2012: o ano de George Clooney?



Fonte da fotografia, aqui.

Quando leio que fulano ou sicrano não suporta George Clooney eu não percebo o porquê de tamanha aversão. Será ele bonito demais? Educado demais? É sexy demais? Activista demais? Inteligente demais? Rico demais?! Expliquem-me pois eu não entendo. Sobretudo expliquem-me porque é que nunca se explicam quando dizem que não suportam o homem! O George fez-vos algum mal?!! Expliquem-me!É assim um actor tão bera?!Que madeixa do cabelo grisalho do Clooney é que vos provoca alergia?! Ou que faceta do estilo de vida do homem é que não vos agrada?! Muito chegado ao poder americano? Muito íntimo da Casa Branca e elites? Sabem algo que eu desconheço? É provável...Vá, expliquem-me, sou toda ouvidos, olhos, o que for preciso.

Pois eu digo e escrevo: este ano é o ano de George Clooney. Já ganhou o Globo de Ouro pela sua interpretação em Os descendentes, e é possível que ainda ganhe mais prémios. Quero ver este filme embora o prémio por ele recebido não seja a razão principal do meu desejo. Antes de tudo quer ver Os descendentes pois estou curiosa em relação ao que o realizador, Alexander Payne, de quem vi Sideways, uma pequena maravilha, possa ter feito.

A última vez que li algo sobre Clooney tinha a ver com o Sudão. George Clooney e outros activistas tinham colocado um satélite a espiar as actividades do regime do presidente Bashir e assim os grupos de defensores dos direitos humanos obtiveram provas de valas comuns dos massacres de Abyei, no Sudão do Sul, que apontam claramente para genocídio. Ele é conhecido por ajudar imensas organizações de âmbito solidário, por exemplo através do Programa Mundial da Alimentação, das Nações Unidas. Mas esta intervenção foi um pouco mais radical e até provocou a ira e a ironia do presidente. Um lado que me agrada em Clooney é que ele não é muito dado a escândalos - ou então é muito cauteloso! Por muito que as revistas fofoqueiras não o percam de vista, tentando obter provas dos seus romances e conquistas, a verdade é que cada história desentranhada, bem espremida, quase não dá sumo. A vida privada do "George do Café" - como eu e a minha mãe lhe chamamos desde que ela se converteu ao Nespresso em substituição da bica, por razões práticas e de economia - é mesmo muito privada. Ele que defenda a sua privacidade com unhas e dentes que faz muito bem. A mim isso não me chateia nadinha pois por regra o que os atores fazem ou deixam de fazer fora do ecrã não me interessa mesmo nada.

Como actor, e com mais de 30 filmes no curriculum, Clooney está muito distante do médico galã interpretado na TV, na série ER, - Serviço de urgência, em português, - que eu nunca vi pois detesto essas intrigas hospitalares. Como realizador já fez o suficiente para provar que merece a nossa atenção, começou com Letterheads, Confessions of a dangerous mind, continuou com o excelente Good night and good luck, um tratado sobre a ética jornalística. O último filme realizado por ele chama-se The ides of March e através da história de um candidato democrata americano mostra-nos como a corrupção corrói a política. Neste momento já tem planos para realizar um novo filme, The Monuments Men, uma história passada na 2ª Guerra Mundial, centrada num grupo de militares dos Estados Unidos, peritos em arte, que recuperam objectos de arte roubados pelos nazis.

Eu nem sempre apreciei o jeito de Clooney mas lentamente fui-me convertendo. Penso que dei por ele pela primeira vez numa comédia romântica, One fine day, em que contracena com a linda Michelle Pfeifer. Ele é um jornalista meio destravado e ela uma arquiteta toda aprumada. Ambos são divorciados, têm cachopos, e as peripécias acontecem ao longo de um dia complicado. Eu fujo a sete pés de comédias românticas,mas lembro-me de não me ter custado ver esta...

