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A mostrar mensagens de 2017

Jovens de rua abrigados em lavandaria parisiense

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Esta não é para rir. A beleza de ser humano mostra-se hoje também nos comentários do Facebook e similares. Nunca devemos perder a oportunidade de nos sentirmos irmanados nesta centelha humanitária que nos aporta calor no frio mundo virtual. Assim é que no dia 24 as pessoas gastaram os dedos a teclar palavras cheias de luz: é paz e amor para todos, votos de Boas Festas às pasadas, frases benignas para amigos reais e virtuais, animais de estimação incluidos, desejos de paz na terra e aos homens de boa vontade; partilharam-se postais com os Reis Magos a dizer “vamos fazer deste mundo um lugar melhor todos os dias” e ainda “que o espírito do Natal nos ilumine agora ao longo dos 365 dias do ano”, organizaram-se cabazes e jantares para os mais necessitados, enfim, todos sabemos como é, e a matéria está ainda bem revista e fresca. Eis senão quando no dia 29 aparece uma fotografia no Twitter, uns putos desgraçados, - porque o são ou não estariam dentro de máquinas numa lavandaria, a t

Remédios Literários ou o poder da biblioterapia

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Remédios literários pode ser comprado online na WOOK! Depois da iogurtoterapia, a biblioterapia: prescrição de um livro, ou vários, para lidar com situações de sofrimento físico ou de comoção espiritual. Diz a Bertrand: "Por vezes, é a história que encanta, outras vezes é o ritmo da prosa que trabalha na psique, aquietando ou estimulando, ou é uma ideia ou uma atitude sugerida por uma personagem que está num dilema ou num sarilho semelhantes". Mais de 750 remédios, isto é, romances, para curar ou aliviar a sua maleita! Aqui há de tudo como na farmácia e sem efeitos colaterais. Esqueça a máscara com pressão positiva, o dispositivo de avanço mandibular. Quer deixar de ser um roncopata? Para eliminar o ressonar estão aqui listados os melhores romances. Isto não é novidade para mim: se leio, não durmo, se não durmo, não ressono. É um alívio para o meu parceiro que, mesmo assim, ainda se queixa que o acordo com o raspar irritante das folhas no lençol quando eu mudo de página

Fim de ano por Lisboa

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Cheguei ontem para marcar lugar na Praça do Comércio. Como dizem os ingleses, passaroca que chega primeiro é quem apanha a minhoca, neste caso um bom lugar. Sendo eu uma mulher baixinha gosto de estar na linha da frente de qualquer evento onde é garantido ver tudo ao detalhe e primeiro. Mas nestas andanças dos concertos há sempre alguém que me passa a perna, um chico-esperto que apanha o melhor lugar. Tentei negociar um nadinha da garupa com o D. José mas o homem não se comoveu. O único lugar sentado já era. Não insisti pois o Zé ficou meio instável depois do atentado, aliás, acabou mesmo por ficar maluco, e olhando assim cá de baixo não conseguia descortinar se ele tinha tomado a medicação ou não... É agora que os fotógrafos de aves que sigo no Facebook se vão roer de inveja.Desde que me comecei a interessar por aves descobri que uma gaivota nunca é apenas uma gaivota. São, se a minha inexperiência não me trai, 16 espécies que andam por aí a cruzar os céus de Portugal, tod

Natal no supermercado

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Cheguei há pouco do supermercado e nem vos digo os valores registados na escala de Natalli – que mede a intensidade do espírito de Natal a partir dos seus efeitos sobre as pessoas e sobre as estruturas construídas e naturais - nas filas das caixas. A habitualmente cordial operadora estava com um ar meio crispado, ainda achei que podia ser do fresco do ar condicionado, mas com tanta ginástica de braços só se estivesse morta. Muita gente em fila e com cara de poucos amigos, a esticar o pescoço que nem galinha de forma a perscrutar o volume de compras de cada um, numa ânsia desmedida de mudar para uma posição mais favorável no poleiro - por si só uma típica coreografia natalina; todos de sobrolho carregado e a lastimar-se como todos deixam tudo para a última hora, até eles mesmos - por si só um típico coro de natal. Dei a vez a uma senhora de muita idade sem ela ter implorado. Só trazia uma garrafa de vinho na mão e eu senti-me de imediato solidária, quem sabe se não seria a sua

