O Tesla Model 3 está quase a rodar em Portugal





Na passada semana, em Leiria, vi um carro Tesla a carregar. Como foi o primeiro que vi ao vivo e a cores não me coibi de o fotografar e de espiolhar todinho com o meu olhar curioso. Foi por mero acaso que dei com ele, na realidade o que começou por chamar a minha atenção foi o homem que estava a ligar os cabos, um amigo meu. Fiquei curiosa. Aproximei-me para lhe perguntar se agora ele tinha um carro eléctrico e que tal se estava a dar com isso. Nessa aproximação apercebi-me de que me tinha confundido, afinal não era o meu amigo, e que o carro eléctrico era um modelo X, da marca Tesla. Já não consegui desviar os olhos, mas, estranhamente, eu era a única interessada no veículo, os passantes pareciam não ver ou ignorar a máquina que ali estava e seguiam o seu caminho, como se isso fosse comum.

Não é comum encontrar um Tesla na via pública. É esse o sonho de Elon Musk, um planeta a ser percorrido por carros eléctricos e silenciosos, duplamente não poluentes, em especial, da sua construtora, a Tesla Motors. Infelizmente o sonho ainda está longe de ser alcançado quer para ele, quer para quantos o preço elevado torna os veículos Tesla um sonho inatingível. Notem que nem sequer gosto de conduzir, mas um Tesla não é um carro qualquer e não escondo o meu entusiasmo por ter topado com um.

O Tesla representa pura inovação no sector automóvel. O primeiro, o Tesla Roadster, e já passaram quinze anos,  provou que o sonho era passível de ser tornado realidade e promoveu o interesse pelos carros eléctricos, quer junto dos condutores quer junto das outras marcas, que passaram a apostar mais no desenvolvimento desta tecnologia. A grande luta de Elon Musk tem sido o aumento da produção de veículos por ano, a empresa não é capaz de produzir em larga escala, a um preço acessível. A lista de espera é longa. Agora acaba de ser anunciado que os primeiros clientes portugueses estão prestes a receber o Tesla Model 3 , o que acontecerá em Fevereiro, mas já há notícias de deslumbre por toda a internet desde há meses, a maioria apenas lamenta que o preço não seja assim tão democrático quanto se esperava.


O Tesla apresenta ideias de design, economia, ecologia e tecnologia inteligente de sobra para convencer os mais cépticos. É um carro a energia eléctrica, totalmente silencioso e controlado por software, sempre ligado à Internet (como um smartphone), permitindo actualizações do sistema, ou seja, a manutenção é feita à distância. Agora que não há motor, não é preciso mudar o óleo, filtros,velas, correias de distribuição, embora continue a ser necessária a atenção aos pneus, limpa-vidros, direcção, etc. Não imagino quanto possa durar a bateria de lítio e como se faz para a substituir. Tem uma autonomia de cerca de 500 km. O carro é accionado por um aplicativo de telemóvel ou um cartão/chave; o painel é depojado, não há botões nem confusões, apenas um grande ecrã táctil, uma central que tudo comanda: as luzes, a direcção, o GPS, o aquecimento dos bancos e volante, o a música do Spotify, a condução em modo auto-pilot, etc. O modo de condução automática não significa, todavia, que o condutor não tenha de vigiar a condução uma vez que a condução 100% autónoma ainda não é viável.

O Tesla é um prodígio o que não impede que possamos questionar o que fazer a todas as baterias de lítio, semelhantes às dos nossos computadores, finda a sua vida útil, ou se tudo é verde e limpo no processo de fabrico. Ainda assim, o carro é uma conquista tecnológica e espera-se que continue a evoluir. Os carregamentos eléctricos deste tipo de veículos ainda me deixam de pé atrás: reparem que os disponíveis na imagem não estavam todos a funcionar. Não estão isentos do vandalismo que dantes destruía cabines telefónicas públicas, ou da fraca manutenção,  e fazer quilómetros até um destes postos por necessidade imperiosa e descobrir contratempos deve ser uma enorme decepção e transtorno para qualquer condutor. 

