Fotos da recuperação do Theatro Circo, em Braga




Foto que mostra a plateia do teatro numa apresentação
destinada a público escolar, em 2010

Acabei de ler uma notícia onde o diretor do Theatro Circo, Rui Madeira, considera que o balanço dos cinco anos após a reabertura do Theatro Circo, em Braga, hoje assinalados, se pode considerar positivo. Revela que a bonita sala bracarense, com quase 100 anos de idade, se tornou espaço da memória coletiva da cidade e que recebeu mais de 300 mil espetadores neste período. De forma lúcida refere depois que neste espaço de tempo existem novos equipamentos culturais a funcionar na cidade e que a crise fez com que as pessoas cortassem na ida a espetáculos. Adianta ainda que é preciso também ter em conta a falta de educação para a cultura que reina em Portugal. Perante estes dados aquele número é animador.

Esta sala de espectáculos fica na Av. da Liberdade, em Braga, mesmo no centro da cidade. Passei a minha infância nesta cidade e foi nesta sala, no Cinema São Geraldo, perto da Rua dos Chãos, e depois no pequeno estúdio que abriu no Gold Center, que vi os meus primeiros filmes numa sala de cinema, incluindo fitas do Tintim. Do Theatro Circo recordo a sensação mágica que era entrar numa sala enorme que parecia retirada dos contos de fadas. O hall com as colunas marmoreadas, depois a sala ricamente decorada, dourados florais nas paredes, gradeados das varandas, a alta cúpula de onde pendia o lustre, o palco à italiana, a plateia de cadeiras vermelhas, as galerias e camarotes com as suas espessas cortinas. O Theatro era, portanto, um espaço mágico onde eu adorava ir, e em especial no Carnaval, nas matinées de cinema infantil, lançar serpentinas das galerias, era um ritual imperdível. Ia quase sempre ao cinema com o meu pai e lembro-me de uma vez ter ido com a minha avó ver Música no coração. Recordo-me também dos meus pais falarem de grandes comícios que ali se realizaram a seguir ao 25 de Abril.

A última vez que estive no Theatro Circo foi em 1999. Nessa altura recordo-me de ter achado o Theatro bastante envelhecido. Fui ver O Tartufo. Já havia andaimes no espaço e algumas zonas estavam vedadas ao público. A reconversão e requalificação do Theatro Circo iniciou-se em 1999 e transformou-o num grande complexo cultural, com completa tecnologia cénica e sonora, capaz de responder a qualquer necessidades da arte contemporânea. A sala principal tem 899 lugares mas agora existem ainda um pequeno auditório com 236 lugares e uma sala de ensaios.Todo este processo culminou a 27 de Outubro de 2006 com a reabertura do Theatro Circo ao público.


O trabalho de engenharia que foi feito para recuperar esta sala foi fantástico. Tal como um espectáculo que tem segredos de bastidores que ninguém vê, também a recuperação de um espaço é uma obra oculta de que somente vemos o resultado. Pena que não tenham feito um documentário sobre a requalificação do Theatro Circo. Algumas fotografias estavam disponíveis em bom formato mas agora já não as econtro online. Eram uma oportunidade para ver a sala de espectáculos de uma forma completamente diferente mas também extraordinária. Conhecê-las ajuda a valorizar o trabalho ali desenvolvido e cuja história faz agora parte da quase secular sala. Esta exposição foi apresentada durante o 4º Ciclo de Palestras em Engenharia Civil - UNIC - Centro de Investigação em Estruturas e Construção. Podem, todavia, consultar este pdf :TEATRO CIRCO DE BRAGA: AMPLIAÇÃO SUBTERRÂNEA SOB ESTRUTURA CENTENÁRIA de A. PINTO



Mais alguma informação sobre esta sala de espectáculos:

"O THEATRO-CIRCO DE BRAGA, MODELO DE  RECUPERAÇÃO ARQUITECTÓNICA E CULTURAL Duarte Ivo Cruz
O chamado “teatro-circo”, corresponde a um modelo de espaço convertível, entre o teatro à italiana e o então chamado “circo de cavalinhos”, utilizado com alguma frequência, na transição dos secs. XIX/XX, em expressões e construções arquitectónicas variadas – desde o barracão improvisado, tantas vezes referido no exaustivo (à época – 1908) Diccionário do Theatro Português de Sousa Bastos, até edifícios de grande porte e qualidade arquitectónica. Destes, restam hoje 4: o Coliseu dos Recreios de Lisboa (1890), o Theatro Circo de Braga (1915), o Coliseu Micaelense de Ponta Delgada (1917) e o mais tardio Coliseu do Porto (1952). Todos eles sofreram ou beneficiaram de intervenções , com destaque para os Teatros Circo de Braga e de Ponta Delgada, ambos restaurados já na presente década por iniciativa municipal.

O Theatro Circo de Braga deve-se à traça de Moura Coutinho de Almeida d'Eça, arquitecto que de certo modo faz a ligação entre as gerações de Ventura Terra e de Marques da Silva. Citam-se estes grandes nomes da arquitectura de espectáculo porque ambos, de uma forma ou de outra estiveram ligados, senão à obra, pelo menos ao projecto e ao concurso publico do Theatro Circo: mas Moura Coutinho, na altura Director de Obras Publicas do Distrito, assumiu o projecto , que dirigiu desde a edificação original á exploração artística e até às alterações que a certa altura introduziu para maior adequação à expansão da malha urbana.

A sala funcionou até aos anos 90, com cinema desde a década de 20 e sonoro desde 1932, tendo sido instalada em 1974 uma pequena sala-estúdio. Mas tudo isto em condições cada vez mais deficientes, até que em 1999 se inicia o processo de restauro.

O Theatro-Circo de Braga, no seu esplendor hoje recuperado segundo projecto do arquitecto Sérgio Borges, constitui um notabilíssimo referencial de espaço e monumento das artes do espectáculo. Desde logo, pela dimensão, pela lotação na estrutura à italiana, com… lugares na plateia e três ordens da camarotes da sala principal, agora completada, no restauro de 1999-2006, com uma sala Estúdio de 240 lugares no subsolo à vertical de 11 metros, o que é notável no ponto de vista de engenharia. 

Mas mais notável é a coerência de estilo e decoração do interior, restaurado com rigor, na coerência exuberante próximo de uma arte-deco afrancesada mas notável na beleza decorativa, hoje escrupulosamente recuperada: profusão de máscaras doiradas, espelhos, figuras decorativas … distribuídas por zonas sucessivas de circulação e de espectáculo - sala principal, sala estúdio, Salão Nobre convertível em sala com lotação de 200 espectadores, foyers e segundo a terminologia da época, “fumoir” e mesmo um inseperado “avan-foyer”… E tudo isto marcado por um arquitectura e decoração notáveis, na colonata interior, nos gessos e nas pinturas, designadamente do pano de boca. 
Recuperou-se também o vermelho vivo dominante dos teatros da época, restauraram-se as pinturas e a formidável cúpula de vidro da sala principal. 

O exterior, hoje numa nova centralidade urbana, domina nos cinco corpos e nove portas entremeadas com mascarões e colunas em capitel. Mas sobretudo, modernizou-se de forma exemplar o espaço de espectáculo e tecnologia de cena.

E só se lamenta que o próprio Mora Coutinho de Almeida d´Eça tenha permitido, aí pelos anos 20, a demolição de uma bilheteira, de que ficaram imagens notáveis na pureza do seu estilo arquitectónico, da melhor arte decorativa."

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