Aumenta em 2019 o preço dos bilhetes do Castelo de S. Jorge

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A EGEAC, empresa municipal, desenvolve há mais de 20 anos, a gestão de actividades e espaços culturais em  Lisboa, como os teatros São Luiz, museus, galerias de arte e monumentos como o Padrão dos Descobrimentos ou o  Castelo de São Jorge.  Se nunca foram até ao topo da colina desfrutar da bela vista sobre Lisboa, passear entre muralhas e aprender um pouco sobre o passado da cidade, podem consultar estas Informações Gerais. O que primeiro nos importa saber quando queremos visitar um monumento ou museu, é como chegar lá, horário de abertura ao público e depois que preços vamos pagar.  São informações convenientes para que não sermos apanhados de surpresa, como eu fui.

Visitei o Castelo de São Jorge em Setembro do ano passado. Estava em Lisboa por questões profissionais e sobrou-me tempo. Quando assim acontece aproveito sempre para visitar uma exposição ou um monumento. Muni-me de coragem para enfrentar a subida num dia de calor intenso e  lá fui, desde o Terreiro do Paço, seguindo a orientação da Sé Catedral, levada pelo instinto, devagar, um pouco ao acaso, por ruelas, cotovelos e escadinhas, desde a baixa da cidade até ao topo, sempre rodeada por muitos turistas. Só depois tomei conhecimento que podemos aligeirar o percurso a partir da zona da Baixa/Chiado se utilizarmos dois elevadores para alcançar a Alta. O primeiro fica na Rua dos Fanqueiros, n º 176, e leva ao Largo Adelino da Costa onde, um pouco à esquerda, fica o supermercado Pingo Doce. Aí ficaria o segundo elevador, cuja saída nos deixa próximo da entrada do Castelo. Subi a força de músculo e fui assistindo a algumas quedas motivadas pelo piso ora irregular ora polido. Algumas pessoas de idade, outras com algum peso a mais, talvez fumadoras, sofriam debaixo de sol e bebiam das garrafitas a cada meia dúzia de passos. Não ia nem vestida nem calçada de forma muito confortável e mesmo antes de iniciar a subida fui forçada a fazer um desvio para entrar numa sapataria ao acaso e mudar para umas sandálias frescas e confortáveis. Esta despesa não prevista deixou-me algo aborrecida pois sabia que em casa não faltava calçado confortável e não gosto de acumular desnecessidades, e, sobretudo de gastar dinheiro não previsto. Todavia a sola anti-derrapante foi uma benção inesperada.

Ao chegar à entrada do Castelo de S. Jorge o corropio de gentes era extraordinário. Há alguns anos atrás isto não seria assim a um dia de semana, talvez só no pico do Verão e ao fim-de-semana. Foi o que imaginei. Observando constatei que a maioria dos indivíduos era estrangeira. Muitos aproveitavam para ouvir um jovem que cantava em inglês, dedidalhando um teclado de forma convicta e profissional, debaixo de uma árvore. Sentados nos marcos de pedra, aproveitando a sombra, alguns até cantavam, embalando o corpo na melodia. Sentei-me também que a subida tinha sido demorada, comendo  do copo a fruta morna e em pedaços que comprara uns metros abaixo a um vendedor ambulante. Ao meu lado uma jovem mãe norueguesa, também sentada numa pedra, e junto dela uma criança louríssima num carro de bebé, que logo estendeu os bracitos de desejo para a minha melancia.

Após o descanso procurei as bilheteiras e pedi uma entrada. Inocentemente estendi 5 euros. A senhora disse-me que o custo da entrada era de 8.50 euros. Se há coisa que acho bem empregue é dinheiro para a cultura em todas as suas formas. Não defendo o acesso grátis à cultura, nunca defendi. O que é grátis tende a ser desvalorizado e cultura precisa de manutenção, de promoção, de ser pensada, re-pensada e tornada acessível, muitas vezes de forma inovadora. Mas achei excessivo. O que haveria lá dentro para justificar tal quantia? Não sendo criança - que entram de borla até aos 12 anos mas só se apresentarem um comprovativo, - nem tendo entre 13 e 25 anos - grupo que pagaria 4 euros -,  não estando ainda no escalão sénior dos maiores de 65, em que pagaria 7 euros, e não residindo no Concelho de Lisboa, o que confere acesso grátis, não tinha outro remédio senão pagar por inteiro. Não residindo lá, poderia voltar num domingo ou feriado, caso em que se entrasse entre as 9h00 e as 14h00 poderia, igualmente, usufruir do privilégio da borla. Ao esticar a mão brinquei para aligeirar o meu incômodo questionando-a: " E ser natural de Lisboa não dá direito a desconto?" Mas a rapariga não era dada a humores e limitou-se a dizer que ao Domingo, blá, blá, blá, era mais barato, blá,blá...Esta alfacinha inconformada lá trocou a nota por um magro papelito. Julgo que na saída saquei um mapa do monumento do expositor para me orientar no recinto. Notem que os residentes no concelho de Lisboa não pagam entrada no Castelo de São Jorge apenas se apresentarem o cartão do cidadão e souberem o PIN. Entra mais depressa um camelo pelo buraco da agulha: onde é que andará o PIN, o que é o PIN, perguntarão ao ler esta linha, alguns.

