GONÇALO CADILHE sobre a Figueira da Foz




"Paradoxalmente, vivo num lugar que nem é extraordinariamente bonito nem sequer se preocupa em cuidar da sua frágil beleza natural. A Figueira da Foz é uma cidade inchada pela avidez. Constrói-se, descaracteriza-se, derrama-se cimento, mas a população não aumenta. A cidade apenas incha."(...)

"Por contraste, vivo num litoral de frequentes neblinas cerradas que provocam reumatismo logo desde a juventude, facas de humidade que duram meses e cortam ossos, ondas geladas de um mar escuro e malvado que roubam anos de alegria e saúde."(...)

"Só poderia viver aqui, em casa, na terra onde nasci e, feitas bem as contas, no lugar onde mais probabilidades tenho de ser feliz."

"Quando ainda não viajava, pensava que poderia viver em qualquer lugar que me agradasse. Hoje, já não estou tão certo. Na realidade, creio que o nosso passado pessoal, o sabor da sopa que comemos em meninos, as anedotas que nos ensinaram o sentido de humor, a temperatura média de cada dia de Inverno, o timbre com que falamos quando falamos de amor e um caleidoscópio infinito de outros factores nos condicionam a ferro e fogo e nos agarram a um padrão de qualidade de vida que é irrepetível e intransponível. A isto tudo se chama, simplesmente, 'raízes'.A resposta tinha um tom fatalista, mas o meu amigo não o colheu. Na realidade, não respondi à pergunta. Não era "onde eu gostaria de viver", mas sim onde "poderia viver". Só poderia viver aqui, em casa, na terra onde nasci e, feitas bem as contas, no lugar onde mais probabilidades tenho de ser feliz."


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