Não é segredo: comboios Figueira- Coimbra funcionam mal



Comboios na estação da CP, em 2003



Alguém me diga se estou a ver mal as coisas. As ligações ferroviárias entre Figueira da Foz e Coimbra nunca foram exemplares por isto ou por aquilo. Talvez o tenham sido num tempo anterior ao meu tempo. No tempo em que estudei em Coimbra as carruagens eram uma relíquia de 1968. Uma vez ou outra o comboio dava um estoiro e parava no meio dos campos do arroz, portas abertas, e, porque Inverno, a água e o vento entravam para nos refrescar. De manhã cedo por vezes não se respirava, as janelas subidas por causa do frio e os aquecedores em força. Que bafo! No Verão eram as longas esperas em Coimbra-B, nenhum ar condicionado e toda a gente sentada e de pé, a brilhar de suor. Por vezes o comboio não parava onde devia, outras as portas abriam com dificuldade! Mas as pessoas viviam contentes, não se queixavam e achavam tudo natural e transitório.

Um dia muito mais tarde chegaram umas carruagens mais bonitinhas, com bancos de tecido macio e colorido, e com música (que já não toca) e voz agradável a anunciar o nome de cada apeadeiro. Mas agora chegou a polícia. O tom não é para brincadeira. 

Esta semana iniciei funções numa empresa em Coimbra e desde segunda-feira os comboios da manhã e de fim de tarde nunca chegaram à tabela. Ao segundo dia tive de me desculpar junto da entidade empregadora - cheguei vinte e cinco minutos mais tarde do que o suposto. "Foi o comboio"-disse-"atrasou".
Eu uso periodicamente o comboio. O ano passado usei-o três vezes por semana, durante quase todo o ano. Os atrasos são comuns e afectam muitos dos que o usam para seguir para o trabalho em Coimbra. É um stress constante para essas pessoas, constatei isso muitas vezes. Eu, para contornar a situação, cheguei a ir num comboio anterior, chegando assim com bastante antecedência à formação que ministrava. Dava até para ir tomar café e esticar as pernas. Mas em algumas situações não há qualquer alternativa senão contar com a compreensão do patrão. 

Algumas pessoas cansadas de reclamar junto da CP- na Figueira, em Coimbra, na internet, o chamado "livro amarelo", oralmente e por escrito - sem obter eco das suas queixas resolveram passar à acção e hoje duas senhoras, uma no comboio da manhã, outra no comboio da noite, fizeram circular um abaixo assinado para dar conta a várias entidades - Câmaras Municipais das zonas servidas pela linha,CP, etc- de que os utentes/clientes daquele transporte estão insatisfeitos com estes atrasos recorrentes que colocam em causa as suas obrigações profissionais. A elas solicitam o cumprimento dos horários e até a revisão dos horários estabelecidos no sentido de servirem efectivamente as populações. Note-se que em tempos anteriores à última reestruturação de horários o serviço não sendo perfeito era melhor prestado.

Ora, a senhora abordou-me ordeiramente para me dar conta do abaixo assinado e quando regressou para recolher a folha disse-me que o revisor tinha chamado a polícia que estaria à espera dela quando chegássemos! Eu fiquei incrédula!!! Mas quando nos aproximámos da gare lá estavam os dois agentes para identificarem a senhora, inteirarem-se do sucedido e fazerem a participação. Muito correctos, pelo menos até onde segui a situação, fizeram as suas questões e tomaram as suas notas, rodeados de uma dezena de passageiros que estavam solidários com a "cabecilha" do movimento. A dado momento perguntaram à senhora se era ela quem estava "à frente do movimento"!

Eu tive de sair antes do final do episódio, mas gostava que esta nota fosse divulgada nos blogues da Figueira da Foz. Os figueirenses devem tomar conhecimento deste incidente. Muitos dos que me lêem poderão até não precisar deste meio de transporte. Mas basta recordar que na recente crise de combustível provocada pela paralisação dos camionistas muitos automobilistas optaram por usar o comboio nesses dias e a diferença no número de passageiros nas carruagens era manifesta. 

O transporte é prático e económico para quem trabalha no centro de Coimbra e se a ligação fosse mais eficaz muitas mais pessoas optariam por ela em vez de se sujeitarem a ter de pagar estacionamento ou a ir estacionar muito, muito longe do local de trabalho. É injusto que a CP contratualize e não cumpra um serviço de forma recorrente, dia após dia, que não aponte uma justificação para o facto, nem se proponha cumprir. O passageiro compra um bilhete, logo tem direito a um serviço específico que é descrito numa tabela. Se por cada vez que um atraso sucede houvesse ressarcimento de danos a cada passageiro talvez a CP não tratasse esta situação com um encolher de ombros, uma inevitabilidade. Não é assim, não pode ser assim. Para a próxima, quando o meu comboio chegar atrasado a Coimbra, vou chamar a polícia para identificar o motorista, para se inteirar da irregularidade e fazer a participação. Assim parece-me bem mais acertado.

Comentários

NUNO SOARES disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
NUNO SOARES disse…
E se o comboio tiver uma qualquer avaria ou atraso,por estar a pagar um serviço não poderei também chamar a polícia???

Este país vai de mal a pior!
Capitão Merda disse…
Decididamente, vou emigrar para a China!
Guimaraes disse…
Tendo andado vários anos nos magníficos comboios que descreveu, sinto-me solidário e não resisti a escrever no meu blog
http://guimaraes2-observador.blogspot.com/2009/03/o-caso-do-comboio-da-figueira.html
Abrenúncio disse…
É por isso que não troco o barco pelo comboio.
Nuno Guimas disse…
Vivi episódios completamente inacreditáveis e dignos de qualquer filme de Sergio Leone nesse comboio. A atitude dos funcionários da CP sempre foi agressiva demais com as pessoas educadas e completamente passiva perante as pessoas violentas. A policia nunca apareceu quando os problemas eram de facto graves. Sinceramente, aquilo nem é bem um comboio, é uma anedota nacional. Mas, fica aqui uma provocaçãozinha... ao fim de tantos anos em que tudo esteve na mesma, não haverá uma "mea culpa" dos figueirenses pelo arrastar da situação?