Eu sou Anti Clickbait Portugal. E você?

Não sei bem quem ele é, o MC Somsen, parece ser um bom rapaz, um pouco tímido, até, como na cantiga; mas há tempos descobri que escreve umas coisas bem humoradas. Esta semana danou-se das boas e declarou guerra ao clickbait e agora até já existe uma página para continuar a sua missão no Facebook - https://www.facebook.com/anticlickbaitportugal/

Durante um par de dias assisti ao seu afã em nos poupar ao clicanço inútil, apreciando a forma militante como nos revelava o propósito do aliciamento dos sites visados. Pensei que o MC Somsen ainda fosse acabar vítima do Síndrome do Túnel Carpal porque não faltam exemplos de clickbait a denunciar...! Mas ele sobreviveu.

A malta achou piada, porque é fácil achar piada ao que o MC Somsen posta - ele põe a cabeça no que escreve, tem real sentido de humor, oportunidade e não é nenhum caça-níqueis – e também porque estamos todos fartos de clicar em porcarias, eu já andava tão farta que muitas vezes quando me surgia um título ou imagem que  me cheirava a clickbait até já me recusava a clicar. Por vezes saía vencida e  também lá ia, acabando por ficar depois entre o envergonhado por não ter dominado a vontade e o furioso por me ter deixado conscientemente levar quando os indícios já apontavam para mais um assunto da treta.

Para quem desconhece o termo, clickbait é todo o conteúdo de contorno sensacional ou provocante publicado online com o objectivo principal de atrair atenção e chamar usuários para um determinado web site. O principal problema é que muitos dos sites que usam o clickbait querem apenas captar visualizações, o conteúdo que servem é secundário. Estes conteúdos estão por todo o lado e não apenas no Facebook. Os títulos dos textos publicados e dos videos, ou aquelas imagens peculiarmente chamativas pertencem na sua maioria a sites que esperam gerar dinheiro com cliques em anúncios publicitários ou impressões. São títulos que manipulam habilmente a nossa vontade e de tal forma que por vezes acabamos por clicar e abrir textos que não tínham, à partida, e que não terão, à chegada, qualquer relevância para nós. Algumas vezes os conteúdos até são de boa qualidade, outras são um total vómito. Por vezes a gente até se pode sentir recompensada mesmo se o isco era isso mesmo, um isco. Mas outras vezes o engodo não nos leva até nenhuma truta, aliás nem a uma sardinha transgénica. E aí é que a gente se chateia. Um campeão de visualizações frequentemente referido quando se fala na arte do clickbait é o site Upworthy. Estudem a seguinte lista para aprenderem a identificar a malícia ou a fazer clickbait com êxito, caso pretendam seguir-lhe o exemplo.

Quando se trata de sites ou blogues de mero entretenimento os usuários talvez não se sintam tão ultrajados. Mas a coisa pia mais fino quando são jornais online ou sites de pendor mais informativo que se servem do clickbait para atrair cliques. Sim, cliques e não verdadeiros leitores. Não sei se o fazem para equilibrar as contas e se consideram mesmo que isso vale a pena. Mas o facto desagrada a qualquer leitor que se preze sobretudo se até paga pelo conteúdo que recebe online tal como quando ia comprar o jornal à banca. A par de conteúdos informativos selectos lá aparecem também umas nódoas que mal se confundem com assuntos, atrás de títulos sensacionalistas. É uma mixórdia. Se dantes até estudávamos os títulos dos jornais e o lead como um exemplo muito específico de síntese e de como ele se justificava e ainda conseguia remeter para o texto, agora é tempo de começar a fazer o estudo do clickbait como uma espécie de burla e por isso talvez na disciplina do Direito, não?! Já chega. É tempo de recusarmos todos este tipo de manipulação: eduquemo-nos contra esta prática, portanto, exigindo que haja um nexo claro entre o título e o conteúdo a que acedemos. Ou então navegar neste lodo deixa de ser atraente e começa a ser uma anedota mas uma que nem o nosso riso mais amarelo é capaz de suscitar. Nós já perdemos com isto mas o jornalismo perderá muito mais.

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