Posso estar  a exagerar mas creio que as bilheteiras dão ocupação a uma meia dúzia de pessoas ou mais. O Metro de Lisboa não tem um serviço igual, que eu saiba, uma ou duas pessoas engaioladas em guichets em algumas das estações e máquinas. Por falar nisso, será que máquinas para vender os bilhetes  tornariam o preço dos bilhetes mais acessível? Ah, e estas pessoas iram fazer o quê, Belinha? Assim pelo menos têm trabalho. À entrada para o Castelo creio que havia um torniquete que se desbloqueava com a leitura do código do bilhete. Ali junto estava um segurança a olhar para mim com ar examinador como se eu fosse uma carteirista em potência. Mais um salário, pensei eu. Esta gente tem de pagar contas e tu estás a contribuir para isso, Belinha. Mas estaria? Para onde vai o dinheiro cobrado nas bilheteiras do Castelo?

Hoje não se pode criticar o turismo, como se fosse ele a tábua de salvação por excelência do PIB. Evidente é que o PIB cresce com o turismo. Mas a que custo? Na descida do Castelo, após a visita, uma logista de artes comentou comigo que todos os moradores daquela rua tinham saído ou sido convidados a sair. Ela resistia mas que quando escurecia até já sentia medo por estar ali só. Mercearias e vendas de hortaliça tinham fechado. Cafés, tinham fechado. As suas casas tinham sido remodeladas ou estavam a sê-lo. A rua estava deserta de moradores permanentes. Só se ouvia falar "estrangeiro". Uma última família estava a pensar sair dali pois já não suportava a constante subida de carrinhas com turistas ruidosos e tuk-tuks. Ora, defendendo eu que a melhor forma de gastar dinheiro que existe é viajar e conhecer outras paragens, poderia parecer uma contradição escrever contra o "corropio de gentes". Infelizmente é como lêem. Não é só a descaracterização dos lugares onde tudo está a ser transformado para servir o turista: é a chegada ao fim de todo um modo de viver a cidade pelos seus cidadãos naturais, expulsos para a periferia. E também pensar os nossos monumentos como uma oferta para os estrangeiros, não para os nacionais. Ou estarei a ver mal as coisas?

Longe de mim considerar que é mau que muitos possam correr o mundo porque os bilhetes de avião se tornaram mais baratos. Afinal, de que me queixo eu neste laudo pouco técnico? Do preço do bilhete de entrada para o Castelo de S. Jorge!  Mas a paisagem humana e arquitectónica está a mudar vertiginosamente em cidades um pouco por todo o mundo. Por cá  o fenómeno é sobretudo notório em Lisboa e Porto. Mas já era nosso conhecido, até meu conhecido em primeira mão, por ter vivido grande parte da minha vida numa praia onde todos os residentes temiam a chegada do Verão: que se acabava o espaço para estacionar, que os preços do mercado disparavam, que os restaurantes serviam melhor os de fora, que os senhorios queriam que saissem no verão para arrendar aos banhistas, etc. O exemplo mais visível de descaracterização continua a ser o Algarve. Mas essa mudança ocorreu em décadas. Agora, em meia dúzia de anos, as deslocações low-cost geraram uma vaga de mudança à prova de crítica por todos quantos ali encontram a sua galinha dos ovos de ouro. Mas não deverá ser impossível encontrar um equilíbrio entre o que se pode ganhar e o que se pode perder, assim haja diálogo esclarecedor e, se falhar, punho firme de quem pode regular o crescimento desenfreado deste turismo voraz. Aliás, é hoje notícia a decisão da Câmara Municipal de Lisboa de suspender a autorização de novos registos de estabelecimentos de alojamento local em algumas zonas da cidade.