Boas Festas e poinsétias

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Talvez conheçam o nome Pulquéria porque o leram em algum livro de Machado de Assis, ou então associam-no à Imperatriz bizantina devota do culto mariano. A mim chegou-me pela primeira vez em conversas familiares ouvidas entre a minha mãe e avó, em criança, sobre a querida amiga Pulquéria, e marcou-me para sempre. Não vislumbrando sequer um diminutivo carinhoso de menina, jovem e senhora capaz de amparar a desafortunada no convívio com a desdita de tal escolha pela vida adiante, imaginava com horror ser nomeada assim, ter o nome bordado a azul a ponto pé-de-flor no uniforme da escola primária, ou, mais tarde, nos atoalhados de banho, ou, pior ainda, ostentá-lo na caixa de correio à porta de casa ou em placa na porta do escritório, desconhecendo por longo tempo que pulquéria, palavra com origem latina, é sinónimo de bela e bonita. Quando o descobri não fiquei todavia mais pacificada e agradeci que os meus progenitores me tenham bendito com um nome clássico e não com um que soa a puniç

Os pénis estão em alta na internet. E até nos céus.

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Os pénis estão em alta na internet. (Quase me atreveria a dizer que, por estes dias, andam na boca de toda a gente. Mas corria o risco de ser mal interpretada, além de estar a corromper uma das mais famosas frases publicitárias de que há memória. É melhor não.) E nos céus também. Pensando eu tratar-se de um pratinho de lascívia a que nem faltava o aviso para o conteúdo explícito das imagens, apressei-me a ler este relato da Fox News sobre o piloto que desenhou um pénis nos céus da ilha de Whidbey. Deambolando na minha taradice e enquanto cantarolava “ Penis in the sky with diamonds ”, imaginava já um festim de genitálias masculinas, tipo um fogo de artifício ou qualquer coisa em 3D. Mas tudo se resumiu a uma galeria de meia dúzia de fotos de uma garatuja de vapor de água desenhada nos céus, talvez alguma fuligem ou dióxido de enxofre também, se quisermos ser rigorosos, mas nada mais porco do que isso. Afinal um rabisco tão infantil quanto aqueles que havia gravados a canivete na

Ficheiros nada secretos: o caso Maçães.

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 A) Preliminares: quando quer acasalar o pinguim-gentoo oferece uma pedra de textura macia à sua amada no intuito de conquistar o seu coração. Os pinguins podem passar horas a calcorrear as praias da Antártica à procura do seixo perfeito. Quando o pinguim macho encontra a pedra ideal, apresenta-a à fêmea como uma oferta de amor. Se a fêmea gostar do que vê leva a pedra para o ninho e há truca-truca. B) Corpo do delito. Uma jornalista arruivada e jeitosa, de nome Lily Lynch, botou a boca no trombone. Maçães, um obscuro, creio eu, ex-secretário de Estado para os Assuntos Europeus, teria sustentado com ela conversas virtuais ameaçadoras e intimidatórias (!) nos idos de Outubro de 2016, e cereja no topo do Twitter, mandou-lhe um instantâneo da perna do meio. Não se conheciam pessoalmente. Tão tolinha ela quanto ele, ela porque deu trela ao sr. secretário, alimentado conversetas que não lhe estavam a cair bem, ele, porque tendo inclusivé a noção de que estava a pisar o risco, confessa

Panteão Party

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Panteão Party. Os monumentos devem realmente ser vividos mas há certos espaços que servem para convidar à solenidade, a uma certa introspecção e ao recato, ao respeito pela memória histórica, se é que vale alguma coisa a memória dos que lá repousam, começo a duvidar, e assim deviam permanecer. E esta justificação que li, dos restos mortais de Humberto Delgado, porque fundador da TAP, sepultados no Panteão, terem ajudado à opção pelo local? Pensava eu que isto da Summit tinha mais a ver com o futuro, o movimento para a frente, bem sabendo que não há geração espontânea, nem de micróbios nem de ideias. O Minho fica longe, sai caro deslocalizar uma janta que o país é enorme, e, azar, Nuno Peres move-se por lá, e ainda não morreu, e ninguém sabe nada de nada sobre materiais bidimensionais, como os dicalcogetos de metais de transição, em que os mais interessantes são os semicondutores, para aplicação na indústria eletrónica, mesmo que meio mundo esteja de olhos postos nisso. Não tendo sido

