Hello é a canção do ano?


Acordei agora para o facto de que HELLO foi eleita a canção do ano (passado?) e estou muito confusa porque escrevi isto em 2015, no meu blogue: "Tenho tido o desprazer de ser acordada pela Adele vários dias a fio. O radio despertador está na RFM, - ou na Comercial, é tudo o mesmo - e o turno de serviço deve ser - é - grande fã da cantora londrina. Algures entre as sete menos um quarto e as sete e um quarto da matina a senhora chega em pezinhos de lã com o seu lânguido lamento, "Olá, sou eu. Estava por aqui a pensar se não gostarias de te encontrar comigo para recapitular tudo aquilo por que passámos." Uma péssima ideia, levantar moscas que estão a dormir, Adele. Hello desperta-a-dor que há em todos nós, nuns mais, noutros menos. Hello foi um brilhante despertador, foi sim. Nunca despertei tão depressa! Ouvia aquele Hellooooooooo, pulava da cama e resmungava até ao quarto de banho com o meu umbigo, o cérebro às voltas e os ouvidos tontos de pensar, todos os dias, como é que esta canção desinspirada sobre sentimentos de culpa vendeu 480 K cópias digitais nos Estados Unidos na sua terceira semana de circulação! A canção também já era, por essses dias, um record de vendas somente equiparado ao obtido por Elton John havia 18 anos com Candle in the wind. Era assim que no-la vendiam na radio, todos os dias de manhã. Estas gordas ficam no ouvido. De então para cá amealhou mais records certamente. E agora Grammyou mais um braçado de prémios. Evidentemente que Adele é a senhora de todos os records - se os Grammy fossem anéis ela usaria um em cada dedo! Com Adele é tudo pela medida grande - 30 milhões de cópias vendidas, Grammys, Oscar, Globo de Ouro, prémios de composição e distinções da Billboard, TIME, People e BBC. Adele é indiscutivelmente uma grande voz. Trump ainda a vai convidar para fazer The Star-Spangled Banner novamente grande. Não contesto o que é óbvio. A maior parte das vezes Adele é-me indiferente, não aquece nem arrefece, mas Hello entrou directamente para o primeiro lugar da lista de canções insuportáveis que a radio não nos deixa esquecer. A onda de irritabilidade que acordava em mim mesmo antes do galo cantar só se pode comparar ao choque que a interrupção de água quente me causa a meio do duche. A Adele é uma espécie de Florbela Espanca. Os discos da Adele são "Discos de Mágoas", esta mulher é uma alma torturada. E quem é que não gostaria de o ser quando a tortura foi assim um tal de um mal que veio por bem: a mulher vive numa mansão de 6 milhões de dólares -que pertenceu a Paul McCartney- , um luxo todo ele alicerçado nestas baladas sofredoras sobre corações destroçados e vidas desencontradas que as pessoas adoram, amam, mamam, eu sei lá o que fazem as pessoas com canções como Hello, devem comê-las, bebê-las, aspergi-las, qualquer coisa assim, ouvi-las parece-me o menos indicado: não sei que bem possam fazer à saúde física ou mental de uma pessoa, estas canções do tipo desperta-a-dor. Adoram de tal forma que até fazem de uma canção de 2015 a melhor canção de 2016. Não entendi, mas eu sou péssima com números e o Einstein dizia que o tempo é uma coisa relativa, algures por aí deve estar a explicação do fenómeno.

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