Ser despedido por causa do Facebook?



Acha que pode ir para a internet e escrever tudo o que lhe apetece sem consequências? Nem por isso especialmente se o fizer na wall da rede social Facebook e trabalhar para um empregador sensível. Já não é novidade mas é sempre bom lembrar um caso que aconteceu na Carolina do Norte em Maio passado. Uma empregada de mesa desencantada com a gorjeta que os clientes lhe deixaram resolveu ir desabafar para o Facebook. O casal que tinha atendido demorara três horas a despachar-se à mesa. A mocinha de 22 anos teve de ficar uma hora além do seu horário para apaparicar os clientes e, no fim de tanto empenho, o casal, forreta, apenas lhe deixou uns míseros 5 dólares. Daí serem apelidados de "cheap piece of shit camper(s).

Possivelmente o seu desconsolo justificava-se. Uma empregada de mesa numa pizzaria deve ganhar mal. Se o tal casal não tivesse alapado as três horas naquela mesa talvez ela tivesse conseguido mais uma gorjeta para equilibrar as contas. Nos EUA existe o hábito de dar uma percentagem sobre o valor da refeição. Ashley Johnson trabalhava então para a Brixx Pizza e, sem pensar muito, referiu o nome do restaurante na sua página. Uns dias depois a empresa chamou-a dizendo que ela tinha violado as regras de funcionamento da casa, regras com as quais ela se tinha comprometido quando assinou contrato, colocando o bom nome da Brixx Pizza em causa ao fazer um comentário que depreciava os clientes numa rede social!

Os comentários no Facebook e Twitter sobre este episódio eram imensos depois de um jornal ter feito notícia do caso. Na sua maioria a pessoas eram de opinião que a empresa tinha tido uma atitude excessiva ao despedir a funcionária: teria praticado um abuso de poder. Tanto burburinho transformou-se em má publicidade para a marca. Mas, sobretudo, o que este caso veio colocar na mesa foi uma nova equação: como proteger uma marca sem parecer que se está a limitar a liberdade de expressão dos empregados? Pois! É que se estou a milhas do meu local de trabalho e se estou com os meus amigos eu tenho o direito de me expressar à vontade sobre os assuntos que considere pertinentes, o Facebook é a minha nova mesa de café!! Será? O bom senso parece exigir que não seja assim.

As empresas querem já incluir na sua política empresarial notas sobre a forma como devem ser referidas nas redes sociais pelos seus funcionários, querem vigiar e tentar controlar o uso que se faz da marca que tanto trabalho deu a construir. Mas os seus funcionários não são sua propriedade! Cercear a sua esfera de liberdade tem de parar à porta da empresa. Mas, pelo sim pelo não é melhor para todos continuar a desabafar à moda antiga, face a face, ou pelo telemóvel, pois as empresas terão sempre acesso ao Facebook, ele é público a não ser que o nosso perfil seja privado, e ninguém está livre de num dia mais louco tecer um comentário impensado e por causa dele descobrir, umas luas depois, que foi parar ao olho da rua. Reparar essa situação pode demorar algum tempo, custar dinheiro e aborrecimentos. Valerá mesmo a pena em nome da liberdade de expressão arriscar? Pense-se também que o profissional que se expõe numa rede social ganha uma visão pública de si como um todo. Como tal, mesmo fora do serviço, ele será associado à empresa onde trabalha. Acresce que muitas redes possuem um campo sobre o cargo/função desempenhado que quase toda a gente preenche. O indivíduo torna-se público e é, ele mesmo, dono de uma identidade complexa que lhe deve inspirar tantos cuidados quanto a marca a uma empresa. A esfera privada diluiu-se e muitos ainda não têm essa consciência.


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Um estudo feito nos EUA sobre o aumento de incidentes entre empresas/empregados provocados pelo que se envia por email, publica em blogues, nas redes, no Twitter, etc, aqui!

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