Cinema: Marsupilami, filme de Alain Chabat


Por vezes vejo filmes porque o meu sobrinho quer que eu veja. É um bom motivo. Ele gosta de ver filmes acompanhado, eu nem sequer faço muito sacrifício. Assim, por vezes, graças a ele, vejo filmes que de outra forma nunca veria. Como este - No rasto do Marsupilami. Alain Chabat é o nome do realizador, e também actor, e o filme é baseado nos livros de banda desenhada de Andre Franquin.

Marsupilami é bem conhecido na Bélgica mas eu já só tinha uma vaga ideia do engraçado bichinho amarelo e preto, o príncipe da floresta virgem!O Marsupilami é inteligente, curioso, tem sentido de humor, é muito ágil e cheio de força. Alimenta-se de pulgas, nozes e piranhas, constrói enormes ninhos suspensos e partilha com a companheira os cuidados com as crias. Utiliza a sua longa cauda de 20 metros para lutar, pescar, deslocar-se! Consegue imitar a fala humana mas o seu som característico é “houba”. É difícil classificar uma criatura assim, rivaliza com um dos animais mais inusitados da natureza, o ornitorrinco, uma mistura de pato, castor e lontra...Ora, o Marsupilami, é um mamífero e também nasce de ovos, mas parece ser mais próximo dos felinos, com a sua pele amarela às manchas. Aqui o Marsupilami é uma criatura CGI bem conseguida. Quando aparece no ecrã, o Marsupilami realmente hipnotiza a plateia. Pena que apareça muito pouco! Ele surgiu primeiro nas bandas desenhadas de Spirou e Fantasio, depois teve direito a livro próprio e séries de animação. Agora é filme e fiel ao universo do desenhador, cheio de preocupações ecológicas. Todas crianças que viram No rasto do marsupilami devem já ter colocado na lista de presentes a pedir ao Pai Natal um peluche Marsupilami.

Jamel Debbouze é veterinário num país fictício na América do Sul, Palombia. Tem dívidas por pagar e por isso até as crianças o ajudam a caçar dinheiro aos turistas. E eis que chega um repórter de TV caído em desgraça, Dan Geraldo,- interpretado por Alain Chabat - a quem aquele convenceu que entrevistaria o chefe da tribo Paya, conhecida por enterrar os prisioneiros vivos e por lhes comer a língua. Toda a gente pensa que o veterinário, também guia da região, é um mentiroso, por todas as razões e porque ele afirma que viu um Marsupilami, animal que todos pensam não ser real, que o salvou da morte há muitos anos. Mas afinal quem é o trapaceiro é o jornalista que no passado forjou as reportagens que lhe deram fama. A honra de ambos acabará por ser restaurada com a ajuda do general ditador que governa Palombia, depois de muitas peripécias na selva onde se embrenham e onde, afinal, vivem o Marsupilami - que se nutre de orquídias raras que segregam um elixir da juventude - e os Payas, a tribo que os vai reconhecer como deuses e lhes revelam uma profecia, da qual fazem parte. Ao salvarem o Marsupilami ameaçado por um botânico ganancioso, que não olhará a meios para obter para si os lucros da venda de um elixir da juventude milagroso, salvam-se a si mesmos e é uma festa.

Longe de ser uma experiência cinematográfica completamente bem sucedida, o filme, meio trapalhão, oscilando entre o absurdo e o puramente ingénuo, e cujas cenas iniciais quase nos fazem perguntar se não se teriam enganado no take escolhido, acaba por nos oferecer algumas piadas irresistíveis e uma ou duas gargalhadas. As interpretações não são boas, por vezes é mesmo difícil acreditar em Jamel Debbouze, o veterinário-guia! Mas levados pela boa música de Bruno Coulais a percorrer uma América do Sul caricatural, luxuriante e colorida, acabamos por conseguir chegar ao fim e descobrir, já nos créditos finais, a performance de Salah Benlemqawanssa, um dançarino de hip-hop francês que vem acumulando prémios e admiração, não só em França. A rivalizar com ele, só mesmo Lambert Wilson, que intrepreta o ditador General Pochero, confesso fã de Celine Dion, ao protagonizar um momento hilariante como travesti na pele da diva que ele adora, Celine Dion, e que já é objecto de culto! A própria Celine Dion aparece já depois do filme ter acabado, numa pequena cena dos créditos, muito engraçada, mesmo que previsível.

Marsupilami não é bem uma comédia para toda a família com o seu humor peculiar, mas é simpático poder escutar um filme em francês - e mau espanhol - neste universo do cinema quase sempre anglo-saxónico!! O filme tem diálogos em francês e espanhol e foi filmado em França, na Bélgica, no México e na Malásia. Alain Chabet já tinha realizado Asterix and Obelix: Mission Cleopatra, um dos maiores sucessos do cinema francês.

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