Festival RTP da Canção: Emanuel é o rei , e nós, pimba!


Sinais dos tempos, o televoto nos concursos é como uma bazuca nas mãos de uma criança: só pode causar grandes estragos. Porque razão é que em concursos para apuramento de talentos vocais se dá possibilidade ao público de decidir? Hipótese de dizer de sua justiça seria justíssimo, mas decidir? Os concorrentes são desta forma entregues nas mãos do povo que se refastela na arena nacional do sofá. Eu incluo-me. Não sei de música o suficiente para pensar que posso ditar o destino de um desses concorrentes. Posso gostar ou não. Mas saber se vale a edição de um disco, se é mesmo bom? Excelente? Mau? Pior que mau? Mas há que dizê-lo: por melhor que fosse a mira, fosse qual fosse a pontaria dos televotantes do Festival da Canção, os desastres seriam equivalentes já que os alvos musicais voltaram este ano a ser desastrosos e o certame no seu todo uma pequena catástrofe do entretenimento nacional. Até aos ouvidos dos mais moucos da nossa arena de consumidores musicais isso terá decerto parecido evidente. Com a entrega da decisão às massas telespectadoras poupou-se a um júri qualificado o sacrifício de participar. Alguns até puderam produzir a sua musiquita, outros ficaram a rir-se na assistência e os mais felizes foram divertir-se a sério que era sábado à noite.(Todavia nem sempre ser conhecedor é garantia de bom critério. Já vi disso. Ou será que apenas discordava deles?!!) Lembram-se (ou talvez não) que no passado Festival os “conhecedores” tinham uma escolha e o público, outra. Deu banzé. E deu Non-stop. E deu em nada, claro.

Em ano de comemoração dos seus 50 anos a RTP voltou a perder a hipótese de relançar um dos seus produtos de marca. Atravessa-se uma fase de requalificação/renascimento do novo humor português, seja em formato “fedorento”, seja em formato stand comedy ou outros, e então os produtores lembraram-se de pedir uma comédia (musical?) a Eduardo Madeira e incumbiram António Feio de encenar. Mas a avaliar pelas carantonhas mais sinalizadas na assistência a atmosfera na Sala Tejo do Pavilhão Atlântico era de tédio, senão de escárnio quanto ao que se passava no palco. Estes produtores ainda não perceberam coisas básicas: mais vale mostrar um desconhecido bonito e satisfeito (nem que se lhe tenha de pagar) na assistência do que figurões de cara feia por pior que seja o aparato em palco. Fica mal. Quebra o espírito festivaleiro. Ah! Quando liguei o televisor uma cobra enrolava-se no corpo de um bailarino. Logo aí a coisa prometia. A abertura em estilo novo-circo barato e o sketch inicial incentivaram-me de imediato ao zapping. Passei para os 60 minutos, que vejo sempre que posso. Voltei para ouvir as cançõezinhas. Depois do separador mal amanhado em torno do Número 1 e da primeira demonstração de canção, já tinha a sensação do costume: aquilo ia correr mal, era bom que acabasse depressa. Nisso foram profissionais: o festival deu às perninhas e rapidamente chegou ao fim. (Com mais uns zappings oportunos de vez em quando.)

Quando era criança adorava ver o Festival. E o Internacional também porque era uma hipótese de ouvir canções de várias línguas e eu achava um piadão a isso. E ainda gosto hoje talvez porque goste de canções e de concursos de canções. Mas estou a perder a paciência pelo menos para a nossa anual demonstração de mau gosto. Não compreendo como é que tenho tantos CD com música portuguesa de que gosto. O Festival parece ser um íman que atrai o desvario musical. Acho excelente que se cruzem estilos, se misturem tendências, mas desde que a soma das partes valha mais do que cada uma por si. Percebem o que quero dizer se ouviram aquela canção mistura de fado e rap…O Paulo de Carvalho que é, salvo erro, pai do rapaz não lhe terá ensinado nada?!!

Depois de ouvir as dez canções achei obviamente que o Emanuel tinha feito a jogada certa. Letrinha sem sal, musiquinha de ouvido, pouco exigente vocalmente, menina bonita e fresca com nome de estrelita (porno, mas façam de conta que não, também é nome de filme), coreografia habitual. Sabrina, sósia de não sei quantas pimba girls que por essas feiras fora encantam os solarengos e poeirentos Verões portugueses, fins-de-semana dos que cá moram e férias dos que vêm de visita, ia ser a estrela da noite. No cenário teria ficado perfeita uma roulotte de farturas e um carrinho do algodão doce, ou mesmo um carrocel. Mas isso teria sido muito óbvio. Ele pode ser Pimba mas não é parvo. Depois foi só esperar pelos televotantes que reconhecendo o seu som de marca a quilómetros de distância desataram a disparar votos na menina que nem doidos fruto da Emanuelite crónica. Et voilá. Quem sabe, sabe. Até aposto que Emanuel estava seguríssimo de vencer. Eu gostei do rapaz dos cabelos compridos, de nome Diogo e uma letra, já não me lembro qual.Não me importaria de ouvir outras coisas que tenha feito, se é que fez. Nunca o tinha visto mais gordo, certamente nunca o verei mais magro.Coisas de Festival.











Para quem não sabe o que está a perder,Sabrina, em Dança comigo, representação portuguesa no Eurofestival de Helsínquia 2007!Nós Pimba!Nós Pimba!

Comentários

MCA disse…
Há anos que não vejo o festival da canção (também não tenho televisão...) mas não pensei que pudesse ter descido tão baixo! Há 25 anos ganhou o José Cid, salvo erro com um festivaleiro "Addio, adieux..." que deixa muito a desejar para ouvidos mais educados. Mas, ao pé disto, o José Cid é Schubert...
zé lérias (?) disse…
Fique descançada minha amiga que felizmente ainda há muita gente que está de acordo consigo.
Receio é que daqui a uns anitos, depois desta fornada ficar gágá, as pessoas com algum poder crítico sejam completamente gozadas...

E nós?
-PIMBA!