Bourdain. Não há mais histórias para degustar neste menu.

Bourdain. Um dos poucos que me levava a ligar a TV. Não li nada sobre a sua morte. Quando me disseram ao telefone, estranhamente quase como se ele fosse da minha família, eu apenas exclamei: o Bourdain. Mas que caralho. E mudei de assunto. Porque há momentos que não queremos ver estragados e podemos. Mas coisas há que custam a engolir mesmo quando parece que nada têm a ver connosco. E de repente um estranho de chapéu que puxava uma mala de viagem na 1º de Janeiro era mesmo parecido com o Bourdain. E no restaurante, sem que eu tivesse conseguido evitar, acaba-se a falar do chef, que também esteve ali, no Porto. Afinal a palavra serve para homenagear, para fazer a paz com o facto. Não li nada e não vou ler. Vou fingir que nem soube, é o que é. Comecei a escrever aqui e só pensava: que caralho, o Bourdain. Acabou-se a nossa deliciosa viagem pela gastronomia mas também pelos lugares, os comuns e os exóticos, e sobretudo pelas pessoas do perto e do mais longe. Não há mais histórias para degustar neste menu. Bourdain não era da minha família, nem um amigo, nem sequer meu conhecido, mas era um tipo que se me tornou familiar e, mais ainda, soube tornar muitos outros estranhos meus/nossos familiares. Sentava o mundo à mesa nos seus programas, gente célebre e perfeitos anónimos, e de repente até parecía que somos uma raça extraordinária e amiga, unida pelos sabores da comida e pelo gosto do diálogo. Extraordinário era ele. Bourdain celebrou a riqueza da diversidade inteira. Era um verdadeiro embaixador da humanidade que por acaso era chef. Deixa saudades, caralho. Assim ouvi dizer.

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