Banda desenhada de Marini, vampiros e selos de desconto


Protesto! Gostava mesmo que as editoras deixassem de fazer este disparate que é colar selos às capas dos livros seja a que título for. Dispensava-se perfeitamente o "Exclusivamente este mês!" , o "Preço de Amigo do Peito", o "Preço de Saldo Todo o Ano!", o "Preço ao Preço da Chuva" com que nos querem sinalizar o favorzinho. Imaginem um inestético selo esverdeado com 5cm de diâmetro sobre a capa à vossa esquerda e digam-me se não tenho razão!Selo ou não-selo, eis a questão! Como se já não bastasse os hipermercados autocolarem preços nos livros para eu me entreter a esgravatar com a unha pacientemente antes de iniciar a leitura, as editoras, que têm quanto a mim muito mais obrigação de respeitar o livro do que o hipermercado, inventaram o mega selo!E note-se até que no hipermercado a maioria dos produtos trás um código de barras para leitura e deixou de ter preço afixado individualmente. Mas o amigo livro é parente pobre desta inovação e continua a levar com o selo como se fosse um elemento estranho no meio das vendagens e precisasse de tomar uma qualquer vacina para se proteger e vingar no meio adverso!!

 Isto vem a propósito da minha compra de hoje de manhã, A Estrela do deserto, II, de Marini. Ainda não tinha este livro, apesar de já estar no mercado desde 2002, e estava à venda no hipermercado com um desconto (embora) não muito grande, e sem dúvida mais pequeno do que o redondo selo que a editora ASA cola na capa a anunciá-lo.

Talvez tenha sido em 2000 que comprei o primeiro livro de Marini, um volume da série Rapaces, parceria do desenhador com o argumentista Dufaux. Apesar de comprar alguma banda desenhada não sou nenhuma especialista na matéria e guio-me apenas pelo meu desinformado gosto. Sei que devo ter adquirido grandes disparates ao longo dos anos ao basear-me apenas na intuição. Certamente deixei escapar as verdadeiras obras-primas. Mas tenho alguns álbuns que sei bons e li alguns dos melhores autores. 

Ainda miúda, participei num concurso de banda desenhada e ganhei como prémio as aventuras completas (até esse momento) de Alix. Alix é um personagem, um jovem alourado e atlético, que foi criado em 1948 pela mão de Jacques Martin, um autor que pertence com Hergé à chamada Escola de Bruxelas. As suas aventuras decorrem no mundo antigo, entre a África e a Mesopotâmia. Alix enfrenta batalhas, conspirações e mistérios, num cenário fruto da grande paixão que o seu autor nutre pela História. Eu li os oito ou 10 volumes, mas não gostei mesmo nada sobretudo do aspecto gráfico. Esse tipo de banda desenhada havia de me marcar pela negativa e durante anos fugi de vinhetas e balões muito arrumadinhos, procurando mais expressividade no traço e no uso da cor, trabalhos que denunciassem liberdade exploratória dos autores ou caminhos alternativos a esses modelos. 

Recordo a obra Tell me Dark , uma novela gráfica de Kent Williams, que aqui trabalhou sobre um argumento de Karl Wagner e John Rieber, baseados estes no Fleurs du Mal, de Baudelaire, que alimentou longamente o meu fascínio pela área mais alternativa da banda desenhada. E então um dia foi que dei de caras com os vampiros do Marini. Li o livro inteirinho de pé, na livraria Bertrand, e num instante. Era notória a influência da manga japonesa, vim depois a saber que o seu inspirador é Otomo Katsuhiro, autor de Akira. A história da decadente sociedade de vampiros, do casal de irmãos vingadores, Camilla e Drago, e da tenente da polícia Lenore, desenrola-se numa Nova Iorque predominantemente nocturna, lúgubre e arruinada. As páginas apresentam-se numa progressão quase cinematográfica em planos cheios de profundidade, arrojo e equilíbrio, numa perfeita composição dos mais variados ambientes. As personagens são poderosas e sexy. O estilo narrativo é fluído, o traço e a aplicação da cor, vibrantes, o vermelho sempre presente e contrastante. Em suma, um festim visual e até literário. 

O livro parecia encerrar um fascínio diabólico pois lembro-me de ter procurado cada um dos volumes seguintes avidamente, até mesmo numa ida à Bélgica, e aí, país berço da 9ª arte, na esperança de me adiantar à edição e distribuição em Portugal! Ainda hoje quando vou a livrarias que sei mais dedicadas à banda desenhada espreito sempre a ver se não haverá um novo Rapaces à espreita, o volume V. Mas por enquanto, nada. Se tiverem curiosidade e quiserem conhecer um pouco de Marini, sigam o link!

Comentários

Art&Tal disse…
e claro que vou torcer para me mandares uma carta de longe.

vaiiiiiiiiiiiiii

vai e procura o vicente todoli da tate modern

diz-lhe que es do porto e ele levanta-te ao colo

bjs

c.
Capitão-Mor disse…
O imaginário vampírico sempre me seduziu no campo da literatura e do cinema. Desconhecia por completo...
Nuno Amado disse…
Olá
Esse volume que apresentas como tendo o selo do desconto é da Meribérica, a ASA editou o III e o IV em formato maior e de capa dura.
Portanto o selo deve ter sido posto pela distribuidora que comprou os restos da Meribérica: a Sodilivros!
De resto concordo com analise que fazes da série. Se gostas do Marini tens mais com que te entreter em português:
Gipsy
A Estrela do Deserto
Escorpião
As Águias de Roma
São séries que não deixam ninguém que goste de BD indiferente!
Este ano deve sair mais um livro do Escorpião. Já agora, se pesquisares sobre Escorpião e Gipsy verás que os volumes 1 destas duas séries também foram editadas pela Meribérica (mas arranjam-se bem).
Tudo grandes séries!
:)