Cinema: THIS IS IT!, Michael Jackson




As manas Fernandes foram ao cinema. Isto é coisa extraordinária, já não me lembro de quando foi a última vez que fui ao cinema com a minha irmã, deve haver mais de dez anos. Fomos ver This is it. Por insistência da minha irmã até comprei antecipadamente os bilhetes. Mas a euforia em torno de MJ não contagiou os figueirenses, pelo menos na sessão da tarde, talvez uma dezena de pessoas presentes, que escolhemos por causa do Gabriel, o meu sobrinho, que descobriu o MJ graças à sua morte prematura e que já dança energicamente o Beat it e outras músicas como um adolescente. Eu aprovo pois sem dúvida que a música de MJ é melhor que muita que actualmente se produz. Ainda assim eu não teria ido ver o filme se não fosse a insistência da minha irmã. Não sou fã de MJ. Eu gosto de documentários, muito, mas este filme não chega a ser documentário e não chega a ser o registo de um concerto. É o making off do concerto, é trabalho de edição em cada minuto e é isso. Músicos, coreógrafos, bailarinos, director, técnicos de som, de luz, de efeitos especiais, costureiros entregues à missão de fazer o melhor de que forem capazes, assim lhes é pedido por MJ, para dar ao público o melhor espectáculo possível. É um lançamento apressado feito pela AEG para fazer dinheiro fácil e rapidamente antes que a história arrefeça. Daí apenas duas semanas de exibição antes do lançamento do DVD, não se sabe ainda quando sairá, premières luxuosas nos EUA, grande movimentação de estrelas, vale tudo. É também um lançamento para fixar definitivamente a imagem de MJ como a estrela caída que teria conseguido fazer um regresso capaz. Todavia eu tenho dúvidas sobre se ele conseguiria aguentar um concerto, quanto mais os 50 concertos na arena de Londres. O Rei da Pop em certos momentos apresenta-se tão magro no seu fato preto de corte bizarro que eu só me lembrava de Jack Skellington, o Rei Abóbora(The Pumpkin King), ou não estivéssemos em pleno Halloween. Não podemos esquecer a enorme tensão psicológica a que estava sujeito, e, perante isso, chega a ser incrível o que nos é dado ver, a complexidade do show e as rotinas dos ensaios de 4 meses são exigentes mesmo se em muitas MJ me parece algo desprendido, ele refere que tem de se poupar, a voz, sobretudo.

O valor do registo dos ensaios reside no facto de ser um registo genuíno da vida profissional de uma pessoa que ficou marcada pela encenação constante. Mostra-nos MJ tal como ele era na sua relação com quem trabalhava com ele.E, pasme-se, MJ era rigoroso nas suas exigências, meticuloso até ao impossível nos seus objectivos, mas sempre gentil, nunca usando da afectação ou petulância que conhecemos em tantas divas no trato com os seus colaboradores. (Mas,e o que não nos foi mostrado?!)E poderia sê-lo pois a reverência destes é tanta, percebemo-lo no início, quando falam do que representa estarem nas audições para o show, que até se permitiriam ser humilhados pois afinal estavam no palco com o Rei da Pop, seu ídolo máximo.

As canções e as coreografias não são no essencial novidade mas estou convencida de que o espectáculo total que se percebe deste registo teria sem dúvida sido um êxito e cumpriria junto do público os seus objectivos. Bons músicos, descobrimos uma extraordinária guitarrista, Orianthi Panagaris, uma jovem loura que já trabalhou com Carlos Santana e Steve Vai, a quem MJ dá instruções dizendo, “Prolonga essa nota,vá, é o teu momento de brilhar”. O concerto teria piscadelas de olho ao cinema em vários momentos através de videos com MJ a aparecer em imagens de Gilda, a piscar o olho a Rita Hayworth, e a trocar as voltas a Humphrey Bogart em The big sleep, isto para Smooth Criminal.T ambém o cenário de The way you make me feel remete para Bob Fosse, coreógrafo e realizador conhecido por Cabaret e All that jazz. Thriller ganha novo brilho com direito a guarda-roupa revisto, caracterização actualizadas e efeito 3D. Sem dúvida teria sido o delírio. E,já para o fim, o tom de celebração muda e a mensagem que MJ quer que as pessoas levem consigo teria sido afinal de preocupação para com o Planeta que sofre: heal the world. Ortega não caiu na tentação do tributo e editou com sobriedade.

O trabalho criativo é a estrela ao longo dos 112 minutos de filme e é com pesar que deixamos a sala de cinema, pensando no quanto se perdeu numa overdose. Mas não estranhamos. É a história de muitos artistas,o que foram e o que podiam ter sido. E não será a última.

Comentários

Anónimo disse…
cruzei-me com as palavras sobre This is it e quero susbcrever os elogios e a admiração pelo MJ.
MJ era soberbo na sua humildade, fantástico na exigência e na educação e delicadeza com que levava os outros a obedecer-lhe,generoso no partilhar da luz do palco com quem tinha a tal "sparkling flame" que era precisa para se poder chegar até ali.
espectáculo grandioso...might have been...yes...
This is it tem o mérito de repõr a verdade sobre o seu valor de entertainer, músico, compositor e pessoa - é uma boa obra que, mesmo para fazer dinheiro enquanto o tempo não faz esquecer tudo,não caiu em nenhum pecado de lamechice nem descuido...tudo pensado e sóbrio e...para mim: amazing.
Anónimo disse…
pois...o MJ de This is it é fabuloso na sua humilde e majestosa figura humana....as aparentes contradições nos sentidos dos termos que usei foram intencionais!

ele era de facto uma personalidade diferente...em todos os aspectos...

uma perda para a música e para a humanidade para a Terra também porque poder-se-ia esperar mais deste cavaleiro da natureza talvez...

o destino é estranho...talvez assim tenhamos ficado a ver coisas dele que d eoutra forma nunca saberiamos...quem sabe?

Brilha onde estiveres, MJ...aqui continuarás a cantar e encantar( a metáfora é estafada mas real).
Obrigada pelos comentários ao MJ!Mesmo não sendo fã acho incontornável o seu valor artístico e espero que o filme cale algumas vozes idiotas que se ouviram por ocasião da sua morte.
clara disse…
olá!
a mana acha que o texto escrito diz muito bem do espectáculo que partilhámos....
já não íamos ao cinema as duas há bem mais de dez anos...põe-lhe aí uns quinze anos e não erras!!!!

eu cá era fã...e sou fã...
e tu escreveste muito bem sobre isto tudo...captaste a essência,sister...really did it!