higiene feminina, o copo menstrual, vinha dar um novo sentido à expressão "estar com os copos". Brincava eu, com uma minha amiga, que cedo o adoptou: " Estás com o copo? Eu prefiro estar com os copos." Ela tentava explicar mas eu não ligava. O copo menstrual era uma cena estranha: meter o copo para dentro de mim, esperar que enchesse, despejar, lavar som sabão e voltar a meter, enfim, uma pessoa que toda a vida usou absorventes internos e externos não tem como não questionar a sua eficácia e tudo o mais: é razoável. Como tudo o que se desconhece, primeiro estranhei a ideia, depois, entranhei, desculpem se estou a parafrasear uma cena mais gasta que as solas das botas do Charlot. O copo menstrual, também chamado colector, tornou-se-me menos estranho assim que descobri que é uma ideia longamente amadurecida e testada, não um exotismo ecológico do PAN, incluído no seu manifesto como quem mete gordura para encher chouriços, como  muitos dos que estão a ler devem até estar a pensar. Tratava-se afinal de uma invenção do séc. XIX, de autor anónimo. As ilustrações da época que representam o invento mostram um saco pendurado por um fio preso a um cinto numa cintura de mulher. Digamos que não eram muito apelativas. Sinceramente aquilo parecia mais um moedeiro medieval do que um objecto de higiene íntima feminina! Não há certeza de ter sido alguma vez fabricado ou sequer utilizado.

No séc. XX Leona W. Chalmers, uma actriz e cantora, inventou um copinho de borracha vulcanizada mas sem obter grande adesão das mulheres ao dispositivo revolucionário. O assunto era tabu e as mulheres, na maioria, também não se sentiam confortáveis a remexer na intimidade dos seus próprios corpos mais do que o estritamente ditado pelos usos e regras da época. A chegada da IIGG fez parar a produção mas ela não desistiu passando o negócio para as mãos de outro empreendedor. Chega então o copinho Tassette, muito parecido com o actual, e a adesão feminina é maior mas a fábrica fecha nos anos 70. Nos anos 80 surge o The Keeper, marca que ainda hoje subsiste, e, no séc. XXI, a magia do silicone revoluciona a produção dos colectores menstruais ao mesmo tempo que a mudança de mentalidades e a facilidade de comunicação permite a divulgação e adesão crescentes ao produto que se insere também na preocupação ecológica com a produção e escoamento de resíduos.

Por vezes um pequeno partido pode ser tão necessário como um grande partido. O impacto que a nossa acção tem sobre o ambiente ainda não é uma causa maior para muitas pessoas, tal como a causa animal também o não é para outras tantas. Grandes problemas nem sempre são combatidos por grandes medidas que podem exigir imenso tempo e recursos. Por vezes uma pequena mudança na nossa rotina pode ter um impacto enorme porque se junta a outras inúmeras pequenas mudanças. É o caso da utilização destes copos ou colectores menstruais. Mulheres do mundo inteiro gastam imenso dinheiro e utilizam absorventes internos e externos durante uma parte significativa da sua vida, absorventes que depois se acumulam periodicamente em lixeiras pelo mundo inteiro: vale a pena pensar nisso! Adianto também que podem existir dificuldades na iniciação e adaptação ao colector. Leiam os links que deixo abaixo nas habituais sugestões de leitura.

A informação seguinte foi integralmente retirada do site Me Luna: foi uma escolha aleatória já que ela é similar à encontrada na maioria dos sites que divulgam ou vendem este produto.

- O copo menstrual é uma alternativa simples, prática, higiénica e económica aos absorventes.
- Trata-se de uma taça feita em TPE (Elastómero Termoplástico), o mesmo material utilizados nas tetinas dos biberões dos bebés, em cateteres e implantes médicos, e que colecta o sangue menstrual.
- Tem um prazo de validade muito alargado, o que o torna reutilizável.
- O copo menstrual é inserido no canal vaginal, tal como um absorvente interno (tampão).
- Uma vez dentro do corpo, retoma a sua forma original ajustando-se perfeitamente ao canal vaginal formando um vácuo que impede qualquer vazamento.
- Para o remover, basta puxar a pega devagar ou apertar a base para quebrar o vácuo. Assim, o copo é retirado com toda a facilidade podendo ser esvaziado na sanita, lavado e novamente inserido.
- Um copo menstrual pode ser usado por até 12h, evitando o incómodo de mudar de absorventes várias vezes ao dia.
- Os primeiros copos menstruais surgiram na década de 30 e hoje são produzidos em diversas partes do mundo como o Canadá, Finlândia, República Checa, África do Sul, Estados Unidos, China, Alemanha, França, Índia e Inglaterra, com autorização e aprovação das agências de segurança alimentar e médica.

