Diz o Anthímio de Azevedo que o tempo está a mudar

Hoje, dia 9 de Outubro, a meio desta tarde luminosa de Domingo, peguei na toalha de praia e lá fui eu. No caminho a pé ninguém se cruzou comigo vestindo de forma evidente à veraneante mas a orla do mar estava decorada de chapelinhos coloridos e tapa ventos. O sol estava bem quente, o vento morno e até o vendedor das bolas de berlim apregoava a frita maravilha com creme ou sem creme. Havia gente a banhar-se no mar, malta esticada ao sol, casais com bebés de colo e crianças pequenas a brincar à bola, baldes, pás e forminhas para fazer bolinhos de areia ainda não foram arrumados. Havia pais esforçados a carregar carrinhos de bebé pelo areal fora, havia mães a comer iogurtes magros. Gente entregue à leitura de livros, gente a namorar, gente a passear o cão, gente a olhar o mar. 

É uma delícia, pois é, mas eu fico preocupada ao ver o sol a fazer brilhar a água e um navio recortado ao longe. Já uma pessoa não pode gozar as dádivas da natureza despreocupadamente sem a consciência ambiental detonar. Pela manhã tinha lido um texto do Anthímio de Azevedo, aquele senhor simpático que vinha à televisão dizer o tempo que ia fazer. Isso foi antes de inventarem as meninas bonitas da meteorologia ou até de passarem os cinco minutos informativos para o cardápio dos telejornais, retirada assim toda a mística àqueles instantes e aos poderes quase adivinhatórios do Senhor do Tempo, o Anthímio. De vez em quando ainda o apanhamos na televisão a comentar os estados do tempo mas é sempre o tempo que fez. Se tiver havido um vento forte, uma saraivada danada, uma bátega de água gigante, lá vão buscar o Anthímio, ele é que sabe. Graças a ele é que sei o que é o anti-ciclone dos Açores. Afinal o tempo não é mais do que um eterno e infernal sobe e desce, afinal, o anti-ciclone é um centro de pressão atmosférica em que o ar atmosférico, mais frio e mais pesado, em cima, desce, aumentando a pressão junto ao solo. Um ciclone é um centro de pressão atmosférica em que o ar atmosférico, mais quente e mais leve, em baixo, junto ao solo, sobe baixando a pressão junto ao solo: é uma depressão. Com uma grande depressão fico eu assim que sei que o Inverno está à porta. Mas este ano o "Verãotono" está para ficar. Diz o Anthímio que o eixo da Terra se alterou e que por estarmos mais perto do Trópico de Câncer vamos ter estados de tempo mais parecidos com os das regiões intertropicais: uma estação mais ou menos chuvosa e outra mais ou menos quente, mas qualquer delas com dias semelhantes. Diz o Anthímio também que já deveríamos estar a entrar numa nova era de frio mas que em virtude do aquecimento global ela se atrasou. Ora bolas... e não são bolas de berlim. Dentro de anos nem vale a pena arrumar as coisas do Verão e muito menos as do Inverno, vai ser um tal alternar entre dias quentes e frios que a malta já nem vai ser capaz de marcar as férias de praia e as férias na neve!! A moda vai ditar que se use o bikini debaixo da camisolinha de malha e pronto. Depois o Anthímio referiu o aquecimento global. Há épocas em que se fala muito nele, noutras até parece que ele se resolveu por si e que já não precisamos mais de nos preocupar com a probabilidade de inundações costeiras e outros problemas sérios. Até a existência de praias será posta em risco... Mas se as pessoas nem pensam no risco de se abrigar à sombra das arribas no Algarve, vão lá elas pensar nos riscos do aquecimento global! Querem lá elas saber. Já cá não estarão e quem vier atrás delas que feche a porta. Foi o que me disseram quando comentei que já tinha comido castanhas assadas a semana passada porque amadureceram mais cedo este ano em virtude do calor!

Por muito que goste desta praia outonal com cara de Verão não deixo de me preocupar. Ou não serão estas evidências sinais de que o futuro não nos reserva coisa boa? E em vez de gozar o sol e o voo trapalhão das gaivotas estive eu a pensar no Anthímio de Azevedo nesta bela tarde de Domingo.

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