Poesia: Pinhal do Rei - Afonso Lopes Vieira

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Pinhal do Rei Catedral verde e sussurrante, aonde a luz se ameiga e se esconde e aonde, ecoando a cantar, se alonga e se prolonga a longa voz do mar: ditoso o "Lavrador" que a seu contento por suas mãos semeou este jardim; ditoso o Poeta que lançou ao vento esta canção sem fim... Ai flores, ai flores do Pinhal florido, que vedes no mar? Ai flores, ai flores do Pinhal florido, rei D. Dinis, bom poeta e mau marido, lá vem as velidas bailar e cantar. Encantado jardim da minha infância, aonde a minh'alma aprendeu a música do Longe e o ritmo da Distância que a tua voz marítima lhe deu; místico órgão cujo além se esfuma no além do Oceano, e onde a maresia ameiga e dissolve em bruma, e em penumbra de nave, a luz do dia. Por estes fundos claustros gemem os ais do Velho do Restelo... Mas tu debruças-te no mar e, ao vê-lo, teus velhos troncos de saudades fremem... Ai flores, ai flores do Pinhal louvado, que vedes no mar? Ai flores, ai flores do

Constança diz adeus ao MAI após fim de semana quente

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A culpa dos incêndios é evidentemente do Governo, é dos partidos do Governo, é da oposição, é dos portugueses porque somos nós que elegemos Governos, é dos anteriores Governos e sobretudos dos desGOVERNOS, dos anteriores ministros e presidentes, é da cedência cega às politicas da UE que hipotecaram o futuro da floresta, da agricultura e atrofiaram o interior. A culpa dos incêndios é de não existir uma política da floresta e antes uma floresta de políticos onde predomina a monocultura do partido a que pertençam. A culpa é central e é local, a culpa não tem cúpula. A culpa é dos graus de temperatura média anual a mais que somam e seguem, e somarão, dos fenómenos atmosféricos episódicos extremos, dos que incendeiam por loucura, oportunismo, negócios escuros, dos incautos das queimadas, dos desleixados que não limpam, do desGOVERNO total a que se tem votado a floresta ao longo de décadas. A floresta é um assunto sazonal, são dossiers que vão de férias em Outubro e que só regressam de

Um dia de fogo na Marinha Grande - 15 de outubro de 2017

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Muitas questões a lavrar-me por dentro. Temos o conhecimento mas ainda não interiorizámos rotinas de prevenção e alerta. Persistimos em comportamentos de risco fruto de hábitos antigos, tradições, vícios de carácter. Os tempos mudaram e o tempo mudou. O clima mudou. Temos de mudar muito e muita coisa. Não temos é coragem para assumir tamanha empresa. E enquanto isso o país espera que não aconteça o pior. Mas acontece. O país arde e morre gente. Se é algo complexo, que demora a ser feito, então vamos iniciar a tarefa quanto antes, agora, já. Do mais fácil para o mais difícil, de possível em possível. Que todos os que concorrem na responsabilidade se impliquem na solução. Que se chame quem sabe a pensar e a fazer o que pode ser feito antes que Portugal desertifique e se transforme no norte de África. E já agora que se coloque quem sabe à frente da tomada de decisões importantes. E que se pare de distribuir lugares de responsabilidade pela cor dos lindos o

A mancha do Photoshop

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Fonte Ontem de tarde passei cerca de meia hora a tentar apagar uma mancha numa layer do Photoshop . Tinha para cima de 200 layers empilhadas, o que até pode parecer muito mas nem é nada. Seleccionava uma e outra sem remédio. Depois de ter tentado todas as soluções e até de ter googlado por mais, sem perceber o que mais poderia fazer para eliminar a mancha, porque não existe grande ciência no assunto, e preparando-me para contornar trabalhosamente o problema, ocorreu-me ir fazer um chá verde que dizem ajudar a prevenir doenças do coração. É que eu estava prestes a ter um ataque de. Nesse afã me encontrava quando tocaram à campainha. Era a vizinha do 7º andar que vinha rogar o favor de eu lhe dar as boxers castanhas que tinham caído nas minhas cordas, estavam por um fio, sorte era não haver vento. Tenho um acesso de hospitalidade e convido-a para entrar para a cozinha enquanto me estico à janela para apanhar as ditas. E como o bule está mesmo ali a olhar para nós da sua alva be

