Ter ou não ter um blogue eis a questão







Recupero para este espaço um texto datado de 1 de Dezembro de 2004 que publiquei num blogue já extinto e onde hoje me surpreende encontrar a minha afirmada antipatia pelo fenómeno da blogagem. Para alguém que gosta de escrever, e que, entretanto já criou meia dúzia de espaços e diversas entidades, para dar largas à sua imaginação, é estranho. Mas também é sinal de que as pessoas mudam. É assim:

Hoje violei um dos princípios que intimamente tinha convencionado comigo mesma: o de não partilhar o meu Blogue com ninguém em nome de um lavor autêntico de palavreado, palavrete e palavrão, ideias e não-ideias. Passarão os meus pensamentos doravante a pensamintos? Acaso me deturpar-me-ei por me saber lida? Mascararei as impressões de mim, dos outros, do mundo? Articularei de forma diferente as palavras? Mmmmm...dois segundos e tenho a resposta: não. Já pensei isto uma vez, não é novidade. Isto não passa de um exercício egoísta, narcisista, onanista e ista e ista e ista que poucos não abandonarão ao cabo de alguns minutos de leitura, a não ser que não tenham nada de melhor para fazer, que eu própria abandonarei também, um qualquer dia. Criei o meu primeiro Blogue por despautério. Foi um Blogue de reacção e não de acção. Eu era anti-Blogues. Acho que quem tem Blogues tem tempo, e eu não tenho tempo, por isso ter um Blogue é um contrassenso. Mas eu sou cheia deles! Ocorrem-me já coisas melhores, mais úteis, mais divertidas, mais instrutivas, mais prazenteiras que fazer para ocupar o tempo que não tenho, que é sempre pouco, que sempre me escapa, do que engordar um Blogue. Por outro lado há um desassossego em mim que o espaço vazio e branco do Blogue me devolve, depois, transformado em paz. É o melhor relaxante natural que conheço a seguir à valeriana. E a uma tarde de praia. E a outros exercícios mais mecânicos!

Tinha pensado que manteria o Blogue secretíssimo. Que seria uma espécie de diário onde pudesse aberrar e berrar à vontade, dissertar no mais puro estilo diletante, rir ou chorar até o meu PC entrar em curto–circuito. Que seria uma espécie de divã onde poderia repensar-me, refazer-me, reinventar-me, ou uma bancada de contestar sem incomodar vivalma e dar largas ao exercício da minha costela contestatária, aprendida não com o Eça, melhor, antes com a Mafaldinha, dedo em riste e goelas esgrouviadas, sem prejuízo de maior. Em verdade, sou apenas um cão que ladra e não morde. (Cão, não cadela. Já viram como a linguagem é sexista?!! Nem sequer me posso intitular de “cadela” pelo desprestígio que isso acarreta! É muito, mas muito mais desprestigiante do que dizer que um homem é “cão”, ou não é?) Antes mordesse. É que o máximo que consigo as mais das vezes é mesmo ficar afónica. Por isso, antes mordesse ou melhor fosse que nem ladrasse MESMO. Lentamente este Blogue vai ser a voz do dono e chamar por mim. His Master’s voice. É um lindo rótulo, a girar, a girar, o cão e o gramofone. Mas. E há sempre um MAS. Pressinto que dentro em breve isto vai ser novamente uma espécie de animal de estimação: primeiro dependem de nós, depois nós dependemos deles. Estou-me a ver a gravitar, o cão rodando, rodando, no gramofone, mais uma vez! Ão! Por isso deletei o anterior Blogue, RIP, meu Furor Scribendi, MAS, pelos vistos, sou muito rica em contras-sensos e não tenho emenda!

Comentários

Anónimo disse…
Obrigado por intiresnuyu iformatsiyu