Cinema: Skyfall - Daniel Craig é o melhor 007 de sempre


James Bond anda pelas salas de cinema desde 1962. Resisti durante muito tempo aos encantos do agente secreto de sua majestade, apenas comecei a ir ver Bond quando o papel foi entregue a Pierce Brosnan. Gostava tanto de Brosnan, que considerava o actor mais sexy do cinema de então, que não resisti a ir ver os filmes do 007 numa altura da minha vida cinéfila em que desprezava bastante o género de acção. Progressivamente fui aceitando outro cinema, hoje vejo de tudo, e até tenho boas surpresas, apesar de manter a preferência por um cinema mais sério, por vezes até dito alternativo, independente.

Quando Daniel Craig tomou o lugar de Brosnan eu fui ver Casino Royal mas a minha longa e dedicada paixão -ehehe!- por Brosnan nem me deixou apreciar um dos melhores Bond que tinham sido feitos até à data. Mais tarde, na TV, revi Bond e revi completamente a minha opinião: Daniel Craig dava bem conta do recado e Eva Green foi insuperável. Não podia negar que a fórmula 007 podia proporcionar um bom espectáculo e até bom cinema. O problema com as fórmulas é que facilmente geram saturação e fastio. Mais tarde, ao ver Quantum of Solace, dei por mim a pensar que Bond devia tirar umas merecidas férias, senão mesmo reformar-se! Não que Craig se portasse mal, o filme no seu todo é que não estava capaz, um tédio. A fórmula a dar o peido mestre, pensei eu. Nunca mais vou ver 007, pensei eu à saída do cinema.

Entretanto é anunciado Skyfall e a Adele começou a cantar por aí. A musiquinha foi fazendo ninho no meu ouvido e depois veio a nomeação de Bardem para melhor actor secundário nos Oscares - o vilão do anterior filme era uma nulidade, isto era um bom sinal. Sam Mendes como realizador também me intrigava pois só o associava a Beleza americana, um filme muito recomendável focado na crise de meia idade masculina e nos valores da classe média norte americana. Era por si só curioso ver como Sam Mendes trataria Bond. E então veio a noite de ver Bond, ontem. Veredicto: gostei muito. Este James Bond apresenta-se meio estropiado e debilitado, depois de uma missão falhada, não está em boa forma. Mas ao mesmo tempo é másculo e frio, possui o semblante de um assassino sem coração, determinado e implacável. Assenta-lhe bem a vulnerabilidade disfarçada. Desta vez não há gadgets aos montes na mala do carro, nem mesmo uma verdadeira Bond Girl na fita, tal como nos lembramos delas. Mas já Vesper tinha sido diferente e por isso está morta. Em Skyfall, James está mais obcecado em proteger M do que no flirt! Os caros leitores masculinos continuam a ter direito a um par de carinhas larocas, embora as cenas nunca durem muito. Fixem bem isto: Bond só tem olhos para M. Compreensível, será o último filme em que a vai ter à frente do MI-6.

A perseguição inicial com que o filme abre está ao nível daquela que vi em Casino Royal. Mas a partir do momento em que 007 vôa para Xangai preparem-se para cenas nocturnas visualmente maravilhosas da cidade, algumas cenas de luta que se assemelham a teatro de sombras, o mistério e o encantamento do Oriente condensados em alguns minutos de esplendor cinematográfico. É uma sequência enebriante! Ontem, era a noite do meu aniversário, talvez eu tivesse bebido demais, mas se forem ver Skyfall, depois a gente conversa melhor sobre isto! Eu recordo que em Casino Royal existe uma cena ímpar - o encontro de Vesper Lynd e Bond, no comboio. Ora, aqui não temos nunca nada do género mas em termos visuais esta sequência é o seu equivalente. Mas se a destaco não esperem menos da totalidade do filme em geral neste campo, a cinematografia é topo de gama.

O filme demora até nos revelar Raoul Silva, o cyber-terrorista efeminado, um ex-agente 00 em busca de vingança, dominado pela loucura, subtilmente destilada nos diálogos e na forma desconcertante como actua. Isso acontece não apenas por necessário artifício de suspense, mas também porque no centro de Skyfall não está tanto uma caça ao homem e muito mais o conflito em que M se vê mergulhada, encostada à parede quanto ao critério e resultados do seu desempenho quer no presente, - os políticos não perdem tempo a questioná-la e a exigir a sua cabeça numa bandeja, - quer no passado - é de lá que chega Silva, como um fantasma que regressa para acertar contas.

Depois de ter visto Skyfall atrevo-me até a dizer que Craig se tornou o melhor 007 de todos. Para não desvirtuar o género mostra-nos grandes sequências de acção, e algum humor pontual. Mas em Skyfall houve evidente preocupação em estruturar uma boa história e em desenvolver as personagens um pouco mais do que é usual, estruturando a sua motivação e tornando-as mais complexas nos seus dilemas. Além disso, é visualmente assombroso. É um bom thriller capaz de competir com outros que estão nas salas de cinema. É a fórmula 007 a funcionar, retocada para cativar os descrentes do género e os mais exigentes. Aconselho este filme mesmo para quem não seja fã do agente secreto!
P.S. Banda sonora muito aconselhável!

Comentários

Unknown disse…
Como já tinha comentado, não gosto deste ator. Acho que ele não tem expressão, talvez por isso tenha sido escolhido para este filme, como vc bem descreveu a personalidade deste 007, ¨frio¨ e não mais na mesma forma.
Concordo, as cenas em Xangai são maravilhosas.
Mas na minha opinião, jamais haverá um OO7 com Sean Conerey. Também gosto muito do Pierce Brosnan.
:)