Depois apanhei-o a correr atrás de ogivas nucleares roubadas, em The Peacemaker. Ele é O Pacificador, um homem de muita acção e poucas palavras, porque na vida real as coisas não se fazem como manda o livro, é fazer primeiro e depois explicar. A Nicole Kidman também corre bastante atrás dele e mesmo no finzinho do filme safa a história e as vidas de muita gente nas imediações da ONU desactivando uma bomba numa igreja, pasmem, à martelada!

Uns anitos depois, ele foi o habilidoso ladrão Jack Folley e ela era a Jennifer Lopez. Comecei a ver o filme algo desconfiada - se tinha a J-Lo não ia prestar para nada- e enganei-me redondamente. Out of sight, é muito divertido e cheio de estilo, é obra de Steven Soderbergh, tornou-se um dos meus filmes favoritos à época e, se o visse hoje, talvez mantivesse a minha opinião! Em Ocean's 11 eu adorei sobretudo a banda sonora. George Clooney é Danny Ocean num remake de um filme que fez sucesso nos anos 60 e onde entravam Frank Sinatra, Sammy Davis Jr e Dean Martin. O golpe é de mestre, não é dois em um, é três em um - os 11 do Oceano planeiam roubar 3 casinos. É um filme de entretenimento, bem conseguido, mas não mais do que isso, e a estrela que brilha é Andy Garcia.

Com Good night and good luck, Clooney demonstra que não só sabe interpretar como pode realizar um filme sólido. A fita centra-se no conflito que opôs o jornalista Edward Murrow, da CBS, ao Senador McArthy nos anos 50, tempo da grande perseguição aos supostos integrantes do Partido Comunista, mesmo sem quaisquer provas, e é um retrato de como deve ser o bom jornalista. Em nome da ética, um bom jornalista arrisca junto de patrocinadores e até da empresa que lhe paga os salários para levar ao público a melhor e mais consistente informação, mesmo vivendo um clima de medo e represálias. Boa noite e boa sorte é a frase com que o pivot do See it now encerra cada um dos seus programas. Rodado a preto e branco, com a presença do jazz na banda sonora, poderia parecer um filme antigo e antiquado, mas nada disso, é tanto mais actual quanto George Bush deu carta verde para perseguir, perseguir, perseguir...e perguntar depois.

Em Syriana, George Clooney conseguiu realmente surpreender-me! Ele recebeu o Óscar pela sua prestação como actor secundário. Já escrevi neste blogue sobre Syriana. Um pouco como a linda Charlyze Theron, em Monster, o George deve ter pensado que se não se deixasse de ares de galã e olhares românticos nunca ia levar estatuetas carecas para casa. Então, neste filme de trama complicada, como Bob, um agente da CIA, George Clooney engordou e ficou pesadão, falha a sua missão e torna-se um bode espiatório. Quanto pior, melhor, ganhou o Oscar. Eu cheguei ao fim do filme sem saber porque se chama Syriana. Mas é muito interessante como amostra das negociatas e tramóias globais que podem existir em torno do petróleo.

Depois vi Micheal Clayton, e o fim interminável com George Clooney a olhar-nos quando se afasta no taxi é um fim perfeito e quase inesquecível para um filme em que Clayton, outrora um profissional respeitável, se encontra num ponto sem retorno, divorciado, desgostoso com a sua atual função - ele usa métodos pouco ortodoxos para apagar histórias embaraçosas de clientes de uma grande firma de advogados. Um caso peculiar vai obrigá-lo a escolher entre a sua consciência e a lealdade à firma onde trabalha. É talvez o filme onde mais gostei de ver Clooney, mesmo sem Oscar debaixo do braço.
E fico por aqui, para não aborrecer muito. Ainda vi mais alguns filmes com o "George do Café", faltam-me ver os mais recentes. Mas já basta. A caixa de comentários fica abaixo.

I rest my case!

Comentários

David Cotos disse…
Y ojo que la actriz que interpreta a la hija de Clooney actúa muy bien.