Madonna vai à bola com Portugal

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Ahah, esta Madonna, concedam, uma pessoa tem de gostar um bocadinho dela. Olhai só este instantâneo da material girl a festejar o golo da selecção nacional, Portugal olé, Portugal olé. Em Roma, sê romano. A mulher foi ao estádio da Luz e tudo. Comove-me ver como até levanta os bracinhos em exultação pelo golo marcado por quanto eu nem a TV liguei e não me estou a imaginar a viver em Chicago e a aplaudir os Bulls. Paradoxos, eu, nascida em Lisboa, nem lambuzada em pastéis de Belém consigo disfarçar o meu amor pelo Porto. E agora a Madonna, uns mesitos em Lisboa, até já é muito mais portuguesa que eu. Que era uma artista camaleónica, eu sabia, mas isto supera tudo. Eu cresci com a Madonna, todas nós crescemos, e lembro-me de ter gozado com um amigo quando ele me mostrou o LP de estreia dela, acabado de comprar, dizendo-me, "ela vai ter muito sucesso". Eu desdenhei da virgem, claro. Balanço feito, viria a comprar dois CD (já tentei vender um mas ninguém o quer) e um CD single

Percevejos invadem Portugal

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Percevi, depois de passar os olhos por diversas fontes informativas, que estamos a ser invadidos de forma silenciosa por criaturas que se infiltram nos colchões e nas roupas de cama em busca escuridão e calor humano. Vêm à boleia em malas e não pagam bilhete. Os moradores dos centros urbanos mais afectados consideram tratar-se de mais uma atribulação, desta vez sanguinária, do recente boom turístico. Como explorar proveitosamente esta vaga de turismo de pé descalço coloca, todavia, os operadores turísticos perante um desafio ímpar. Enquanto isso as empresas de desinfestação festejam o oportunismo. Os jornalistas tentaram contactar os principais visados mas eles não perceveram a questão e nada comentaram, rastejando calmamente para longe do foco da sua atenção. A Madonna ainda não se manifestou. Serviço público: saiba como lidar com os percevejos turistas

Incendiário vai de ambulância, bombeiro de comboio

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"AMBULÂNCIA VIAJA DE LISBOA AO PORTO PARA LEVAR INCENDIÁRIO A CONSULTA DE AVALIAÇÃO PSIQUIÁTRICA O Hospital Prisional de Caxias no Concelho de Oeiras, requisitou alegadamente hoje aos Bombeiros de Paço de Arcos uma ambulância que conduziu hoje um alegado incendiário detido naquele hospital prisional, à delegação do Instituto Nacional de Medicina Legal no Porto, para uma consulta de avaliação psiquiátrica que teve a duração de sensivelmente 10 minutos." https://www.facebook.com/observatoriodeprotecaocivil O incendiário vai de ambulância, o bombeiro vai de comboio combater o fogo. Quem se lembra da notícia deste Maio:"Este verão, 90 bombeiros vão deslocar-se de Lisboa e para os incêndios em Viana do Castelo de autocarro e de comboio. O objetivo, explicou o secretário de Estado da Administração Interna, é evitar que as corporações cheguem "cansadas" aos teatros de operações e, ao mesmo tempo, "evitar o desgaste" das viaturas de serviço e os

Aos homens constipados, por António Lobo Antunes

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Aos homens constipados Pachos na testa, terço na mão, Uma botija, chá de limão, Zaragatoas, vinho com mel, Três aspirinas, creme na pele Grito de medo, chamo a mulher. Ai Lurdes que vou morrer. Mede-me a febre, olha-me a goela, Cala os miúdos, fecha a janela, Não quero canja, nem a salada, Ai Lurdes, Lurdes, não vales nada. Se tu sonhasses como me sinto, Já vejo a morte nunca te minto, Já vejo o inferno, chamas, diabos, Anjos estranhos, cornos e rabos, Vejo demónios nas suas danças Tigres sem listras, bodes sem tranças Choros de coruja, risos de grilo Ai Lurdes, Lurdes fica comigo Não é o pingo de uma torneira, Põe-me a Santinha à cabeceira, Compõe-me a colcha, Fala ao prior, Pousa o Jesus no cobertor. Chama o Doutor, passa a chamada, Ai Lurdes, Lurdes nem dás por nada. Faz-me tisana e pão de ló, Não te levantes que fico só, Aqui sozinho a apodrecer, Ai Lurdes, Lurdes que vou morrer. Poema de António Lobo Antunes, In 'Sátira aos Homens quando est

João Quadros ou João Quadrado?