Sempre fui seguindo o que acontecia no universo Tesla/Musk. Recordo ler sobre uma pequena guerra travada por Elon Musk para vender os carros directamente, sem intermediação tradicional de um concessionário. A marca Tesla queria vender em lojas suas e através da internet, fazer um tipo de negócio diferente, que permitiria vender por preço inferior. Só que sem concessionário a venda é ilegal em alguns estados americanos. Em Portugal há lojas em Lisboa e no Porto,  a alternativa é ir à internet, se quiser comprar o seu Tesla. Os compradores encomendam os veículos, após a entrega de um sinal, um depósito. E depois começa a longa espera.

Outro episódio que me ocorre foi um acidente que envolveu um destes modelos Tesla X, igual ao que vi. Gerou alguma polémica pois ditou a morte do condutor quando a viatura seguia em  piloto automático.  A história é, em simultâneo, dramática e irónica, já que o condutor filmara, um mês antes, uma situação em que o carro auto-pilotado o teria poupado de uma colisão. Feitas as devidas averiguações a conclusão foi que teria havido culpa do condutor e não falha do sistema automático, que opera a partir de um conjunto de sensores, câmaras e radares instalados na carroceria.

Há mais curiosidades que fui amealhando na memória, por exemplo, não existem anúncios de televisão ao Tesla, nada, zero publicidade. No site da marca existe um Presskit com toda a informação e há presença da marca em todas as redes sociais relevantes.

Em Dezembro, li duas histórias peculiares. Uma era sobre um Tesla que se tinha incendiado na estrada e que se descobriu que pegara fogo porque um tiro fora disparado sobre a bateria; outra sobre o mau feitio de Elon Musk. Longe de ser um CEO exemplar, Musk seria um patrão abusivo e uma pessoa extremamente rude, que intimida os seus trabalhadores ao ponto deles não quererem falar seja por acordos de silêncio seja por temerem processos, despedimentos, retaliações. A sua Gigafactory, em vez de  modelo de gestão e de aplicação tecnológica aparece descrita como uma encruzilhada de problemas. Fiquei decepcionada porque imaginava um Elon Musk  genial e perfeito, uma espécie de génio tecnológico à maneira do Tony Stark, o playboy, magnata e engenhoso cientista que é ferido no peito e que acaba por se tornar o Homem de Ferro. Diz-se que o actor Robert Downey Jr se inspirou no empresário para interpretar Tony Stark, no filme e, no segundo filme, Elon Musk até aparece numa cena. De igual mode, imaginava a Tesla como uma espécie de Stark Industries.  Elon Musk estava aí para fazer avançar a tecnologia e usá-la para proteger o nosso ameaçado mundo. Ele é também director executivo da SpaceX, uma empresa de transporte espacial, e Fundador da Boring Company, conhecida pela construção de infraestruturas, além de cofundador da Open AI, uma instituição que investiga e desenvolve sistemas baseados em inteligência artificial. Não duvido que Elon Musk queira contribuir para o bem da Humanidade. Mas tal como Tony Stark também não é perfeito no mundo dos quadradinhos, este artigo da Wired (link abaixo) vem revelar Elon Musk como um homem imperfeito, dado a criancices e actos impuslsivos, bizarrices até, a par da imensa capacidade trabalho, criatividade e espírito visionário.

O plano de construir um automóvel eléctrico que liberte a humanidade de uma vez por todas do consumo de derivados do petróleo não é um exclusivo da Tesla. Mas para Elon Musk isso desde cedo se tornou uma obsessão, uma ideia fixa que parece ter nascido com ele. Na Wired li que os contratempos na produção do Modelo S foram mais que muitos, sem dúvida capazes de dar cabo da cabeça ao mais frio e racional homem de todos os tempos. O desnorte foi total: nada corria conforme os planos de Elon Musk. Perante o avolumar das contrariedades Elon Musk não dava grandes hipóteses aos seus trabalhadores: se não o satisfaziam, iam para o olho da rua. Quase 700 trabalhadores foram despedidos por não estarem à altura do desejado, por vezes parecendo que por simples implicação ou impulso do momento.

