O caso Naomi Frost: roubar fotos da internet é feio



Roubar fotos da internet é feio. Já tenho dito isso muitas vezes mas ninguém me liga. O site de notícias australiano The Age divulgou ontem uma notícia sobre direitos de autor e não resisto a dar conta dela aqui. É chover no molhado, mas eu insisto em divulgar. Acredito que seja educativo. Desta vez alguém usou uma fotografia que encontrou na internet para fazer tshirts sem passar cartão à autora. Eis como estes sujeitos enxergam a realidade: é tudo nosso. A internet é uma loja aberta 24 horas, ainda é melhor do que ir à feira. Nem é preciso perguntar preço, nem regatear, é chegar, escolher, tirar e usar. É o self-service de luxo e, melhor, é um serviço à borla. Este serviço pronto a usar incentiva ainda a falta de educação, a estupidez, o heroísmo virtual balofo. Estou diariamente sujeita a que façam isto com as minhas ilustrações e tento não pensar muito no assunto. Aconselha o bom trato que se entre em contacto com quem prevaricou e se resolva a questão a bem. Infelizmente algumas situações ensinaram-me que a maior parte das pessoas que rouba material alheio, sim, rouba, acha que está no direito de o fazer e ainda se sente ofendida com a nossa abordagem educada. Por isso, na eventualidade de eu descobrir que me fizeram algo semelhante ao que fizeram à Naomi eu não vou ser uma cachopa delicada, não esperem isso pois não vai acontecer. Ainda há bem pouco tempo um sujeito sem inteligência nem educação se apropriou de fotografias da minha mãe sem pedir autorização e face ao pedido dela de lhe atribuir créditos, ainda veio dar uma de advogado dos direitos de autor mandando-a exibir o registo das obras!! É fartar de rir com tanta ignorância, mas, enfim, não é de espantar pois parte de uma pessoa que acha normal usar coisas que não lhe pertencem como se fossem suas, um ladrãozeco sem glória. Mas porque razão pediu ela que ele creditasse as fotos? Eu nem me preocuparia com isso. Era denúncia e pronto. Esta gente devia ser cuspida do ciberespaço, é o que eu penso quando baixo o auto-controlo e me deixo ir à mercê da onda abandalhada em que esta gente surfa. Porque hei-de eu ser polida com internautas tão reles?

Aconteceu na Australia, país conhecido pelo surf, mas podia ter acontecido em Portugal. Aliás, está a acontecer em Portugal, agora mesmo, enquanto escrevo. Não me venham dizer que isto é uma coisa sem importância e que os autores são todos uns cagões, eu não vou na cantiga, muitos deles até emprestam quando pedido, só querem o devido crédito, e, sim, é verdade, começo a ficar mesmo aborrecida de cada vez que escrevo sobre isto pois é algo que está aí para ficar. E é algo que podia mudar se as pessoas quisessem ser mais profissionais, ou apenas mais educadas e gentis para com o seu próximo, neste caso, longínquo, pois quem vê ecrãs não vês caras, é tudo lindo na era dos avatares e da internet. Cara a cara aquele tipo talvez não tivesse lata para roubar da gaveta da minha mãe, mas as pessoas estão a ficar quadradonas, para não dizer prisioneiras das quatro linhas dos seus ecrãs, não são capazes de ver além do êxito imediato da sua pequena tarefa, pensam em número de cliques, de tweets, que se foda a educação e a gentileza, mas o que será isso? Afinal nem se conhece quem ilustrou, quem escreveu, quem fotografou, está longe, noutra idade, noutro país, noutro hemisfério, noutra dimensão...mesmo que seja o vizinho do R/C.

No site do The AGe lê-se que uma fotógrafa de nome Naomi Frost mal podia acreditar que a t shirt anunciada num anúncio de televisão tinha estampada uma das suas fotografias. Já foi há um ano que uma amiga lhe enviou uma mensagem a alertá-la para o facto de ter visto a foto em questão num anúncio protagonizado por Paul Sironen. A fotografia representa um surfista a passear junto à costa de prancha na mão. A fotografia é tão representativa que a marca de pronto a vestir masculino Lowes fez tshirts com ela! Naomi diz que toda a gente sabe que não se pode ir à internet buscar assim uma fotografia, há que pedir permissão para a usar. Isso diz ela, para se consolar, mas eu sei, o leitor sabe e toda a gente sabe, que a realidade não é bem essa. Naomi chamou à fotografia Vintage Surfer. Foi tirada em 2008 e está ainda no site Flickr, onde o copyright é protegido ao contrário do que sucede, por exemplo, com a Instagram. Podem ir até lá espreitar e ver a lista de comentários que as pessoas estão a deixar a Naomi, apoiando a sua decisão de processar a empresa por infração de copyright, o caso deve ser apreciado no próximo mês. Ela é fotógrafa profissional, faz fotografia em casamentos e também retratos e fotografia paisagista. A Lowe não comenta a situação!

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