Televisão: Segurança nacional foi a vencedora dos Emmy




No último domingo houve cerimónia de entrega dos prémios Emmy, os primos do Oscares do cinema. Com alguma evolução na escrita e realização para TV ou, retrocesso criativo na escrita e realização para cinema, onde se repetem as fórmulas de sucesso até à exaustão, de há uns tempos a esta parte surgiram propostas de entretenimento muito interessantes e diversificadas no pequeno ecrã. Os Emmy deixaram de ser considerados parente pobre do entretenimento e toda a gente começou a dar-lhe maior atenção, até eu, que, de uma forma geral não vejo assim tanta TV e que rapidamente me canso da maioria das séries. Para mim, cinéfila inveterada, nada se compara a um bom filme, mesmo que seja visto no pequeno ecrã por questões de economia ou porque, às vezes, a TV é ainda uma forma de ver cinema que não passa no multiplex ou em mais parte alguma próxima de mim. Se a RTP2 terminar, acreditem que vou sentir falta de algum cinema que passava e que nos outros canais nunca está acessível. Verdade, eu não posso estar a comprar DVD para colecionar, não ganho para isso, além de que colecionar DVD é um desperdício, faz parte de uma lógica consumista que coloquei de parte. Com tanto filme de que gosto essa coleção esgotaria meus recursos e espaço de arrumação num ápice!! Eu sei pois ainda comprei muita cassete video. E para quê? Quantas vezes vi cada uma? Não faz sentido. Por cada filme comprado, há pelo menos mais 10 que nunca vi. A criação e acesso fácil a um banco de filmes virtuais é algo que eu defenderia com unhas e dentes. Mas um banco variado e representativo, não um banco comercial destinado a fazer dinheiro.

Mas deixando de parte congeminações futuristas e voltando ao presente, no Domingo acabou a hegemonia de quatro anos vitoriosos da série Mad Men. Eu nunca vi Mad Men de fio a pavio, apenas episódios e não por ordem. Do mesmo produtor e argumentista da espectacular The Sopranos's, Mad Men é uma saga sobre a vida dos publicitários dos anos 60, um retrato impecável da sociedade, das relações pessoais e laborais americanas e, em suma, a história de como se vendia o sonho americano, tudo brilhantemente reconstituído ao detalhe. Muita qualidade, portanto, e, por isso mesmo, uma série que a batesse mereceria de imediato a minha atenção.

  Segurança nacional - Homeland foi consagrada na primeira temporada e isso é um feito assinalável. Daí também ter sido a vencedora maior desta edição. Não sei se terá sido uma vitória justa ou se apenas havia um desejo de algo novo, uma inversão de rumo. Conseguiu o galardão de Melhor série dramática e Argumento, e os protagonistas Damien Lewis e Claire Danes receberam os prémios de Melhor Actor e Actriz. E já tinha recebido prémios técnicos, ou seja, seis prémios. Também não vi todos os episódios de Homeland, que a Fox até anda a passar em oportuna revisão. Nos últimos meses não tenho tido tempo livre e prefiro ver filmes do que prender-me a horários. Mas não me tinha passado despercebido que o ponto de partida desta série era, desde logo, interessante, Homeland é um thriller sobre um americano recém-libertado do Iraque, Brody Nick (Damian Lewis), onde passou anos como prisioneiro do inimigo. Carrie Mathison (Claire Danes), é uma agente secreta da CIA. Quando estava no Iraque, undercover, uma fonte moribunda revelou ao seu ouvido que o prisioneiro de guerra americano milagrosamente resgatado tinha passado para o lado do mal. Recebido na América como um herói, será que ele é, de facto, um terrorista em potência?

Só agora descobri que Homeland se baseia numa série israelita, Hatufim - Prisioneiros de guerra, pois em virtude da vitória nos Emmy voltou a ser assunto do dia no seu geral e em alguns detalhes. Procurei o trailler de Hatufim e, de facto, parece consistente. Não seria interessante podermos ver Hatufim na TV? Os americanos, sempre com olho para o bom negócio, acharam decerto que era mais fácil inspirarem-se nela, venderem a sua história e fazerem dinheiro. E nós embarcamos.

  
Algo que me tinha chamado também a atenção quando Segurança nacional - Homeland foi anunciada foi a presença do nome de Howard Gordon na adaptação e realização. O senhor foi argumentista e produtor executivo de 24. E aqui eu tenho de confessar que era tão viciada na série 24 que cheguei, por duas vezes, a ver todos os episódios de enfiada, quando passaram durante o fim-de-semana na RTP2. Uma maratona de 24 horas, confirmo que ao fim de umas horas o prazer se tinha transformado em sacrifício e perto do fim eu ansiava por fazer forward e chegar à última hora mais depressa! 24 era o que era, uma série que só um estúdio norte-americano poderia produzir, um produto americano típico, como o foram filmes de índios e cowboys. De duas uma, ou alinhávamos na brincadeira ou não, se sim, Jack Bauer era entretenimento garantido, com as suas sete vidas e soluções radicais. O show não era realista, penso que isso era evidente, mas era diabólico na forma como nos prendia ao sofá. Desde logo suspeitei que Homeland pudesse ser assim, um desenrolar igualmente tenso e diabólico, bastava que o argumento fosse tratado com pés assentes na realidade e seria uma série mais adulta e talvez excelente. De facto, nos episódios que vi, lá estava a tal atmosfera de medo e imprevisibilidade que apreciava em 24. Já que não vi a 1ª temporada de Segurança nacional na íntegra, é possível que me predisponha a ver a 2ª, cuja estreia vai já acontecer no próximo mês, na Fox.


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