Televisão: em 24, Jack Bauer tem sete vidas como os gatos


Ontem vi mais um episódio. As 24 horas aproximam-se do fim. E ainda se vão sucedendo situações empolgantes. Pergunto-me até quando resistirá este modelo. Lembro-me da X-Files ter chegado a um ponto em que já não cativava ninguém nem mesmo esta seguidora compulsiva. Conseguirão os argumentistas baralhar e voltar a dar, temporada após temporada, terroristas, loucos ambiciosos e vingativos, políticos corruptos, bombas, vírus, sequestros, assassinatos, chantagens, tecnologia de ponta, super-agentes, presidentes dos EUA e outros itens similares? Até onde levarão o delírio do argumento para nos manter a roer as unhas no sofá?
Sem o 11 de Setembro para expor a fragilidade americana e fazer entranhar o medo do ataque insuspeito no mais íntimo do cidadão comum, sem o renascimento do sentimento patriota americano que se lhe seguiu, 24 talvez não fosse um tão imediato êxito. 24 aproveitou do 11 de Setembro a demonstração de que o perigo espreita, ronda e aguarda a ocasião perfeita para passar de plano diabólico a concretização fatal. E que pode ser gerado mesmo ali ao lado do Capitólio. O terrorismo ficcional mais ousado torna-se mais facilmente credível aberto o caminho pelo terrorismo inimaginável e “espectacular” que havia tornado real a queda das duas torres World Trade Center. E a par disso também as formas de luta e da sua contenção materializadas no CTU, na sua equipa e homem da frente, Jack Bauer se desenham como a resposta necessária mas nem sempre suficiente para evitar perdas de peso. A vulnerabilidade tornou-se uma constante. Deixou de ser verdade que a América possa ser protegida. É esta a mensagem perturbadora de 24.
Eu vejo pouquíssima TV. Comecei a ver 24 por mero acaso porque a televisão transmitiu todos os episódios da temporada 4 num fim-de-semana em que eu estava doente e instalada no sofá a fazer zapping. Na base da história estava o terrorismo islâmico, os episódios sucediam-se, Navi Araz, a mulher e o filho fazem parte de uma célula terrorista que pretende fazer explodir uma bomba nuclear. Ver os episódios em sequência permitiu-me logo perceber a habilidade dos argumentistas na construção do suspense. A imprevisibilidade dos acontecimentos mantém-nos presos ao ecrã. A temporada 5 mantém esses atributos mas parece-me muito melhor na caracterização e desenvolvimento dado às personagens. A avalanche de reviravoltas, a sucessão ou mesmo a resolução de algumas situações em 24 são por vezes questionáveis, mas o entretenimento não é nunca questionável. Não é uma série cerebral, não há muito para pensar. Não há tempo para isso e de resto nem vale a pena conjecturar pois não iremos certamente acertar, quanto muito permitem-nos reflexões pontuais sobre valores patrióticos ou ética profissional. Entre perseguições e situações limite aparecem personagens secundárias excelentes, sólidas - Henderson, Logan, Martha, Novak - representações fantásticas dos actores ou situações de grande complexidade dramática como a da execução de La Chapelle na season 3. 24 não nos deixa andar muito tempo às voltas nas nossas suposições, tipo Lost. (Se Jack Bauer se tivesse despenhado naquela ilha tinha saído de lá em 24 horas!) A história pulsa e avança com o relógio a marcar a passagem do tempo real. O tempo real há muito que se tornou uma estranha ilusão. Jack Bauer tem sete vidas como os gatos e consegue ser tão diabólico e violento quanto os prevaricadores perseguidos. Um super agente que o tempo de excepção que a América vive naturalmente gerou para combater o mal. Alguém que não cumpre as regras porque as regras do jogo mudaram e nunca há tempo para fazer tudo “by the book”. O desequilíbrio entre bem e mal é mantido até à última volta: Jack Bauer 1 - Terroristas 2. O resultado final só é apurado na 24ª hora: um mau dia para Jack Bauer, um bom dia para a América. Em breve realizarão o filme 24 e a personagem pulará do pequeno para o grande ecrã, companhia para o agente 007 na enciclopédia cinematográfica dos agentes secretos de todos os tempos. E se os dois se encontrassem? Como seria? Quem bateria quem?!

O site oficial http://www.fox.com/24/

Comentários

rupigo disse…
sem duvida um remake do Chuck Norris Facts

:)
Ganhar Dinheiro disse…
muito interessante!