Segurança e ética: Não possui aditivos químicos (lixívia), ao contrário do que acontece com os absorventes e que podem causar alergias e irritação. Como o sangue se mantém em vácuo, não oxida, e não se verifica a proliferação de bactérias e fungos, evitando a síndrome do choque tóxico e outras infecções, directamente associados ao uso dos absorventes tradicionais. Rigorosamente testado, mas não em animais.

Conforto: Os copos menstruais foram desenvolvidos por ginecologistas para se adaptarem perfeitamente à anatomia feminina, vedando completamente o canal vaginal, evitando dessa forma fugas de sangue. Fabricado de um material altamente maleável e confortável, possibilita o seu uso na prática de todo o exercício físico, na praia e durante a noite. Por não ser absorvente, mantém a humidade e a protecção natural da vagina e não alterando o seu PH natural.

Diminuição de resíduos: Segundo especialistas o tempo máximo de uso de absorventes não deve ser superior a 4h, na medida em que, partir daí, o ambiente vaginal torna-se propício à proliferação de fungos e bactérias, provocando desta forma, as infecções. Assim sendo, serão consumidos cerca de 30 absorventes por mês, 360 por ano e 3600 em dez anos dependendo da intensidade do fluxo.

Em todo o planeta, são utilizados 13.699 absorventes POR SEGUNDO, nas zonas urbanas. Estamos a referir-nos a 432.000.000.000.000 (432 biliões) de absorventes depositados em lixeiras e aterros...

Economia: O preço de um pacote de absorventes pode não parecer significativo, mas vários anos de uso frequente gera um gasto imenso. Estima-se que mensalmente cada mulher gaste em absorventes (pensos e tampões) cerca de 7,50 €uros. Assim sendo, o uso de um único copo menstrual fica pago em três ou quatro meses de utilização, e dura anos, se devidamente manuseado! 

O copo menstrual foi desenvolvido por ginecologistas para se adaptar à anatomia feminina: ao vedar o canal vaginal, faz com que se possa dizer adeus aos cheiros. Não se sente, logo é usável em todas as ocasiões. 

Preço online: 24 euros.

Sugestão de leitura


Comentários

Konigvs disse…
Sobre o PAN lembro sempre uma frase do Ricardo Pereira quando ouvia o Governo Sombra da TSF (na altura em que o Vaz Marques afirmava a pés juntos que aquilo nunca sairia da rádio):

"O PAN olha para um sem abrigo na rua com um cão, e acha que o que está errado nesta cena é o cão".

Eu estou muito à vontade para criticar porque se calhar sou mais radical que o próprio PAN. E o que eu acho é que a Natureza não evoluiu para criar "animais de companhia" (como agora se diz) para o ser humano não se sentir sozinho. E se calhar ninguém deveria ter animais, mas alegemo-nos pois agora já só se podem ter quatro por apartamento e os gatos vão passar a ter chip! No futuro, não muito distante, o Sousa Tavares ficará contente, pois também as crianças serão obrigadas a ter chip e GPS! No futuro de imediato a polícia saberia onde está a Maddie e o Rui Pedro!

Sobre a higiene feminina, é lógico que os pensos não são sustentáveis, tal como é tremendamente estúpido gastar água sempre que vamos ao quarto-de-banho fazer a necessidadezinha! Tanta tecnologia e um gato é mais ecológico que um ser humano!
Beatriz Sousa disse…
Há coisa que o PAN defende que são exageradas, a meu ver, mas há outras que até entendo e concordo.
Em relação ao copo eu acho que a ideia é incrível, pois de facto os tampões e os pensos usados ao longo da nossa vida fazem demasiado lixo. Quero muito comprar, um dia quando não for tão medricas, porque acho que é uma boa aposta.
Muitas pessoas em vez de examinar as propostas do PAN com isenção começam logo por não as levar a sério, muitas vezes até desconhecendo a matéria. Se a ideia viesse do partido dominante era vanguardista e excelente. Basta ver o que gastamos para o copo ser uma ideia genial, assim as pessoas se habituem a usar e se sintam confortáveis. O impacto disto na vida de uma pessoa com baixos rendimentos não é de menosprezar. Mas em vez de divulgarem a possibilidade, as pessoas só gozam com ela. Eu decidi divulgar a pensar nisso até mais do que no impacto ecológico. Se as mulheres puderem gastar menos em pensos e tampões e aplicarem o que poupam em boa comida acho óptimo. Mas para o fazerem é preciso informação e foi o que o PAN quis fazer, mas até li que o partido queria obrigar as mulheres a usar o copo, e coisas assim , só exageros que pessoas divulgam sem pensar duas vezes...