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Percebi agora que um tal humorista Quadros anda nas bocas do mundo por ter chamado skinhead ou cabeça rapada ao Passos, assim criticando um discurso algo xenófobo que este fez, e que eu não li, mas, com aquela voltinha de trazer à colação na piada a mulher dele, doente oncológica, e, claro, para muitos o cancro é um dos assuntos que tem de ficar fora do humor, compreensível pelo sofrimento e impacto da horrível doença tanto no paciente como nos que lhe são próximos. Mas esta lista de assuntos que têm de ficar à margem do humor é uma coisa que me incomoda. Não é por fazer de conta que um problema não existe que ele cessa de existir: vamos excluir do humor temas como a doença, a deficiência, etnias, religiões, classes sociais, a sexualidade e outros? Ou marcar-lhe limites? E impor limites é atacar a liberdade de expressão? É um grande e apaixonante debate que esteve bem aceso nas redes aquando das mortes no Charlie Hebdo. Não há dúvidas que o visado da piada em causa é PPC, não a esp

Despacito

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Dei um saltinho à praia de Buarcos e no regresso deparei-me com estes senhores a tocar um medley dos Abba para uma grande plateia na esplanada do jardim. Cheguei a meio e quando me estava a sentir uma verdadeira Super Trouper, com vontade até de dançar com um dos turistas presentes que sabia todas as letras, acabou o medley. Trazia os ouvidos cheios de coisas como Si te vas yo también me voy/Si me das yo también te doy/Mi amor/Bailamos hasta las diez/Hasta que duelan los pies, tinha vindo pela marginal fora a cantarolar o Despacito, sonoridades ainda frescas na ponta da língua, patrocinadas pelos animados vizinhos de praia que hoje me couberam, quando ouvi a banda. Junto ao mar a minha tolerância dilata-se e os meus níveis de implicação derretem sob o sol, pelo que até curti os ritmos calientes e, já agora, o vigor da linguagem juvenil pontuada a alhos e folhas, o tratamento carinhoso ímpar. Ah, escusam de me vir dizer que quando eu era jovem também falava assim, eu ainda me lembr

Incêndio florestal - a praga do verão em Portugal

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Nunca entendi o que move alguém a meter-se no carro para ir ver um fogo florestal. Esta atracção, que considero doentia, não é de hoje mas ontem não existia a motivação acrescida de filmar e partilhar o evento nas redes, o objectivo mais ou menos secreto de conseguir a glória fugaz de uma imagem viral. Onde, afinal, a estranheza quando pessoas ateiam os próprios gases para filmarem a breve flama e depois partilharem proeza com o mundo ávido de imagens insólitas?! Há uns anos largos houve um incêndio na serra da Boa Viagem e o instrutor de condução orientou-me na direcção da elevação, de onde se desprendia um penacho de fumo. - Mas está a arder, disse eu. - E então? Vamos lá ver. Segui a contragosto, com vontade de me negar, afinal o volante era meu. Mas a posição de subalternidade, o pouco à-vontade e experiência incipiente ao leme das quatro rodas venceram o meu sentido cívico e até temor. Tivemos de atravessar a ponte sobre o rio e a cidade. Já na subida da serra fomos ultrapas

O equidna vai à praia

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Fonte Quando a temperatura estiver propícia a banhos e forem até à praia, e não se lembrarem de adivinha melhor para contar à miúda que acabaram de conhecer, podem usar esta: Que animal tem bico e põe ovos mas não é ave, tem bolsa mas não é canguru?  Resposta: o equidna .  Testei uma outra adivinha sobre o bicharoco em causa com um cinquentão bem apessoado mal acabado de conhecer enquanto devorávamos um ouriço ali para os lados da Ericeira: não é homem mas animal e tem título real. Que bicho é? Foi uma espécie de ice-breaker, assim pensava eu. Ele não fazia ideia. É uma espécie de equidna da Indonésia que recebeu o nome de Sir Attenborough, o naturalista , - disse-lhe eu. Tive de explicar o que era um equidna e quem era Attenborough. A discussão aqueceu. Daí a pouco devolvia-me a "cultura animal" com um negro laudo sobre uma tal Equidna, o corpo metade jovem mulher, a outra metade, uma serpente. Vivia numa caverna no ventre profundo da terra, longe

