Uma semana de greves em todos os transportes públicos



A semana passada ficou marcada pelas greves em todos os transportes públicos, um protesto contra o plano de reestruturação do sector por parte do Governo. A greve dos transportes obrigou muitos portugueses a recorrer à viatura própria para irem trabalhar, situação complicada nas grandes cidades como Lisboa e Porto, com engarrafamentos monumentais ou então com reclusão forçada por ausência de alternativa. Mas o que estas pessoas sem alternativas sentem nestes momentos de aperto, sentem as pessoas de outras localidades do país o ano inteiro. Sempre fui adepta dos transportes públicos. Tirei a carta tardiamente, comprei um automóvel e acabei por me desfazer dele. Mas muitas vezes sinto-me presa de movimentos porque a cidade onde vivo não tem uma rede eficaz de transportes públicos.

Quando vivi no Porto não sentia qualquer vontade de pegar num carro. É uma grande liberdade não ter de pensar onde abastecer, onde estacionar, se fechei bem a viatura e onde a deixei! Verdade! Uma vez estacionei-o e depois esqueci-me completamente onde o tinha deixado. É a falta de hábito, mas também pode ser o indício de que não me habituo à novidade após anos de uso do transporte público.

Os transportes entre Figueira da Foz e Coimbra, uma ligação que usei vezes sem conta desde os tempos de estudante, são um exemplo de inadequação. Os 45 km de distância fazem-se ao longo de hora e um quarto em média. Verificam-se atrasos frequentes, mas disso já escrevi neste blogue. Ao chegar a Coimbra os autocarros estão à porta da Estação de Caminhos de Ferro. Aqui há pelo menos uma situação incompreensível de que tenho conhecimento: o último autocarro sai da Estação - saía, pois já não uso há anos - às 19.15 horas, sendo que às 19.30 horas chega um comboio de Coimbra, e vem sempre cheio. Este desajuste não deve ser o único mas é o único de que me recordo, pois obrigava-me a usar um táxi quando chegava.

Entendo que a rede de transportes públicos em Portugal deve ser melhorada e o seu uso incentivado pois só assim se educarão as pessoas para a consideração dessa opção e esbatimento de preconceitos quando aos mesmos. A mobilidade tornou-se essencial na vida actual. As pessoas já não trabalham perto de casa. Há mais pessoas a movimentarem-se, se dantes era apenas um membro do casal, hoje são os dois. Isso significa muitas vezes dois automóveis por agregado familiar. Não penso que seja um luxo, impõe-se como uma necessidade porque as alternativas não são alternativa. Mas, infelizmente, uma parte da população mantém um preconceito notório contra o transporte público mesmo que não o utilize!Para esses ter status social passa por exibir um modelo automóvel bem recente e de boa marca à porta do seu modesto T2. Esses desdenham qualquer autocarro, por usa vontade esses grandes volumes com rodas, inestéticos, malcheirosos, lentos e suburbanos, deviam até ser banidos da mesma estrada que partilham. Isto é verdade, conheço pessoas que revelam nutrir autêntico nojo por transportes públicos. A importação de petróleo para gasolina e gasóleo pesará certamente nas contas das importações portuguesas e seria muito útil à economia nacional que baixasse. Mais do que isso, as emissões de dióxido de carbono são prejudiciais ao meio ambiente. Quem pensa nisso sonha com carros eléctricos e movidos a combustíveis alternativos. Se se interessam por estas possibilidades vejam o site da Mobi. E, a Rede Nacional de Mobilidade, sobre a possibilidade de usar um carro eléctrico, que não usa um motor de combustão, logo, com menores emissões de gases poluentes. Espreitem também o site da Autogas, que apresenta o GPL como uma solução eficaz para reduzir custos de mobilidade e de emissões poluentes. Aí se lê que " É um facto que GPL continua há mais de 10 anos com aproximadamente 50% de diferença face ao uso de Gasolina."

Não acredito na dicotomia transporte público é para pobres, automóvel é para os ricos. Acredito que as pessoas devem usar uns e outros de forma a servirem o melhor possível os seus interesses de mobilidade - conforto, rapidez, poupança - e, se tiverem consciência ambientalista, os interesses do planeta, ou seja, da manutenção de uma vida saudável à sua superfície. Penso que este plano de reestruturação do Governo vai fazer estragos na lenta educação das pessoas sobre o uso dos transportes públicos versus transportes próprios. Não vai atingir aqueles que os usam, infelizmente quem não tem alternativas, vai continuar a usá-los, pagando o que for preciso para isso, removidos os incentivos. No caso de cortes da oferta, os automóveis vão voltar à estrada, com o evidente prejuízo que isso acarreta para a balança energética, bolso do utilizador e ambiente. Lamento assim concluir que em 2012 os portugueses irão de cavalo para burro em matéria de política de transportes.

Comentários