House MD é drama e comédia numa série sofisticada e desafiante


Hoje à noite, se a TVI não nos trocar as voltas, há episódio novo do Dr. House. Dizem eles que é novo, eu não sei se será. Apanhei a série já na reposição e até pensava que só em Abril é que ia haver novidades, já estava conformada. É que sem a 24, House MD é a minha única desculpa para ligar a TV ritualmente. Para quem nunca apreciou séries com médicos, enfermeiras e pacientes foi uma surpresa encontrar uma série que me tenha convencido e cujo contexto seja o da medicina. Para lá do que todos exigimos quanto a interpretação, realização e produção, nada menos do que a excelência, esta série traz-nos histórias surpreendentes de casos raros ou até extravagantes, não sei como melhor classificá-los, do mundo da medicina. Depois desenrola-se como se cada um fosse um mistério que a equipa de médicos-detectives aposta decifrar antes que a morte vitime o paciente. Desengana-nos sobre a infalibilidade dos juízos médicos e as suas certezas absolutas, choca-nos até pelo método da tentativa e erro, a única forma de tratamento que parece possível perante aquela circunstância. Como se não bastasse a complexidade dos casos também os pacientes são personagens complexas, mas nenhuma o é tanto como Gregory House, interpretado pelo blue eyed Hugh Laurie. House, o médico que desafia todos, os pacientes com quem interage o mínimo possível – ele detesta doentes tanto quanto ama uma boa doença - e a sua equipa, e fá-lo em diálogos de mestre, que são só por si um mimo para quem assiste aos episódios. Talentoso,o especialista em diagnósticos, vive atormentado por dores físicas permanentes fruto de um acidente que o deixou a coxear para a vida, é viciado em Vicodin, um acetaminofeno tipo paracetamol, - posso estar enganada aqui, não percebo nada disto - e também em telenovelas, a que assiste nos quartos de pacientes em coma. Em nome duma forma de ser desapegada e egoísta, misantropa também, ele diz sempre a verdade mesmo que ela corte a direito e mais fina que qualquer bisturi, a sensibilidade alheia. Não é raro, pois, que os seus interlocutores assim maltratados relacionalmente o classifiquem de mau a pior e se afastem deixando-o feliz na sua doce solidão. Sarcástico, miserável, arrogante, convencido, impertinente, bruto, desprezível, presunçoso, tudo isto se lhe cola à pele que nem luva cirúrgica. House não usa bata branca, anda de mota, toca piano e não sei se fala francês, mas disse uma frase em português num dos episódios que vi, cujo caso girava em torno da doença do sono, que, descobri então, é mesmo uma coisa danada. House MD é drama e comédia numa série sofisticada e desafiante, que garantidamente não nos dá sono: mesmo que passe sempre a horários mais que tardios, vale a pena ginasticar a pestana e assistir. Digo eu.

Comentários

Capitão-Mor disse…
Esta é uma boa série, mas prefiro o NIP/TUCK que passa aí na FOX.