O casamento do Bruno Ornelas

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Vocês sabem lá o que me sucedeu ontem. Cheguei aos Jerónimos atrasada - o taxi chocou com um tuk-tuk e ficou de tal ordem amachucado que eu acabei por terminar a corrida no tuk-tuk - e, como se isso não bastasse, não pude entrar no casório do Bruno Ornelas. À entrada da igreja de Belém estava um detetor de metais para verificar se alguém levava consigo armas ou objetos perigosos para a integridade de noivos e convidados. O segurança teve a lata de me dizer que tinham enviado mensagem a todos os convidados, alertando para as caprichosas medidas de segurança, mas é mentira, eu nada recebi. Por momentos pensei que me tinha perdido e que estava no aeroporto, ou coisa assim: é sabido que em Lisboa eu não me oriento. Aquilo desatou a apitar e a fazer luzes e foi uma vergonha. Por mais que eu afiançasse que não tinha granadas comigo, nem mesmo o corta-unhas, eles já não me deixaram entrar. Regressei a casa no Expresso das 18.30 horas: não tive problemas para entrar no autocarro mas até já e

Carro de compras com rodinhas electrónico: preciso!

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Há uns tempos vi aqui na internet uma geringonça electrónica com rodinhas que nos seguia para todo o lado, uma espécie de mala do futuro. Mas é óbvio que os supermercados têm de copiar a ideia. É que costumo encostar o cesto das compras aqui e ali para ir fazer a minha prospecção de víveres em modo mãos livres, e, não raro, acontecem cenas tristes: já por diversas ocasiões andei a deitar as minhas compras no cesto dos outros. Hoje, quando dei por mim junto da caixa e já com parte das compras a deslisar no tapete em direcção às mãos da operadora, verifiquei que me tinha apoderado de um cestinho alheio, de homem: um creme de barbear e um pack de pilhas aguardavam no fundo. Fui tomada por uma aflição súbita como se tivesse roubado aqueles dois produtos! A menina desenvolta começou a registar os meus brócolos, os tomates já corriam para ela com velocidade nunca vista pelo tapete de borracha adiante e eu queria um botão vermelho de Stop mas não há. Então sorri acanhadamente e menti em voz

Criminoso procura-se. Dá-se recompensa.

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Anedota do Bocage

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A política portuguesa anda a ficar cada vez mais descuidada. Certo dia estavam João Marques e Passos numa festa quando este emitiu uma flatulência. Muito desconcertado viu o amigo João Marques e dirigiu-se-lhe rogando que assumisse a culpa pelo sucedido, para limpar o ar. Prontamente João ofereceu-se para assumir o acto. E então chegou-se ao centro da sala, bateu palmas, e disse em voz alta: - Minhas senhoras e meus senhores. Quero pedir muitas desculpas. O peido que o Passos deu, não foi ele, não: fui eu! Bocage não teria dito melhor.

Martelo Rabelo de Sousa. Bom São João!

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Fazer a monda nas redes sociais

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Agnes Arabela Marques e Castelo Branco são como ervas daninhas, plantas que crescem fora de contexto e de forma indesejada. Competem pelo espaço mediático, pela luz, a nossa atenção é água para elas. Se permitirmos podem ofuscar as outras com os seus comportamentos exóticos e viçosos, assim dando por cumprida a sua missão na Terra. Existem diversas técnicas para lidar com estas pessoas daninhas: a monda manual é a melhor opção para eliminar as suas manifestações das redes sociais e do terreno pantanoso de alguns jornalecos online. Ó meus amores: indignem-se, soltem interjeições mas não façam eco, não partilhem estas florações patéticas. É tanta a mediocridade que assim trazemos para o nosso jardim! Se não podemos impedir que germinem evitemos a proliferação.Eduquemo-nos para ser sábios:ignoremos já que não podemos punir e muito menos educar estas formas de vida. Não lhes demos mais luz, por favor. Elas acabarão por secar, no seu contexto e morrer, sim?