Mas voltemos à vaca fria: o preço dos bilhetes para entrar no Castelo de São Jorge. A Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural de Lisboa (EGEAC) , que foi criada em 1995 com o nome de EBAHL – Equipamentos dos Bairros Históricos de Lisboa, acaba de informar que vai subir o preço das entradas de 8,50 para 10,00 euros. Eis excerto do comunicado: “Tendo efetuado uma análise comparativa (em Portugal e no estrangeiro) aos valores de ingressos em monumentos de importância similar e concluído que os valores praticados pela EGEAC são inferiores à média, em 2019 pretendemos também ajustar os preços dos bilhetes de entrada no Castelo de São Jorge (de 8,5 euros para 10 euros) " (...) “a partir de janeiro de 2019”.

É um verdadeiro  "Sobe, sobe, preço sobe", a Manuela Bravo bem podia fazer daqui uma nova canção. Desde o início da sua actuação  que a agora EGEAC assumiu a gestão da área museológica e o bairro do Castelo. Até 2004 o acesso ao castelo era gratuito. Talvez em 2002, passou a 3 euros. Passados 2 anos o preço foi elevado para 5 euros.  Em Junho de 2010 os preços aumentaram de 5 para 7 euros, ao que parece de forma inesperada, o que terá desagradado aos habitantes da área. No site da empresa  lê-se:"Apostados no rigor e na qualidade da nossa acção, continuamos a crescer em número de públicos, visitantes e de realizações culturais, determinados na democratização do acesso aos bens culturais." No comunicado à agência Lusa referem que "A EGEAC ressalva que “as tabelas de descontos introduzidas em 2018 prevêem diversos mecanismos que acautelam a possibilidade de plena fruição desses monumentos por parte dos residentes em Lisboa, os jovens e os seniores”. Parece que também os desempregados já podiam ir ver as vistas de borla, obviamente mediante comprovativo, mas o site do Castelo não informa, no presente momento, quanto a isso. Notem as alterações principais nestes grupos etários a partir de Janeiro de 2019: os jovens a partir dos 13 e até aos  18 anos, que não residam em Lisboa, passam a ter 50% de desconto, isto é, pagam 5 euros, enquanto que dantes pagavam 4 euros até aos 25 anos; os maiores de 65 anos passam a pagar 8,50 euros quando dantes pagavam 7 euros.

Uma voltinha mais e descobri dois packs de bilhetes que podem ser comprados online e que incluem o Castelo de São Jorge. Para simplificar o acesso a alguns espaços culturais a EGEAC agrupou-os em packs temáticos: por 22,50 euros, visita o Castelo de S.Jorge + Museu do Fado + Museu do Aljube + Museu de Lisboa (Teatro Romano, Santo António, Casa dos Bicos); por 16,50 visita o Castelo de S.Jorge + Museu de Lisboa (Teatro Romano). Veja aqui, via Blueticket. Curiosamente não está no Lisboa Card.

Uma vista de olhos pelo site e parece-me que a EGEAC tem, efectivamente, desenvolvido uma acção positiva, tendo efectuado melhoramentos significativos no Castelo e desenvolvido actividades diversas que aproximam a fruição do monumento dos vários públicos mediante contrapartida monetária, ou de forma gratuita, explorando múltiplas possibilidades. Podem ali realizar-se festas de aniversário, concertos musicais, exposições, seminários, reuniões de empresa, mediante contrapartida, mas também existem visitas guiadas para todos, até em várias línguas, incluidas no preço do bilhete, três tipos de visita são possíveis, além de visitas de exploração orientadas por especialistas, geólogos, restauradores e arqueólogos, chamadas Tertúlias de Inverno, que apenas precisam de inscrição. Não estou a ser exaustiva. Do que sei, a Exposição Permanente, o espaço onde me demorei mais tempo e de que gostei bastante, - trata-se de uma colecção constituída por um acervo de objetos encontrados na área arqueológica (Sítio Arqueológico, de acesso condicionado), proporcionando a descoberta das múltiplas culturas e vivências que desde o século VII a.C. ao século XVIII foram contribuindo para a construção da Lisboa da atualidade, com particular destaque para o período islâmico do século XI-XII - foi uma criação de iniciativa da EGEAC.

