Amaragem no rio Hudson é notícia na TV

( Foto retirada daqui!)
Sexta-feira à noite. Haja paciência para ver as notícias. Observem como os obreiros dos telejornais conseguem estragar completamente a notícia de um facto extraordinário – a amaragem de um avião de passageiros no rio Hudson e consequente busca e salvamento de todos os que seguiam a bordo. Acontece um facto inédito e convocam logo meia dúzia de especialistas, ou quase, nas mais diversas áreas relacionadas para irem debitar explicações frente à câmara em autênticas mesas redondas. As perguntas que lhes fazem nem sempre são as mais pertinentes e as respostas que eles dão também deixam por vezes um pouco a desejar. Mas a gente compreende, coitados, sem direito a teleponto e com o nervoso miudinho de prémière esta gente arrisca-se a fazer fraca figura a não ser que já tenha experiência de luzes e palco. 

Em jeito de grande revelação científica alguém desbobina então que há pessoas que até ficam mais fortalecidas psicologicamente depois de passaram por uma experiência traumática como esta, o que a jornalista se apressa a confirmar, “ o que não nos mata torna-nos mais fortes!” Obviamente, está visto. 

Os obreiros da TV exploram depois a situação de todos os ângulos possíveis e de repente a notícia passa a reportagem: estaria o aeroporto de Lisboa preparado para dar resposta a uma situação destas? Mas esta gente quer o quê?Acagaçar-nos?! A resposta face ao desastre começaria, no entender da jornalista, por saber a quem ligar para accionar os meios. Devia ser isso porque a jornalista fez vários telefonemas para descobrir que afinal não era o aeroporto que accionava os meios. Não, isso era antes responsabilidade da Protecção Civil, ah, espera, era da Marinha, ah?, não, era antes da Força Aérea...ahh...o quê? E eu às voltas no sofá: claro que não seria de esperar que uma jornalista soubesse a quem ligar em caso de acidente aéreo e daí ter de fazer várias chamadas!Mas daí a arrastar-nos na sua pesquisa e transformá-la em reportagem?!!Ora, não saberia o responsável no aeroporto de Lisboa fazer esse tal simples e único telefonema? Coisa difícil para esse funcionário, hem?!,quase tão difícil quanto amarar o avião no Hudson. Que diabo, ainda nos fazem parecer mais incompetentes do que aquilo que já somos! Curiosamente e no final da peça fiquei sem saber,em concreto, quais são os meios disponíveis existentes para fazer face a um acidente do género no Tejo!!!!!!Ou seja: queriam dar uma resposta...e deixaram-me com uma interrogação.

Continuando. Ou sou muito diferente do espectador comum, ou estou a ficar diminuída mental, juro.Não percebo o que poderá acrescentar à notícia a reconstituição do voo acidentado num simulador, com o respectivo instrutor a dizer meia dúzia de palavras tiradas a saca-rolhas, "vamo-nos fazer à pista", "aqui a aeronave já estaria com problemas", como se estivesse a fazer um grande frete por estar ali, e se calhar estava. É que nem toda a gente quer desesperadamente 15 minutos de fama e aquele homem às tantas preferia estar em casa a construir modelos de aviões da Planeta Agostini. Além do mais isto é como ver os making off dos filmes que têm efeitos especiais: perceber como é que o caça do Luke Skywalker voa até à Estrela da Morte retira metade da espectacularidade à cena. Não me expliquem como é que o piloto conseguiu amarar e eu vou achar que o homem é Deus; expliquem-me, eu despromovo-o a piloto competente. Em resumo: o meu interesse pela notícia-espectáculo do dia (anterior) entrou rapidamente em queda livre, esgotada qualquer margem de manobra para a minha paciência ou capacidade mental para abranger tanta criatividade. Mudei de canal, e mudei de canal.E mudei de canal.

(Joe e Victory, par romântico de Lipstick Jungle)

Como estava muito cansada fiquei pelo sofá e acabei por ver mais um episódio da Lipstick Jungle, um sucedâneo pobre de Sex and the city, inspirado em livro da mesma Candace Bushnell que escreveu a história das quatro nova iorquinas da vida airada. Candace tem feito sucesso a escrever com base na fórmula mulheres, romance, dinheiro, moda."Selva de baton" -acaso conseguem imaginar uma série portuguesa com este nome a ser levada a sério?!-estreou no horário de Men in trees (Amor no Alaska) a que eu achava bastante piada. 

Não sei porquê sempre gostei de ver televisão à sexta à noite, uns videos, uns DVD, qualquer coisa assim, é uma boa maneira de iniciar o fim de semana e descomprimir. Embora não goste da série e apenas a veja quando não há mesmo nada de melhor para fazer, ontem vi uma cena de minuto e meio que está ao nível de qualquer bom filme romântico, "you own my heart, Joe,"- diz a Victory, muito bonito. 

 (Catarina Furtado em Maria e as outras)

Noite adentro vi ainda um filme português de 2004 com a Catarina Furtado. Facto extraordinário e digno de nota, já que eu nem gosto muito de a ver a apresentar programas. Na altura da estreia este filme passou-me tão ao lado que nem me lembro do cartaz! Não sei se teve muitos espectadores ou não. Maria e as outras não é mais do que uma espécie de Sexo e a cidade em versão adaptada à sociedade portuguesa. Impunha-se o downgrade, isto é cortar com o excesso de haute couture e griffes, haute coiffure e maquilhagem à prova de noites mal dormidas, saltos de agulha em escritórios de gabarito, conversa desbragada sbre sexo, etc. A vida é aqui mais terra a terra, menos glamourosa e atribulada mas nem por isso menos moderna ou desprovida de surpresas. 

Escrito por Possidónio Cachapa e filmado por José de Sá Caetano, digo isto com agradável surpresa, vi até ao fim. É claro que podia ser um melhor filme e se o tivesse visto numa sala de cinema estaria agora a chorar o meu rico dinheiro. Mas em modo de telefilme de sexta-feira à noite não tenho nada a acrescentar a não ser que, se fosse série, talvez voltasse na semana seguinte para ver mais aventuras das três mulheres.Por esta não estava eu à espera. 

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