Portugal: o país da mediocralhada

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"Pensar o meu país. De repente toda a gente se pôs a um canto a meditar o país. Nunca o tínhamos pensado, pensáramos apenas os que o governavam sem pensar. E de súbito foi isto. Mas para se chegar ao país tem de se atravessar o espesso nevoeiro da mediocralhada que o infestou. Será que a democracia exige a mediocridade? Mas os povos civilizados dizem que não. Nós é que temos um estilo de ser medíocres. Não é questão de se ser ignorante, incompetente e tudo o mais que se pode acrescentar ao estado em bruto. Não é questão de se ser estúpido. Temos saber, temos inteligência. A questão é só a do equilíbrio e harmonia, a questão é a do bom senso. Há um modo profundo de se ser que fica vivo por baixo de todas as cataplasmas de verniz que se lhe aplicarem. Há um modo de se ser grosseiro, sem ao menos se ter o rasgo de assumir a grosseria. E o resultado é o ridículo, a fífia, a «fuga do pé para o chinelo». O Espanhol é um «bárbaro», mas assume a barbaridade. Nós somos uns campónios co

Recrutamento exigentíssimo para vender pipocas!

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Um "prestigiado cliente" quer vendedores em part-time para trabalhar na Foz, no Porto. Solicita que tenham como habilitação MÍNIMA a licenciatura, experiência anterior em vendas é factor preferencial, também elevada resistência ao stress, sentido de responsabilidade e boa capacidade de comunicação. Eu até me candidatava porque é no Porto, aquela cidade que eu adoro, mas sei que não faltam por aí pessoas habilitadas com mestrados que anseiam por desafios profissionais gratificantes, tenho a certeza que era logo arredada na primeira varredura do recrutamento. Esqueci-me de mencionar que é para vender pipocas apesar de não pedirem que as pessoas saibam fazer pipocas, ah, pois é, devem dar formação no posto de trabalho.

Arnold Schwarzenegger contesta ideias de Trump sobre clima

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O Arnold surpreendeu-me . Eu e o meu datado preconceito de que o cérebro dele mirrou na proporção em que os músculos incharam e de que não pode vir de lá grande coisa. Já devia ter vergonha. Trump a invocar que o Acordo de Paris é um mau negócio para os EUA e que o quer renegociar é hilário. Do que sei, o Acordo não passa de uma espécie de “acordo de cavalheiros” em que os países não se obrigam propriamente a agir, é uma declaração de intenções. A meu ver isso não lhe retira grandeza. A honra de cada Estado aderente seria então demonstrada, primeiro, pelo reconhecimento da necessidade de agir e depois, liberto do cumprimento forçado através de multas e outros mecanismos, pela escolha de fazer o que é melhor para o futuro dos seus cidadãos. Em verdade num mundo perfeito não deveriam ser precisas medidas punitivas para forçar o cumprimento. Quantas vezes as leis são violadas sem pejo e pagas as multas apenas para se seguir nova reincidência. Se a perfeição é uma quimera então apr

Poesia: Armando Silva Carvalho

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LEITURA DE JORNAL Enrolado pelas nuvens duma eternidade, debruado pelas franjas de catástrofes cósmicas, soletrado numa lentidão de milénios pela voz sintetizada e virtual de Stephen Hawking, podes tu alguma vez imaginar todo o espectro poético da explosão do campo de Higgs? 100 000 milhões de gigaelectrões-volts não são bastantes para tornar metastável o campo desse senhor dos buracos negros, e fazer dele uma bolha de vácuo. Tudo à velocidade da luz, é claro, que a partícula de deus não é um caracol que vá deslizar a sua vegetal e mansa paciência pelas folhas do universo. Mas a criatura irónica, imobilizada, esse génio oráculo que fala através dos músculos da face, esse cérebro de engenhos que desdenham deus, concentra no seu sorriso um fulgor natural, talvez o único, e pretende, diz ele, seduzir as enfermeiras com o sotaque do texas que lhe sai da máquina falante. É um riso de fichas virtuais, e as meninges tremem entre placas, galáxias, anjos meg