Ora noutro ponto dos " instrumentos, que foram apreciados pela Câmara de Lisboa e serão agora discutidos em Assembleia Municipal," estima-se que o Castelo de São Jorge receba cerca de dois milhões e 40 mil visitantes este ano, número que deverá crescer para mais 50 mil em 2019. Li vários títulos de notícias, dos últimos anos, em que já era esta a tendência. Em 2016, "(...) o Castelo de São Jorge, nada mais nada menos do que o monumento mais visitado no país. Com perto de cinco mil entradas diárias, 2016 foi o ano em que o Castelo de São Jorge bateu o recorde de visitas. "Está visto que o Castelo de São Jorge é a galinha dos ovos de ouro da EGEAC.

Encontrei uma notícia onde a EGEAC  informou que a maioria dos visitantes é estrangeiro ao mesmo tempo que exalta o record no número de visitas ao Castelo em 2014:"O Castelo de S. Jorge, em Lisboa, recebeu no ano passado 1.025.153 turistas, um aumento de 3,4% em relação a 2013 e o maior número de visitantes de sempre, revela a empresa municipal encarregada da animação cultural (EGEAC)." Anos mais tarde, em 2016, apenas 6% do total de visitantes são portugueses"Continua a ser o monumento mais visitado do país e, no ano passado, teve quase cinco mil visitas por dia (4.912). Em comunicado, a estrutura que gere o espaço sublinha que "a subida é particularmente notória junto do público estrangeiro (+13,8%), mas também se faz sentir junto dos nacionais (+1,5%)".

Bem que a EGEAC faz questão de frizar a sua determinação na "democratização do acesso aos bens culturais", todavia, se vejo a tentativa em teoria, na prática, as coisas talvez não sejam tão democráticas. O que a mim me parece, e desenganem-me pois posso estar a pensar mal, é que o Castelo se tornou um monumento para capitalizar no fluxo de turistas estrangeiros, não para captar a visita dos portugueses. Um casal jovem, não residente, com uma filha adolescente, pode pagar 25 euros para poder entrar; dois reformados, mas mal reformados, 17,00 euros. Têm de se deslocar até Lisboa. Dá que pensar antes de se meterem a caminho.  

E, ainda, quais são os critérios usados pela EGEAC para a avaliação da "importância" que terá determinado a subida de preço: é o Castelo de São Jorge mais importante que o Castelo de Guimarães? Mais belo que o castelo de Santa Maria da Feira ou de Marvão? Será porque recebe mais visitantes que os outros todos juntos? Ou é porque fica na capital e os outros na província? E também gostava de saber de que forma foi feita essa tal "análise comparativa realizada em Portugal e no estrangeiro". Como não tenho tempo nem saber para elaborar instrumentos de análise que englobem diversos monumentos, fui apenas espreitar quanto pagaria para visitar o, quanto a mim, importante Castelo de Guimarães, que visitei há muito tempo:

Entrada Normal 2,00€
Maiores de 65 anos 1,00€
Cartão de Estudante 1,00€
Cartão Jovem 1,00€
Até 12 Anos Gratuito
Bilhete Conjunto:
Paço dos Duques + Castelo de Guimarães 6,00€
Paço dos Duques + Castelo de Guimarães + Museu de Alberto Sampaio 8,00€
Entrada gratuita aos Domingos e feriados até às 14.00h para todos os cidadãos residentes em território nacional. 
Print screen Castelo de Guimarães
...e depois fui ver do belo Alcazar de Segóvia, um castelo espanhol que visitei há menos anos que o de Guimarães.Tão belo por fora, como por dentro, com recheio diverso, não é nem aparentado com um castelo do tipo da fortaleza de Lisboa, mas é um dos que visitei no estrangeiro, na nossa vizinha Espanha. Ora, nem mais: os agentes da cultura acabam de divulgar um pdf com estes números:

General: 5,50 € (Visita libre) +Visita guiada suplemento de 2 €
Reducida: 3,50 € Colegios, grupos concertados, mayores de 65 años, Família numerosa (todos acreditados como tal)
Segovianos: 1 €
Torre: 2,50 €
Gratis: (Solo palacio) Todos los martes (no festivos) de 14.00 a 16.00 h para miembros de la UE  
Print screen site Segovia
Pareceu-me evidente que o Castelo de São Jorge oferece possibilidades diversas que justificam o pagamento de uma entrada: isso é inquestinável. De certa forma ir a Lisboa e nunca ter visitado o Castelo era para mim como ir a Roma e não ter visto o Papa! Na minha opinião, a fortificação do séc. XI é um espaço espectacular onde se justifica quer uma visita descontraida, quer uma visita em busca da História. A sua imponência terá sido esmagadora em tempos passados, os vestígios ainda o são. Não imagino que o entardecer ali seja coisa menos que espectacular: o sol a baixar, o vasto horizonte a encher-se de matizes e as luzes da cidade a iluminarem cada esquina. Bastaria essa conjugação, que convida ao relaxe, à contemplação, ao passeio em conversa, ainda muito subaproveitada, quer no tratamento que podia ser dado ao espaço, quer nos hábitos dos alfacinhas, -  já que, para nós, (para mim?) será cada vez mais difícil considerar o Castelo para um simples encontro de amigos,-  para ir até lá. 

Os mais interessados na História têm muito ali para aprender; os mais afoitos e enérgicos vão encontrar muitas escadas para subir, muralhas para calcorrear e torres preservadas para conquistar, portas lendárias para descobrir. Infelizmente, uma queda de anos incutiu-me pavor de escadas e foi a custo que subi e desci, algumas, para alcançar, por exemplo, a Torre de Menagem onde a bandeira portugesa está hasteada: sempre bem agarrada às parede e corrimão, é, mesmo para os destemidos, aconselhável cuidado, adultos e crianças não podem descurá-lo! E que tal subir a escadaria de São Lourenço e fotografar Lisboa como Stanley Kubrick há tanto tempo também fotografou? Miradouro privilegiado, os fotógrafos podem deliciar-se a fazer fotografia das muralhas do Castelo, têm dali uma vista privilegiada sobre a cidade (Baixa, Costa do Castelo, Alfama, Mouraria, Santana), e sobre o Tejo. Ao longe avista-se a Serra da Arrábida e a silhueta de Palmela. Na Torre de Ulisses, o herói grego que, segundo a mitologia, aportou no porto de Lisboa no regresso triunfal para Ítaca, fica a Câmara Escura, sistema óptico de lentes e espelhos, é, creio, uma espécie de Google View, que permite observar a cidade em tempo real. Foi a primeira localização do arquivo da Torre do Tombo. Isto uma das coisas curiosas que aprendi, e também que Lisboa, antes Olisipo, também foi al-Ushbuna. Não fui espreitar a cidade em tempo real, havia fila enorme a subir pelos degraus da escada que conduzi aà porta da torre, e, por certo, lotação máxima, fiquei com receio de apenas perder tempo. Por uma questão de tempo e falta de previsão também não me juntei a nenhuma visita guiada, que seria muito enriquecedora, compensando, depois, a busca de informação na internet. Identifiquei oliveiras, pinheiros, alfarrobeiras, avistei aves diversas, papagaios, faisões, mas onde me demorei mais foi na Exposição Permanente, observando tudo e lendo a informação disponível, muito interessante. Infelizmente não havia um folheto disponível que me permitisse trazer algum do conhecimento que não consegui reter. Dentro do Castelo existem ainda os vestígios do antigo Paço Real da Alcáçova, um café, um restaurante (Chamado dos Leões)  que fica num espaço onde os reis guardaram leões, quiosques onde me aprecei a comprar um gelado para me refrescar. Só à saída do monumento reparei na estátua de São Jorge! Apesar de muitos visitantes, dada a área, não senti lotação enquanto circulava. 

O Castelo de São Jorge pode ser vivido de muitas maneiras. A EGEAC tem um papel positivo na dinamização desta atração turística. Até consigo entender o pensamento objectivo e frio, do gestor cultural: se o monumento não parece ser  suficientemente interessante para os nacionais, porque razão pensar no poder de compra dos nacionais quando se fixa o preço dos bilhetes? Talvez em vez de ir ver o Castelo as pessoas prefiram antes ficar em casa a ver histórias de castelos e dragões na TV, ou talvez não possam mesmo pagar 10 euros ou mesmo 8,50 euros e tenham de fazer contas à vida para poder antes comprar carne, fruta e pão. A cultura não mata a fome, é coisa de que se prescinde facilmente, um luxo em que se corta sem hesitações de maior. Quem não tem um hábito de consumo de cultura também nunca tem apetite para ela. Quem tem, talvez pague os 10.00 euros, como eu, que prescindo da TV e prefiro ver pedras e dragões de carne e osso, mas afinal para me sentir profundamente roubada, em Portugal, em Lisboa, na cidade onde nasci. 

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