A Gigafactory era considerada pelo próprio Musk como um inferno, incapaz de produzir o desejado número de baterias. Musk, em vez de procurar razões e motivar para a resolução de problemas, arrasava o pessoal criticando-os sem dó nem piedade: que não eram espertos o suficiente, que iam ser a ruína da empresa. Tão exigente com eles como consigo, exigia que fossem mais espertos e que dessem o máximo possível à empresa. No mesmo discurso era capaz de colocar as pessoas da corôa da Lua ou destruí-las: ia de um extremo ao outro em menos de segundos, ao jeito da espantosa capacidade de aceleração do seu Tesla. Vimos há pouco o êxito da Space X e rejubilamos com a sua conquista, a recuperação de foguetões para reutilização, que parecia impossível. Também essa vitória terá sido, talvez, conseguida mercê de processos semelhantes, de enorme exigência e pouco tacto, alguma injustiça até, não nos iludamos: de génio e de louco, Elon tem bastante mais que pouco!




Não deixa de ser um homem admirável, vale a pena conhecer o seu percurso, - Elon Musk, O Génio Que Está a Inventar o Nosso Futuro (4ª Edição), de Ashlee Vance, pode ser adquirido online, na Wook - sem dúvida baseado no esforço pessoal e na sua entrega a objectivos muitas vezes quase impossíveis.

Não tendo nascido em berço de ouro, aos trinta anos já tinha enriquecido consideravelmente. Chamem-lhe dedicação, talento, intuição, inteligência ou sorte, ou uma soma de tudo isso em proporções diversas: Elon Musk é um caso de sucesso cativante. Estranho seria se em Musk não existisse uma faceta de excentricidade, de hábitos singulares ou comportamentos no mínimo estranhos, já que é assim, que, vulgarmente ocorre em pessoas geniais, por exemplo, Howard Hughes, Tesla, Edison, Benjamin Franklin, todos tinham hábitos incomuns.

Elon Musk é um árduo trabalhador, um CEO daqueles que não fica apenas sentado à secretária ou que se limita a dar ordens aos outros. Em tempo de crise, como aquele por que passou para ser bem sucedido com o seu Model 3, dormia na fábrica todos os dias ou prescindia de fins de semana. É também um visionário, sem medo de pensar absurdos que o têm conduzido à inovação, e quase sempre à custa de conflitos, falhanços retumbantes, perdas de dinheiro colossais e muito esforço de todos os envolvidos a quem não se permite que entreguem menos que o máximo de si. Nele convivem o génio tecnológico e o louco,  o homem comum, que se confessa emocionalmente arrasado e deprimido pelo divórcio com a celebridade com tiques holywoodescos, o adulto racional e a criança irrefletida que fabrica um lança-chamas, perigoso, errado, como ele reconhece, porque o viu num filme de animação. No Twitter, onde ganhou uma multidão de seguidores, é capaz de fazer rir e insultar com a mesma leveza. Lembremos a sua oferta de construção de um submarino para o resgate dos rapazes presos na gruta tailandesa e o tweet a acusar um britânico de ser pedófilo! Depois apagou os tweets...Antes o indivíduo tinha apelidado a proposta de show de relações públicas e dito que ele metesse o submarino onde lhe doesse. Parece que, de facto, Musk não sabia o que implicava o resgate, sendo a sua boa intenção apenas uma ideia pouco prática e ridícula. Nem um génio como Musk pode ter a pretensão de dominar todo o conhecimento. A polémica subsequente poderá, no entanto, não ter sido lição suficiente! No mundo real, ninguém é perfeitamente genial e nenhum carro é perfeito. Mas Elon Musk não vai parar enquanto não produzir um carro bem pertinho da perfeição. Eléctrico, claro.

https://twitter.com/elonmusk


Sugestões de leitura:

A história da Tesla e como esta está revolucionando o planeta

Dr. Elon and Mr. Musk: Life inside Tesla's production hell

TedTalk com Elon Musk

Joe Rogan Experience: Elon Musk

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