A praia da Figueira da Foz em Outubro


Eis um resumo visual apressado das minhas idas à praia durante o mês de Outubro. Outubro é ainda cor de pele dourada a sabor sal, muito mais do que de folhas caídas. É natural que o sol ainda nos banhe por mais uns dias. As estações do ano estão cada vez mais atípicas e já não surpreende que o verão seja chuvoso e o outono um escaldão. Mas a certeza que o vento fresco das manhãs já nos sopra ao ouvido é que o inverno vai chegar. E por regra tem chegado igual a si mesmo, uma nuvem cinza, pegajosa e baça que se abate sobre a cidade entre Dezembro e Março. O inverno na sua mesmice intemporal entorpece esta nossa percepção de que as estações do ano andam à baldroca, abafa o eco das palavras que a minha avó repetia incessantemente. Viveu quase um século e dizia que tinha visto mudar a cor dos dias, a forma das estações e as voltas do mundo. E isso para ela era até mais grave do que ter sido contemporânea de duas guerras.

É altura de bater com a porta aos fins de tarde no areal, às ondas malandras e às suas histórias de espuma, às gaivotas estridentes e gulosas do meu lanche. Daqui a pouco chegam os dias curtos, as janelas da cidade acendem-se mais cedo. Daqui a pouco embrulham-nos mantas como casulos de onde apenas sairemos na primavera. Daqui a pouco é no aconchego dos fogos que se contam todas as histórias. E agora mesmo até chove, chuva miúda, molha-tolos. Não é ainda a chuva de rajada, o pingo grosso que metralha a face das cidades, limpando a fundo a poeira que o verão acumulou em cada sulco da pedra, monumentos e prédios e passeios. Está dito. Chove. Bolas. Faltam 257 dias para o verão.

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